O DESCANSO QUE ANTECIPA A ETERNIDADE

Descubra como o descanso sabático é mais que pausa: é antecipação da eternidade e ato de fé na suficiência divina. Encontre paz verdadeira.

O DESCANSO QUE ANTECIPA A ETERNIDADE

“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho… porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.” Êxodo 20.8-11.

Há uma diferença fundamental entre estar vazio e estar em repouso. O vazio é ausência; o repouso é presença – presença de paz, presença de propósito, presença de Deus.

C. S. Lewis, Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz, p. 134.

Vivemos numa cultura que transformou o cansaço em medalha de honra e a produtividade em divindade. Nossos dias são cronometrados, nossos minutos são contabilizados, e nosso valor é medido por aquilo que produzimos. Mas e se o descanso não fosse apenas uma pausa necessária para recarregar as energias? E se fosse, na verdade, um ato de adoração e uma antecipação profética da eternidade?

Quando Israel saiu do Egito, onde trabalhava sete dias por semana sob o chicote dos feitores, o mandamento do sábado deve ter soado como música celestial aos seus ouvidos cansados. Não era apenas um alívio físico; era uma revolução teológica. Deus estava ensinando seu povo que o descanso não é ausência de propósito, mas presença de significado. O sábado era um ensaio semanal da eternidade, um vislumbre do que seria viver na plenitude da provisão divina.

O mandamento do sábado é único entre os Dez Mandamentos porque não apenas proíbe algo, mas positivamente ordena algo: lembrar. E o que devemos lembrar? Que Deus é o Criador e Redentor, e que nós somos suas criaturas e seus redimidos.

Heber Carlos de Campos, O Ser de Deus e os Seus Atributos, p. 245.

O descanso sabático não era meramente um conceito social ou uma conquista trabalhista. Era uma ordenança divina que estruturava toda a vida de Israel, desde o ritmo semanal até os ciclos de sete anos e o Jubileu. Deus estava ensinando seu povo que o descanso é tanto retrospectivo quanto prospectivo – olha para trás, para a obra consumada da criação, e olha para frente, para o descanso eterno que aguarda os filhos de Deus.

O descanso sabático é uma declaração de guerra contra a idolatria da produtividade. É Deus dizendo que nossa identidade não está no que fazemos, mas no que Ele fez por nós em Cristo.

D. A. Carson, From Sabbath to Lord’s Day, p. 156.

A teologia reformada nos ensina que o sábado é um sinal da graça. Quando Deus ordena o descanso, Ele está declarando que nossa salvação não depende de nossos esforços incessantes. O descanso sabático é um protesto contra a justificação pelas obras. É Deus dizendo: “Parem. Lembrem-se. Eu sou suficiente.”

O descanso se torna, assim, um ato de fé. Requer confiança para parar de trabalhar quando há tanto a ser feito. Requer fé, acreditar que Deus suprirá nossas necessidades mesmo quando tiramos um dia da semana. Requer esperança vislumbrar, no descanso temporal, a promessa do descanso eterno.

Israel, como primogênito de Deus, deveria modelar para as nações como viver no ritmo divino. O sábado os distinguia como povo bem cuidado por seu Deus, capaz de descansar porque confiava na provisão divina. Era um testemunho silencioso mas poderoso de que serviam a um Deus que não apenas trabalha, mas também descansa, e que convida seus filhos a participarem tanto de seu trabalho quanto de seu descanso.

O tempo é o bem mais precioso que possuímos, e o descanso é a única forma de realmente possuir o tempo, em vez de ser possuído por ele.

Machado de Assis, Dom Casmurro, p. 198.

O descanso sabático revela a natureza do evangelho: não somos salvos por nossas obras, mas pela obra consumada de Cristo. Assim como Israel saiu da escravidão egípcia para encontrar descanso na Terra Prometida, nós saímos da escravidão do pecado para encontrar descanso em Cristo. Ele é nosso verdadeiro descanso sabático, Aquele que completou a obra da redenção e nos convida a entrar em seu descanso.

O sábado apontava para Cristo, e Cristo aponta para a eternidade. No descanso semanal, experimentamos uma antecipação do descanso eterno. É um lembrete de que esta vida não é tudo, de que há um descanso maior aguardando aqueles que confiam em Deus. O descanso se torna, assim, um ato de esperança escatológica.

Quando descansamos verdadeiramente, declaramos nossa fé na suficiência de Deus, nossa esperança na provisão divina e nosso amor por Aquele que primeiro nos amou. O descanso não é escapismo; é realismo espiritual. É reconhecer que somos criaturas finitas servindo a um Deus infinito, e que nossa paz não está em nossos esforços, mas em sua graça.

O homem que encontrou seu descanso em Deus é como um rio que encontrou o mar. Não para de se mover, mas move-se com a certeza de que chegou ao seu destino.

Dante Alighieri, Divina Comédia, p. 789.

Como podemos aplicar essa verdade do descanso sabático em nossa vida contemporânea? Primeiro, devemos repensar nossa relação com o trabalho e o descanso. O descanso não é recompensa pelo trabalho bem feito; é dádiva divina para criaturas finitas. Praticamente, isso significa estabelecer ritmos semanais que incluam tempo para adoração, reflexão e comunhão.

Segundo, devemos usar o descanso como oportunidade para lembrar e antecipar. Lembrar das obras passadas de Deus em nossa vida e antecipar sua fidelidade futura. Isso pode incluir tempo para leitura devocional, oração contemplativa e comunhão com outros crentes.

Terceiro, devemos ver o descanso como testemunho. Numa cultura obcecada por produtividade, nosso descanso intencional declara que servimos a um Deus que é suficiente. Isso pode significar dizer “não” a compromissos desnecessários, estabelecer limites tecnológicos e priorizar relacionamentos sobre realizações.

Finalmente, devemos usar o descanso como preparação para a eternidade. Cada momento de verdadeiro descanso em Deus nos familiariza com a realidade da vida eterna. É prática para o céu, onde não haverá pressa, mas haverá propósito; não haverá cansaço, mas haverá adoração; não haverá ansiedade, mas haverá alegria.

Senhor, Tu que descansaste no sétimo dia não por cansaço, mas por alegria na obra consumada, ensina-nos o verdadeiro descanso. Perdoa-nos por transformar o descanso em culpa e a produtividade em ídolo. Ajuda-nos a confiar em Tua provisão o suficiente para parar, lembrar e antecipar. Que nosso descanso seja adoração, nossa pausa seja proclamação, e nossa quietude seja testemunho de Tua suficiência. Prepara nossos corações, através do descanso temporal, para o descanso eterno que nos aguarda em Cristo. Que possamos encontrar em Ti o descanso que nossas almas anseiam, e que esse descanso nos capacite para o trabalho que Tu nos deste para fazer. Em nome de Jesus, nosso verdadeiro descanso sabático. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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