Mateus 10:22. “Sereis odiados por todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.”
“Nos lugares onde a igreja é perseguida, ela está crescendo e se fortalecendo. Naqueles lugares onde a igreja é livre ela esta enfraquecendo e encolhendo.”
A ignorância brasileira sobre a perseguição mundial
Há uma cruel ironia no fato de que, em pleno século XXI, quando os direitos humanos são proclamados como conquistas irrevogáveis da civilização, a perseguição religiosa aos cristãos atinja níveis alarmantes de violência e sistematização. O artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura que “todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião”, mas para mais de 300 milhões de cristãos ao redor do mundo, este direito fundamental não passa de uma promessa vazia, escrita em papel que não detém a brutalidade de regimes totalitários nem a fúria de extremistas religiosos.
No Brasil, país majoritariamente cristão onde a diversidade religiosa coexiste de forma relativamente harmoniosa, vivemos uma perigosa ignorância sobre a realidade de nossos irmãos em Cristo que enfrentam tortura, prisão e morte pelo simples fato de professarem a fé em Jesus. Esta ignorância não é apenas um problema de informação; é uma questão de consciência cristã. Como podemos celebrar nossa liberdade religiosa enquanto nossos irmãos morrem em silêncio do outro lado do mundo?
A pergunta que deveria incomodar todo cristão brasileiro é: por que nossa abundante liberdade religiosa não se traduz em maior solidariedade com aqueles que pagam com sangue pela mesma fé que professamos comodamente?
A universalidade da perseguição cristã
A advertência de Jesus em Mateus 10:22 não foi uma possibilidade remota, mas uma profecia que se cumpre diariamente. Quando o Senhor disse “sereis odiados por todos por causa do meu nome”, Ele estava descrevendo não apenas a experiência dos apóstolos, mas a realidade perpétua da igreja verdadeira. A perseguição não é um acidente histórico; é o estado normal da igreja autêntica em um mundo hostil a Deus.
A perseguição é o preço que a igreja paga por sua fidelidade. Uma igreja que não experimenta nenhuma forma de oposição deve questionar se está realmente pregando o evangelho de Cristo ou apenas um substituto palatável. A cruz sempre provoca hostilidade porque confronta o orgulho humano e expõe a necessidade de arrependimento. John Stott, A Cruz de Cristo, p. 234
Os relatórios da ACN (Aid to the Church in Need – Ajuda à Igreja que Sofre) revelam uma realidade que deveria nos envergonhar. Mais de 300 cristãos nigerianos foram massacrados na noite de Natal – não por crimes cometidos, mas por celebrarem o nascimento de Jesus Cristo. Esta não é apenas uma estatística; é o cumprimento literal da profecia de Jesus sobre o ódio que o mundo nutria por aqueles que levam Seu nome.

No Oriente Médio, berço do cristianismo, igrejas milenares são queimadas e comunidades cristãs inteiras são forçadas ao exílio. Na Ásia, pastores são presos por pregarem o evangelho. Na África, mulheres cristãs são violentadas especificamente por sua fé. E no Brasil, em nossa zona de conforto religioso, poucos conhecem esses nomes, rostos e histórias.
O sangue dos mártires é a semente da Igreja. Mas se a Igreja que permanece livre se torna surda aos gritos de seus irmãos perseguidos, então este sangue clama contra nossa indiferença. A solidariedade cristã não é opcional; é um mandamento do próprio Cristo que disse: ‘quando fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes’. Dietrich Bonhoeffer, Resistência e Submissão, p. 167.
A igreja perseguida nos ensina verdades espirituais que nossa confortável experiência religiosa brasileira pode obscurecer. Primeira, ela revela o verdadeiro custo do discipulado. Quando um cristão nigeriano arrisca sua vida para ir ao culto, ele demonstra que Jesus vale mais que a própria vida. Segunda, ela expõe a natureza revolucionária do evangelho. O cristianismo não é uma religião doméstica e privada; é uma força transformadora que ameaça sistemas injustos e desafia estruturas opressivas.
A ignorância brasileira sobre a perseguição mundial aos cristãos não é apenas um problema de informação; é um sintoma de uma fé que se tornou culturalmente acomodada. Quando nossa maior preocupação religiosa é o horário do culto ou a qualidade da música, enquanto nossos irmãos enfrentam tortura e morte, algo está fundamentalmente errado com nossa perspectiva espiritual.
A igreja perseguida como espelho da fé autêntica
A igreja perseguida não é um problema distante que devemos lamentar ocasionalmente; é o espelho que reflete a autenticidade de nossa própria fé. Ela nos confronta com questões incômodas: nossa fé seria forte o suficiente para suportar a perseguição? Nossa devoção a Cristo resistiria à pressão da tortura? Nosso amor pela igreja se estenderia além das fronteiras nacionais e culturais?
Jesus não prometeu que a perseguição seria eliminada, mas que aqueles que perseverarem até o fim serão salvos. Esta promessa não é apenas para os cristãos perseguidos; é para toda a igreja. Nossa perseverança se manifesta não apenas em suportar a perseguição, mas em não esquecer daqueles que a enfrentam por nós.
A profecia de Jesus em Mateus 10:22 continua se cumprindo nos campos de refugiados do Oriente Médio, nas prisões da Ásia e nos massacres da África. Mas a mesma promessa que sustenta o cristão nigeriano que perde sua família por causa de Cristo também sustenta o cristão brasileiro que é chamado a interceder, contribuir e agir em favor de seus irmãos perseguidos.
E agora, como viveremos?
Quebre o silêncio da ignorância. Não podemos mais viver nossa fé cristã brasileira como se fossemos uma ilha isolada do sofrimento de nossos irmãos. Conheça os relatórios da ACN, informe-se sobre a situação da perseguição religiosa mundial, transforme sua ignorância em conhecimento e seu conhecimento em ação.
Cultive uma gratidão profunda e consciente pela liberdade religiosa que desfrutamos. Cada culto que frequentamos sem medo, cada Bíblia que lemos abertamente, cada oração que fazemos sem receio de prisão – tudo isso é um privilégio negado a centenas de milhões de cristãos. Nossa liberdade não é um direito adquirido, mas um presente de Deus que demanda responsabilidade.
Estabeleça uma prática sistemática de intercessão pelos cristãos perseguidos. Não orações ocasionais durante campanhas especiais, mas uma disciplina constante de oração informada. Ore pelos países mencionados nos relatórios da ACN, pelos nomes específicos de pastores presos, pelas comunidades cristãs ameaçadas. Sua oração tem poder para sustentar um cristão torturado em uma prisão chinesa ou fortalecer uma família cristã fugindo da violência na Nigéria.
Apoie financeiramente organizações missionárias que trabalham diretamente com a igreja perseguida. Transforme sua compaixão em contribuição prática. Use sua abundância para suprir as necessidades daqueles que perderam tudo por Cristo. Considere “adotar” uma família cristã perseguida, contribuindo regularmente para sua sustentação.
Use sua liberdade de expressão para ser voz dos que foram silenciados. Divulgue informações sobre a perseguição religiosa em suas redes sociais, converse sobre o tema em sua igreja, conscientize outros cristãos sobre esta realidade. Sua voz livre pode amplificar os gritos sufocados dos perseguidos.
Examine sua própria disposição para o sofrimento por Cristo. A perseguição pode não ter chegado ao Brasil na intensidade que existe em outros países, mas Jesus nunca prometeu que estaríamos isentos dela. Prepare-se espiritualmente para possíveis pressões futuras, cultivando uma fé que não dependa do conforto das circunstâncias.
Oremos
Senhor Jesus, que nos advertiste de que seríamos odiados pelo Teu nome, reconhecemos diante de Ti nossa ignorância confortável e nossa indiferença culpada. Perdoa-nos por vivermos nossa fé de forma isolada, esquecendo-nos dos muitos que, em silêncio, derramam seu sangue por Teu evangelho. Desperta em nós uma consciência global da igreja perseguida. Que os relatos de sofrimento, não sejam apenas números distantes, mas rostos e histórias que nos chamam à intercessão fiel. Que os mártires assassinados não sejam esquecidos, mas lembrados como testemunhas vivas da fidelidade que preferiu a morte à negação do Teu nome.
Sustenta, Senhor, os cristãos do Oriente Médio que veem ruir igrejas milenares, os asiáticos presos por pregarem Teu nome e as mulheres africanas violentadas por amor a Ti. Que Teu Espírito os fortaleça com consolo e paz. Que nossa liberdade seja instrumento de socorro e nossa abundância, sustento para os que perderam tudo. Dá-nos sabedoria para apoiar organizações missionárias, e transforma nossa generosidade em semente de esperança. Prepara-nos para qualquer perseguição, com fé inabalável e disposição genuína de sofrer por Ti. Que o evangelho floresça até que venhas reinar com justiça eterna. Em nome de Jesus, o Cristo perseguido e ressurreto, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!