VOCACIONADOS PARA SERVIR NA IGREJA

Efésios 2.1. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”

A Tensão da Chamada Divina

Existe uma tensão profunda no coração humano entre ser servido e servir na igreja. Por que aqueles que professam seguir o Rei dos reis frequentemente resistem ao próprio chamado que os define como cristãos? Fomos criados por Deus para glorificá-lo através do serviço, mas algo em nós sussurra constantemente: “E o que eu ganho com isso?”

“O serviço não pode ser uma questão de toma-lá-dá-cá, não pode estar sujeito a nossas conveniências. O serviço é a própria natureza da vida cristã.” John Piper.

O Projeto Original Divino

A Escritura revela que fomos criados como “feitura de Deus” (Ef 2.10), uma palavra que no grego (poiema) sugere uma obra de arte cuidadosamente elaborada. Não somos acidentes cósmicos, mas projetos intencionais de Deus, moldados especificamente “para boas obras” que Ele preparou antecipadamente.

O relato de Gênesis 3 nos oferece uma janela devastadora para compreender nossa resistência ao serviço. Quando Adão e Eva pecaram, algo fundamental mudou na disposição humana: em vez de olhar para fora de si mesmos, voltaram-se para dentro. O primeiro impulso pós-pecado não foi arrependimento ou busca por restauração, mas autopreservação e transferência de culpa.

“O pecado é essencialmente a condição do homem que está curvado sobre si mesmo.” Agostinho de Hipona.

Essa curvatura para dentro de si mesmo transformou nossa natureza de servos em consumidores. Passamos a perguntar “o que a igreja pode fazer por mim?” em vez de “como posso servir ao corpo de Cristo?”

As Faces do Egoísmo no Serviço

A análise das reações egoístas diante do chamado para servir na igreja revela padrões profundamente enraizados:

Reciprocidade Condicional: Quando condicionamos nosso serviço ao tratamento que recebemos.
Negligência Financeira: Usar circunstâncias como desculpa para não dizimar ou ofertar.
Dicotomia entre Dinheiro e Tempo: Escolher apenas uma forma de servir, ignorando outras necessidades.
Idolatria do Reconhecimento: Servir para nossa própria glória, não para a glória de Deus.
Irresponsabilidade Comprometida: Assumir compromissos sem honrá-los adequadamente.

O Paradigma Cristológico do Serviço

O Rei que Desceu para Servir

A solução para nossa resistência ao serviço não está em técnicas motivacionais ou apelos emocionais, mas na contemplação do próprio Cristo. Marcos 10.45 oferece o paradigma radical: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”

“Cristo não considerou a igualdade com Deus algo a que se apegar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo.” Confissão de Westminster, Catecismo Maior, Pergunta 46.

Jesus, possuindo todo direito ao serviço como Rei dos reis, escolheu deliberadamente o caminho do serviço sacrificial. Ele não apenas serviu esporadicamente, mas fez do serviço sua identidade fundamental. O verbo “servir” (diakonein) no grego implica um serviço contínuo, não ocasional.

A Transformação pelo Exemplo

Quando Pedro declara “servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10), ele não está apresentando uma sugestão opcional, mas descrevendo a nova natureza daqueles que foram regenerados em Cristo.

“A vida cristã é uma vida de serviço. Não é possível separar o discipulado cristão do ministério cristão.” Dietrich Bonhoeffer.

O serviço na igreja não é uma atividade adicional à vida cristã; é a expressão natural de quem foi transformado pelo evangelho. Servimos porque Cristo primeiro nos serviu, e essa experiência de graça nos capacita a replicar o mesmo amor sacrificial.

O chamado para servir na igreja encontra sua motivação mais profunda na adoração. Quando compreendemos que Deus nos vê, conhece e valoriza cada ato de serviço, desde o cuidado com bebês no berçário até a preparação de slides para cultos, o serviço se transforma de obrigação em privilégio.

“Deus não está procurando pessoas que O sirvam por causa do que podem conseguir Dele, mas pessoas que O amem pelo que Ele é.” A. W. Tozer.

E Agora, Como Viveremos?

A aplicação prática deste chamado divino ao serviço na igreja requer uma mudança fundamental de perspectiva. Em vez de perguntar “o que eu ganho servindo?”, devemos indagar “como posso refletir Cristo através do meu serviço?”

Avalie honestamente: Existe algum dom que Deus lhe deu que você tem negligenciado? Algum compromisso assumido que não tem honrado? Alguma área onde seu coração busca reconhecimento em vez da glória de Deus? O serviço na igreja não é opcional para o cristão, é a expressão natural de quem foi alcançado pela graça transformadora de Cristo.

Lembre-se: em um mundo onde prevalece o “cada um por si”, o cristão vive pelo princípio “um por todos e todos por um”. Esse é o testemunho poderoso que a igreja oferece ao mundo, o amor sacrificial que aprendemos de Cristo.

Oremos

Pai celestial, reconhecemos que foste Tu quem nos criaste para as boas obras, e que é por Tua graça que podemos servir na Tua igreja. Perdoa-nos pelos momentos em que buscamos ser servidos em vez de servir, quando condicionamos nosso amor à reciprocidade humana em vez de fundamentá-lo em Tua graça imerecida. Molda nossos corações conforme o coração de Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir. Que possamos encontrar alegria genuína em cada oportunidade de servir aos irmãos, sabendo que é a Ti que servimos. Capacita-nos a usar nossos dons não para nossa própria glória, mas para o edificar do Teu reino e para que Teu nome seja exaltado através de nossas vidas. Em nome de Jesus, nosso Senhor e exemplo perfeito de serviço. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.