Texto Básico: Mateus 9:35-38.
A compaixão de Jesus. “E Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todo tipo de doenças e enfermidades. Ao ver as multidões, Jesus se compadeceu delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. Então Jesus disse aos seus discípulos: A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.”
Texto Áureo: Mateus 9:38.
“Por isso, peçam ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.”
Textos Correlatos
- Marcos 6:34 – “Quando Jesus desembarcou, viu uma grande multidão e se compadeceu dela, porque eram como ovelhas que não têm pastor.”
- João 4:35 – “Vocês não dizem que ainda faltam quatro meses para chegar a colheita? Eu, porém, lhes digo: levantem os olhos e vejam os campos, que já estão brancos para a colheita!”
- 1 Pedro 5:2-3 – “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos cuidados de vocês, não por obrigação, mas espontaneamente, como Deus quer.”
- Ezequiel 34:5-6 – “As minhas ovelhas se espalharam por não ter pastor e, dispersas, serviram de pasto a todas as feras do campo.”
- Isaías 61:1 – “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos pobres.”
Exegese do Texto Base
O texto revela Jesus em seu ministério itinerante (periēgen), movimento que demonstra intencionalidade e abrangência. O verbo grego indica uma ação contínua e sistemática, sugerindo que Cristo não apenas visitava ocasionalmente, mas estabelecia um padrão ministerial consistente. O tríplice ministério – ensino (didaskōn), pregação (kēryssōn) e cura (therapeuōn) – forma uma unidade indivisível que caracteriza a missão integral do Messias.
A compaixão (esplanchthē) de Jesus emerge de suas entranhas, revelando uma emoção profunda e visceral diante do sofrimento humano. Esta palavra grega denota não apenas simpatia, mas uma resposta emocional que compele à ação. A metáfora pastoral das “ovelhas sem pastor” (hōs probata mē echonta poimena) ecoa Números 27:17 e 1 Reis 22:17, conectando Jesus ao contexto veterotestamentário da liderança divina sobre Israel.
Termos e Expressões Importantes
Seara (therismos): Metáfora que representa a humanidade pronta para receber o evangelho, enfatizando tanto a urgência quanto a abundância da oportunidade missionária.
Trabalhadores (ergatai): Não se refere apenas ao clero, mas a todos os cristãos chamados a participar da obra evangelística. O termo implica laboriosidade, dedicação e propósito específico.
Rogai (deēthēte): Forma imperativa que indica oração intensa e persistente, não mera solicitação casual, mas súplica fervorosa diante da necessidade urgente.
Contexto Bíblico
Este texto situa-se no contexto do primeiro discurso missionário de Jesus, preparando o envio dos Doze. Mateus estrutura sua narrativa mostrando como a compaixão de Cristo pela multidão se transforma em ação missionária organizada. A passagem conecta-se com a Grande Comissão (Mateus 28:19-20), estabelecendo o fundamento emocional e teológico para a missão universal da Igreja.
Teologia Reformada
O texto revela a soberania divina na eleição dos trabalhadores (“o Senhor da seara que mande”), harmonizada com a responsabilidade humana na oração intercessória. A iniciativa missionária pertence a Deus, mas Ele escolhe operar através de meios humanos – a oração da Igreja. Esta tensão exemplifica perfeitamente o princípio reformado da predestinação divina operando através da agência humana.
Tema Central
A compaixão de Cristo como fundamento da oração missionária
Introdução
Em setembro de 2023, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) divulgou que mais de 110 milhões de pessoas foram forçadas a deixar seus lares devido a conflitos, perseguições e violações de direitos humanos. Multidões errantes, despojadas de lar e esperança, espalhadas pelo mundo como ovelhas sem pastor. Esta realidade contemporânea ecoa a visão que movia o coração de Jesus ao contemplar as multidões de seu tempo.
“A compaixão é uma virtude pela qual alguém é movido pela miséria de outro como se fosse sua própria miséria, e consequentemente se esforça para socorrer a necessidade do outro como se fosse sua própria necessidade.” João Calvino, Comentário sobre Mateus, Marcos e Lucas, Editora Fiel, 2009, 523 páginas.
Cristo não permaneceu indiferente diante do sofrimento humano. Sua compaixão visceral transformou-se em ação ministerial sistemática e, finalmente, em um chamado à oração que ecoa através dos séculos, convocando a Igreja a participar da obra divina de resgate da humanidade perdida.
1. A Compaixão de Cristo: Fundamento da Missão
A compaixão de Jesus não emerge de mero sentimentalismo, mas da percepção clara da condição espiritual da humanidade. Ele via além das aparências externas, discernindo a realidade invisível de almas feridas, desorientadas e vulneráveis. Esta visão espiritual aguçada é o primeiro requisito para qualquer ministério autêntico.
A metáfora das ovelhas sem pastor revela tanto a vulnerabilidade quanto a necessidade de direção das multidões. Ovelhas abandonadas tornam-se presas fáceis de predadores, perdem-se facilmente e não conseguem encontrar pasto adequado. Espiritualmente, a humanidade sem Cristo vive esta mesma condição de desamparo e desorientação.
“A Igreja cristã é a única instituição na terra que tem por missão específica buscar e salvar aqueles que estão perdidos. Este é o seu chamado distintivo, sua razão de ser.” Adolf von Harnack, A Missão e Expansão do Cristianismo nos Três Primeiros Séculos, Editora Vida Nova, 1996, 478 páginas.
2. A Urgência da Seara: Oportunidade e Responsabilidade
A metáfora da seara comunica simultaneamente abundância e urgência. Campos maduros para a colheita representam almas preparadas por Deus para receber o evangelho, mas também alertam para a brevidade da oportunidade. Uma seara madura que não é colhida no tempo apropriado se perde irremediavelmente.
Jesus percebeu que o momento histórico de seu ministério representava um kairos especial – um tempo de visitação divina que demandava resposta imediata. A Igreja contemporânea deve cultivar esta mesma percepção espiritual, discernindo os momentos de especial abertura ao evangelho em cada geração e contexto cultural.
3. O Poder da Oração Missionária: Meio Divinamente Ordenado
O imperativo “rogai” (deēthēte) estabelece a oração como o meio primário através do qual Deus levanta obreiros para sua seara. Esta não é uma sugestão, mas uma ordem divina que revela como Deus escolheu operar sua obra missionária – através da intercessão de sua Igreja.
A oração missionária difere da petição comum por sua urgência específica e seu foco na glória de Deus através da salvação dos perdidos. É uma oração que alinha o coração do intercessor com o propósito redentor divino, preparando-o tanto para ser enviado quanto para enviar outros.
“O grande negócio da vida não é fazer, mas desfazer – não é construir, mas demolir – não é acumular, mas distribuir – não é guardar a vida, mas perdê-la.” Charles Dickens, Nossa Mútua Amiga, Editora Penguin, 1997, 892 páginas.
4. A Soberania Divina na Vocação Missionária
O texto enfatiza que é “o Senhor da seara” quem envia os trabalhadores. Esta verdade preserva tanto a soberania divina na vocação quanto a dignidade da obra missionária. Deus não apenas permite a missão – Ele a ordena, a dirige e a capacita através de sua escolha soberana de instrumentos humanos.
Relação com a Atualidade
Segundo dados da Missão Global 2023, aproximadamente 3,2 bilhões de pessoas ainda não foram alcançadas pelo evangelho, concentrando-se principalmente na “Janela 10/40”. Simultaneamente, estudos demográficos revelam que muitas dessas populações estão experimentando mobilidade geográfica sem precedentes devido a conflitos, mudanças climáticas e busca por oportunidades econômicas – criando novas oportunidades missionárias.
A era digital também redefiniu o conceito de “seara”, permitindo que o evangelho alcance lugares anteriormente inacessíveis através de plataformas digitais, transmissões online e aplicativos missionários. Paradoxalmente, a mesma tecnologia que conecta globalmente também pode criar bolhas de isolamento espiritual, exigindo da Igreja criatividade e sensibilidade cultural renovadas.
Conclusão
Mensagem Central
A compaixão de Cristo revela o coração de Deus pela humanidade perdida e estabelece o paradigma para toda atividade missionária autêntica. Sua visão das multidões como ovelhas sem pastor não permaneceu como mero sentimento, mas transformou-se em estratégia ministerial sistemática e convocação à oração intercessória. O chamado “rogai ao Senhor da seara” permanece como o meio divinamente ordenado através do qual Deus levanta e envia obreiros para sua vinha, demonstrando como a soberania divina opera harmoniosamente com a responsabilidade humana na grande obra de evangelização mundial.
Aplicação Atual
A Igreja contemporânea deve cultivar a mesma compaixão visceral de Cristo, desenvolvendo olhos para ver além das aparências externas e discernir a condição espiritual das multidões ao seu redor. Isto exige disciplinas espirituais que agucem nossa percepção espiritual – jejum, oração prolongada, meditação bíblica e convívio íntimo com o Espírito Santo. Simultaneamente, devemos responder ao imperativo da oração missionária com seriedade e persistência, intercedendo especificamente pelo levantamento de obreiros qualificados para os campos mais necessitados. Nossa oração deve ser acompanhada de disposição para ser enviados ou para sustentar financeira e espiritualmente aqueles que Deus chamar para o campo missionário.
Perguntas para Reflexão
- Como podemos desenvolver o mesmo tipo de compaixão visceral que movia Jesus diante das multidões perdidas?
- De que maneiras práticas nossa igreja pode responder ao imperativo “rogai ao Senhor da seara” em nossa rotina de oração?
- Quais “searas” específicas Deus tem colocado ao alcance de nossa comunidade e como podemos nos envolver com elas?
- Como equilibrar a urgência da evangelização com a necessidade de preparo adequado dos obreiros?
- Que obstáculos em nosso contexto atual impedem que vejamos as pessoas como “ovelhas sem pastor” e como podemos superá-los?
- De que formas a tecnologia atual pode ser redimida para servir à obra missionária sem comprometer a autenticidade do relacionamento?
- Como nossa vida de oração pessoal e comunitária pode se alinhar mais completamente com o coração missionário de Deus?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Literatura Cristã
João Calvino, Comentário sobre Mateus, Marcos e Lucas, Editora Fiel, 2009, 523 páginas.
História da Igreja
Adolf von Harnack, A Missão e Expansão do Cristianismo nos Três Primeiros Séculos, Editora Vida Nova, 1996, 478 páginas.
Literatura Universal
Charles Dickens, Nossa Mútua Amiga, Editora Penguin, 1997, 892 páginas.
Fontes Acadêmicas e Jornalísticas
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Global Trends Report 2023, setembro de 2023.
Missão Global, Relatório de Povos Não Alcançados 2023, Centro de Estudos Missionários, 2023.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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