“A Bendita Esperança da Igreja.”
João 14.1-3. “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.”
Textos Correlatos:
- Mateus 24.36-44
- 1 Tessalonicenses 4.16-17
- 1 Coríntios 15.51-52
- Apocalipse 1.7
- Hebreus 9.27-28
Análise do Texto Base: Em João 14.1-3, Cristo oferece consolação suprema diante da angústia iminente. A expressão “não se turbe” (me tarassestho) é imperativo presente passivo, indicando o fim da perturbação. “Moradas” (monai) deriva de meno (permanecer), sugerindo habitações permanentes, não temporárias. O verbo “voltarei” (erchomai) está no presente histórico, enfatizando a certeza absoluta do evento futuro. A promessa “vos receberei para mim mesmo” (paralempsomai) expressa ação pessoal e íntima do próprio Cristo.
Termos e Expressões Importantes:
- Parousia: Presença real, chegada oficial de Cristo
- Moradas (monai): Habitações permanentes na casa do Pai
- Dia do Senhor: Momento culminante da história redentiva
- Transformação (allasso): Mudança radical da natureza física
- Mistério (mysterion): Verdade antes oculta, agora revelada
Introdução
“Voltarei”, uma palavra que ecoam através dos séculos como a mais doce promessa já pronunciada. Nas horas sombrias que antecediam a cruz, quando a traição de Judas lançava trevas sobre o cenáculo e o fracasso de Pedro ensombrava os corações dos discípulos, Jesus ofereceu esta declaração de esperança inabalável. Mas o que significa realmente a volta de Cristo? Como devemos compreender esta promessa que tem sustentado a igreja através de perseguições, martyrios e séculos de expectativa?
A segunda vinda de Cristo não é meramente um evento futuro distante, mas a própria âncora da esperança cristã – aquela realidade que transforma nosso presente e define nosso destino eterno. Cada oração que fazemos, cada lágrima que derramamos, cada batalha espiritual que travamos ganha significado à luz desta verdade gloriosa: Jesus voltará.
A promessa da segunda vinda permeia todo o Novo Testamento desde o momento da ascensão. Quando os anjos declararam aos discípulos que “esse mesmo Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11), estabeleceram o fundamento da esperança escatológica cristã.
Historicamente, esta doutrina foi abraçada unanimemente pela igreja primitiva. Inácio de Antioquia (35-108 d.C.) escreveu sobre “aguardar aquele que está acima do tempo – o Atemporal, o Invisível, que por nós se fez visível; o Impalpável, o Impassível, que por nós se fez passível, e que de todas as formas sofreu por nós.” Os primeiros cristãos viviam com a expectativa iminente do retorno de seu Senhor, uma esperança que os sustentava em meio às perseguições mais cruéis.
A certeza da volta de Cristo moldou a liturgia, os credos e a vida devocional da igreja através dos séculos, permanecendo como uma das doutrinas centrais do cristianismo histórico.
A Promessa Pessoal de Cristo
Jesus não delegou a outros a responsabilidade de nos consolar sobre Sua volta – Ele mesmo fez esta promessa. “Voltarei e vos receberei para mim mesmo” – note a intensidade pessoal destas palavras. Não enviará anjos, não delegará a tarefa. O próprio Cristo, que conhece cada fibra do nosso ser, que chorou conosco e se alegrou conosco, retornará pessoalmente para nos receber.
A palavra grega paralempsomai sugere não apenas receber, mas tomar consigo com ternura e cuidado. É o mesmo verbo usado para descrever José tomando Maria como esposa (Mateus 1.20). Cristo nos receberá com o mesmo cuidado amoroso de um noivo recebendo sua amada.
“A segunda vinda não é simplesmente um evento histórico futuro, mas o cumprimento do amor eterno de Deus. É o momento quando o noivo celestial finalmente receberá sua noiva purificada e preparada para as bodas do Cordeiro.” Herman Bavinck, Reformed Dogmatics, Volume 4: Holy Spirit, Church, and New Creation, Baker Academic, 2008, p. 718.
A Natureza Súbita e Gloriosa da Volta
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe” (Mateus 24.36). A imprevisibilidade da volta de Cristo não é acidental, mas proposital. Como um ladrão na noite, o Senhor virá quando menos esperamos, não para nos roubar, mas para nos libertar definitivamente da prisão desta era presente.
Paulo descreve este momento com detalhes comoventes: “o Senhor mesmo… descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados” (1 Tessalonicenses 4.16-17). A ressurreição dos santos mortos precederá o arrebatamento dos vivos, ninguém será esquecido ou deixado para trás.
A “última trombeta” de 1 Coríntios 15.52 não será um som discreto, mas uma proclamação cósmica que anunciará o fim de uma era e o início da eternidade. “Num momento, num abrir e fechar de olhos”, a transformação será instantânea, completa, irreversível.
O Propósito Redentor da Segunda Vinda
Cristo não volta simplesmente para nos tirar deste mundo, mas para consumar a obra redentiva iniciada no Calvário. Hebreus 9.28 declara que Ele “aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” Na primeira vinda, Ele carregou nossos pecados; na segunda, aparecerá livre do peso do pecado para completar nossa salvação.
Esta salvação final incluirá não apenas nossa glorificação pessoal, mas a restauração completa da criação. “Toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora” (Romanos 8.22), aguardando “a revelação dos filhos de Deus” que ocorrerá na volta de Cristo.
“O grande mistério da igreja primitiva não era se Cristo voltaria, mas quando. Eles viviam cada dia como se fosse o último, e cada domingo como antecipação do grande Domingo da ressurreição final.” Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Livro III, Editora Paulus, 1999, p. 156.
Cristo: O Centro da Esperança Escatológica
A volta de Cristo não é meramente o final de uma história, mas a consumação de todas as promessas divinas. Em Sua pessoa, céu e terra se encontram; em Seu retorno, tempo e eternidade convergem. Ele é simultaneamente o Cordeiro que tira o pecado do mundo e o Leão da tribo de Judá que estabelecerá justiça eterna.
Quando João O viu em visão apocalíptica, declarou: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá” (Apocalipse 1.7). Não haverá dúvidas, não haverá debates teológicos sobre cronologia, quando Cristo voltar, toda criatura saberá que o Rei dos reis chegou para estabelecer Seu reino eterno.
Relação com a Atualidade
Em nossa era de incertezas globais, guerras, pandemias e instabilidade social, a expectativa da volta de Cristo ganha relevância renovada. Muitos cristãos hoje têm perdido a urgência da esperança escatológica, vivendo como se Cristo não fosse voltar. Esta negligência da doutrina da segunda vinda pode resultar em mundanismo, falta de propósito missionário e desânimo diante das dificuldades.
A tecnologia moderna, ironicamente, tanto aproxima quanto distancia os cristãos da realidade da volta de Cristo. Redes sociais criam expectativas de gratificação imediata que podem diminuir nossa capacidade de “aguardar” pacientemente. Contudo, a mesma tecnologia permite que o evangelho seja pregado “em todo o mundo” (Mateus 24.14) de maneiras que gerações anteriores jamais imaginaram.
A igreja contemporânea precisa redescobrir o equilíbrio bíblico: viver com expectativa iminente da volta de Cristo enquanto nos engajamos responsavelmente nas tarefas desta vida presente.
Conclusão
A volta de Cristo permanece como a bendita esperança da igreja – não uma fuga da realidade, mas a consumação gloriosa de tudo pelo que oramos, trabalhamos e esperamos. Quando nosso Senhor retornar, não haverá mais lágrimas, não haverá mais separações, não haverá mais morte. Toda injustiça será corrigida, toda pergunta será respondida, todo coração quebrantado será curado.
Esta esperança não nos torna passivos diante dos desafios presentes, mas nos energiza para viver com propósito eterno. Cada ato de bondade, cada palavra de evangelho proclamada, cada oração oferecida ganha significado à luz da volta de Cristo. Vivemos não apenas para esta era, mas para a era vindoura.
A volta de Cristo é a promessa pessoal do próprio Senhor de que retornará para consumar nossa salvação e estabelecer Seu reino eterno, oferecendo esperança inabalável em meio às incertezas desta vida e motivação para viver com propósito eternal até que Ele venha.
Como cristãos do século XXI, devemos cultivar expectativa ardente pela volta de Cristo enquanto nos engajamos fielmente nas responsabilidades desta vida, permitindo que esta esperança nos liberte do materialismo, nos energize para missões e nos console em meio aos sofrimentos, sabendo que nossa redenção se aproxima.
Dúvidas Mais Frequentes:
- Por que Jesus ainda não voltou se os primeiros cristãos esperavam Sua volta iminente? R: Os primeiros cristãos esperavam a volta iminente porque viviam como peregrinos neste mundo, conscientes de que Jesus poderia voltar a qualquer momento. A demora não significa esquecimento, mas paciência divina: Deus não atrasou, Ele está cumprindo Seu plano perfeito, aguardando que o evangelho seja proclamado e que os escolhidos venham à fé. (2 Pedro 3.9). Para Deus, mil anos são como um dia.
- Como podemos viver esperando Cristo a qualquer momento sem negligenciar responsabilidades futuras? R: A expectativa bíblica da volta de Cristo nos motiva à fidelidade presente, não à passividade. Devemos planejar como se Cristo voltasse em cem anos, mas viver como se Ele voltasse hoje.
- A volta de Cristo será visível a todos ou apenas aos cristãos? R: Apocalipse 1.7 declara que “todo olho o verá”. A segunda vinda será um evento público, visível e inegável para toda a humanidade.
- Como a doutrina da volta de Cristo deve influenciar nossa evangelização? R: A iminência da volta de Cristo cria urgência evangelística, mas também oferece esperança gloriosa para compartilhar – não apenas salvação do inferno, mas participação no reino eterno de Cristo.
- É pecado tentar calcular o tempo da volta de Cristo? R: Jesus claramente disse que não sabemos “o dia nem a hora” (Mateus 24.36). Especulações cronológicas específicas são desencorajadas, mas devemos discernir os “sinais dos tempos” gerais.
Perguntas para Reflexão:
- Como a certeza da volta de Cristo transforma sua perspectiva sobre as dificuldades atuais?
- Que mudanças práticas você faria em sua vida se soubesse que Cristo voltaria no próximo ano?
- De que maneira a esperança da volta de Cristo motiva seu envolvimento evangelístico?
- Como você equilibra expectativa pela volta de Cristo com responsabilidade pelas gerações futuras?
- Como a promessa “onde eu estou, estejais vós também” (João 14.3) consola você em momentos de solidão?
- De que forma a volta de Cristo deve influenciar suas decisões sobre carreira, relacionamentos e prioridades de vida?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- O ARREBATAMENTO DA IGREJA
- EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
- COMO É O CÉU?
- O QUE ACONTECE DEPOIS DA MORTE?
- JEJUM NA BÍBLIA
- O MILÊNIO DE APOCALIPSE 20

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!