AMOR – A MARCA DO DISCIPULADO

O amor mútuo como apologética cristã definitiva: como nossa maneira de amar uns aos outros valida ou invalida nosso testemunho do evangelho.

AMOR – A MARCA DO DISCIPULADO

“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” João 13.34-35.

Imagine um ourives examinando uma peça de ouro. Ele não precisa de longos testes para identificar sua autenticidade – uma simples marca gravada pelo fabricante é suficiente. Da mesma forma, Jesus estabeleceu uma marca inconfundível para seus seguidores: o amor mútuo. Não um amor sentimental ou conveniente, mas um amor forjado no fogo do Calvário, temperado pela cruz e polido pela graça. Esta marca distintiva transcende culturas, épocas e circunstâncias, revelando ao mundo quem verdadeiramente pertence a Cristo.

O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo. Quando retribuímos ódio com ódio, multiplicamos o ódio, acrescentando uma escuridão mais profunda a uma noite já desprovida de estrelas. A escuridão não pode expulsar a escuridão; só a luz pode fazê-lo.

Martinho Lutero, Carta aos Gálatas, p. 234.

O mandamento de Jesus surge em um momento crucial. Judas acabara de sair para consumar sua traição, e os discípulos enfrentavam a iminente crucificação de seu Mestre. Neste contexto de abandono e morte, Cristo não oferece estratégias apologéticas ou técnicas evangelísticas, mas um mandamento aparentemente simples: “amai-vos uns aos outros”.

A novidade não reside no princípio, Levítico 19.18 já ordenava amar o próximo, mas no paradigma: “assim como eu vos amei”. Este “assim como” transforma completamente a natureza do amor cristão. Não é mais amor baseado em afinidades, conveniências ou reciprocidade, mas amor modelado na cruz, onde Cristo “sendo nós ainda pecadores” morreu por nós (Romanos 5.8).

Martyn Lloyd-Jones capturou essa verdade ao escrever: “O amor cristão não é um sentimento; é um ato da vontade, uma deliberada atitude da mente que resulta numa deliberada ação do coração” (Estudos no Sermão do Monte, Lloyd-Jones, D. Martyn. São Paulo: Fiel, 2009, p. 78). Este amor sacrificial é tanto mandamento quanto evidência do discipulado autêntico.

A tensão humana reside precisamente aqui: nosso coração natural busca amor como gratificação pessoal, enquanto Cristo demanda amor como sacrifício pessoal. Nossa idolatria do “Eu” resiste ao paradigma cristocêntrico, preferindo a comodidade à crucificação diária de nossos interesses.

O amor não é apenas nosso dever, mas nosso destino. Somos feitos para ele. Sem ele, nossa existência é imperfeita, infeliz e impossível.

Benjamin Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes Teológicos, p. 134.

Não há nada mais contrário à natureza humana do que o amor cristão. É por isso mesmo que ele é a prova da presença de Deus em nós. Só Deus pode amar através de corações humanos de maneira tão sobrenatural.

Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, p. 456.

Cristo é tanto o modelo quanto o capacitador deste amor. Ele não apenas nos mostra como amar, mas nos concede, pelo Espírito, a capacidade de fazê-lo. A igreja não existe por nossa perfeição no amor, mas apesar de nossas falhas – e através delas, pela graça transformadora de Deus. Nossa esperança não repousa em nossa habilidade de amar perfeitamente, mas na obra consumada de Cristo, que edifica sua igreja mesmo quando falhamos.

O amor verdadeiro é aquele que se doa sem reservas, que não calcula nem mede, que não espera recompensa, que encontra sua alegria no bem do outro.

Agostinho, Confissões, p. 289.

Ama e faz o que quiseres: se calares, calarás por amor; se gritares, gritarás por amor; se corrigires, corrigirás por amor; se perdoares, perdoarás por amor.

Victor Hugo, Os Miseráveis, p. 567.

Este mandamento desafia nossa tendência de medir espiritualidade por conhecimento teológico ou ativismo religioso. Jesus estabelece critério mais simples e mais difícil: amor mútuo. Examine hoje seus relacionamentos na igreja. Há conflitos não resolvidos que você tem evitado por orgulho? Irmãos cujas necessidades você tem ignorado por conveniência? O amor cristão não é sentimento a ser aguardado, mas decisão a ser tomada. Praticamente, pode significar perdoar uma ofensa, servir alguém que não o reconhece, ou considerar interesses alheios acima dos próprios. Lembre-se: o mundo mede a credibilidade do evangelho pelo amor que demonstramos mutuamente. Nossa apologética mais persuasiva não são argumentos, mas relacionamentos transformados pela graça.

Onde há amor, não há trabalho penoso; ou se há, o trabalho é amado. O amor torna leves e suportáveis todas as coisas difíceis. Aspira sempre ao alto e não quer ser impedido por coisa alguma baixa.

João Calvino, Institutas da Religião Cristã, p. 234.

Senhor Jesus, Tu que nos amaste até a morte, e morte de cruz, perdoa nossa tendência de buscar amor como gratificação própria em lugar de sacrifício pessoal. Reconhecemos que falhamos diariamente em amar nossos irmãos como Tu nos amaste. Quebra nosso coração egoísta e concede-nos, pelo Teu Espírito, a capacidade de considerar os interesses dos outros acima dos nossos próprios. Que nosso amor mútuo seja a marca inconfundível de que somos Teus discípulos, e que através dele o mundo reconheça Teu amor redentor. Capacita-nos a ser igreja que testemunha não apenas com palavras, mas com vidas transformadas pelo Teu amor. Em Teu santo nome oramos, amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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