Bem-aventurados os perseguidos por Cristo.

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Texto Básico: Lucas 6:22-23

Leituras Bíblicas Complementares:

Mateus 5:12.

Mateus 10:25.

Mateus 13:44-46.

João 15:20.

João 16:22.

Filipenses 3:7-8.

1 Pedro 1:3-9.

Jovens vietnamitas, ao se mudarem para cidades maiores, têm mais contato com o evangelho e muitos se tornam cristãos. Ao retornar para suas vilas, eles compartilham sua fé, como no caso de Cuong, um ex-xamã que se converteu após ouvir o testemunho do filho. Sua conversão e os estudos bíblicos que ele liderava atraíram a atenção das autoridades locais, que o proibiram de praticar sua fé. Após resistir à pressão, Cuong foi brutalmente espancado por policiais e pelo chefe da vila, sofrendo ferimentos graves e tendo que buscar tratamento em outra cidade, enquanto líderes da igreja buscam justiça para o caso.

Florence García, esposa de um pastor assassinado no México, tornou-se um exemplo de fé e resiliência ao continuar o ministério do marido em meio à perseguição. Após a morte de Cristerio Valencia, vítima de um ataque armado por um grupo guerrilheiro, Florence, mesmo sob ameaças, assumiu a liderança de duas igrejas e dedicou-se ao cuidado de seus filhos, demonstrando coragem e confiança em Deus diante das adversidades. Em países como Cuba e Nicarágua, pastores e líderes de igrejas são alvos de ataques do governo.

Ambas as histórias foram retiradas do site oficial da Missão Portas abertas.1

No ano 165 dC, o jovem cristão chamado Justino, caminha pelas ruas de Roma enquanto o imperador Marco Aurélio ordena sua execução, acusado de se recusar a oferecer sacrifícios aos deuses romanos. Ele e seus companheiros foram interrogados pelo prefeito Júnio Rústico e, ao permanecerem firmes em sua fé, foram condenados à morte, provavelmente por decapitação. Em 2024, a BBC News relata cristãos no norte da Nigéria cantando hinos enquanto suas igrejas são queimadas por extremistas, seus rostos iluminados por uma alegria inexplicável. São passados 2.000 anos e a igreja continua sendo perseguida por crer e pregar a mensagem de Jesus Cristo. Então ouvimos a voz do mestre que diz: “Ditosos sois vós quando as pessoas vos odiarem e segregarem, injuriarem e rejeitarem o vosso nome como maligno por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, pois grande é o vosso galardão no céu.” (v. 22-23) — uma ordem estranha para quem sofre por Ele. Mas essa alegria não é comum; “O reino dos céus é como um tesouro escondido que um homem descobriu num campo. Em seu entusiasmo, ele o escondeu novamente, vendeu tudo que tinha e, com o dinheiro da venda, comprou aquele campo.” (Mateus 13:44), porque a alegria de pertencer a Cristo é infinitamente maior do que qualquer perda que possamos sofrer, é maior do que a própria morte. Essa ordem de Jesus parece absurda — alegrar-se no ódio? Mas C. S. Lewis, em O Peso da Glória, nos provoca: “Somos criaturas sem entusiasmo, brincando com bolinhos de lama num cortiço porque não imaginamos o que significa um feriado à beira-mar.” Jesus nos chama a largar o pouco por um tesouro eterno (Mateus 13:44). Vamos mergulhar nessa bem-aventurança surpreendente e descobrir por que ser perseguido por Cristo é encontrar a verdadeira felicidade.

Contexto Histórico e Bíblico:

Lucas 6:22-23 faz parte do Sermão da Planície, um momento crucial no ministério de Jesus, logo após Ele escolher os doze apóstolos (Lucas 6:12-16). Diferente do Sermão do Monte em Mateus 5, que ocorre numa montanha, Lucas descreve Jesus descendo a um “lugar plano” na Galileia (v. 17), falando a uma multidão diversa: discípulos recém-chamados e pessoas da Judeia, Jerusalém e até das cidades costeiras gentias de Tiro e Sidom (v. 17-19). Isso aconteceu por volta de 29-30 dC, quando Jesus já atraía atenção por curas (Lucas 5:17) e despertava a ira dos fariseus por desafiar tradições, como colher espigas no sábado (Lucas 6:1-2). A quarta bem-aventurança — “Ditosos sois vós quando as pessoas vos odiarem e segregarem, injuriarem e rejeitarem o vosso nome como maligno por causa do Filho do Homem” — é um alerta direto: seguir Jesus traz perseguição. Naquele contexto, a sinagoga era o coração da vida judaica, e ser “segregado” (niddur, João 9:22; 12:42) causava ser expulso dela, um castigo severo que cortava laços sociais, religiosos e econômicos. “Rejeitar o seu nome como maligno” ia além de insultos — era tratar o cristão como impuro ou amaldiçoado, muitas vezes com violência pública (Mateus 10:25). Jesus consola os perseguidos com uma promessa: “Regozijai-vos naquele dia e exultai, pois grande é o seu galardão no céu, pois dessa forma procederam seus pais com os profetas” (v. 23). Ele os conecta à fidelidade do Antigo Testamento, como Elias, caçado por Jezabel (1 Reis 19:10), ou Jeremias, ridicularizado por pregar a verdade (Jeremias 20:7-8).

Localização e Geografia:

Imagem Igreja perseguida planície da Galileia
Norte de Israel unterwegs na Galiléia.

O “lugar plano” da Galileia não é uma vasta pradaria, mas provavelmente uma área nivelada entre as colinas que cercam o mar da Galileia, como as encostas próximas de Cafarnaum ou Betsaida. A Galiléia, no norte de Israel, era uma região rural e fértil, com vilarejos de pedra e campos de cevada, mas também um ponto de tensão cultural. Cercada pelo monte Hermon ao norte e pelos montes de Samaria ao sul, ela ficava a cerca de 210 metros abaixo do nível do mar, com o lago da Galileia como coração econômico — um corpo de água doce de 21 km de comprimento, vital para a pesca (Lucas 5:1). Tempestades repentinas, causadas pelos ventos que desciam das colinas, eram comuns (Lucas 8:23). Aqui podemos fazer um paralelo com a vida de discípulo de Cristo: cheia de beleza, mas exposta a muitos riscos.

Propósito e Mensagem:

Jesus não promete um caminho fácil — Ele deixa claro que seu seguidor atrai ódio, exclusão e insultos. Mas os perseguidos são “ditosos” porque pertencem ao Reino de Deus, com um “galardão” eterno guardado por Ele (1 Pedro 1:4). Esse galardão não é conquistado pelo sofrimento, mas dado por graça a quem sofre por amor a Cristo. Lucas 10:20 reforça: “Vossos nomes estão arrolados nos céus” — uma certeza que transcende a dor. Mateus 13:44-46, com o tesouro no campo e a pérola preciosa, mostra que esse Reino vale mais que qualquer perda terrena. O propósito é nos unir à história dos fiéis que enfrentaram o mundo por Deus, oferecendo uma alegria radical que brota de Cristo, o verdadeiro tesouro. Para nós hoje, é um convite a abraçar a cruz com júbilo, sabendo que o sofrimento por Ele nos leva à vida eterna.

Termos e Expressões Específicas:

  • “Ditosos sois vós” (makarioi este): Em grego, makarioi significa “felizes” ou “abençoados”, mas não é uma alegria passageira — é um estado divino, profundo, que resiste à dor.
  • “Odiarem” (misēsōsin hymas): Misēsōsin é um ódio ativo e hostil, como Jesus prevê em João 15:18: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou primeiro.”
  • “Segregarem” (aphorisōsin): Aphorisōsin (excluir) refere-se ao niddur , a expulsão da sinagoga (João 9:22), um isolamento social cruel na cultura judaica.
  • “Injuriarem” (oneidisōsin): Oneidisōsin (insultar) vai além de xingamentos — é amaldiçoar, como em Mateus 10:25, onde chama Jesus de “Belzebu”.
  • “Rejeitarem o seu nome” (ekbalōsin to onoma hymōn): Ekbalōsin (expulsar) significa tratar o nome cristão como “maligno” ( ponēron ), um desprezo público e violento.
  • “Por causa do Filho do Homem” (heneka tou Huiou tou Anthrōpou): Heneka (por causa) aponta a razão: fidelidade a Jesus, o Messias de Daniel 7:13, Juiz e Rei.
  • “Regozijai-vos e exultai” (charēte kai skirēsate): Charēte é alegria interior; Skirēsate é salto de júbilo, uma ocorrência física à graça divina.
  • “Galardão no céu” (misthos en tois ouranois): Misthos (recompensa) é um presente eterno, não um salário merecido, seguro no céu (1 Pedro 1:4).
  • “Nomes arrolados” (eggegraptai) (Lucas 10:20): Eggegraptai (inscritos) evoca o livro da vida (Êxodo 32:32), certeza da salvação.
  • “Tesouro” / “Pérola” (thēsauros / margaritēs) (Mateus 13:44-46): Imagens do Reino, de valor supremo que exige tudo.

Por que ser odiado por Cristo é uma vitória e como essa alegria nos sustenta quando estamos ardendo dentro da fornalha?

1. Perseguição: O selo da fidelidade a Cristo.

Imagem Igreja perseguida Igreja destruída na áfrica

Ser odiado por causa de Jesus não é um acidente — é uma marca de quem pertence a Ele. Este ponto nos leva ao coração da bem-aventurança: o ódio, a exclusão e os insultos são sinais de que estamos alinhados com Cristo e Sua missão. Vamos explorar como esse tipo de exclusão confirma nossa fé, nos une aos profetas e torna nosso nome precioso diante de Deus, mesmo sendo desprezado pelo mundo.

1.1 O Ódio que Revela Nossa Identidade
Jesus declara: “Ditosos sois vós quando as pessoas vos odiarem […] por causa do Filho do Homem” (Lucas 6:22). Ele já havia avisado: “Se me perseguiram, também vos perseguirão” (João 15:20), mostrando que o ódio é parte do discipulado. João Calvino, em Comentário sobre Lucas , escreve: “O ódio do mundo é sinal de que pertencemos a Cristo.” Calvino quer dizer que essa hostilidade não é uma falha nossa, mas uma prova de que estamos com Jesus — o mundo rejeita quem carrega a luz de Cristo. No século II, Inácio de Antioquia,2 rumo ao martírio em Roma, escreveu em sua Carta aos Romanos : “Sou trigo de Cristo, e serei moído pelos dentes das feras para me tornar pão puro.” Ele viu o sofrimento como uma honra por pertencer a Jesus. Em 2024, a CNN relatou cristãos na Síria cantando hinos em roupas bombardeadas, enfrentando o ódio com coragem. Esse ódio não nos define pelo que somos, mas por quem estamos seguindo, em Cristo está nossa real identidade — é um selo do nosso pertencimento ao Salvador.

1.2 Exclusão que nos liga aos fiéis de Deus
“Segregarem, injuriarem” (Lucas 6:22) ecoa a vida dos profetas, como Elias, caçado por Jezabel por sua fidelidade (1 Reis 19:10), ou Jeremias, ridicularizado por pregar contra o pecado (Jeremias 20:7-8). Martinho Lutero, em Sermões Selecionados , diz: “Os santos sofrem com Cristo, e isso os liga à história de Deus.” Lutero está apontando que a perseguição nos conecta a uma linhagem divina, desde Abel até os apóstolos (Lucas 11:51). No século XVI, os huguenotes franceses foram expulsos de suas cidades por sua fé, unindo-se a uma multidão de irmãos perseguidos ao longo da história. Em 2023, a Folha de S.Paulo destacou cristãos no Brasil enfrentando críticas por se recusarem a abandonar princípios bíblicos, encontrando força em orações comunitárias. Ser excluído por Cristo não nos isola — nos coloca ao lado dos gigantes da fé que enfrentam a mesma perseguição.

1.3 Um Nome Desprezado na Terra, Escrito nos Céus
“Ditosos sois vós quando as pessoas vos rejeitarem o vosso nome como maligno” (Lucas 6:22), ser visto como maligno significa ser tratado como impuro ou amaldiçoado, como em Mateus 10:25: “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” No século IV, Atanásio de Alexandria3 foi exilado cinco vezes, chamado de herege por defender a divindade de Cristo, mas escreveu: “Que me expulsem, pois Cristo está comigo.” Em 2024, um Christian Post relatou cristãos presos por pregar em público, seus nomes difamados como “fanáticos”, mas firmes em sua fé. Nosso nome pode ser cuspido aqui na terra, mas Lucas 10:20 nos assegura: “Vossos nomes estão arrolados nos céus.” O desprezo do mundo não apaga o valor que Deus nos dá — é um contraste que brilha na eternidade.

2. Alegria surpreendente: O Chamado ao regozijo na dor.

Imagem Igreja perseguida jovens felizes na igreja

Jesus nos manda “regozijar-nos” no dia do sofrimento (Lucas 6:23), uma ordem que desafia nossa lógica natural. Este ponto explora essa alegria radical — não é superficial nem forçada, mas uma chama que arde na presença de Cristo, mesmo em meio às as muitas dificuldades e perseguições violentas. Vamos ver como ela nos sustenta hoje, nos aponta para o futuro e nos mantém firmes com Ele agora.

2.1 Saltar de alegria no meio das chamas.
“Regozijai-vos naquele dia e exultai” (Lucas 6:23) é um mandamento que parece impossível — quem salta de alegria ao ser odiado? Jonathan Edwards,4 em Afeições religiosas, escreve: “A alegria em Cristo é mais forte que o sofrimento, pois vem de Deus.” Edwards está dizendo que essa felicidade não é uma emoção frágil do momento; ela brota da fonte eterna de Deus e resiste às tormentas da vida. No século III, Perpetua,5 uma jovem mãe martirizada em Cartago, entrou na arena romana para ser despedaçada por feras e gladiadores. Em 2023, a BBC News mostrou cristãos na Nigéria dançando em cultos ao ar livre após ataques que destruíram suas igrejas, confiando que Deus os sustentava. Essa alegria não ignora as lágrimas — ela as mistura com cânticos, pois é forjada na certeza de que Cristo está conosco no fogo.

2.2 Uma Esperança que Transforma o Presente

“Pois grande é o vosso galardão no céu” (Lucas 6:23). Jesus promete em João 16:22: “Eu vos verei outra vez, e vós vos alegrareis, e ninguém vos tirará essa alegria.” Essa esperança futura nos dá força hoje. Em 1521, Martinho Lutero enfrentou o tribunal em Worms, onde poderia ser condenado à morte, e declarou: “Aqui estou,não posso fazer de outro modo, que Deus me ajude.” Sua alegria vinha da certeza do céu, não do sucesso terreno. Em 2024, a Folha de S.Paulo relatou cristãos na Amazônia servindo comunidades isoladas apesar da pobreza e das dificuldades, seus olhos fixos na promessa de Deus. A recompensa celestial não é apenas um consolo distante — ela nos faz saltar agora, pois sabemos que o fim da estrada é a glória com Cristo.

Imagem Igreja perseguida Julgamento de Lutero em Worms
Martinho Lutero no Dieta de Worms. Pintura de domínio público por Anton Von Werner.

2.3 A Presença Viva que Nos Sustenta
“Não os deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14:18), diz Jesus, e Mateus 28:20 reforça: “Eu estarei sempre convosco, até o fim dos tempos.” C.S. Lewis, em Surpreendido pela Alegria, escreve: “A alegria é o negócio sério do céu.” Lewis quer dizer que essa felicidade não depende de coisas externas, mas da presença real de Deus em nós, uma chama que arde em meio a toda e qualquer situação. No século XX, Dietrich Bonhoeffer orava em sua cela na prisão nazista, escrevendo: “A cruz é nossa alegria, pois nela vemos o amor de Deus.” Não estamos sós no sofrimento — Cristo caminha conosco, e sua companhia nos faz cantar enquanto o mundo nos rejeita.

3. O Tesouro que vale tudo: Renunciar por Cristo.

Imagem Igreja perseguida cruz ao por do Sol

As parábolas do tesouro e das pérolas (Mateus 13:44-46) mostram que Cristo é o valor supremo, digno de todo sacrifício. Este ponto nos leva a entender por que largamos tudo com alegria: Ele é o Reino que supera qualquer perda. Vamos explorar como essa troca nos liberta do mundo, nos santifica e nos faz pagar o preço com prazer.

3.1 Vender Tudo por uma Alegria Maior
“Cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo” (Mateus 13:44). Timothy Keller, em The Reason for God , escreve: “Cristo é uma riqueza que faz o mundo parecer pó.” ele está dizendo que, ao encontrar Jesus, percebemos que nada se compara a Ele — largar tudo não é perda, mas ganho, um ato movido por deleite, não por obrigação. No século I, Paulo exclamou: “Tudo considerei como perda por causa de Cristo” (Filipenses 3:8), abandonando seu status de fariseu por algo infinitamente melhor.

Leia com atenção o relato a seguir:

A irmã Tong, uma cristã chinesa, foi presa por seis meses por realizar reuniões religiosas em sua casa, mas descreveu esse período como “maravilhoso”, surpreendendo Todd Nettleton, da Voice of the Martyrs. Em vez de focar nas dificuldades da prisão, ela destacou como Deus esteve presente com ela o tempo todo, tornando a experiência espiritualmente enriquecedora. Durante sua detenção, iniciou um ministério feminino, compartilhando o evangelho com prisioneiras que nunca tinham ouvido sobre Cristo. Seu testemunho impactou Nettleton, levando-o a refletir sobre como encarar desafios como oportunidades para ministrar e fortalecer a fé. “Sim, foi um momento absolutamente maravilhoso”, disse a irmã Tong.

https://www.christianpost.com/news/chinese-christian-reveals-why-time-in-prison-was-wonderful.html

3.3 O Preço da Pérola: Um Sacrifício Feliz
“O Reino dos céus é como um negociante que, explorando pérolas preciosas, encontrou uma de grande valor e vendeu tudo o que tinha para comprar-la” (Mateus 13:45-46). John Piper,6 em Desiring God , diz: “A recompensa é Cristo — Ele é o tesouro que faz o sofrimento leve.” Piper explica que largamos tudo porque Jesus é mais valioso que a vida — não é uma troca triste, mas um salto de alegria. No século XIX, Hudson Taylor7 abandonou o conforto da Inglaterra para evangelizar a China, dizendo: “Valeu a pena por Cristo”. Pagar esse preço não é perder — é ganhar o Rei.

4. A recompensa eterna: Glória além da cruz.

O “galardão no céu” (Lucas 6:23) é a raiz da nossa alegria, uma promessa que transforma o sofrimento em vitória. Este ponto nos leva a contemplar a esperança que nos faz cantar na dor: a comunhão com Cristo, agora e para sempre. Vamos ver como essa herança nos segura, nos conectamos a Ele e nos dá um nome eterno.

4.1 Um galardão guardado por Deus.
“Pois grande é o vosso galardão no céu” (Lucas 6:23). Essa herança é “incorruptível, imaculada e que não se desvanece” (1 Pedro 1:4). Herman Bavinck,8 em Dogmática Reformada , escreve: “A graça de Deus é o fundamento da nossa herança eterna.” Bavinck ensina que o céu não é um prêmio que conquistamos com suor, mas um presente dado por amor, seguro nas mãos de Deus. Esse galardão nos dá força para enfrentar qualquer cruz.

4.2 Comunhão com o Filho: Nosso prêmio vivo.
“Eu vos verei outra vez, e vós vos alegrareis, e ninguém vos tirará essa alegria” (João 16:22). A presença de Jesus é a cerne da recompensa. Dietrich Bonhoeffer, em O Custo do Discipulado , escreve: “A cruz é nossa alegria, pois nela vemos o amor de Deus.” Bonhoeffer está dizendo que sofrer por Cristo nos une a Ele, e essa união é o que nos faz exultar, mesmo na prisão — como ele fez em 1945, antes de ser executado pelos nazistas. Cristo não é apenas um prêmio futuro — Ele está conosco agora, pelo Espírito (João 14:18), tornando cada dia de luta um vislumbre da glória.

4.3 Nomes gravados na eternidade
“Alegrai-vos […] porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lucas 10:20). Essa inscrição no livro da vida (Apocalipse 3:5) é nossa certeza. 

Em 64 d.C., um grande incêndio devastou Roma, destruindo grande parte da cidade. Para desviar as acusações de que ele próprio teria ordenado o fogo, o imperador Nero encontrou um bode expiatório nos cristãos, uma minoria já malvista pela sociedade romana. Ele iniciou uma perseguição cruel, prendendo, torturando e executando inúmeros seguidores de Cristo. O historiador Tácito, em seus Anais, descreve como os cristãos foram cruelmente mortos: alguns eram costurados em peles de animais e devorados por cães, enquanto outros eram crucificados ou queimados vivos como tochas humanas nos jardins do Palácio Imperial para iluminar os banquetes noturnos de Nero. A brutalidade desse massacre marcou uma das primeiras perseguições sistemáticas contra os cristãos no Império Romano.

Apesar do terror, os relatos indicam que muitos mártires enfrentaram a morte com coragem e fé inabalável. Segundo a tradição cristã, alguns cantavam hinos e oravam enquanto eram levados ao martírio, testemunhando sua confiança em Cristo. A perseguição de Nero, embora local e temporária, teve um impacto duradouro. Além de exterminar muitas vidas, fortaleceu a identidade cristã como um povo perseguido, mas resiliente. O evento também marcou um precedente para futuras perseguições imperiais, consolidando a visão dos cristãos como inimigos do Estado. Entre as vítimas desse período, acredita-se que estavam os apóstolos Pedro e Paulo, ambos mortos em Roma. No entanto, longe de extinguir a fé cristã, essas atrocidades apenas reforçaram seu crescimento e expansão nos séculos seguintes.

Este é apenas uma das centenas de episódeos onde os cristãos foram perseguidos, humilhados, torturados e mortos. Ainda hoje somos perseguidos, mas a igreja permanece viva porque é capaz de enchergar a face gloriosa de Cristo para além destas tormentas, ela tem os olhos fixos na eternidade.

Augustus Nicodemus, em O que Você Precisa Saber sobre a Bíblia , escreve: “Nosso nome no livro da vida é uma garantia de que o sofrimento não tem a última palavra.” Essa promessa nos faz saltar de alegria, porque nada no mundo é capaz de apagar o que Deus escreveu. Somos cidadãos do céu, e isso muda tudo.

Ser chamado de “bem-aventurado” ao enfrentar o ódio por Cristo é um mistério que só a fé desvenda. No século III, Tertuliano declarou: “O sangue dos mártires é a semente da igreja”, enquanto os cristãos cantavam nas arenas romanas, transformando dor em testemunho. Em 2024, a
BBC News mostrou cristãos no Sudão do Sul distribuindo Bíblias em vilas devastadas por ataques, seus rostos radiantes de uma alegria que o fogo não consome. Jonathan Edwards, em
Afetos Religiosos , escreve: “Nossa fome e sede por Deus, por Jesus Cristo e pela santidade não podem ser grandes demais em relação ao valor dessas coisas, porque são coisas de valor infinito.” Recapitulando, vimos que o ódio do mundo nos marca como fidelidade (ponto 1), nos unindo aos profetas e tornando nosso nome precioso diante de Deus. A alegria nos sustenta na perseguição (ponto 2), não como uma máscara, mas como uma chama viva que brilha hoje e aponta para o céu. Largamos tudo por Cristo (ponto 3), pois Ele é o tesouro e as pérolas que valem mais que a vida, santificando-nos pelo prazer nEle. E nossa recompensa (ponto 4) é a comunhão eterna com Jesus, garantida por nosso nome escrito nos céus. Não há como escapar dessa verdade: sofrer por Cristo é ser abençoado, pois ganhamos o Rei que deu tudo por nós. Quem vive assim não apenas sobrevive ao ódio — transforma o mundo com seu canto.

Conclusão.

Ser chamado de “bem-aventurado” ao enfrentar o ódio por Cristo é um mistério que só a fé desvenda. No século III, Tertuliano declarou: “O sangue dos mártires é a semente da igreja”, enquanto os cristãos cantavam nas arenas romanas, transformando dor em testemunho. Jonathan Edwards, em Afeições Religiosas, escreve: “Nossa fome e sede por Deus, por Jesus Cristo e pela santidade não podem ser grandes demais em relação ao valor dessas coisas, porque são coisas de valor infinito.” O ódio e a perseguição do mundo nos marca como fiéis seguidores de Cristo, nos aproximando dos profetas e tornando nosso nome precioso diante de Deus. A alegria nos sustenta na perseguição, não como uma máscara, mas como uma chama viva que brilha em nós porque conhecemos a Cristo verdadeiramente e somos convictos de que a cidade santa nos aguarda. Abandonamos tudo por Cristo, pois Ele é o tesouro inigualável que vale mais que a vida. Quanto mais temos prazer em nossa comunhão com Cristo, mais santificados nos tornamos. Nossa recompensa é a comunhão eterna com Jesus, garantida por nosso nome escrito nos céus. Sofrer por Cristo é ser abençoado, pois ganhamos o Rei que deu tudo por nós. Quem vive assim não apenas sobrevive ao ódio — transforma o mundo com seu canto.

Somente Cristo!

Pr. Reginaldo Soares.

Referências Bibliográficas.

  1. Bíblia Sagrada. Tradução João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
  2. Calvino, João. Comentário sobre Lucas . Fiel, São Paulo, 2010.
  3. Edwards, Jonathan. Afeições religiosas . Banner of Truth, Edimburgo, 2004.
  4. Piper, John. Desejando Deus . Multnomah, Portland, 2011.
  5. Sproul, RC A Santidade de Deus . Cultura Cristã, São Paulo, 2000.
  6. Lutero, Martinho. Sermões Selecionados . Sinodal, São Leopoldo, 1987.
  7. Keller, Timothy. A Razão de Deus . Dutton, Nova York, 2008.
  8. Bonhoeffer, Dietrich. O Custo do Discipulado . Mundo Cristão, São Paulo, 2009.
  9. Bavinck, Herman. Dogmática Reformada . Cultura Cristã, São Paulo, 2012.
  10. Lewis, CS O Peso da Glória . Vida Nova, São Paulo, 2008.
  11. Nicodemos, Augusto. O que você precisa saber sobre a Bíblia . Cultura Cristã, São Paulo, 2015.
  12. BBC News. “Sudão: Cristãos enfrentam ataques”, 2024.
  13. CNN. “Síria: Fé em meio ao conflito”, 2023.
  14. Folha de S.Paulo. “Cristãos Ajudam Após Enchentes,” 2023.
  15. Christian Post. “Paquistão: os crentes perseveram”, 2024.
  16. Christianity Today. “Haiti: Fé no Caos”, 2024.
  17. Revista Veja. “Missionários no Brasil”, 2023.
  1. A Missão Portas Abertas é uma organização cristã internacional fundada em 1955 pelo missionário Irmão André, com o objetivo de apoiar cristãos perseguidos ao redor do mundo. Inicialmente, contrabandeava Bíblias para países comunistas, mas expandiu sua atuação para oferecer ajuda humanitária, treinamento e encorajamento espiritual em nações onde o cristianismo é reprimido. Publica anualmente a Lista Mundial da Perseguição, que classifica os países mais hostis aos cristãos. Ativa em mais de 60 países, a missão fortalece a Igreja perseguida, fornecendo recursos essenciais para que os cristãos mantenham sua fé diante de perseguições extremas. ↩︎
  2. Inácio de Antioquia (c. 35–110 d.C.) foi um dos Pais Apostólicos e bispo da Igreja de Antioquia, sucedendo os apóstolos na liderança cristã. Discípulo do apóstolo João, desempenhou um papel fundamental na organização da Igreja primitiva. Durante a perseguição do imperador Trajano, foi preso e levado a Roma, onde sofreu martírio, sendo devorado por feras no coliseu. No caminho, escreveu sete cartas às igrejas, defendendo a unidade da fé, a obediência aos bispos e a presença real de Cristo na Ceia do Senhor. Seu legado ajudou a moldar a teologia cristã e a estrutura eclesiástica da Igreja primitiva. ↩︎
  3. Atanásio de Alexandria (c. 296–373 d.C.) foi um dos mais importantes teólogos da Igreja primitiva e bispo de Alexandria. Destacou-se na defesa da divindade de Cristo contra o arianismo, uma heresia que negava a natureza divina de Jesus. Foi peça central no Concílio de Niceia (325 d.C.), onde a doutrina da Trindade foi reafirmada. Perseguido por imperadores arianos, foi exilado cinco vezes, mas permaneceu firme em sua fé. Escreveu obras fundamentais, como “A Vida de Santo Antão” e “Sobre a Encarnação”, influenciando a teologia cristã por séculos. Seu legado consolidou a ortodoxia cristã e a doutrina trinitária. ↩︎
  4. Jonathan Edwards (1703–1758) foi um teólogo, pastor e filósofo puritano americano, considerado um dos maiores pregadores do Grande Despertamento. Defensor do calvinismo, enfatizou a soberania de Deus, a depravação humana e a necessidade da conversão. Seu sermão mais famoso, “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, impactou profundamente a América colonial. Escreveu obras teológicas influentes, como “Afeições Religiosas”, explorando a verdadeira conversão. Tornou-se presidente do College of New Jersey (atual Princeton), mas faleceu precocemente. Seu legado moldou o evangelicalismo e o pensamento reformado, sendo uma das vozes mais influentes do protestantismo na história. ↩︎
  5. Perpétua (c. 181–203 d.C.) foi uma jovem nobre cristã de Cartago, no Norte da África, martirizada sob o governo do imperador Septímio Severo. Presa por sua fé junto com a escrava Felicidade e outros cristãos, recusou-se a renunciar a Cristo, apesar dos apelos de sua família. Na prisão, escreveu um diário relatando suas visões e sua preparação para a morte. Esse registro, complementado por um narrador anônimo, tornou-se a “Paixão de Perpétua e Felicidade”, um dos textos cristãos mais antigos. Executada na arena por feras e gladiadores, sua coragem inspirou gerações de cristãos a permanecerem fiéis sob perseguição. ↩︎
  6. John Piper (n. 1946) é um pastor, teólogo e escritor batista reformado, conhecido por sua ênfase na supremacia de Deus em todas as coisas. Serviu como pastor da Bethlehem Baptist Church, em Minneapolis, por mais de 30 anos. Fundador do ministério Desiring God, popularizou a ideia do “Hedonismo Cristão”, que ensina que “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos Nele”. Escreveu dezenas de livros, incluindo Em Busca de Deus e Providência, influenciando milhões com sua teologia centrada em Deus e seu chamado à alegria na santidade. Atualmente, dedica-se ao ensino e escrita. ↩︎
  7. Hudson Taylor (1832–1905) foi um missionário inglês pioneiro na evangelização da China, fundador da Missão para o Interior da China. Movido por um profundo senso de chamado, adotou os costumes chineses para se aproximar da população local, algo incomum entre os missionários da época. Durante sua vida, enfrentou grandes desafios, incluindo perseguições e crises financeiras, mas sua missão cresceu significativamente, resultando em centenas de conversões e igrejas plantadas. Taylor enfatizou a dependência total de Deus para suprimento das necessidades ministeriais. Seu legado influenciou gerações de missionários e ajudou a expandir o cristianismo na China, deixando um impacto duradouro. ↩︎
  8. Herman Bavinck (1854–1921) foi um teólogo reformado holandês, conhecido por sua contribuição à teologia sistemática. Nascido em uma família da Igreja Reformada, estudou teologia na Universidade de Leiden e mais tarde se tornou professor no Seminário Teológico de Kampen e na Universidade Livre de Amsterdã. Sua principal obra, Dogmática Reformada, é uma profunda exposição da teologia reformada, unindo rigor acadêmico e piedade cristã. Bavinck enfatizou a relação entre fé e cultura, defendendo uma visão reformada do mundo. Seu pensamento influenciou gerações de teólogos e permanece fundamental para o estudo da teologia reformada contemporânea. ↩︎

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