Texto Bíblico
Atos dos Apóstolos 7:55-56. “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus.”
O Mistério da Morada Divina
Como é o céu? Esta pergunta ecoa no coração humano há muito tempo, despertando nossa curiosidade mais profunda sobre o destino eterno. Contudo, nossa tendência natural é conceber o céu primariamente em categorias espaciais e materiais, como se fosse uma versão aprimorada desta terra. Mas será esta a perspectiva bíblica? O apóstolo Estêvão, momentos antes de seu martírio, contemplou realidades celestiais que desafiam nossa compreensão comum do espaço e da materialidade.
“O céu não é meramente um lugar, mas uma condição de ser em comunhão perfeita com Deus. Portanto, não devemos pensar no céu como um território geográfico distante, mas como a realidade da presença imediata de Deus, onde todas as barreiras entre o Criador e a criatura são removidas pela obra redentora de Cristo.” Herman Bavinck, Dogmática Reformada (Volume 4), Editora Cultura Cristã, 2012, 680 páginas.
A Primazia do Relacional sobre o Espacial
O céu, conforme revelado nas Escrituras, deve ser compreendido primariamente em sua dimensão relacional, não espacial. Esta afirmação não nega a realidade física do céu, mas estabelece a correta hierarquia de prioridades bíblicas. Assim como João Calvino ensinou que nossa união com Cristo transcende categorias meramente humanas, nossa compreensão do céu deve transcender limitações puramente terrestres.
Deus é espírito (João 4.24), e portanto não possui dimensões espaciais. Quando as Escrituras falam de Deus habitando no céu, referem-se à sua presença especial e autoridade suprema, não a uma localização geográfica. Salomão compreendeu esta verdade ao orar: “Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter” (1 Reis 8.27). Deus transcende toda criação material, existindo antes do tempo e fora do espaço.
O historiador Eusébio de Cesareia registrou em sua História Eclesiástica as perseguições dos primeiros cristãos, observando como os mártires encontravam consolo não na promessa de um lugar físico, mas na certeza da comunhão eterna com Cristo:
“Os mártires, diante da morte iminente, não se consolavam com descrições detalhadas de mansões celestiais ou jardins paradisíacos, mas com a promessa de ‘estar com Cristo’, que consideravam incomparavelmente melhor do que qualquer bem terrestre ou celestial que pudessem imaginar.” Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Editora Paulus, 2000, 512 páginas.
Cristo, embora possua corpo ressurreto, não habita o céu conforme nossas categorias espaciais ordinárias. Ele está “assentado à direita de Deus” (Colossenses 3.1), mas Deus não possui mãos físicas. Esta linguagem indica autoridade e intimidade relacionais, não posicionamento geográfico. O corpo ressurreto de Cristo, transcende as limitações materiais que conhecemos.
“Com Cristo” – A Essência da Esperança Celestial
O Novo Testamento consistentemente enfatiza o aspecto relacional do céu através da expressão “com Cristo”. Paulo anseia “partir e estar com Cristo” (Filipenses 1.23). Nossa vida está “escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3.3). Na eternidade, “estaremos sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4.17). Esta ênfase relacional não é acidental, mas central.
Fiódor Dostoiévski em sua obra monumental “Os Irmãos Karamázov”:
“Se alguém me provasse que Cristo está fora da verdade, e se fosse realmente verdade que a verdade está fora de Cristo, eu preferiria ficar com Cristo do que com a verdade.” Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov, Editora 34, 2008, 1008 páginas.
Cristo é tanto o caminho quanto o destino. O céu não é primariamente um lugar onde vamos, mas uma Pessoa com quem estaremos. Portanto, nossa preparação para a eternidade não consiste em especulações sobre arquitetura celestial, mas em crescimento no conhecimento íntimo de Cristo. Quanto mais profundamente o conhecemos nesta vida, mais naturalmente nos sentiremos em casa quando estivermos com Ele para sempre.
E agora, como viveremos?
Esta compreensão bíblica do céu transforma radicalmente nossa perspectiva presente. Se o céu é primariamente “estar com Cristo”, então nosso maior investimento deve ser cultivar esta comunhão já agora. Não esperemos a morte para conhecê-lo profundamente. Cada momento de oração, cada ato de obediência, cada expressão de amor ao próximo nos familiariza mais com aquele que é nossa vida eterna. Assim, quando partirmos desta vida, não seremos estranhos chegando a um lugar desconhecido, mas filhos retornando aos braços do Pai amado.
Oremos
Pai celestial, perdoa nossa tendência de focar mais em como é o céu do que em quem é o Senhor do céu. Ensina-nos a buscar Cristo, não apenas seus benefícios. Prepara nossos corações para a comunhão eterna contigo, cultivando em nós tal intimidade que estar contigo seja nossa maior alegria. Em nome de Jesus, amém.
Perguntas para Reflexão
- Como nossa compreensão do céu como comunhão com Cristo transforma nossa abordagem à morte e ao sofrimento?
- De que maneiras práticas podemos cultivar já agora a intimidade com Cristo que caracterizará nossa vida celestial?
- Como podemos equilibrar a esperança na ressurreição corporal com a primazia da dimensão relacional do céu?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!