“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28)
Elisabeth Elliot foi uma das vozes mais influentes para mulheres cristãs no século XX. Sua vida missionária no Equador, onde seu primeiro marido, Jim Elliot, foi martirizado, a tornou um símbolo de fé inabalável, perdão e obediência radical. Ela continuou seu trabalho com a tribo que o matou e, mais tarde, se tornou uma aclamada autora, palestrante e apresentadora de rádio, com sua mensagem central focada na confiança em Deus em meio ao sofrimento e na submissão à Sua vontade.
- Conhecida por: Seu trabalho missionário no Equador com a tribo Waorani (Auca), que havia matado seu marido; suas palestras e livros sobre submissão, pureza e fé em meio à dor.
- Pais: Philip E. Howard, Jr. e Katharine Gillingham Howard.
- Nascida: 21 de dezembro de 1926, em Bruxelas, Bélgica.
- Faleceu em: 15 de junho de 2015, em Magnolia, Massachusetts, EUA.
- Cônjuges: Jim Elliot (casados em 1953; falecido em 1956), Addison Leitch (casados em 1969; falecido em 1973) e Lars Gren (casados em 1977; falecido em 2023).
- Trabalhos publicados: Através dos Portões do Esplendor (1957), A Sombra do Todo-Poderoso: A Vida e o Testamento de Jim Elliot (1958), Paixão e Pureza (1984) e O Caminho da Solidão (2001)
- Citação notável: “A fé não elimina perguntas. Mas a fé sabe onde levá-las.”


Há histórias que desafiam nossa compreensão sobre os propósitos de Deus. Narrativas que nos confrontam com a realidade do sofrimento e, simultaneamente, nos revelam a profundidade da graça divina operando através das circunstâncias mais adversas. A jornada de Elisabeth Elliot representa uma dessas histórias extraordinárias, um testemunho de como Deus pode transformar a mais profunda tragédia em instrumento de sua glória e redenção.
Elisabeth Elliot não é apenas uma figura histórica do movimento missionário do século XX; ela personifica a essência do que significa confiar em Deus quando todas as certezas humanas desmoronam. Sua vida ilustra de forma magistral como a fé cristã não nos isenta do sofrimento, mas nos capacita a encontrar propósito divino mesmo nas circunstâncias mais devastadoras.
As Raízes de uma Fé Inabalável
Elisabeth Howard nasceu em 21 de dezembro de 1926, na Bélgica, filha de missionários profundamente comprometidos com a causa do evangelho. Portanto, desde seus primeiros anos, ela foi moldada por uma herança espiritual sólida que se tornaria o alicerce de sua extraordinária trajetória. Quando a família retornou aos Estados Unidos, Elisabeth cresceu imersa em valores cristãos que transcendiam meras tradições religiosas — eram princípios vivos que orientariam cada decisão significativa de sua existência.
No entanto, sua personalidade extremamente introvertida apresentava desafios únicos. Assim como muitos servos de Deus ao longo da história, Elisabeth precisou aprender que Deus não chama apenas os naturalmente extrovertidos ou socialmente habilidosos. Ele capacita aqueles que se dispõem a obedecer, independentemente de suas limitações aparentes.
Durante seus anos universitários, um encontro transformaria para sempre o curso de sua vida. Jim Elliot, um jovem missionário com uma visão ardente pelo evangelismo, cruzou seu caminho. Além disso, Elisabeth demonstrou desde cedo uma determinação notável: ela impôs a condição de aprender a língua quíchua equatoriana antes de aceitar a proposta de casamento de Jim. Este episódio revela não apenas sua seriedade quanto aos propósitos de Deus, mas também sua compreensão de que o chamado missionário exige preparação meticulosa e sacrifício pessoal.
O Chamado aos Não Alcançados
Em 1953, Elisabeth e Jim se casaram em Quito, no Equador, iniciando cinco anos de serviço missionário em diversas regiões do país. A visão de Jim era cristalina: alcançar povos não evangelizados, especialmente aqueles considerados “não alcançados” pelo evangelho. Portanto, ele direcionou seus esforços para a tribo auca (hoje conhecida como waorani), conhecida por sua resistência feroz a qualquer contato externo e por sua reputação de atacar estrangers.
O contexto histórico e geográfico desta decisão não pode ser subestimado. Os aucas habitavam uma região remota da selva amazônica equatoriana, mantendo um isolamento cultural que os tornava praticamente inacessíveis. Além disso, relatos de violência contra forasteiros criavam um clima de terror que desencorajava qualquer tentativa de aproximação. No entanto, Jim Elliot e seus quatro companheiros, Nate Saint, Ed McCully, Pete Fleming e Roger Youderian, entendiam que o amor de Cristo os compelia a alcançar mesmo aqueles que pareciam inalcançáveis.

“O cristianismo revolucionou a história. Onde quer que tenha ido, aboliu a escravidão humana, elevou a condição das mulheres e da família, e criou escolas e universidades para educar as massas. Por que isto aconteceu? Porque o Evangelho de Jesus Cristo é o maior poder transformador que o mundo já conheceu.” D. James Kennedy, Evangelism Explosion, Tyndale House Publishers, 1996, 432 páginas.
A Tragédia que Ecoou pelo Mundo
Em janeiro de 1956, após estabelecer um contato inicial aparentemente amigável, Jim e seus quatro companheiros missionários foram brutalmente mortos pelos aucas. A tragédia chocou não apenas a comunidade cristã, mas o mundo inteiro. A revista Life dedicou páginas inteiras ao evento, transformando o sacrifício destes cinco homens em um testemunho global sobre o custo do discipulado cristão.
Elisabeth, então com uma filha de apenas 10 meses, enfrentou uma realidade devastadora. No entanto, sua resposta à tragédia definiria não apenas o restante de sua vida, mas inspiraria gerações futuras de cristãos a compreenderem o verdadeiro significado do perdão e da redenção.
Assim, ao invés de retornar aos Estados Unidos em busca de segurança e conforto, Elisabeth tomou uma decisão que surpreendeu o mundo: permaneceu no Equador e continuou seu trabalho missionário. Mais extraordinário ainda, ela começou a aprender a língua dos próprios aucas através de duas mulheres da tribo que se tornaram suas professoras.

O Milagre do Perdão e da Redenção
A decisão de Elisabeth de viver entre os aucas, a mesma tribo que matou seu marido, representa um dos testemunhos mais poderosos de perdão cristão da história moderna. Durante aproximadamente três anos, ela serviu como missionária entre aqueles que lhe causaram a maior dor imaginável. Os aucas, por sua vez, a aceitaram e lhe deram o nome tribal Guicar, que significa “pica-pau”.
Esta experiência ilustra de forma magistral a verdade bíblica de Romanos 8:28. Deus não causou a morte de Jim Elliot e seus companheiros, mas utilizou essa tragédia para demonstrar ao mundo o poder transformador do evangelho. Além disso, o testemunho de Elisabeth entre os aucas resultou na conversão de muitos membros da tribo, incluindo alguns dos próprios homens que participaram do ataque fatal.
“A história da Igreja é repleta de exemplos de homens e mulheres que, confrontados com as mais severas provações, encontraram em sua fé não apenas consolo, mas a força para transformar tragédias pessoais em vitórias para o Reino de Deus. Elisabeth Elliot representa um destes exemplos luminosos, demonstrando que o propósito divino pode emergir mesmo das circunstâncias mais sombrias da experiência humana.” Justo L. González, História do Cristianismo, Editora Vida Nova, 2011, 2.340 páginas.
A Escritora Relutante que Tocou o Mundo
Elisabeth nunca se considerou uma escritora por vocação. No entanto, ela sentia uma necessidade profunda de compartilhar a história de Jim e seus companheiros com o mundo. Assim, seu primeiro livro, Através dos Portais do Esplendor (Through Gates of Splendor), narrou a história dos cinco missionários mortos pelos aucas e se tornou um marco na literatura cristã contemporânea.
Outras obras significativas seguiram-se, incluindo A Sombra do Todo-Poderoso (Shadow of the Almighty), uma biografia sobre a vida e obra de Jim Elliot, e O Selvagem, Meus Irmãos (The Savage, My Kinsmen), que relatou suas experiências extraordinárias entre os aucas. Portanto, ao longo de sua vida, Elisabeth escreveu 24 livros, abordando temas como fé, propósito e obediência a Deus com uma profundidade teológica que combinava experiência pessoal com sabedoria bíblica.


Após retornar aos Estados Unidos em 1963, Elisabeth iniciou uma carreira como palestrante e apresentadora do programa de rádio Gateway to Joy. Durante 13 anos, ela abriu cada episódio com palavras que se tornaram emblemáticas: “Você é amada com um amor eterno, é o que a Bíblia diz, e por baixo estão os braços eternos. Esta é sua amiga, Elisabeth Elliot.” Suas reflexões profundas e acessíveis tocaram milhares de ouvintes, estabelecendo-a como uma das vozes cristãs mais respeitadas de sua geração.
Novas Perdas, Mesma Fé
A vida de Elisabeth foi marcada por sucessivas perdas que testaram continuamente sua fé. Em 1969, ela se casou com Addison Leitch, professor de teologia no Seminário Gordon-Conwell, em Massachusetts. Contudo, Leitch faleceu em 1973, deixando Elisabeth viúva pela segunda vez. Mais tarde, ela se casou com Lars Gren, experimentando finalmente um período de estabilidade conjugal.
No entanto, mesmo nos últimos anos de vida, Elisabeth enfrentou novos desafios. O diagnóstico de demência a forçou a encerrar suas palestras em 2004. Assim como havia feito com todas as outras provações, ela encarou a doença com a mesma aceitação e confiança em Deus, afirmando que, embora preferisse não passar por tal experiência, a via como parte da vontade divina.
O Legado Profético de uma Vida Entregue
Durante seus anos universitários, Elisabeth escreveu um poema que se revelaria profético à luz de sua trajetória posterior:
“Talvez algum dia futuro, Senhor,
Tua mão forte me levará
ao lugar onde devo ficar,
totalmente sozinha.
Sozinha, ó gracioso Amante,
mas por Ti ficarei satisfeita.
Se puder ver apenas Jesus,
não conheço Teu plano para os próximos anos.
Meu espírito encontra em Ti
seu lar perfeito, a suficiência.
Senhor, todo meu desejo está diante de Ti agora.
Lidere, não importa onde,
não importa como,
eu confio em Ti.”

Este poema captura a essência da espiritualidade de Elisabeth Elliot: uma entrega total aos propósitos de Deus, independentemente das circunstâncias ou do custo pessoal. Além disso, revela uma maturidade espiritual que antecipava os desafios que a vida lhe reservava.
Aplicações para a Igreja Contemporânea
A vida de Elisabeth Elliot oferece lições valiosas para os cristãos contemporâneos.
Primeiramente, ela demonstra que a fé genuína não nos exime do sofrimento, mas nos capacita a encontrar propósito divino mesmo nas circunstâncias mais adversas. Além disso, seu exemplo de perdão radical desafia nossa compreensão superficial do que significa amar nossos inimigos.
Portanto, em uma época marcada pela busca do conforto e da realização pessoal, Elisabeth nos lembra que o discipulado cristão pode exigir sacrifícios extraordinários. No entanto, ela também demonstra que tais sacrifícios nunca são em vão quando colocados nas mãos de um Deus soberano que trabalha todas as coisas para o bem daqueles que o amam.
Sua história também nos ensina sobre a importância da preparação missionária. A exigência que Elisabeth fez a Jim — aprender a língua quíchua antes do casamento — revela sua compreensão de que o chamado missionário requer dedicação integral e preparação meticulosa.
Finalmente, o legado literário de Elisabeth Elliot nos mostra como Deus pode usar nossas experiências mais dolorosas para abençoar e inspirar outros. Seus livros continuam impactando vidas décadas após sua publicação, demonstrando que o testemunho fiel transcende gerações.
A vida de Elisabeth Elliot permanece como um farol de esperança para todos aqueles que enfrentam adversidades aparentemente insuperáveis. Assim, ela nos ensina que, quando entregamos nossas tragédias nas mãos de Deus, Ele pode transformá-las em instrumentos de sua glória e redenção. Seu testemunho continua ecoando através dos séculos, desafiando-nos a viver com a mesma fé inabalável e entrega total aos propósitos eternos de Deus.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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