Lucas 23:42-43. “E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino.’ Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.'”
Textos Correlatos
- 2 Coríntios 5:8. “Estamos confiantes, sim, e desejamos antes deixar o corpo e habitar com o Senhor.”
- Filipenses 1:21,23. “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. […] Porque o meu desejo é partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.”
- Efésios 2:8-9. “Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isso não vem de vocês; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”
- Apocalipse 2:7. “Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus.”
- Romanos 8:1. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
Exegese do Texto Base
O diálogo entre Jesus e o criminoso crucificado representa um dos momentos mais teologicamente densos das Escrituras. O malfeitor, identificado pelo termo grego lēstēs (bandido violento, não mero ladrão comum), pronuncia uma súplica carregada de significado: “mnēsthēti mou” — “lembra-te de mim”.
No Antigo Testamento, quando Deus “se lembra” (zakar em hebraico), Ele age salvificamente em favor de alguém (Gênesis 8:1; Êxodo 2:24). O criminoso não pede misericórdia genérica, mas intervenção real-messiânica. Sua oração pressupõe três verdades notáveis: primeiro, reconhece Jesus como Rei legítimo mesmo na cruz; segundo, confessa a própria indignidade; terceiro, aguarda um reino futuro quando Cristo “vier” (hotan elthēs).
A resposta de Jesus é revolucionária. A fórmula solene “amēn legō soi” (“em verdade te digo”) introduz revelação autoritativa que só Deus pode pronunciar. Então vem o advérbio temporal decisivo: sēmeron — “hoje”. A gramática grega não permite ambiguidade aqui. Em todo o texto de Lucas, sēmeron sempre qualifica a ação principal, nunca o ato de falar. Jesus não está dizendo “hoje te faço esta promessa” (o que seria redundante), mas “hoje mesmo você experimentará o cumprimento”.
O termo paradeisos (paraíso), emprestado do persa através da Septuaginta, designava originalmente o jardim do Éden. No judaísmo intertestamentário, tornou-se sinônimo do compartimento celestial onde os justos aguardam a ressurreição. Cristo, porém, redefine radicalmente o conceito: não mais esperança distante, mas realidade imediata — entrada consciente na presença do Rei.
A construção “met’ emou” (“comigo”) revela a essência da bem-aventurança: não é meramente “estar no céu”, mas comunhão pessoal com Cristo. O criminoso pediu para ser lembrado; Jesus promete companheirismo eterno.
Termos e Expressões Importantes
Lēstēs: Bandido violento, assaltante armado. Diferente de kleptēs (ladrão furtivo), designa criminosos perigosos, frequentemente zelotes insurrectos contra Roma. Barrabás era um lēstēs (João 18:40).
Mnēsthēti mou: “Lembra-te de mim”. Imperativo aoristo passivo que expressa súplica urgente por intervenção divina, linguagem de aliança baseada no padrão veterotestamentário.
Sēmeron: “Hoje”. Advérbio temporal teologicamente carregado em Lucas (2:11; 4:21; 19:9), indicando o kairos divino — momento da intervenção salvífica de Deus.
Paradeisos: “Paraíso”. Palavra persa adotada pela Septuaginta para o Éden. No Novo Testamento, estado intermediário consciente e bem-aventurado na presença de Cristo.
Met’ emou: “Comigo”. Preposição de companhia que enfatiza relacionamento pessoal, não apenas localização geográfica.
Basileia: “Reino”. O domínio real-messiânico prometido pelos profetas, que o criminoso reconhece paradoxalmente estabelecido através da cruz.
Contexto Bíblico Amplo
Lucas posiciona esta narrativa no clímax de seu Evangelho — a crucificação em Jerusalém durante a Páscoa, cerca do ano 30 d.C. O médico gentio escreve entre 60-62 d.C. para demonstrar que Jesus é Salvador universal, especialmente dos marginalizados e excluídos.
O contexto literário revela progressão dramática. Enquanto Mateus 27:44 e Marcos 15:32 registram que ambos os criminosos inicialmente zombavam de Jesus, Lucas apresenta transformação radical em um deles. Esta mudança ocorre após a primeira palavra da cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). A mansidão de Cristo diante da brutalidade torna-se meio da graça que abre olhos cegos.
A conexão canônica é profunda. Isaías 53:12 profetiza que o Servo Sofredor seria “contado com os transgressores” e “pelos transgressores intercedeu”. Jesus cumpre literalmente: está entre criminosos, intercede por eles e salva um deles. Gênesis 3:24 registra querubins guardando o caminho da árvore da vida após a Queda; agora, pela cruz (nova árvore), o acesso ao Paraíso é reaberto. O segundo Adão desfaz o que o primeiro causou.
Paulo confirmará a teologia subjacente: “partir e estar com Cristo” (Filipenses 1:23), “ausentes do corpo, presentes com o Senhor” (2 Coríntios 5:8). Não há intervalo de inconsciência, purgatório medieval ou segunda chance post-mortem. Há transição imediata à presença consciente com Cristo.
Justificação pela Fé Somente
O ladrão arrependido exemplifica sola fide de forma paradigmática. Ele não foi batizado, não participou de sacramentos, não produziu frutos visíveis de arrependimento, não restituiu o que roubou. Morreu sem “santificação prática”. Contudo, creu — e foi justificado. A Confissão de Westminster afirma:
“Aqueles que Deus eficazmente chama, também justifica livremente; não infundindo justiça neles, mas perdoando seus pecados e reputando e aceitando suas pessoas como justas — não por qualquer coisa operada neles ou feita por eles, mas somente por causa de Cristo.”
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XI, Seção 1, editora Cultura Cristã, 2001, p. 78.
Roma ensina purgatório e obras satisfatórias; o texto refuta. Arminianismo clássico insiste que fé genuína sempre persevera em santidade progressiva; o criminoso literalmente não teve tempo de perseverar, mas foi salvo.
Estado Intermediário Consciente
Lucas 23:43 é prova textual decisiva contra o aniquilacionismo e o sono da alma. Jesus promete consciência imediata, “hoje estarás comigo”, não existência futura distante ou intervalo de inconsciência. B.B. Warfield, escreveu:
“A promessa de nosso Senhor ao ladrão moribundo não deixa espaço para dúvida de que a alma do crente, na morte, passa imediatamente à presença consciente de Cristo no Paraíso. Não há sono, não há espera inconsciente, não há purgatório — apenas transição imediata da cruz terrena à glória celestial.”
B.B. Warfield, Biblical and Theological Studies, Presbyterian and Reformed Publishing, 1952, p. 267.
A gramática grega é decisiva. Sēmeron (“hoje”) modifica esē (“estarás”), não legō (“digo”). Reorganizar a sintaxe para postergar a bem-aventurança, como fazem grupos que negam consciência após a morte, é violentar o texto
Tema Central
A salvação é pela graça soberana mediante a fé somente, concedida imediatamente aos que, reconhecendo sua indignidade total e a justiça de Cristo, clamam por misericórdia ao Rei crucificado — resultando em entrada consciente e imediata na presença gloriosa de Deus.
Introdução
Existe promessa mais improvável nas Escrituras? Um assassino ensanguentado, agonizando sob justa condenação romana, sem tempo para arrependimento demonstrável, sem batismo, sem sacramentos, sem restituição — e Jesus lhe promete o Paraíso. Não amanhã. Não após purgatório proporcional aos crimes. Mas “hoje mesmo”.
Esta promessa confronta nossa lógica religiosa. Pensamos: “Certamente Deus exige mais. Certamente há estágios, processos, purificações.” Não. A cruz do centro revela que a salvação não é projeto de autoaperfeiçoamento, mas milagre de graça soberana. O Evangelho não é: “Seja bom o suficiente e Deus o aceitará.” É: “Você nunca será bom o suficiente, mas Cristo foi — e Sua justiça basta.”
Contudo, há também advertência solene: havia dois ladrões. A mesma cruz que salva um, deixa o outro em rebelião. Não há neutralidade. Ou você reconhece Jesus como Rei mesmo quando Ele parece derrotado, ou O rejeita exigindo Messias de glória sem sofrimento.
Dúvidas Mais Frequentes
1. O ladrão foi realmente salvo sem batismo e obras?
Sim. A salvação é pela graça mediante a fé somente (Efésios 2:8-9), não por rituais ou desempenho moral. O batismo e boas obras são evidências normais da fé salvadora, mas não causas. Cristo salva quem Ele quer, quando Ele quer, como Ele quer.
2. “Hoje” em Lucas 23:43 modifica “digo” ou “estarás”?
A exegese gramatical é clara: sēmeron qualifica esē (“estarás”), não legō (“digo”). Em todo Lucas-Atos (665 orações), nenhuma frase começa com preposição mais pronome pessoal como exigiria a leitura alternativa. Além disso, “em verdade te digo hoje” seria redundante — quando mais Jesus falaria senão “hoje”?
3. O texto apoia a doutrina do “sono da alma”?
Não. A promessa “hoje estarás comigo” exige consciência imediata. Jesus não disse “teu corpo descansará até a ressurreição”, mas “tu [pessoa consciente] estarás comigo [relação pessoal] no Paraíso [estado bem-aventurado]”. Paulo confirma: “partir e estar com Cristo” (Filipenses 1:23) — transição sem intervalo inconsciente.
4. Por que apenas um ladrão foi salvo?
Mistério da eleição divina. Ambos ouviram as mesmas palavras de Jesus, viram a mesma mansidão, estavam igualmente próximos fisicamente. Mas um endureceu; outro quebrantou. A diferença não está em capacidade moral superior, mas na graça eficaz que regenera corações. Deus salva, mas o homem responde; Deus ilumina, mas o criminoso volta-se em fé.
5. O ladrão tinha “fé suficiente” para ser salvo?
Não existe “fé suficiente” em sentido quantitativo. Fé salvadora não é força de convicção, mas direção do coração. Não é quanto você crê, mas em quem você crê. O ladrão tinha fé do tamanho de grão de mostarda, mas estava depositada no objeto certo: Cristo crucificado. Fé fraca em Salvador forte salva; fé forte em salvador falso condena.
A Promessa Impossível — Salvação Imediata e Completa
A resposta de Jesus é mais chocante que a súplica. Ele poderia ter dito: “Talvez, se você se arrepender o suficiente nos próximos minutos.” Poderia ter prometido: “No juízo final, considerarei seu caso.” Poderia ter advertido: “Você enfrentará purgatório proporcional aos seus crimes.” Mas não. Jesus declara: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso” (v. 43).
Três elementos convergem nesta promessa revolucionária. Primeiro, imediatez temporal: “Hoje” (sēmeron). Não amanhã. Não na ressurreição futura distante. Mas “hoje mesmo”, naquele exato dia da crucificação. A salvação não é adiada, não é condicional a processos subsequentes, não aguarda verificação de sinceridade. É concedida instantaneamente.
A palavra grega sēmeron é teologicamente densa em Lucas. O anjo anuncia aos pastores: “Hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador” (Lucas 2:11). Jesus declara na sinagoga: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lucas 4:21). Ele diz a Zaqueu: “Hoje veio a salvação a esta casa” (Lucas 19:9). Sempre, sēmeron indica o kairos divino, momento da intervenção salvífica de Deus. Não é cronologia vazia, mas tempo preenchido pela graça.
Segundo, comunhão pessoal: “Comigo” (met’ emou). O criminoso pediu para ser lembrado; Jesus promete companheirismo eterno. A bem-aventurança não é meramente “estar no céu”, conceito abstrato e impessoal. É “estar com Cristo”, relacionamento vivo e consciente. Paulo confirmará: “Partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Filipenses 1:23). A essência da glória não é localização geográfica (embora seja real), mas proximidade relacional ao Rei.
Terceiro, realidade escatológica: “No Paraíso” (en tō paradeisō). Jesus usa termo carregado de significado redentor-histórico. Paradeisos, emprestado do persa através da Septuaginta, designava originalmente o jardim do Éden — lugar de comunhão perfeita entre Deus e humanidade antes da Queda. Gênesis 3:24 registra querubins guardando o caminho da árvore da vida após a expulsão. Agora, pela cruz, o acesso é reaberto. O que foi perdido em Gênesis 3 é recuperado em Lucas 23.
Mas há diferença crucial: o Éden original era paraíso terreno, sujeito à prova e à possibilidade de queda. O Paraíso prometido por Jesus é celestial e eterno. Apocalipse 2:7 confirma: “Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus.” O ladrão arrependido é o primeiro vencedor sob a Nova Aliança, primeiro a saborear o fruto que Adão perdeu.
A promessa de Jesus destrói várias teologias errôneas simultaneamente. Contra o catolicismo medieval, não há purgatório, o criminoso vai direto ao Paraíso sem purificação adicional. No que diz respeito ao aniquilacionismo, não há cessação de existência, há continuidade consciente. Quanto ao o sono da alma, não há inconsciência temporária, há entrada imediata na presença de Cristo. A morte não é pausa na existência, mas portal para glória.
Além disso, a promessa revela a natureza da salvação. Não é recompensa por desempenho, mas dom de graça. É intervenção divina e não conquista humana. Não é baseada em quanto você acumulou de boas obras, mas em quem você conhece, Cristo crucificado. O ladrão recebe o que não merece precisamente porque Cristo sofreu o que não merecia. Substituição penal: Jesus leva maldição imerecida; criminoso recebe bênção imerecida.
O Contraste Impossível — Dois Ladrões, Dois Destinos
Lucas registra detalhe que Mateus e Marcos apenas insinuam: havia dois criminosos, mas apenas um foi salvo. Ambos estavam crucificados ao lado de Jesus. Os dois ouviram a primeira palavra da cruz: “Pai, perdoa-lhes.” Viram a mansidão sobrenatural de Cristo diante da brutalidade romana. Ambos tiveram exposição idêntica à verdade. Mas um endureceu; outro quebrantou.
O primeiro ladrão blasfema: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também!” (v. 39). Sua teologia é pragmática: Messias verdadeiro desce da cruz, exibe poder milagroso, derrota inimigos. Ele quer Cristo utilitário — Deus a serviço de necessidades humanas. Quer salvação em seus termos: alívio sem arrependimento, poder sem submissão, milagre sem fé. E Cristo permanece em silêncio. Nenhuma resposta. Nenhum argumento. Apenas silêncio divino diante de dureza de coração impenitente.
O segundo ladrão repreende o companheiro: “Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença?” (v. 40). Expressão notável: “temer a Deus” (phobeomai ton Theon) é linguagem sapiencial fundamental — início da sabedoria (Provérbios 1:7). Este bandido demonstra teologia mais sólida que os principais sacerdotes: reconhece que existe tribunal superior ao de Roma, juiz mais elevado que Pilatos.
Aqui está o mistério da eleição e da responsabilidade humana. Ambos os criminosos receberam graça comum — exposição à verdade, testemunho da mansidão de Cristo, oportunidade de crer. Mas apenas um recebeu graça eficaz — regeneração do coração, abertura de olhos espirituais, concessão de fé salvadora. A diferença não está em capacidade moral superior (ambos eram lēstai, bandidos violentos). A diferença está na operação soberana e misteriosa do Espírito Santo.
A Escritura não explica o “porquê” da distinção, apenas a registra. Por que um e não o outro? Por que este criminoso e não aquele? Paulo responde: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e terei compaixão de quem eu tiver compaixão” (Romanos 9:15). Deus é soberano em Sua graça. Ninguém merece salvação; portanto, se Deus salva alguém, é pura misericórdia. Se não salva todos, não é injustiça — é justiça. O milagre não é que um ladrão foi condenado, mas que um ladrão foi salvo.
Contudo, responsabilidade humana permanece intacta. O primeiro ladrão não é vítima de determinismo divino. Ele escolhe blasfemar. Escolhe endurecer. Escolhe rejeitar Cristo mesmo vendo Sua mansidão. A Escritura nunca sacrifica responsabilidade humana no altar da soberania divina, nem vice-versa. Ambas coexistem em tensão misteriosa mas bíblica.
E esta narrativa confronta nossa presunção. Quantos de nós nos identificamos secretamente com o ladrão salvo, nunca com o perdido? Mas a advertência é solene: estar externamente próximo a Cristo (fisicamente ao lado na cruz) não garante salvação. Ouvir Suas palavras não garante regeneração. Testemunhar Seus atos não produz fé automaticamente. A cruz que salva um, deixa outro impenitente. Não há neutralidade. Ou você se quebra em arrependimento, ou endurece em rebelião.
Relação com a Atualidade
Vivemos em cultura obcecada por merecimento. Redes sociais celebram conquistas. Universidades vendem credenciais. Corporações recompensam desempenho. E inconscientemente, transferimos esta lógica para espiritualidade: “Se eu me esforçar suficientemente, Deus me aceitará.” “Se acumular boas obras, merecerei céu.” “Se minha balança moral pender mais para virtudes que vícios, serei salvo.”
A promessa de Cristo ao ladrão explode esta mentalidade. Não há tempo para merecimento. Oportunidade para reparação também não. Nem possibilidade de restituição. Apenas súplica desesperada: “Lembra-te de mim.” E Jesus responde com salvação completa, imediata, eterna. Não porque o criminoso mereceu. Mas porque Cristo morreu.
Além disso, nossa geração enfrenta crise de esperança pós-morte. Materialismo filosófico afirma: morte é aniquilação, fim da consciência, extinção da pessoa. Espiritualidades orientalizadas propõem ciclos infinitos de reencarnação baseados em karma acumulado. Até mesmo cristãos nominais vivem funcionalmente como materialistas, evitam pensar em morte, negam mortalidade, perseguem imortalidade através de longevidade física.
Lucas 23:43 destrói todas estas ilusões. Morte não é fim, mas portal. Não é aniquilação, mas transição. Não é cessação de consciência, mas entrada em presença gloriosa. “Hoje estarás comigo no Paraíso”, promessa que transforma nosso relacionamento com mortalidade. Se morrer é “partir e estar com Cristo” (Filipenses 1:23), então morte perde seu ferrão (1 Coríntios 15:55). Torna-se não inimigo final, mas servo involuntário que nos transporta à glória.
Culturalmente, também enfrentamos crise de imediatez. Sociedade digital nos condicionou a esperar gratificação instantânea: comida entregue em minutos, entretenimento sob demanda, comunicação simultânea. Mas espiritualmente, propagamos narrativa oposta: “Santificação leva tempo”, “Crescimento espiritual é processo longo”, “Não espere transformação rápida.” Verdades importantes, mas que podem inadvertidamente obscurecer a radicalidade da graça.
O ladrão nos lembra: salvação é instantânea. Regeneração acontece em momento. Justificação não é progressiva, é declaração forense única e completa. Não levou décadas de discipulado para o criminoso ser salvo. Levou um clamor: “Lembra-te de mim.” E Cristo respondeu: “Hoje”, não “eventualmente”, não “depois de muito esforço”, mas “hoje mesmo”.
Isto não nega importância de santificação progressiva. Obviamente, cristão genuíno cresce em santidade ao longo da vida (2 Pedro 3:18). Mas o ladrão nos confronta com verdade frequentemente esquecida: salvação não é recompensa no final de jornada de autoaperfeiçoamento. É milagre no começo, dom imerecido que transforma pecador em filho.
Conclusão
A narrativa do ladrão arrependido é microcosmo do Evangelho completo. Nela convergem todas as doutrinas da graça: depravação total (o homem era malfeitor até o último instante), eleição incondicional (nada nele merecia salvação), expiação definitiva (Cristo salva eficazmente na hora da morte), graça irresistível (coração de pedra torna-se carne sem cooperação prévia), perseverança dos santos (entrada imediata no Paraíso assegurada).
Mais profundamente, o texto revela glória paradoxal da cruz. O lugar de máxima humilhação é lugar de máxima exaltação. O trono real é madeiro maldito. O Rei vitorioso é Cordeiro imolado. Jesus não reina apesar da cruz, mas através dela. Sua realeza não é suspensa pela crucificação — é estabelecida por ela.
Mensagem Central
Contemple este criminoso ensanguentado, agonizante, merecidamente condenado. Ele não teve infância cristã, não frequentou catequese, não memorizou Escrituras, não produziu fruto visível de arrependimento. Viveu matando e roubando. Morreu sem restituir nada. Contudo, numa fração de segundo, numa oração entrecortada por dor e falta de ar, ele olhou para Cristo crucificado e clamou: “Lembra-te de mim.” E Jesus, o Rei moribundo, respondeu: “Hoje, hoje mesmo, você estará comigo no Paraíso.” Esta é a mensagem que destrói toda autoconfiança religiosa e toda presunção moral. Não importa quão depravado seja seu passado, quão tarde seja sua hora, quão vazia sua conta bancária de boas obras. Se você, como este criminoso, reconhecer sua culpa, confessar que Jesus é justo e clamar por Sua misericórdia real, você será salvo. Não amanhã. Não depois de anos de terapia espiritual. Mas hoje. Imediatamente. Completamente. Eternamente.
Aplicação
A pergunta que o texto nos faz é simples e urgente: De qual lado da cruz você está? Está com o ladrão impenitente, exigindo que Jesus prove Seu poder descendo do madeiro, salvando-Se para salvar você nos seus termos? Ou está com o ladrão arrependido, reconhecendo que Jesus salva precisamente não descendo, mas permanecendo na cruz até o fim, levando sobre Si a maldição que você merece? A cruz continua no centro de tudo e Cristo continua sendo o Rei. Sua promessa permanece para todo pecador que, como aquele criminoso, abandona toda autoconfiança e clama: “Jesus, lembra-te de mim.” A resposta de Cristo não mudou: “Hoje estarás comigo no Paraíso.” Não porque você merece, mas porque Ele morreu. Não apesar da cruz, mas através dela. Para a glória de Deus e alegria eterna de pecadores salvos pela graça.
Perguntas para Reflexão:
- Por que o reconhecimento da própria culpa e da justiça da condenação (v. 41) é essencial para experimentar a salvação?
- O que significa reconhecer Jesus como Rei precisamente quando Ele parece derrotado na cruz? Como isso desafia nossa tendência de seguir Cristo apenas quando as circunstâncias são favoráveis?
- A promessa “hoje estarás comigo no Paraíso” destrói quais falsas esperanças sobre salvação pós-morte? Como esta verdade transforma nossa relação com a mortalidade?
- Se o ladrão foi salvo sem batismo, sem obras e sem tempo para santificação visível, o que isso nos ensina sobre a natureza da justificação pela fé somente?
- Por que havia dois ladrões, mas apenas um foi salvo? O que esta distinção nos ensina sobre soberania divina e responsabilidade humana?
- Como a frase “lembra-te de mim” reflete compreensão profunda da linguagem pactual do Antigo Testamento? O que significa pedir que Deus “se lembre” de nós?
- De que maneiras práticas você tem buscado “merecer” a salvação através de desempenho religioso? Como a história do ladrão liberta você dessa escravidão?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- O ARREBATAMENTO DA IGREJA
- A VOLTA DE CRISTO
- EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
- COMO É O CÉU?
- O QUE ACONTECE DEPOIS DA MORTE?
- JEJUM NA BÍBLIA
- O MILÊNIO DE APOCALIPSE 20

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!