Mateus 5:10-12. “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.”
“Nos lugares onde a igreja é perseguida, ela está crescendo e se fortalecendo. Naqueles lugares onde a igreja é livre ela esta enfraquecendo e encolhendo.”
A Glória Oculta do Corpo de Cristo
A Igreja deve ser uma pedra preciosa de muitas cores, mas uma pedra que não se gloria em sua própria beleza, mas na luz que a atravessa. C.S. Lewis, The Problem of Pain, p. 154.
O trabalho da Igreja não é se tornar relevante ao mundo, mas tornar o mundo relevante a Deus. D. Martyn Lloyd-Jones, Spiritual Depression, p. 78.
Enquanto a igreja ocidental busca projeção e reconhecimento, nossos irmãos perseguidos descobriram um tesouro mais precioso no anonimato da fé. Como pode ser que aqueles que mais deveriam ser celebrados sejam os que mais rejeitam a celebração? Esta é a ironia sagrada que desafia nossas convicções mais profundas sobre o que significa ser igreja.
Quando observamos a igreja perseguida, somos confrontados com uma verdade desconcertante: a glória de Deus resplandece mais intensamente não nos palcos iluminados, mas nos porões escuros onde jovens adoram em silêncio, sabendo que sua fé pode custar-lhes tudo. É uma lição que ecoa através dos séculos, desde o tempo em que os primeiros cristãos se reuniam em catacumbas.
A Contracultura do Reino no Coração da Perseguição
Então, nós estivemos em um lugar onde fomos hospedados de forma muito simples. E aí perguntamos se teríamos a chance de estar em uma igreja. A pessoa que nos recebeu olhou para nós com muita ternura e disse: “Vocês já estão em uma igreja.” Atravessamos um espaço coberto de objetos, e eu nunca vou esquecer essa cena — uma cena que marcou profundamente o nosso coração. No fundo daquele espaço havia uma porta branca, muito discreta, muito singela. Quando abrimos essa porta, não havia cadeiras — apenas tapetes espalhados no chão e uma mesa bem baixinha.
Naquele lugar, quase 30 jovens estavam adorando o Senhor. A maioria desses jovens, ao se render a Cristo, precisa enfrentar perseguição — muitas vezes, por parte da própria família. Quando entramos ali, vimos aqueles jovens adorando e olhávamos para tudo aquilo pensando: “Meu Deus… a história deles, a forma como vivem o cristianismo, o modo como o experimentam… é tão diferente de nós, cristãos livres, não é?” Ariadna de Oliveira.
A igreja perseguida revela uma contracultura que desafia nossos paradigmas contemporâneos. Enquanto nossa geração busca métricas de sucesso e visibilidade, estes jovens encontraram uma métrica diferente: a proximidade com Cristo através do sofrimento. Não é masoquismo espiritual, mas uma compreensão profunda de que expressou nosso Senhor: “se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24).
O evangelismo relacional praticado por esses jovens não é uma estratégia de marketing, mas uma necessidade existencial e muito perigosa. Quando proclamar Cristo pode significar morte, cada palavra precisa ser pesada, cada relacionamento cultivado com cuidado. Esta é a diferença entre o evangelismo ocidental midiático e a paciência do evangelismo perseguido. Um constrói multidões; o outro constrói discípulos.
O cristianismo não é uma religião de conforto, mas de confronto – confronto com nossa própria natureza pecaminosa e com um mundo que se opõe a Deus. R.C. Sproul, The Holiness of God, p. 142.
A verdadeira igreja não é aquela que busca agradar ao mundo, mas aquela que busca agradar a Deus, mesmo que isso signifique desagradar ao mundo. D. Martyn Lloyd-Jones, The Sermon on the Mount, p. 89.
O anonimato desses cristãos não é uma fraqueza, mas uma força. Eles compreenderam o que João Batista expressou: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). Enquanto Babel buscou fazer célebre seu próprio nome, estes jovens fazem célebre apenas o nome de Cristo. Esta é a verdadeira contracultura: celebrar a Deus quando ninguém está vendo, servir quando ninguém aplaude, perseverar quando ninguém reconhece.
Em toda a história da humanidade, os maiores heróis foram aqueles que permaneceram anônimos, cujos nomes só Deus conhece. Victor Hugo, Os Miseráveis, p. 1123.
A Verdadeira Medida da Igreja
A experiência com a igreja perseguida nos ensina que a verdadeira medida da igreja não está em sua visibilidade, mas em sua fidelidade. Não está no aplauso que recebe, mas no preço que está disposta a pagar. A igreja perseguida nos mostra que o evangelho não foi concebido para ser confortável, mas para ser transformador.
A cruz não é apenas algo que Jesus carregou, mas algo que cada cristão deve carregar diariamente. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship, p. 89.
O verdadeiro caráter cristão não se revela na ausência de sofrimento, mas na presença de Cristo em meio ao sofrimento. Charles Spurgeon, Morning and Evening, p. 234.
Cristo nos chama não para uma vida de facilidade, mas para uma vida de fidelidade. O reino dos céus pertence não àqueles que evitam o sofrimento, mas àqueles que abraçam a cruz. A igreja perseguida vive essa verdade diariamente, transformando cada lágrima em adoração, cada dor em intercessão, cada silêncio forçado em proclamação interna.
O anonimato desses irmãos não é uma limitação, mas uma libertação. Libertos da tirania do reconhecimento humano, eles encontraram a liberdade de servir apenas por amor a Cristo. Esta é a lição que a igreja ocidental mais precisa aprender: que a glória de Deus brilha mais intensamente quando nossa própria glória é eclipsada.
E agora, como viveremos?
A igreja perseguida nos desafia a repensar nossa prática cristã contemporânea.
Precisamos cultivar o evangelismo relacional, investindo tempo em relacionamentos genuínos antes de proclamar a mensagem.
Devemos abraçar o anonimato como uma disciplina espiritual, servindo sem buscar reconhecimento.
Precisamos valorizar o discipulado pessoal, onde cada cristão assume a responsabilidade de formar outros discípulos.
Em nosso contexto brasileiro, isso significa abrir nossas casas, cultivar amizades profundas com não-cristãos, e encontrar nossa identidade em Cristo, não em nossa reputação. Significa celebrar os avanços do reino, mesmo quando não somos os protagonistas. Significa perseverar na fé, mesmo quando ninguém está vendo.
A igreja perseguida nos ensina que a verdadeira força da igreja não está em sua capacidade de impressionar o mundo, mas em sua capacidade de transformar vidas através do amor incondicional de Cristo. Que possamos aprender com esses jovens anônimos que, em sua simplicidade, revelam a complexidade da graça divina.
Oremos
Pai celestial, diante da fé corajosa de nossos irmãos perseguidos, reconhecemos nossa própria fragilidade e dependência de Ti. Perdoa-nos por buscarmos reconhecimento humano quando deveríamos buscar apenas Tua glória. Concede-nos um coração semelhante ao de milhares de jovens anônimos que adoram em silêncio, que evangelizam com paciência, que discipulam com amor.
Fortalece nossa igreja para podermos aprender com aqueles que sofrem por Teu nome. Ensina-nos a valorizar o anonimato como uma disciplina espiritual, encontrando nossa identidade não no aplauso humano, mas na aprovação divina. Que possamos ser fiéis em secreto, sabendo que Tu, que vês em secreto, nos recompensarás publicamente.
Concede-nos coragem para evangelizar relacionalmente, paciência para discipular pessoalmente, e humildade para servir anonimamente. Que nossa vida seja uma carta de Cristo, lida pelos homens, apontando sempre para Ti e nunca para nós mesmos. Em nome daquele que, sendo rico, se fez pobre por nossa causa, Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.
Este devocional se baseia no testemunho de Ariadna de Oliveira e Missionária na Ásia.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!