JEJUM – Limpando a Alma

Joel 2:15. “Consagrai jejum, convocai assembleia solene, congregai os anciãos e todos os moradores desta terra na Casa do SENHOR, vosso Deus, e clamai ao SENHOR.”

A Resistência ao Desentulhe Interior

Quantas você já adiou o necessário desentulhe de sua casa, temendo o trabalho que você sabe que vai gerar? Contudo, há um desentulhe ainda mais desafiador: o da alma. Em nossos dias de espiritualidade instantânea e gratificação imediata, o jejum surge como uma disciplina que nos confronta com nossa dependência de confortos temporais. Por que resistimos tanto a essa prática bíblica que os santos de todas as épocas abraçaram como um meio de graça? O jejum expõe nossa idolatria não tão sutil por prazeres que sejam duradouros e conforto.

“O jejum não é principalmente sobre comida. É sobre descobrir o que está dentro de nós.” John Piper, Um Gosto de Céu: Como Adorar Deus na Terra, Editora Vida Nova, 2008, 192 páginas.

A Santificação Através da Abstinência Sagrada

Quando jejuamos com propósito espiritual, iniciamos um processo semelhante ao desentulhe doméstico, porém infinitamente mais profundo. Assim como removemos objetos desnecessários para revelar espaços há muito esquecidos, o jejum remove as distrações carnais que obstruem nossa comunhão com Deus, é um exercício de domínio próprio que nos capacita para a verdadeira liberdade espiritual. Através da prática do jejum, combatemos as distrações e desejos e progressivamente desenvolve nossa relação com Deus.

O jejum bíblico transcende a simples abstinência alimentar – é separação intencional das satisfações temporais para cultivar fome e sede de justiça. Quando controlamos voluntariamente nosso apetite físico mais básico, disciplinamos simultaneamente outros desejos desordenados. Nossos afetos gradualmente se realinham, nossa consciência se aguça, e nosso espírito encontra espaço para crescer em santidade.

“É necessário habituar o corpo às privações, para que possa ele, com paciência e alegria, sofrer pela confissão de Cristo e pela verdade evangélica.” João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Editora Cultura Cristã, 2006, 1248 páginas.

Esta prática espiritual nos conduz às “regiões celestiais”, onde contemplamos o Eterno desvencilhados de nossas misérias temporais. Ali, em espírito e em verdade, dirigimo-nos ao nosso Senhor em adoração genuína. A Palavra viva nos transforma progressivamente de glória em glória, e a Verdade penetra nossa alma, transcendendo angústias cotidianas e nos fazendo prosperar no conhecimento do Deus Altíssimo.

Portanto, ao concentrarmos nosso espírito em sua própria essência, discernindo coisas espirituais com percepção espiritual, experimentamos aquela comunhão profunda com o Pai das Luzes que nos criou à sua imagem e semelhança.

“A vida contemplativa não é uma fuga da ação, mas uma entrada nela a partir de uma fonte mais profunda.” Thomas Merton, Novas Sementes de Contemplação, Editora Vozes, 2005, 320 páginas.

Vestes Brancas à Espera do Noivo

Desvencilhados de pecados tenazes através desta disciplina santa, nossa caminhada rumo à santificação ganha nova margem antes imperceptível. O jejum remove os entulhos espirituais (o pecado que tenazmente nos assedia… Hebreus 12:1-2) que nos impediam de ver o que Deus depositou em nossos corações quando nos salvou, o novo ser humano que nos tornamos em Cristo.

Assim como o desentulhe doméstico revela tesouros esquecidos, o jejum espiritual desvenda as riquezas da graça divina em nosso interior. Descobrimos que nossa verdadeira identidade não reside nas satisfações carnais, mas em sermos filhos amados do Altíssimo. Com as vestes progressivamente mais brancas, aguardamos alegremente o Noivo que não tarda em voltar.

E Agora, Como Viveremos?

O jejum bíblico deve tornar-se disciplina regular em sua vida cristã, não ritual ocasional.

Separe períodos específicos para jejuar – talvez um dia por semana ou durante situações que exigem discernimento especial. Durante esses momentos, substitua o tempo de refeição por oração, leitura bíblica e meditação.

Quando sentir fome física, lembre-se de que esta sensação aponta para uma fome maior: a sede de Deus. Use cada pontada de fome como lembrança para buscar primeiro o Reino de Deus. Jejue com propósito definido – pela santificação pessoal, pela igreja, pelos perdidos, pela sabedoria em decisões importantes.

Permita que o jejum desentulhe não apenas seu corpo, mas também sua agenda, suas prioridades e seus relacionamentos. Identifique quais “entulhos espirituais” precisam ser removidos: entretenimentos excessivos, preocupações mundanas e quaisquer hábitos que enfraqueçam sua comunhão com Deus. Pratique o jejum como preparação para a volta de Cristo, mantendo suas vestes espirituais sempre prontas.

Oremos

Senhor Jesus, concede-nos graça para abraçar o jejum como meio de santificação. Remove de nós os entulhos espirituais que impedem nossa comunhão contigo. Que nossa fome física nos lembre da fome maior por tua justiça. Prepara nossos corações para tua volta gloriosa. Amém.

Perguntas para Reflexão

Quais “entulhos espirituais” em sua vida precisam ser removidos através da disciplina do jejum?
Como o jejum pode transformar sua perspectiva sobre as necessidades temporais versus as eternas?
De que forma esta disciplina pode preparar melhor seu coração para a volta de Cristo?

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.