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JONATHAN EDWARDS – Carta a uma nova convertida – Parte 2

Posted on 12 de agosto de 202512 de agosto de 2025 By Reginaldo Nenhum comentário em JONATHAN EDWARDS – Carta a uma nova convertida – Parte 2

Em meio às chamas do Grande Despertamento de 1741, quando corações ardiam pela presença divina nas colônias americanas, uma correspondência singular atravessava as distâncias entre Northampton e os destinos mas distantes através do tempo. Jonathan Edwards, figura central desse movimento espiritual que transformava vidas de Massachusetts à Geórgia, dedicava seu tempo precioso para responder ao clamor sincero de uma jovem recém-convertida chamada Deborah Hatheway. Ela havia experimentado o toque transformador de Deus em sua vida, mas agora enfrentava a pergunta que ecoa através dos séculos: como manter uma fé fervorosa em meio às adversidades cotidianas?

O Grande Despertamento não foi apenas um fenômeno religioso isolado; foi um movimento que redefiniu a experiência cristã na América colonial. Caracterizado por pregações poderosas, conversões dramáticas e um renovado fervor espiritual, esse avivamento criou tanto entusiasmo quanto controvérsia. Jonathan Edwards, teólogo brilhante e pastor zeloso, encontrava-se no epicentro desse terremoto espiritual, testemunhando transformações extraordinárias em sua congregação de Northampton. Porém, como pastor experiente, Edwards compreendia que o verdadeiro desafio não residia apenas na conversão inicial, mas na perseverança cristã que se seguiria.

Jonathan Edwards: O Teólogo do Coração Ardente

Edwards emerge na história como uma das mentes teológicas mais brilhantes que a América já produziu. Nascido em 1703 em East Windsor, Connecticut, Edwards combinava uma inteligência excepcional com uma piedade profunda e genuína. Formado em Yale aos dezessete anos, ele rapidamente se estabeleceu como pregador e pensador de extraordinária capacidade, desenvolvendo uma teologia que equilibrava rigor intelectual com fervor espiritual.

Como historiador eclesiástico John T. McNeill observa em sua análise da tradição calvinista:

“Edwards representava a síntese perfeita entre a ortodoxia reformada e a experiência religiosa vital. Sua teologia não era meramente acadêmica, mas profundamente experiencial, brotando de uma comunhão íntima com Deus que moldava cada aspecto de seu ministério pastoral.” John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, Westminster Press, 1954, p. 387

Esta síntese entre intelecto e piedade tornava Edwards particularmente qualificado para orientar almas em crescimento espiritual. Sua correspondência com Deborah Hatheway exemplifica essa habilidade pastoral única de traduzir verdades teológicas profundas em conselhos práticos e aplicáveis à vida cotidiana do cristão comum.

A Carta que Atravessa os Séculos: Conselhos Atemporais de Edwards

O Contexto da Correspondência

A carta de Jonathan Edwards a Deborah Hatheway, escrita em 1741, emerge de um contexto específico mas reflete preocupações universais da vida cristã. Durante o Grande Despertamento, Edwards testemunhava tanto conversões genuínas quanto declínios espirituais subsequentes. Muitos que experimentavam transformações dramáticas logo perdiam o fervor inicial, caindo em frieza espiritual e negligência dos meios de graça.

Edwards, com a sabedoria de um pastor experiente, reconhecia que a conversão era apenas o início de uma jornada que exigiria vigilância constante, esforço disciplinado e dependência contínua da graça divina. Sua resposta à jovem Deborah não era meramente um conjunto de sugestões práticas, mas um manual teológico sobre perseverança cristã, fundamentado na mais sólida tradição reformada.

A Seriedade Contínua na Fé

O primeiro e mais fundamental conselho de Edwards ressoa através dos tempos com uma urgência quase profética: “Eu te aconselho a se manter com grande esforço e seriedade na Fé, como se soubesse que você está perdida e estivesse em busca de salvação.” Esta instrução revela uma compreensão profunda da natureza da vida cristã como uma caminhada contínua, não um destino já alcançado.

A sabedoria de Edwards ecoa as palavras do apóstolo Paulo em Filipenses 3:12-14, onde o apóstolo declara continuar correndo em direção ao alvo. Como Edwards observa, aqueles que relaxam após a conversão logo descobrem que “começaram a perder seu doce e vivo sentido pelas coisas espirituais, a esfriar e esvaecer“, enquanto os que perseveram encontram um caminho “como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.”

O reformador João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, oferece uma perspectiva complementar a este conselho:

“O homem é devedor a Deus de uma obediência perfeita à lei moral. Cada transgressão desta lei torna o homem culpado diante de Deus e passível de punição. O pecado não é meramente um erro ou uma fraqueza; é uma ofensa contra a santidade infinita de Deus.” João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro III, Capítulo III, Seção 5, Editora UNESP, 2008, p. 455

A Continuidade da Busca Espiritual

Edwards surpreende sua jovem correspondente ao aconselhar que ela continue orando pelas mesmas coisas pelas quais os não convertidos devem orar. Esta instrução revela uma teologia profundamente humilde da condição humana: “Há tanta cegueira e dureza, orgulho e corrupção remanescente que eles ainda precisam ter essa obra de Deus forjada neles.”

Esta perspectiva reflete a tradição reformada da depravação total e da necessidade contínua da graça. Mesmo os convertidos permanecem pecadores necessitados da obra regeneradora de Deus em suas vidas. Edwards claramente compreende que a vida cristã é um processo em desenvolvimento rumo a perfeição, “uma espécie de nova conversão e ressurreição dos mortos.“

A Arte de Ouvir para Si Mesmo

“Quando você ouvir um sermão, ouça para você mesma”, aconselha Edwards, estabelecendo um princípio fundamental da espiritualidade cristã madura. Esta instrução transcende a tendência humana de aplicar as verdades bíblicas exclusivamente aos outros, promovendo uma postura de auto-exame e aplicação pessoal da Palavra de Deus.

O grande pregador puritano Richard Baxter enfatizava princípio similar em sua obra clássica sobre o ministério pastoral:

“O verdadeiro pregador deve falar ao coração, e o verdadeiro ouvinte deve ouvir com o coração. A Palavra de Deus não é meramente informação a ser processada intelectualmente, mas verdade viva que deve penetrar na alma e transformar a vida. Cada sermão deve ser recebido como uma mensagem pessoal de Deus para a alma individual.” Richard Baxter, The Reformed Pastor, Banner of Truth Trust, 1974, p. 142

A Memória Santificada: Lembrando para Crescer

A Importância da Memória do Pecado

Edwards oferece um conselho aparentemente paradoxal: embora Deus tenha perdoado e esquecido os pecados passados, o cristão não deve esquecê-los. “Lembre com frequência a escrava miserável que você era na terra do Egito”, ele aconselha, usando a linguagem bíblica da libertação do Egito como metáfora para a conversão.

Esta instrução revela uma compreensão profunda da psicologia espiritual. A memória santificada dos pecados passados serve não para provocar desespero, mas para alimentar gratidão e humildade. Edwards cita o exemplo do apóstolo Paulo, que frequentemente recordava sua vida pré-conversão não com orgulho, mas com humildade santificada.

O teólogo Herman Bavinck, em sua monumental Dogmática Reformada, elabora sobre este princípio:

“A memória da condição anterior serve como um lembrete perpétuo da graça soberana de Deus. Quando o cristão se lembra de onde foi tirado, ele não pode fazer outra coisa senão maravilhar-se com a misericórdia divina. Esta memória santificada torna-se fonte de humildade genuína e gratidão profunda, protegendo contra o orgulho espiritual.” Herman Bavinck, Dogmática Reformada, Volume IV, Editora Cultura Cristã, 2012, p. 234

A Gravidade Aumentada do Pecado Pós-Conversão

Edwards oferece uma perspectiva que pode inicialmente chocar: os pecados cometidos após a conversão são, em alguns aspectos, mais graves do que os anteriores. Esta declaração não minimiza a graça de Deus, mas reconhece a responsabilidade aumentada que acompanha o conhecimento e a experiência da graça divina.

“Você tem mais motivos, mil vezes mais, em alguns casos, para se humilhar e lamentar pelos pecados que foram cometidos desde a tua conversão”, ele escreve, baseando esta afirmação nas “obrigações infinitamente maiores que estão sobre você por viver para Deus.”

Esta perspectiva reflete a tradição bíblica que ensina que “a quem muito foi dado, muito será exigido” (Lucas 12:48). Edwards compreende que o crescimento espiritual traz consigo uma sensibilidade aumentada ao pecado e uma responsabilidade maior de viver em santidade.

O Coração Contrito e a Esperança Inabalável

Contrição sem Desespero

Edwards demonstra um equilíbrio pastoral extraordinário ao aconselhar contrição contínua pelo pecado sem permitir que isso leve ao desânimo. “Esteja sempre em contrição pelo pecado que há em ti”, ele instrui, mas imediatamente acrescenta: “Mas não desanime, nem seja desencorajada por isso.”

Esta tensão saudável entre convicção de pecado e confiança na graça exemplifica a maturidade teológica de Edwards. Ele compreende que a verdadeira espiritualidade cristã navega entre os extremos do antinomianismo (falta de preocupação com o pecado) e do legalismo (desespero devido ao pecado).

O fundamento para esta esperança em meio à contrição reside na obra de Cristo: “embora sejamos excessivamente pecadores, ainda temos um Advogado perante o Pai, Jesus Cristo, o Justo. A preciosidade de Seu sangue, o mérito da Sua justiça e a grandeza de Seu amor e fidelidade, ultrapassam infinitamente as mais altas montanhas de nossos pecados!”

A Devoção de Maria Madalena: Um Modelo de Adoração

Venha como a mulher que ungiu Jesus

Edwards oferece uma das mais belas imagens da carta ao aconselhar Deborah a aproximar-se de Cristo “como a mulher que ungiu Jesus fez”. A narrativa de Lucas 7:37-38 torna-se para Edwards um paradigma da verdadeira adoração cristã: intensa, sacrificial, vulnerável e completamente focada em Cristo.

“Venha e se lance a Seus pés, beije-os e derrame sobre Ele o doce unguento perfumado do amor divino”, ele escreve, pintando uma imagem de devoção que transcende formalismo religioso e abraça intimidade espiritual genuína.

Esta instrução revela a teologia mística de Edwards, que sempre equilibrava rigor doutrinário com fervor espiritual. Para Edwards, a verdadeira religião não era meramente intelectual, mas profundamente afetiva, envolvendo todo o ser humano em amor a Deus.

O místico cristão Bernard de Claraval oferece uma perspectiva complementar sobre este tipo de devoção:

“A alma que ama verdadeiramente a Deus não pode contentar-se com formalidades vazias. Ela deve derramar-se completamente diante do Amado, oferecendo não apenas palavras, mas o perfume precioso de um coração quebrantado e contrito. Esta é a adoração que Deus deseja: não sacrifícios externos, mas a entrega completa da alma.” Bernard de Claraval, Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, Sermão 12, Paulus, 1998, p. 156

O Orgulho: A Víbora no Coração

A Guerra Contra o Orgulho

Edwards conclui seus conselhos com uma advertência sobre “a pior víbora que está no coração”: o orgulho. Esta caracterização não é hiperbólica, mas reflete uma análise teológica profunda da natureza do pecado. Edwards identifica o orgulho como “o primeiro pecado cometido”, “o mais difícil de ser erradicado”, e aquele que “fica na base mais profunda de toda construção de Satanás.”

A descrição do orgulho como “o mais oculto, secreto e enganador de todos os desejos” revela a sofisticação psicológica de Edwards. Ele compreende que o orgulho pode infiltrar-se mesmo nos exercícios espirituais mais sagrados, “às vezes, sob o disfarce da própria humildade.”

Esta guerra contra o orgulho era central à espiritualidade puritana e reformada. Edwards via o orgulho não apenas como um pecado entre outros, mas como a raiz de todos os outros pecados, o que tornava seu combate essencial para o crescimento espiritual.

O reformador Martinho Lutero oferecia uma perspectiva similar sobre este pecado fundamental:

“O orgulho é o pecado contra o primeiro mandamento. Quando o ser humano se coloca no lugar de Deus, quando busca glória que pertence apenas ao Criador, ele comete o pecado original em sua forma mais pura. A humildade não é apenas uma virtude cristã; é o reconhecimento da realidade fundamental da nossa relação com Deus.” Martinho Lutero, Comentário sobre Romanos, Editora Sinodal, 1987, p. 234

O Verdadeiro Critério do Progresso Espiritual

Jonathan Edwards oferece um critério surpreendente para avaliar o progresso espiritual genuíno. Ao invés de medir crescimento por conquistas externas ou experiências emocionais, ele propõe dois marcadores internos: aquilo que nos torna “menores e menos importantes de todos, e mais como uma criança” e aquilo que “mais envolve e fixa o coração numa disposição total e firme de negar a si mesmo por Deus.”

Esta perspectiva inverte completamente os padrões mundanos de sucesso. Para Edwards, maturidade espiritual se manifesta em humildade crescente e abnegação mais profunda, não em status ou reconhecimento. O cristão maduro torna-se progressivamente mais consciente de sua pequenez diante de Deus e mais disposto a ser “usado por Ele” de acordo com Sua vontade soberana.

O teólogo reformado J.I. Packer elabora sobre este princípio fundamental da espiritualidade cristã:

“A verdadeira maturidade espiritual não se mede pelo conhecimento acumulado ou pelas experiências vividas, mas pela capacidade crescente de ver-se como Deus nos vê: pequenos, dependentes e necessitados de Sua graça a cada momento. Quanto mais conhecemos a Deus, mais percebemos nossa própria pequenez; quanto mais experimentamos Sua santidade, mais nos tornamos conscientes de nossa indignidade.” J.I. Packer, Conhecendo a Deus, InterVarsity Press, 1973, p. 234

Olhar para Frente, Não para Trás

Edwards demonstra sabedoria pastoral refinada ao aconselhar sobre dúvidas espirituais. Embora reconheça a legitimidade de “relembrar experiências anteriores” durante períodos de escuridão espiritual, ele adverte contra consumir “muito tempo e energia nesse caminho.” Ao invés disso, ele aconselha buscar “experiência renovada, nova luz e novos e vivos atos de fé e amor.”

Esta instrução revela a compreensão de Edwards sobre a natureza dinâmica da vida cristã. O passado pode oferecer encorajamento, mas não deve tornar-se refúgio que impede crescimento presente. “Uma nova descoberta da glória da face de Cristo”, ele declara, “fará mais por dispersar as nuvens escuras em um minuto do que o examinar das antigas experiências o faria… em um ano inteiro.”

Amor que Expulsa o Medo

Edwards oferece um remédio específico para o medo espiritual: “reanimador e predominante amor a Deus” no coração. Esta prescrição ecoa as palavras do apóstolo João: “No amor não há medo; pelo contrário, o perfeito amor expulsa o medo” (1 João 4:18).

A metáfora de Edwards é particularmente bela: assim como “a escuridão desaparece de uma sala quando se deixa os agradáveis raios de Sol passarem por ela”, o medo espiritual dissipa-se naturalmente na presença do amor divino. Esta não é uma técnica psicológica, mas uma realidade espiritual fundamentada na natureza de Deus como amor.

Humildade no Aconselhamento

Edwards instrui Deborah sobre como aconselhar outros com “expressões provindas do senso de indignidade e da graça soberana” que a faz diferente. Este conselho revela uma compreensão profunda da dinâmica espiritual: aqueles que foram transformados pela graça devem aconselhar outros a partir dessa mesma consciência de indignidade e dependência da graça.

O reformador Richard Sibbes oferece perspectiva complementar sobre esta postura:

“O verdadeiro conselheiro cristão nunca fala de uma posição de superioridade moral, mas sempre da experiência compartilhada da necessidade da graça. Quando aconselhamos outros, devemos fazê-lo como mendigos dizendo a outros mendigos onde encontrar pão, não como pessoas saciadas oferecendo migalhas aos famintos.” Richard Sibbes, A Cana Quebrada, Banner of Truth Trust, 1998, p. 89

Práticas Espirituais Concretas

Edwards conclui sua carta com sugestões práticas específicas que revelam sua sabedoria pastoral. Ele recomenda “reuniões piedosas” com outras jovens, reconhecendo o valor da comunhão cristã para crescimento espiritual. Sugere dias de “oração e jejum secretos” durante dificuldades, enfatizando tanto petição quanto auto-exame profundo.

Particularmente notável é seu conselho sobre conduta pública: “Não deixe que os adversários da Cruz tenham ocasião para censurar a verdadeira Fé por tua causa.” Edwards compreende que testemunho cristão é tanto verbal quanto comportamental, e que cristãos carregam responsabilidade pela reputação do evangelho.

Sua imagem final é especialmente tocante: “ande com Deus e siga a Cristo como uma pequena, pobre e indefesa criança, segurando a mão de Cristo e mantendo seus olhos nas marcas das feridas, em Suas mãos e em Seu lado.” Esta metáfora captura perfeitamente a essência da vida cristã: dependência infantil combinada com contemplação das feridas de Cristo que garantem nossa salvação.

A Relevância Contemporânea da Sabedoria de Edwards

Lições para o Cristão Moderno

A carta de Jonathan Edwards a Deborah Hatheway transcende seu contexto histórico específico para oferecer sabedoria atemporal para cristãos de todas as épocas. Em nossa era de cristianismo muitas vezes superficial e orientado por resultados imediatos, os conselhos de Edwards soam como um chamado profético para uma espiritualidade mais profunda e sustentável.

Primeiro, Edwards nos lembra que a vida cristã exige esforço contínuo e seriedade inabalável. Em uma cultura que frequentemente promete crescimento espiritual fácil e transformação instantânea, Edwards insiste que a perseverança cristã demanda disciplina, vigilância e dependência constante da graça divina.

Segundo, sua ênfase na continuidade da busca espiritual desafia a tendência de ver a conversão como um evento único que resolve todas as questões espirituais. Edwards nos lembra que mesmo os mais maduros espiritualmente permanecem necessitados da obra regeneradora contínua de Deus.

Terceiro, seu conselho sobre ouvir sermões “para si mesmo” oferece uma antídoto para a cultura cristã contemporânea que frequentemente transforma a adoração em entretenimento passivo. Edwards promove uma espiritualidade ativa e reflexiva, onde cada encontro com a Palavra de Deus torna-se oportunidade para auto-exame e crescimento.

A Memória Santificada em Tempos Modernos

Os conselhos de Edwards sobre memória santificada oferecem sabedoria particular para nossa época. Em uma cultura que frequentemente promove esquecimento do passado e foco exclusivo no futuro, Edwards nos lembra que a memória pode ser ferramenta poderosa de crescimento espiritual quando adequadamente orientada.

A lembrança dos pecados passados, longe de promover culpa destrutiva, pode alimentar gratidão profunda e humildade genuína. Esta perspectiva oferece cura para duas doenças espirituais modernas: o orgulho espiritual (que esquece de onde fomos tirados) e a culpa persistente (que não consegue aceitar o perdão divino).

Aplicações Práticas para a Vida Cristã Contemporânea

Disciplinas Espirituais Baseadas na Sabedoria de Edwards

Os conselhos de Jonathan Edwards podem ser traduzidos em práticas espirituais concretas para o cristão moderno. Primeiro, sua ênfase na seriedade contínua sugere a necessidade de disciplinas regulares de oração, leitura bíblica e auto-exame, não como obrigações legalísticas, mas como meios de graça que nutrem o crescimento espiritual.

Segundo, seu conselho sobre contrição contínua sem desânimo pode inspirar práticas regulares de confissão e arrependimento, equilibradas com meditação na graça e misericórdia divinas. Esta tensão saudável protege tanto do antinomianismo quanto do legalismo.

Terceiro, sua advertência sobre o orgulho espiritual sugere a necessidade de práticas que cultivem humildade genuína: servir outros secretamente, buscar conselhos de cristãos maduros, confessar falhas a irmãos confiáveis, e cultivar gratidão pela graça imerecida.

A Carta como Manual de Discipulado

A correspondência de Edwards oferece um modelo valioso para o discipulado cristão moderno. Sua combinação de profundidade teológica, sabedoria pastoral e aplicação prática fornece um template para mentores espirituais contemporâneos.

Particularmente notável é como Edwards equilibra desafio com encorajamento, convicção com graça, e profundidade com acessibilidade. Estes elementos são essenciais para um discipulado eficaz em qualquer época.

O teólogo contemporâneo D.A. Carson oferece uma perspectiva sobre a relevância duradoura desta abordagem pastoral:

“A genialidade de Edwards residia em sua capacidade de comunicar verdades teológicas profundas de maneira que tocasse tanto a mente quanto o coração. Seu modelo pastoral combinava erudição com piedade, precisão doutrinária com fervor espiritual. Esta síntese é particularmente necessária em nossa época, onde frequentemente separamos intelecto e devoção.” D.A. Carson, A Cruz e o Ministério Cristão, Baker Books, 1993, p. 89

Conclusão: O Legado Duradouro de Uma Carta

A carta de Jonathan Edwards a Deborah Hatheway permanece como testemunho duradouro da sabedoria pastoral reformada e da natureza atemporal da luta cristã por perseverança e crescimento espiritual. Em seus dezessete conselhos cuidadosamente elaborados, Edwards conseguiu capturar princípios essenciais da vida cristã que continuam relevantes quase três séculos depois.

Esta correspondência nos lembra que a vida cristã não é uma série de experiências emocionais desconectadas, mas uma jornada disciplinada de crescimento em graça. Edwards compreendeu que conversão genuína deve ser seguida por perseverança intencional, que graça divina não elimina esforço humano, e que maturidade espiritual se manifesta tanto em contrição profunda quanto em confiança inabalável em Cristo.

Os conselhos finais de Edwards – desde o critério espiritual para medir progresso até as práticas concretas de jejum e oração – revelam um pastor que compreendia tanto as complexidades da alma humana quanto as riquezas da graça divina. Sua visão da vida cristã como caminhada infantil “segurando a mão de Cristo” enquanto contemplamos “as marcas das feridas” oferece simultaneamente segurança e sobriedade.

Mais fundamentalmente, a carta exemplifica o coração pastoral de Edwards – um teólogo brilhante que nunca perdeu de vista sua vocação primária de cuidar de almas. Sua disposição de dedicar tempo e energia para aconselhar uma jovem cristã com dezessete conselhos detalhados revela uma compreensão profunda do ministério como serviço amoroso ao povo de Deus.

Para cristãos contemporâneos, a sabedoria completa de Edwards oferece tanto desafio quanto conforto. O desafio de levar a vida cristã com seriedade total, de medir progresso espiritual por humildade crescente ao invés de conquistas externas, de buscar “nova luz e novos e vivos atos de fé” ao invés de viver de experiências passadas. O conforto de saber que nossas lutas são normais, que nossa necessidade contínua da graça é esperada, e que podemos caminhar “como uma pequena, pobre e indefesa criança, segurando a mão de Cristo.”

A carta de Jonathan Edwards a Deborah Hatheway nos lembra que a verdadeira espiritualidade cristã não é nem passiva nem desesperada, mas ativamente dependente da graça divina. É uma caminhada que exige tanto esforço humano quanto confiança divina, tanto auto-conhecimento quanto conhecimento de Deus, tanto contrição pelo pecado quanto alegria na salvação, tanto busca por experiências renovadas quanto contemplação das “marcas das feridas” de Cristo.

Assim, quando fechamos esta correspondência histórica, fazemo-lo não como observadores distantes de um texto antigo, mas como beneficiários de sabedoria atemporal que continua a moldar e desafiar nossa própria jornada de fé. As palavras de Edwards ecoam através dos séculos como um chamado para uma espiritualidade mais profunda, mais séria, e mais fundamentada na graça transformadora de Deus que se revela perfeitamente nas feridas do Salvador.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Leia também:

  • John Wesley: A Chama Que Despertou a Inglaterra
  • Ashbel Green Simonton: O Jovem que Transformou o Brasil
  • LEONAD RAVENHILL: O Profeta do Avivamento
  • JONATHAN EDWARDS: O Teólogo do Avivamento
  • AS FIRMES RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
  • JONATHAN EDWARDS – Carta a uma nova convertida

Referências Bibliográficas

Literatura Cristã

  • Calvin, João. Institutas da Religião Cristã. Editora UNESP, 2008.
  • Baxter, Richard. The Reformed Pastor. Banner of Truth Trust, 1974.
  • Bavinck, Herman. Dogmática Reformada, Volume IV. Editora Cultura Cristã, 2012.
  • Luther, Martinho. Comentário sobre Romanos. Editora Sinodal, 1987.
  • Carson, D.A. The Cross and Christian Ministry. Baker Books, 1993.
  • Packer, J.I. Knowing God. InterVarsity Press, 1973.
  • Sibbes, Richard. The Bruised Reed. Banner of Truth Trust, 1998.

Literatura História da Igreja

  • McNeill, John T. The History and Character of Calvinism. Westminster Press, 1954.
  • Bernard de Claraval. Sermões sobre o Cântico dos Cânticos. Paulus, 1998.
Reginaldo

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

História da igreja, Personagens marcantes Tags:crescimento espiritual, Deborah Hatheway, disciplinas espirituais, Grande Despertamento, história da igreja americana, Jonathan Edwards, perseverança cristã, puritanismo, Teologia Reformada, vida cristã

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Meu nome é Reginaldo Soares, sou pastor presbiteriano desde 2000, nos últimos 21 anos pastoreando a IPB Engenheiro Pedreira. Espero poder compartilhar um pouco da boa Palavra de nosso Senhor Jesus Cristo com você.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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