A escolha da melhor tradução da Bíblia em português é uma questão que desperta interesse e debate entre cristãos, especialmente no Brasil, onde há uma ampla variedade de versões disponíveis. Vamos tentar esclarecer as diferenças entre as traduções bíblicas, suas filosofias de tradução e oferecer orientações sobre como escolher a melhor opção para diferentes necessidades. Com uma abordagem teológica e pastoral, exploraremos as razões para a existência de múltiplas traduções, as filosofias que as sustentam e as características das principais versões em português, mantendo a essência do conteúdo original.
Por que Existem Diferentes Traduções da Bíblia?

A Bíblia não foi escrita originalmente em português, mas em hebraico (com trechos em aramaico) para o Antigo Testamento e em grego para o Novo Testamento. Esse fato fundamental implica que toda leitura da Bíblia em português depende de um processo de tradução. Não existe tradução neutra ou perfeita, pois cada uma carrega escolhas interpretativas baseadas em uma filosofia de tradução específica.
A existência de múltiplas traduções é, na verdade, uma riqueza. Diferentes versões permitem que leitores com variados níveis de familiaridade com o texto bíblico e diferentes preferências literárias tenham acesso à Palavra de Deus de forma compreensível. No Brasil, há traduções excelentes que atendem a diversas necessidades, desde as mais literais até as mais acessíveis. É muito interessante manter pelo menos duas ou três traduções em casa para comparar passagens, especialmente as mais complexas ou polêmicas, já que 99% dos textos apresentam pouca variação entre as versões, mas alguns trechos demandam maior atenção e a comparação entre diferentes traduções podem nos ajudar a compreender melhor alguns textos.

Filosofias de Tradução

Para compreender as diferenças entre as traduções, é essencial entender as filosofias que as orientam. Seguindo a classificação do teólogo brasileiro Marcelo Bert, é possível organizar as traduções em cinco categorias, da mais literal a menos literal: interlinear, formal, funcional, dinâmica e paráfrase. Abaixo, exploramos cada uma dessas categorias e as traduções em português que se encaixam nelas.
1. Tradução Interlinear
A tradução interlinear é a mais próxima possível do texto original, traduzindo palavra por palavra. Um exemplo é o Novo Testamento Interlinear Grego-Português, que apresenta o texto grego com a tradução literal abaixo de cada palavra.
Veja por exemplo o texto de Romanos 1.16:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus…”
Esse é o texto em grego:
γαˊροὐκεπαισχυˊνομαιτοˋϵυ˙αγγϵˊλιονδυναμιςγαˊρΘεοῦεστινεἰςσωˊτηριανπαντιˋτῷπιστευˊοντι
A seguir a tradução literal:
Pois não envergonho-me o evangelho poder pois de Deus é para salvação todo o crente
A tradução literal resulta em um texto truncado, com uma ordem de palavras que não segue a fluência do português, tornando-o difícil de ler.
Para quem deseja a máxima fidelidade ao original, a melhor opção é estudar grego e hebraico e ler diretamente os textos originais. Contudo, para a maioria dos leitores, que não dominam essas línguas, a tradução interlinear é mais uma ferramenta acadêmica do que uma leitura prática para o dia a dia.
2. Tradução de Equivalência Formal
As traduções de equivalência formal buscam manter a estrutura e a forma do texto original, preservando a ordem das palavras e a sintaxe1 do grego e hebraico tanto quanto possível, mas com fluência em português. Entre as principais traduções nesse estilo estão:
- Almeida Corrigida e Fiel (ACF): Publicada pela Thomas Nelson, é uma das traduções mais clássicas em português, amplamente usada em igrejas protestantes. Sua linguagem é mais rebuscada, refletindo a estrutura do texto original.
- Almeida Revista e Corrigida (ARC): Produzida pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), é outra tradução formal, com linguagem tradicional e amplo uso em contextos eclesiásticos.
- Tradução Brasileira (TB): Também da SBB, segue a equivalência formal, mas é menos conhecida hoje.
Essas traduções, embora fiéis à forma original, podem ser desafiadoras para leitores comuns devido à linguagem mais elaborada e menos fluida. Essas são versões que podem trazer mais dificuldade para leitores que não têm familiaridade com grego ou hebraico, já que a rigidez formal pode dificultar a compreensão. Contudo, para quem aprecia alta literatura ou deseja uma tradução que reflita a estrutura do original, essas versões são válidas.
3. Tradução de Equivalência Funcional
As traduções de equivalência funcional equilibram a fidelidade ao texto original com a necessidade de produzir um texto compreensível e fluente para a língua portuguesa. Elas mantêm um certo formalismo, mas priorizam a clareza para o leitor. Podemos destacar três traduções nessa categoria:
- Almeida Século 21 (A21): Publicada pela Purpose Paper, é uma atualização da Almeida com linguagem moderna, mas mantendo um tom formal. Apesar de ter sido popular, caiu em desuso.
- Almeida Revista e Atualizada (ARA): Editada pela SBB, é uma das traduções mais respeitadas e amplamente usadas em igrejas protestantes no Brasil.
- Nova Almeida Atualizada (NAA): Também da SBB, é uma tradução que tras um equilíbrio ideal entre formalidade e dinamismo, oferecendo uma leitura clássica, mas acessível.
A NAA, faz um trabalho muito bom de apresentar uma leitura mais clássica da escritura, com um formalismo comum à Almeida, mas com uma dinâmica de leitura excelente.
4. Tradução de Equivalência Dinâmica
As traduções dinâmicas priorizam o sentido do texto original sobre a forma, buscando uma leitura fluida e natural na língua-alvo. Duas traduções destacadas são:
- Nova Versão Internacional (NVI): Publicada pela Thomas Nelson, a NVI gerou polêmica inicial por adotar uma crítica textual moderna, que resultava em traduções diferentes de passagens tradicionais. No entanto, essas críticas foram injustificadas, pois a NVI utiliza um método eclético sólido. A atualização de 2023 (NVI 23) trouxe melhorias em passagens mal traduzidas e aprofundou a compreensão hermenêutica, tornando-a superior à versão anterior.
- Nova Versão Transformadora (NVT): Publicada pela Mundo Cristão, é ideal para leitores iniciantes ou com dificuldade de compreender linguagem mais complexa. Ela é muito recomenda para quem está começando a ler a Bíblia, destacando sua simplicidade e clareza.
A NVI e a NAA são as melhores escolhas para a maioria dos leitores, com a NVT sendo uma excelente opção para iniciantes.
5. Paráfrase
As paráfrases são reescritas do texto bíblico com forte intervenção interpretativa, visando máxima clareza e simplicidade. Elas são úteis para públicos com pouca prática de leitura, como crianças, adolescentes ou pessoas com analfabetismo funcional. As principais paráfrases mencionadas são:
- Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): Produzida pela SBB, é uma paráfrase acessível, ideal para iniciantes.
- Bíblia Viva: Outra paráfrase conhecida, voltada para linguagem simples.
- A Mensagem: Escrita por Eugene Peterson, é a paráfrase mais famosa em português. Peterson reescreveu a Bíblia para torná-la fluida e compreensível, especialmente para crianças ou leitores sem hábito de leitura, “É uma ótima tradução para você ler a Bíblia para seus filhos pequenos ou para pessoas que têm zero hábito de leitura”.
Embora úteis, as paráfrases envolvem alta nível de interpretação e não devem ser a única fonte de leitura. Elas devem ser usadas como ponto de partida, incentivando os leitores a progredirem para traduções menos interpretativas à medida que desenvolvem sua capacidade de leitura.
Recomendações Finais
Para escolher a melhor tradução, você deve considerar o propósito da leitura e o nível de familiaridade com a Bíblia:
- Para iniciantes ou leitores com dificuldade: A NVT ou paráfrases como A Mensagem e NTLH são ideais por sua simplicidade.
- Para leitores regulares ou estudos devocionais: A NAA é a melhor escolha, equilibrando formalidade e clareza. A NVI (especialmente a versão 2023) também é altamente recomendada por sua fluidez e precisão.
- Para estudos acadêmicos ou leitores avançados: Traduções de equivalência formal, como a ACF ou ARC, podem ser úteis, especialmente para quem aprecia textos mais próximos da estrutura original. No entanto, Iago reforça que, para máxima fidelidade, o ideal é estudar os textos em grego e hebraico.
Vários aplicativos e sites de bíblia oferecem uma ferramenta em que você pode abrir duas versões do texto bíblico em paralelo, assim podemos comparar termos e expressões diferentes e ampliar nossa compreensão do texto bíblico.

- Em linguística, sintaxe é o conjunto de regras que determina a ordem correta das palavras e a estrutura das frases para que elas tenham sentido e possam ser entendidas. ↩︎
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!