Mateus 9:35-38. “E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos seus discípulos: Grande é, em verdade, a seara, mas poucos os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara.
O Coração Ferido de Cristo
Por que Jesus chorou? Por que aquele que conhecia desde a eternidade os propósitos divinos se comoveu visceralmente diante das multidões? A resposta nos confronta com uma verdade perturbadora: o evangelicalismo contemporâneo perdeu a capacidade de sentir o que Cristo sente. Tornamo-nos espectadores distantes da miséria humana, enquanto Cristo nos convoca a rogai ao Senhor da seara – não como mera formalidade litúrgica, mas como clamor nascido da compaixão que dilacera o coração.
“A Igreja não pode viver de forma confortável quando multidões ao seu redor perecem sem Cristo. A complacência é um luxo que não podemos pagar quando almas se dirigem para a eternidade sem esperança.” John Charles Ryle, Marcos, 1993, p. 266
A tensão espiritual desta passagem não reside apenas na escassez de obreiros, mas na ausência de intercessores que se prostrem diante do trono da graça com lágrimas autênticas pelos perdidos.
A Anatomia da Compaixão Cristã
Jesus percorria sistematicamente “todas as cidades e aldeias”, revelando a natureza inclusiva e abrangente da missão cristã. Sua compaixão emerge das entranhas – um amor visceral que se recusa a permanecer indiferente diante do sofrimento humano. Quando Jesus ordena “rogai ao Senhor da seara”, Ele estabelece a oração como o fundamento estratégico da obra missionária.
Paul Beasley-Murray observa que “o evangelho só é boas-novas se for compartilhado”. Esta verdade ecoa através dos séculos, confrontando nossa tendência de transformar a fé em experiência privada e intimista. A seara não é metáfora poética, mas realidade urgente que clama por ceifeiros capacitados e enviados pelo próprio Deus.
“Oh alma minha, não te esqueças de que há sempre uma seara, mas nem sempre ceifeiros! Obreiros, obreiros é a necessidade da Igreja; obreiros que sejam chamados por Deus, enviados por Deus, abençoados por Deus. Sem isso, toda nossa maquinaria eclesiástica é vã.” Charles H. Spurgeon, O Tesouro de Davi, 1885, p. 247
A teologia reformada ensina que Deus opera através de meios ordinários. Rogai ao Senhor da seara não significa passividade espiritual, mas reconhecimento de que somente Deus pode transformar corações, capacitar obreiros e abrir portas para o evangelho. Como afirmou Martinho Lutero: “Oro como se tudo dependesse de Deus e trabalho como se tudo dependesse de mim.”
A história da Igreja confirma este princípio. Eusébio de Cesaréia documenta como os primeiros cristãos combinaram oração fervorosa com proclamação corajosa, expandindo o Reino através do poder divino manifestado em fraqueza humana.
“Em vão será a sentinela se não for o Senhor quem a estabelece. Em vão os evangelistas pregam se não for o Senhor quem converte. Em vão oramos pelos perdidos se não crermos que somente Deus pode salvá-los.” Fyodor Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov, 1879, p. 342
O Senhor da Seara e Sua Soberania Graciosa
Cristo não apenas identifica a necessidade – Ele é simultaneamente o problema e a solução. Ele é o Senhor da seara que controla soberanamente a envio de obreiros, mas também aquele que nos convoca à intercessão. Esta aparente tensão dissolve-se na beleza da cooperação divino-humana: Deus usa nossas orações como instrumentos através dos quais realiza seus propósitos eternos.
Rogai ao Senhor da seara torna-se, assim, ato de adoração e submissão. Reconhecemos nossa impotência para converter corações ou transformar vidas, mas confiamos na fidelidade daquele que prometeu que sua Palavra não voltará vazia. A oração missionária não é tentativa de convencer Deus relutante, mas alinhamento de nossos corações com os propósitos divinos já estabelecidos na eternidade.
E agora, como viveremos?
Rogai ao Senhor da seara deve transformar radicalmente nossa vida de oração.
Precisamos cultivar uma oração específica pelos perdidos ao nosso redor – colegas de trabalho, vizinhos, familiares não-convertidos.
Devemos interceder sistematicamente por missionários e pastores que proclamam o evangelho em contextos hostis.
Nossa oração deve incluir o pedido para que Deus levante mais obreiros em nossa própria igreja local.
Esta oração também nos confronta com nossa própria disponibilidade. Enquanto rogamos ao Senhor da seara, devemos perguntar: “Senhor, usa-me também como ceifeiro em tua seara!” A intercessão autêntica nos torna participantes ativos da missão, não apenas espectadores piedosos.
Praticamente, isso significa estabelecer momentos específicos para oração missionária, estudar as necessidades dos campos missionários, contribuir financeiramente para a obra evangelística e buscar oportunidades de compartilhar o evangelho em nossa própria esfera de influência.
Oremos
Senhor da seara, tu que conheces cada coração perdido e cada alma que clama por esperança, desperta em nós a compaixão de Cristo. Que nossa oração não seja mero ritual, mas clamor sincero pelos perdidos. Levanta obreiros capacitados, sustenta os que já trabalham em tua seara e usa-nos como instrumentos de tua graça. Em nome de Jesus, amém.
Perguntas para Reflexão
- Como a oração por missionários e perdidos tem ocupado espaço em minha vida devocional pessoal?
- De que maneira posso combinar intercessão com ação prática na obra evangelística?
- Quais são as “multidões cansadas e desgarradas” que Deus tem colocado ao meu alcance?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!