Efésios 2.10. “Porque somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”

RESOLUÇÃO 13. “Resolvo esforçar-me para encontrar objetos apropriados de caridade e liberalidade.”

O Coração Inquieto da Verdadeira Fé

Vivemos numa época de cristianismo cômodo, onde a fé tornou-se sinônimo de tranquilidade interior e bem-estar pessoal. Contudo, Jonathan Edwards nos desafia com uma resolução que expõe a mediocridade de nossa piedade contemporânea: “Resolvo esforçar-me para encontrar objetos apropriados de caridade e liberalidade.” Por que um homem salvo pela graça somente se compromete a buscar ativamente oportunidades de bondade? Essa tensão revela algo profundo sobre a natureza da fé genuína que não podemos ignorar.

Portanto, somos confrontados com uma pergunta incômoda: nossa fé produz a inquietação santa que busca constantemente maneiras de expressar o amor divino, ou permanecemos satisfeitos com uma ortodoxia estéril que jamais se traduz em ação transformadora?

A Teologia da Fé Viva em Jonathan Edwards

A resolução de Jonathan Edwards não emerge de um moralismo superficial, mas de uma compreensão profunda da doutrina reformada da santificação. Na teologia de Edwards, influenciada pela rica tradição calvinista, a fé salvadora é essencialmente uma fé ativa. Assim como o fogo não pode existir sem produzir calor, a fé genuína não pode existir sem produzir frutos de bondade.

Edwards compreendia que a salvação é unicamente pela graça de Deus, através da fé somente, em Cristo somente. No entanto, essa mesma graça que nos salva também nos transforma. Por isso, a busca por “objetos apropriados de caridade e liberalidade” não é uma tentativa de conquistar o favor divino, mas a evidência de que esse favor já foi concedido.

Esse pastor do avivamento abraçava plenamente o ensino do Catecismo Maior de Westminster de que o fim principal do homem é glorificar a Deus e desfrutá-Lo para sempre. Edwards sabia que glorificar a Deus necessariamente envolve amar o próximo, pois ambos os mandamentos são inseparáveis na economia divina.

“A verdadeira virtude consiste principalmente no amor a Deus, supremo ser, e especialmente no amor à Sua santidade. E isso não é apenas no exercício do amor a Deus, mas na expressão do amor através do amor às criaturas de Deus, especialmente aos seres inteligentes, e mais particularmente àqueles seres que são da mesma natureza conosco.” Jonathan Edwards, A Natureza da Verdadeira Virtude, Yale University Press, 1989, 184 páginas.

Além disso, Edwards via a bondade não como um esforço isolado da vontade humana, mas como participação na própria natureza divina. A palavra “esforçar-me” em sua resolução reflete a doutrina da santificação progressiva: um processo ativo, intencional e dependente da graça, onde o cristão coopera com o Espírito Santo na busca pela conformidade à imagem de Cristo.

Cristo, o Objeto Supremo de Nossa Caridade

A tensão inicial entre fé e obras encontra sua resolução em Cristo. Edwards compreendia que Jesus não apenas nos salva do pecado, mas nos salva para a bondade. O evangelho não é apenas perdão, mas transformação. Cristo é tanto o autor quanto o objeto de nossa caridade, pois Ele nos capacita a amar e Se revela naqueles a quem servimos.

Assim, a resolução de Edwards nos convida a uma esperança ativa: não esperamos passivamente que oportunidades de bondade apareçam, mas as buscamos intencionalmente, sabendo que Deus já as preparou de antemão para que andássemos nelas. Portanto, nossa caridade torna-se uma forma de adoração, uma expressão tangível de nossa gratidão pela graça recebida.

“Não há nada mais belo do que o amor divino, não apenas em sua essência, mas em sua expressão através da criação. Quando amamos ao próximo, participamos da própria beleza de Deus, refletindo Sua glória em atos concretos de bondade e misericórdia.” Agostinho de Hipona, Confissões, Editora Paulus, 2017, 432 páginas.

E agora, como viveremos?

A resolução de Jonathan Edwards nos desafia a abandonar a passividade espiritual que caracteriza muito do cristianismo contemporâneo.

Cultive uma espiritualidade ativa, que busca constantemente oportunidades de expressar a bondade divina em nosso contexto.

Isso significa desenvolver “olhos treinados” para identificar necessidades ao nosso redor. No ambiente de trabalho, em nossas famílias, em nossa comunidade local – onde estão os “objetos apropriados” para nossa caridade hoje? Pode ser o colega sobrecarregado que precisa de ajuda, o vizinho solitário que necessita de companhia, ou a família em dificuldades financeiras que requer apoio prático.

Planeje e execute atos de bondade. Edwards não confiava apenas em impulsos emocionais, mas fazia uma resolução deliberada. Isso nos chama a ser intencionais em nossa generosidade: separar tempo em nossa agenda para servir, destinar recursos específicos para caridade, e desenvolver relacionamentos genuínos com aqueles que necessitam de cuidado.

A busca pela bondade deve ser teologicamente fundamentada. Não praticamos caridade por obrigação religiosa ou para impressionar outros, mas como expressão natural de nossa gratidão pela graça recebida. Cada ato de liberalidade torna-se uma oportunidade de testemunhar sobre o caráter de Deus e o poder transformador do evangelho.

“A Igreja primitiva não cresceu pela força das armas nem pela eloquência dos oradores, mas pelo testemunho vivo dos cristãos que, transformados pela graça, viviam de tal maneira que atraíam outros à fé. Sua caridade era pregação sem palavras, um evangelho vívido que falava mais alto que qualquer discurso.” Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Editora Novo Século, 2002, 896 páginas.

Lembre-se de que a busca pela bondade é tanto um privilégio quanto uma responsabilidade. Fomos salvos não apenas do inferno, mas para o propósito divino de refletir Sua glória através de atos concretos de amor. Como afirmou o escritor francês Victor Hugo, nossos atos de bondade ecoam na eternidade, criando ondas de transformação que ultrapassam nossa compreensão.

“Há uma espécie de beleza em cada ato de bondade genuína que reflete algo do caráter eterno. Quando alguém se inclina para ajudar outro ser humano, participa momentaneamente da obra divina de restauração que permeia toda a criação.” Victor Hugo, Os Miseráveis, Editora Cosac Naify, 2012, 1344 páginas.

Oremos

Pai celestial, concede-nos a mesma inquietação santa que não se satisfaz com uma fé passiva. Perdoa-nos pela tendência de esperar que as oportunidades de bondade simplesmente apareçam, quando deveríamos buscá-las intencionalmente.

Abre nossos olhos para ver as necessidades ao nosso redor e nossos corações para responder com generosidade. Que nossa caridade não seja motivada por obrigação ou busca de reconhecimento, mas pela profunda gratidão pela graça que recebemos em Cristo Jesus.

Capacita-nos pelo Teu Espírito a sermos instrumentos de Tua bondade em nossa geração, refletindo Tua glória através de atos concretos de amor e misericórdia. Que nossa vida seja um testemunho vivo do poder transformador do evangelho, atraindo outros à fé através do exemplo de uma caridade genuína e intencional.

Em nome de Jesus Cristo, nosso Salvador e exemplo supremo de bondade, amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Leia também:

• AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
• RESOLUÇÃO 07 – Jonathan Edwards
• RESOLUÇÃO 08 – Jonathan Edwards
• RESOLUÇÃO 09 – Jonathan Edwards
• RESOLUÇÃO 10 – Jonathan Edwards
• RESOLUÇÃO 11 – Jonathan Edwards

Reginaldo

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!