Efésios 4:29. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.”
O Peso das Palavras na Balança da Eternidade
Quantas reputações foram destruídas por uma simples conversa? Quantos relacionamentos se despedaçaram pelo veneno de palavras desnecessárias? A tendência humana de falar mal dos outros revela uma das fraquezas mais persistentes do coração decaído. Jonathan Edwards compreendeu profundamente esta realidade quando registrou em suas resoluções pessoais: “Resolvido: nunca falar mal de ninguém, de forma que resulte em sua desonra, nem que seja minimamente, a não ser por algum bem real.”
Esta decisão não nasce de mera cortesia social, mas de uma teologia profunda sobre a dignidade humana e o poder transformador das palavras. Portanto, enfrentamos uma tensão espiritual: como conciliar a necessidade de discernimento com o chamado à caridade cristã? Como usar nossa língua para edificar em um mundo que constrói sua identidade sobre a destruição da reputação alheia?
“O coração do sábio é mestre de sua boca e aumenta a persuasão dos seus lábios. Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e remédio para o corpo.” Provérbios 16:23,24.
A Anatomia Espiritual da Maledicência
A Escritura nos ensina que “da abundância do coração fala a boca” (Mateus 12:34). Assim, falar mal não é meramente um problema comportamental, mas uma questão do coração. Edwards compreendia que toda palavra proferida é um reflexo da condição espiritual interior, e que a santificação deve alcançar também nossa comunicação.
O texto de Efésios 4:29 estabelece um padrão revolucionário: nossas palavras devem sempre promover edificação. No grego original, a palavra “edificação” (oikodomē) refere-se literalmente à construção de uma casa. Cada palavra nossa deve ser uma pedra na construção do caráter de nosso próximo, não uma ferramenta de demolição.
A resolução de Edwards revela posicionamentos cruciais para o uso cristão da língua. Primeiro, ele reconhece que mesmo, comentários “minimamente” desonrosos são pecaminosos. Não existe maledicência “pequena” – toda palavra que diminui a dignidade de alguém viola o princípio do amor cristão. Segundo, ele estabelece uma exceção: “a não ser por algum bem real”. Isso não significa que devemos ser ingênuos sobre o pecado alheio, mas que nossa motivação deve ser sempre restauradora, não destrutiva.
“Não basta que os homens não falem o que é falso de seus vizinhos; eles devem ir além disso e não falar mal de forma alguma, nem mesmo verdades, quando isso tende a ferir ou prejudicar.” Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Livro III, Capítulo 39
Além disso, a tradição reformada sempre enfatizou que nossa língua é um instrumento de graça comum. Quando Jonathan Edwards fala de “bem real”, ele ecoa a doutrina calvinista de que até mesmo nossa correção fraterna deve estar fundamentada no amor redentor de Cristo. O amor cristão (ágape) não é sentimentalismo, mas uma deliberada escolha de buscar o bem supremo do próximo – sua santificação e glória de Deus.
“Quem rouba minha bolsa rouba lixo; é nada, nada era e de mil homens já foi; mas quem me furta o bom nome, rouba-me aquilo que não o enriquece e que me deixa realmente pobre.” William Shakespeare, Otelo, Ato III, Cena 3
O Evangelho que Transforma Nossa Comunicação
A resolução de Edwards não é moralismo, mas evangelho aplicado. Cristo, que poderia ter usado suas palavras para destruir seus inimigos, escolheu o silêncio diante de Pilatos e a intercessão na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Nosso Salvador nos oferece o modelo supremo de como usar a língua para edificar, mesmo diante da hostilidade.
O evangelho nos ensina que fomos salvos não por nossos méritos, mas pela graça. Portanto, como ousamos usar nossa língua para diminuir aqueles pelos quais Cristo morreu? A cruz nos lembra que todos somos igualmente necessitados da misericórdia divina. Assim, nossa comunicação deve refletir essa humildade evangélica.
Quando permitimos que o amor cristão seja nossa única motivação, quando falamos sobre as falhas alheias, apenas com propósito de restauração, experimentamos a liberdade de uma consciência limpa e participamos da obra redentora de Deus no mundo.
Aplicação – E agora, como viveremos?
A resolução de Jonathan Edwards nos convoca a uma vida de intencionalidade comunicativa. Em um mundo de redes sociais e comunicação instantânea, precisamos mais do que nunca de sabedoria para usar nossas palavras.
Desenvolvamos o hábito da pausa reflexiva. Antes de fazer qualquer comentário sobre alguém, perguntemos: “Isso resultará em edificação ou destruição? Minha motivação é amor genuíno ou apenas desabafo?”
Cultivemos a prática da intercessão ao invés da crítica. Quando percebermos falhas nos outros, nossa primeira resposta deve ser a oração, não o comentário. Edwards praticava isso consistentemente, transformando suas observações sobre outros em momentos de súplica diante de Deus.
Quando for necessário abordar questões sérias sobre alguém, façamos isso seguindo Mateus 18:15-17, sempre com o objetivo da restauração. O “bem real” de que fala Edwards nunca é fofoca disfarçada de preocupação espiritual.
Lembremo-nos de que nossa língua é um instrumento da graça. Cada conversa é uma oportunidade de refletir o caráter de Cristo, de construir relacionamentos saudáveis e de participar da missão redentora de Deus no mundo. Como Edwards compreendia, a santificação alcança até mesmo nossa comunicação cotidiana, transformando-nos em pessoas que edificam, não que destroem.
Oremos
Senhor, que tuas palavras sejam verdade em nossa boca. Concede-nos a graça de usar nossa língua para edificar, não para destruir. Perdoa-nos pelas vezes em que ferimos com nossas palavras e ensina-nos a falar sempre motivados pelo amor cristão. Que possamos ser instrumentos de tua graça em cada conversa. Amém.
Para Reflexão
- Como a resolução de Jonathan Edwards sobre falar mal desafia nossa comunicação nas redes sociais e conversas cotidianas?
- De que forma o evangelho deveria transformar nossa maneira de falar sobre as falhas e limitações dos outros?
- Como podemos distinguir entre discernimento cristão necessário e maledicência desnecessária em nossa vida comunitária?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 10 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 11 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 12 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 13 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 14 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 15 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!