Texto Básico: Mateus 16:24-25.
Leituras Bíblicas Complementares:
Marcos 1:17.
João 8:12.
Mateus 8:22.
Mateus 19:21.
João 15:20.
Lucas 14:26-33.
Um jovem pescador chamado André, no século I, está lançando suas redes no mar da Galileia. De repente, um homem passa e diz: “Siga-me, e eu o farei pescador de homens” (Marcos 1:17). Ele larga tudo — redes, barco, família — e vai atrás de Jesus. Agora, pense em Dietrich Bonhoeffer,1 pastor alemão do século XX. Em 1939, ele poderia ter ficado seguro nos EUA, mas voltou à Alemanha nazista para servir a Cristo e Seu povo. Foi preso e executado em 1945, Bonhoeffer escreveu: “Quando Cristo chama um homem, Ele o chama para vir e morrer.” De André a Bonhoeffer, seguir Jesus nunca foi fácil. Mateus 16:24-25 nos confronta com essa verdade: tomar a cruz é o caminho de quem segue o Mestre. Hoje, vamos ver o que isso significa para nós — um chamado que custa caro, mas que vale eternamente.
Explicação do Texto Básico.
Contexto Histórico e Bíblico: Mateus 16:24-25 ocorre em um momento crucial no ministério de Jesus. Ele acabou de predizer Sua paixão e morte (Mateus 16:21-23), chocando os discípulos, especialmente Pedro, que tentou dissuadi-Lo. Estamos na região de Cesareia de Filipe, após a confissão de Pedro de que Jesus é o Cristo (Mateus 16:16). Agora, Jesus muda o tom: não fala mais só da Sua cruz, mas da cruz que os discípulos devem carregar. Diferente de Marcos 8:34, que menciona multidões, Mateus foca nos discípulos, mas usa “se alguém” (v. 24), ampliando o chamado a todos que desejam segui-Lo. Esse ensino vem logo após a rejeição de Jesus por muitos líderes judeus (cf. Atos 3:14), contrastando com a renúncia que Ele exige de Seus seguidores. O contexto judaico da época era carregado: a cruz era um símbolo romano de morte brutal, humilhante, reservada a criminosos (veja Mateus 27:32). Quando Jesus fala em “tomar a cruz”, os discípulos talvez não entendessem plenamente — a cruz só ganharia peso total após o Gólgota —, mas Ele já plantava a semente de um discipulado radical. Mateus omite Marcos 8:38 (sobre envergonhar-se de Jesus), pois já tratou disso em 10:33, e adiciona ecos de Salmo 62:12 no v. 27, apontando para o julgamento final. O texto tem dois focos: exige uma entrega total, uma “morte do eu”, e promete a vida verdadeira no reino vindouro.

A cruz como instrumento de tortura.
A prática da crucificação surgiu séculos antes do domínio romano, tendo sido utilizada por civilizações como os persas, assírios, fenícios, gregos, cartagineses e romanos. Inicialmente, era um método de execução destinado a rebeldes, escravos e inimigos de guerra, projetado para causar dor extrema e humilhação pública. Os persas usavam a crucificação como um meio de advertência, suspendendo os condenados entre o céu e a terra como um símbolo de rejeição pelos deuses. Os gregos, incluindo Alexandre, o Grande, também empregaram essa prática, mas foram os romanos que a aperfeiçoaram e institucionalizaram. Para Roma, a crucificação não era apenas uma pena de morte, mas um espetáculo de terror e submissão. Eles adaptaram o método para prolongar o sofrimento da vítima, frequentemente combinando açoites brutais antes da execução, obrigando os condenados a carregar sua própria cruz e expondo-os em locais públicos. A crucificação era reservada para criminosos desprezíveis e insurgentes.
Não há números exatos sobre quantas pessoas foram crucificadas ao longo da história, mas é possível fazer algumas estimativas com base em registros históricos. Nos dias de Cristo o império romano está utilizando esse método em larga escala.
Aqui estão alguns exemplos documentados:
- Rebelião de Espártaco (71 a.C.)2 – Após a derrota dos escravos liderados por Espártaco, Roma crucificou cerca de 6.000 pessoas ao longo da Via Ápia.
- Cerco de Jerusalém (70 d.C.)3 – O historiador judeu Flávio Josefo relata que os romanos crucificaram milhares de judeus durante a destruição do templo. Em determinado momento, 500 pessoas por dia eram crucificadas.
- Execuções esporádicas pelo Império Romano – Estima-se que dezenas de milhares tenham sido crucificados ao longo dos séculos, especialmente criminosos e rebeldes em territórios ocupados.
Considerando o longo uso da crucificação, desde os impérios antigos até sua abolição oficial com Constantino no século IV, é plausível estimar que centenas de milhares de pessoas tenham sido executadas dessa forma ao longo da história.
O uso da crucificação atingiu seu ápice no primeiro século d.C., quando foi aplicada à execução de Jesus Cristo, evento que transformou esse símbolo de horror em um dos maiores ícones da fé cristã, representando redenção e sacrifício.

Termos e Expressões Específicas:
- “Se alguém quer” (ei tis thelei): Em grego, thelei (querer) implica uma decisão voluntária e séria, não uma sugestão casual. Jesus não força; Ele convida, mas exige resolução. Tis (alguém) universaliza o chamado — não é só para os discípulos, mas para todos.
- “Renuncie-se a si mesmo” (aparnēsasthō heauton): Aparnēsasthō vem de aparneomai, “negar” ou “rejeitar”. Não é apenas dizer “não” a desejos, mas cassar o direito do “eu” egoísta de governar. É uma entrega total a Cristo (cf. Romanos 14:7-9).
- “Tome a sua cruz” (aratō ton stauron autou): Stauron (cruz) era o instrumento romano de execução, carregado pelo condenado (cf. Mateus 27:32). Aratō (tome) significa agarrar com determinação. Cada cruz é única, ordenada por Deus, simbolizando a morte do “eu”.
- “Siga-me” (akoloutheitō moi): Akoloutheitō (sigais) é um imperativo contínuo — “continue seguindo”. Imitar Jesus é viver como Ele, enfrentando sacrifício (João 12:23-26).
- “Salvar a sua vida” / “Perdê-la” (sōsai tēn psychēn / apolesēi): Psychēn significa “vida” ou “alma”. Sōsai (salvar) é preservar egoisticamente agora, enquanto apolesēi (perder) é renunciar por Cristo, ganhando a vida eterna (cf. Mateus 10:39).

1. Seguir Jesus: Um Chamado para Hoje e Sempre.
1.1 Um Caminho Além do Tempo de Jesus
Quando Jesus disse “Siga-me!” a André e Pedro à beira do mar (Marcos 1:17), eles largaram as redes e o seguiram fisicamente pelas estradas da Galileia. Mas Ele sabia que sua presença aqui seria temporária. Em João 16:7, Ele explica: “É para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá.” Esse “ir”, sua morte, ressurreição e ascensão — não acabou com o chamado; pelo contrário, o tornou eterno. Veja João 21:22, quando Pedro pergunta sobre o destino de João, e Jesus responde: “Se eu quiser que ele permaneça vivo até que eu volte, o que lhe importa? Quanto a você, siga-me!” Aqui, o seguir transcende o tempo de Jesus na Terra. João Calvino, em seu comentário sobre João, reflete: “Cristo chama os Seus não apenas para os dias de Sua carne, mas para todos os séculos.” Isso nos pega de surpresa hoje: seguir Jesus não é nostalgia de um passado distante, mas um compromisso vivo, onde quer que estejamos. Pense nos cristãos da Igreja primitiva, como Policarpo,4 no século II. Ele não viu Jesus, mas enfrentou o martírio em Esmirna, dizendo: “Por 86 anos O servi, e Ele nunca me fez mal.” Policarpo seguiu sem ver, assim como nós somos chamados a fazer, confiando que o Espírito nos guia no caminho do Mestre.
1.2 Participar da Obra de Cristo
Seguir não é só andar atrás de Jesus; é estar integralmente comprometido com o filho de Deus, é abraçar o processo de matar suas paixões para que Cristo viva em cada uma de suas ações. Mas podemos ainda perceber que seguir a Cristo é entrar com todo seu ser na missão d’Ele. Em Lucas 11:23, Ele avisa: “Quem comigo não ajunta, espalha.” Qual era essa missão? Jesus veio “buscar e salvar o que estava perdido” (Lucas 19:10), “dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45) e trazer vida plena (João 10:10). Quando chamou pescadores para serem “pescadores de homens” (Marcos 1:17), Ele os convidou a ajuntar um povo para o Pai — um povo que O glorificasse (João 12:28). Martinho Lutero, na Reforma, viu isso como o coração do chamado cristão: “Somos embaixadores de Cristo, levando Sua luz às trevas” (Sermões). Na história, pense em William Carey,5 no século XVIII, que deixou a Inglaterra para a Índia, traduzindo a Bíblia e plantando igrejas entre os pobres. Carey não viu Jesus, mas seguiu Sua obra, arriscando tudo para “ajuntar”. Hoje, isso nos desafia: seguir é compartilhar a fé com seus vizinhos, familiares, amigos no trabalho e nas escolas, ajudar aqueles que precisam, viver o amor que Cristo ensinou (João 13:34). Não há neutralidade — ou ajuntamos com Ele, ou espalhamos o que Ele quer reunir.

2. Tomar a Cruz: O Preço do Discipulado.
2.1 Autonegação e Sofrimento
“Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24) não é um convite leve. Jesus sabia para onde ia: “partiu resolutamente em direção a Jerusalém e para a cruz, tinha plena consciência de que esse ato custaria sua vida” (Lucas 9:51), prevendo cada detalhe da cruz — traição, zombaria, morte (Marcos 10:33-34). Ele avisa: “Se me perseguiram, também perseguirão vocês” (João 15:20). Isso não é teoria; é o padrão do discipulado. Thomas Watson, puritano do século XVII, escreveu: “A cruz é o crisol (recipiente utilizado para experiências químicas em que se têm de misturar ou fundir substâncias e metais) onde o eu é derretido para a glória de Deus” (Body of Divinity). Veja os mártires de Roma, como Inácio de Antioquia, no século II. Levado às feras, ele disse: “Sou trigo de Cristo, moído para ser Seu pão.” Inácio tomou sua cruz, negando o conforto pela fidelidade. Para nós, o sofrimento pode não ser uma arena, mas a rejeição de um amigo por nossa fé, a perda de status por escolher a verdade, ou a luta contra o egoísmo diário. Seguir Jesus é carregar essa cruz, sabendo que Ele a carregou primeiro, e nos chama a andar em Suas pegadas, mesmo quando dói.
2.2 Uma Cruz Pessoal e Divina
Cada cruz é única, moldada por Deus. Para o jovem rico, era vender tudo (Mateus 19:21); para outro, deixar “os mortos sepultarem seus mortos” (Mateus 8:22). Jesus não generaliza — Ele conhece nossa cruz pessoal. João Calvino reflete: “Deus nos dá cruzes para nos conformar a Cristo, matando o que nos separa dEle” (Institutas, 3.8.1). Na história, pense em Fanny Crosby,6 cega desde bebê no século XIX. Ela poderia ter se amargurado, mas escreveu hinos como “Bem-aventurada Segurança”, usando sua “cruz” para glorificar a Deus. Hoje, sua cruz pode ser um chefe injusto, uma saúde frágil ou um sonho adiado. Deus a ordena com amor, não para nos quebrar, mas para nos fazer Seus. Tomá-la é dizer “sim” ao plano dEle, confiando que cada passo difícil nos aproxima do Mestre que sofreu por nós.

3. Perder para Ganhar: A Promessa do Seguimento.
3.1 Sofrimento com Alegria
“Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16:25). Perder por Jesus mostra que Ele vale mais que tudo. Em Mateus 13:44, o reino é como um tesouro pelo qual vendemos tudo com alegria, sem tentar reter nada para si. John Stott escreve: “A cruz revela o valor supremo de Cristo acima de qualquer ganho terreno” (The Cross of Christ). Veja os huguenotes franceses7 do século XVI: perseguidos, perderam casas e vidas, mas marcharam ao exílio cantando salmos. Sua alegria no sofrimento gritava que Cristo era seu verdadeiro lar. Hoje, sofrer com alegria pode ser suportar uma crítica por falar de Jesus ou abrir mão de um conforto para ajudar alguém. Isso diz ao mundo: “Eu amo Jesus mais que isso.” É o oposto de seguir por conveniência — é seguir por Quem Ele é, nosso tesouro eterno.
3.2 Uma Alegria Eterna
O sofrimento é temporário; a alegria, não. Jesus promete: “Receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna” (Mateus 19:29). Em Marcos 8:35, perder “por minha causa e pelo evangelho” salva. Calvino reflete: “O que perdemos aqui é pó diante da glória que nos espera” (Comentário sobre Mateus). Mesmo agora, Ele ilumina o caminho: “Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12). Na China do século XX, cristãos8 presos sob Mao cantavam hinos em celas escuras, sustentados pela presença de Jesus (Mateus 28:20). Para nós, a alegria vem mesmo na dor — perdoando, servindo, confiando — porque o fim é certo: “Eu venci o mundo” (João 16:33). Perder o “eu” agora é ganhar Cristo para sempre.

Conclusão
Tomar a cruz e seguir a Cristo não é um chamado para os que se acham capazes e poderosos, mas para os que confiam naquele que é Forte. Jesus, plenamente homem e Deus, andou esse caminho primeiro, carregando Sua cruz para nos salvar. Ele nos chama a negar o “eu”, abraçar o sacrifício e participar de Sua missão — ajuntar um povo para o Pai. O preço é alto: rupturas, perdas, sofrimento. Mas a recompensa é imbatível: vida eterna com o Rei que venceu o mundo (João 16:33). Não há como negar — quem segue Jesus perde o mundo, mas ganha o céu. A cruz que carregamos hoje é leve diante da glória que nos espera. Dizer “sim” a Ele é viver de verdade, agora e para sempre.
Carregue sua cruz. Identifique as áreas onde seu “eu” resiste: um apego, um conforto, um medo. Ore diariamente: “Jesus, ajude-me a negar a mim mesmo por Ti.” Procure realizar ações concretas: doe algo que você valoriza, perdoe quem te machucou ou fale de Cristo a alguém, possivelmente você ja sabe quais as áreas que de sua vida das quais você deve abrir mão. Comece hoje, vale a pena!
(Por que tantas imagens? Nosso objetivo foi tentar mostrar toda a agonia da Paixão de Cristo, que muitas vezes passa desapercebida.)
Somente Cristo!
Pr. Reginaldo Soares.
Referências Bibliográficas
- Bíblia Sagrada. Tradução João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil.
- Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. Cultura Cristã, São Paulo, 2006.
- Calvino, João. Comentário sobre Mateus. Fiel, São Paulo, 2010.
- Watson, Thomas. Body of Divinity. Banner of Truth, Edinburgh, 1965.
- Stott, John. The Cross of Christ. Vida Nova, São Paulo, 2005.
- Lutero, Martinho. Sermões Selecionados. Sinodal, São Leopoldo, 1987.
- Bonhoeffer, Dietrich. O Custo do Discipulado. Mundo Cristão, São Paulo, 2009.
- Packer, J.I. Conhecendo Deus. Mundo Cristão, São Paulo, 1996.
- Bruce, F.F. The Gospel of Matthew. Eerdmans, Grand Rapids, 1990.
- Sproul, R.C. The Holiness of God. Cultura Cristã, São Paulo, 2000.
- Dietrich Bonhoeffer (1906–1945) foi um teólogo luterano alemão, pastor e escritor, conhecido por sua resistência ao nazismo. Defensor da ética cristã e do discipulado radical, escreveu obras como “Discipulado” e “Resistência e Submissão”. Foi um dos fundadores da Igreja Confessante, que se opôs à interferência nazista no cristianismo. Envolveu-se em uma conspiração para derrubar Hitler, sendo preso em 1943. Mesmo encarcerado, continuou escrevendo e encorajando cristãos. Em 9 de abril de 1945, foi enforcado em um campo de concentração, apenas um mês antes da queda do regime nazista em 8 de maio de 1945. Seu legado inspira o compromisso cristão com a verdade e a justiça. ↩︎
- A Rebelião de Espártaco (73–71 a.C.) foi a maior revolta de escravos contra Roma, liderada pelo gladiador Espártaco. Iniciou-se em Cápua, quando cerca de 70 gladiadores escaparam e formaram um exército de escravos fugitivos, que chegou a 100.000 combatentes. Eles derrotaram várias legiões romanas, espalhando o pânico pela península Itálica. Em 71 a.C., o general Marco Licínio Crasso cercou e aniquilou o exército rebelde. Espártaco morreu em batalha, e cerca de 6.000 prisioneiros foram crucificados ao longo da Via Ápia como advertência. A revolta expôs as tensões sociais de Roma e influenciou futuras reformas no tratamento dos escravos. ↩︎
- O Cerco de Jerusalém (70 d.C.) foi um dos eventos mais devastadores da Primeira Revolta Judaica contra Roma. Liderado pelo general Tito, filho do imperador Vespasiano, o exército romano sitiou a cidade por meses, causando fome extrema e conflitos internos entre os judeus. Em agosto, o Segundo Templo foi incendiado e destruído, marcando o fim do judaísmo do período do templo. De acordo com Flávio Josefo, cerca de 1,1 milhão de judeus morreram e 97 mil foram escravizados. Milhares foram crucificados diariamente. O cerco resultou na dispersão judaica (Diáspora) e consolidou o domínio romano na região. ↩︎
- Policarpo de Esmirna (c. 69–155 d.C.) foi um dos mais importantes pais apostólicos do século II. Discípulo do apóstolo João, foi bispo de Esmirna e defensor da fé cristã contra heresias, como o gnosticismo. Sua principal obra preservada é a Carta aos Filipenses, onde exorta à perseverança e fidelidade a Cristo. Em 155 d.C., foi preso e condenado à morte por se recusar a negar sua fé. Segundo registros, foi queimado vivo, mas as chamas não o consumiram, sendo então morto à espada. Seu martírio inspirou gerações de cristãos, consolidando sua importância na história da Igreja primitiva. ↩︎
- William Carey (1761–1834) foi um missionário, teólogo e linguista britânico, considerado o pai das missões modernas. Inicialmente sapateiro e pregador batista, sentiu o chamado missionário e, em 1793, viajou para a Índia, onde dedicou sua vida à evangelização, tradução da Bíblia e fundação de escolas. Carey traduziu as Escrituras para diversas línguas indianas, incluindo bengali, sânscrito e híndi. Em 1792, ajudou a fundar a Sociedade Missionária Batista, impulsionando o movimento missionário protestante. Seu lema, “Espere grandes coisas de Deus, empreenda grandes coisas para Deus”, reflete seu legado, que transformou a evangelização global e a educação cristã na Índia. ↩︎
- Fanny Crosby (1820–1915) foi uma poetisa e compositora cristã americana, conhecida por escrever mais de 8.000 hinos. Cega desde a infância, dedicou sua vida ao louvor e à evangelização por meio da música. Suas composições, como “Blessed Assurance” (Oh, Que Segurança!) e “To God Be the Glory” (A Deus Seja a Glória), tornaram-se clássicos do hinário cristão. Além de sua produção musical, atuou como missionária em bairros pobres de Nova York. Seu legado influenciou profundamente a música sacra protestante, tornando-a uma das maiores escritoras de hinos da história, reconhecida por sua fé inabalável e dedicação a Deus. ↩︎
- Os huguenotes eram os protestantes franceses do século XVI, seguidores das ideias da Reforma Calvinista. Enfrentaram forte perseguição da monarquia católica e da Igreja de Roma. As tensões culminaram nas Guerras de Religião Francesas (1562–1598), marcadas por massacres, como a Noite de São Bartolomeu (1572), quando milhares de huguenotes foram mortos em Paris e outras cidades. Em 1598, o Edito de Nantes, assinado por Henrique IV, concedeu liberdade religiosa, mas foi revogado por Luís XIV em 1685, intensificando a repressão. Milhares fugiram para países como Holanda, Inglaterra e América, levando consigo seu conhecimento e habilidades, influenciando a economia e a cultura desses locais. Apesar da perseguição, os huguenotes deixaram um legado significativo na história do protestantismo e da liberdade religiosa. ↩︎
- Durante o domínio de Mao Tsé-Tung (1949–1976), os cristãos na China enfrentaram intensa perseguição sob o regime comunista. Após a fundação da República Popular da China, o governo impôs o ateísmo estatal, fechou igrejas e expulsou missionários estrangeiros. O Partido Comunista Chinês (PCC) criou a Igreja das Três Autonomias, uma organização estatal para controlar o cristianismo, enquanto os que se recusavam a se submeter eram perseguidos. Milhares de cristãos foram presos, torturados ou enviados para campos de trabalho forçado. Bíblias foram confiscadas e a prática religiosa foi severamente reprimida. Apesar disso, o cristianismo cresceu secretamente, com igrejas domésticas subterrâneas espalhando-se por todo o país. Líderes como Wang Mingdao e Watchman Nee foram presos por décadas, tornando-se símbolos da resistência cristã. Mesmo sob vigilância e repressão, a fé cristã persistiu e, após a morte de Mao em 1976, a igreja chinesa começou a ressurgir. Hoje, estima-se que haja milhões de cristãos na China, muitos ainda praticando sua fé na clandestinidade. O período maoísta, embora brutal, fortaleceu a igreja chinesa, tornando-a um dos movimentos cristãos de crescimento mais rápido no mundo. ↩︎