FRAQUEZA HUMANA, GRAÇA DIVINA

Explore a interseção da fraqueza humana com a graça divina, um lugar onde nossa insuficiência encontra a suficiência de Deus.

FRAQUEZA HUMANA, GRAÇA DIVINA

Baseado em Miquéias 7:18-19, Efésios 2:8-9 e na canção “Perdão e graça”.

“Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia.” Miquéias 7:18.

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8-9.

A Grande Inversão

Você já notou como nosso mundo reverência os fortes? Erguemos monumentos aos conquistadores, não aos conquistados; celebramos a autossuficiência como virtude suprema. E então, como uma pedra lançada nas águas plácidas de nossa autoconfiança, irrompe esta estranha inversão do Evangelho: que é precisamente em nossa fraqueza — não apesar dela — que encontramos Deus.

Em 1738, um clérigo anglicano meticuloso e escrupuloso chamado John Wesley sentou-se em uma reunião na Rua Aldersgate em Londres. Por anos, ele havia tentado escalar os céus pelo andaime precário de seus próprios esforços morais. Naquela noite, porém, enquanto ouvia a leitura do prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos, algo extraordinário aconteceu. “Senti meu coração estranhamente aquecido”, escreveu ele depois. Foi o momento em que Wesley finalmente compreendeu o que você e eu muitas vezes esquecemos convenientemente: que no grande livro-caixa da eternidade, não são nossos depósitos que importam, mas nossa disposição para receber o que não poderíamos jamais ganhar.

A Matemática Absurda da Graça

“Confesso a ti, senhor, que fraco eu sou
Tão fraco eu sou, mas forte tu és
Eu venho a ti, senhor, sem nada pra dar
Só quero pedir, vem e ajuda-me, oh, Deus
Um coração quebrantado e humilde
Não rejeita, senhor
Estenda a mim tua graça e deixe teu amor fluir
Por misericórdia nós clamamos.”

Há uma matemática absurda aqui que confunde nossa aritmética moral. Como Paulo coloca em Efésios 2:8-9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” Observe bem: não é “graça mais esforço”, nem “graça após esforço”, nem mesmo “graça apesar do esforço”. É graça pura, simples, desconcertante e escandalosamente gratuita.

Esta verdade deveria nos deixar um pouco desconfortáveis. Em nosso íntimo, preferimos a ideia de ter pelo menos uma pequena participação em nossa salvação, algum pequeno mérito que possa justificar por que Deus nos escolheria. Como crianças que insistem em “ajudar” os pais a preparar um bolo, bagunçando mais do que contribuindo, gostamos de pensar que Deus aprecia nossos esforços desajeitados. Mas se formos honestos, como Agostinho finalmente foi depois de anos tentando conquistar a virtude por força de vontade, admitiremos: “Em mim mesmo não havia senão morte; em Ti encontrei vida”.

O Paradoxo do Vale e da Montanha

O profeta Miquéias, escrevendo a um povo quebrado após gerações de infidelidade espiritual e à beira do juízo, não apresenta um programa de autoaperfeiçoamento. Pelo contrário, ele aponta para algo mais fundamental: a natureza incomparável de um Deus que “tem prazer na misericórdia”. Que formulação estranha e maravilhosa! Não é que Deus tolera nossa fraqueza ou relutantemente nos perdoa quando imploramos suficientemente. Não, Deus encontra prazer genuíno, deleite autêntico, em derramar misericórdia sobre os indignos e conduzi-los através de um processo de santificação para uma vida plena.

É precisamente aqui, no que poderíamos chamar de “vale do quebrantamento”, que encontramos a mais alta montanha da revelação divina. Jonathan Edwards, pregando durante o Grande Avivamento, capturou isto perfeitamente: “Você nunca glorificará tanto a Deus quanto quando se lança, vazio, aos pés de Sua misericórdia infinita”. Ou como a canção expressa: “Um coração quebrantado e humilde não rejeita, Senhor”, uma verdade que Davi articulou no Salmo 51, escrito após seu terrível duplo pecado de adultério e assassinato.

Chuva no Deserto da Alma

“Faz chover perdão e graça”, é uma imagem de grande poder! Não é uma mera gota de misericórdia ou uma leve garoa de compaixão, mas uma tempestade torrencial de bondade divina. Observe as palavras de Miquéias 7:19:

“Ele voltará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.”

Perceba a linguagem física, quase violenta: pisar, lançar, profundezas. Este não é um Deus que relutantemente arquiva nossos pecados para referência futura; Ele os destrói com entusiasmo.

Há um absurdo glorioso nisto que Martinho Lutero capturou em sua doutrina de “simul justus et peccator – simultaneamente justo e pecador”. Vivemos nesta tensão: continuamos a falhar, e ainda assim, paradoxalmente, somos completamente aceitos. Nossa fraqueza persistente não esgota a graça divina; pelo contrário, ela proporciona o palco onde essa graça pode brilhar com maior esplendor.

Por que lutamos tanto para aceitar isto? Talvez porque a graça fere nossa autonomia, declarando não apenas que não podemos nos salvar, mas que nunca poderemos nos salvar por nossos próprios méritos. Nossa resistência à graça é frequentemente enraizada não em dúvidas intelectuais, mas em uma recusa inconsciente de admitir nossa necessidade absoluta.

O Paradoxo Vivido

Como, então, podemos viver neste paradoxo da fraqueza humana encontrando a graça divina? Não é simplesmente um exercício mental, mas uma postura existencial. Charles Spurgeon: “Quando não posso escalar as alturas, me refugio nas profundezas da graça de Deus”. Transforma nosso coração, substituindo a ansiedade de desempenho por uma gratidão transbordante — não estamos mais tentando impressionar Deus, mas simplesmente recebendo o que Ele já garantiu.

E mais crucialmente, esta verdade revoluciona nosso relacionamento com os outros. Como podemos ser mesquinhos com misericórdia quando temos sido alvo de tanta? Como podemos exigir perfeição quando vivemos constantemente da graça? “Bem-aventurados os misericordiosos,” disse Jesus, “porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7) — não como uma transação, mas como o fluxo natural de uma vida banhada em graça.

Um Convite à Dependência Santa

Quem entre nós não se identificaria com as palavras de Paulo em Romanos 7, essa confissão crua e desconcertante de fracasso contínuo? “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” E ainda assim, não terminamos na derrota, mas na proclamação triunfante: “Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!”

Permitam-me perguntar-lhes, prezados leitores: o que seria de nossas vidas se realmente abraçássemos esta verdade? Se deixássemos de lado tanto nossa arrogância quanto nosso desespero e simplesmente recebêssemos, diariamente, a graça que Deus tem prazer em conceder? Como escreveu o grande hino “Amazing Grace” de John Newton, ex-traficante de escravos transformado pela graça divina:

“Foi a graça que ensinou meu coração a temer,
E da graça meus temores se aliviaram;
Quão preciosa apareceu essa graça
Na hora em que pela primeira vez cri!”

“Faz chover perdão e graça
Sobre mim perdão e graça
E lava-me, senhor
Pois hoje eu preciso do teu amor.”

“Pai de misericórdia incomparável, confessamos nossa contínua fraqueza e nossa necessidade perpétua. Obrigado porque Teu perdão não depende de nosso desempenho, mas de Tua natureza compassiva. Faz chover sobre nós hoje Teu perdão e graça, não como gotas medidas, mas como inundação generosa, para que possamos viver não do que podemos fazer, mas do que Tu já fizeste. Em nome d’Aquele que é a encarnação de Tua graça, Jesus Cristo, Amém.”

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Leia também:

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

Publicar comentário

You May Have Missed