O Amor Eterno de Deus
Uma jornada através da bondade de Deus. Baseado na canção “O Amor de Deus”
“De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno te amei; por isso, com benignidade te atraí.” Jeremias 31:3.
A Estranha Matemática do Céu
Há algo profundamente perturbador e simultaneamente consolador, sobre um Deus que escolhe amar antes de sermos amáveis. Imagine, por um momento, que você fosse pintor e decidisse criar uma obra-prima, sabendo antecipadamente que a tela se rebelaria contra seus pincéis, que as cores se recusariam a permanecer onde você as colocasse. Mesmo assim, você persistiria, não porque a tela merece, mas porque algo em sua própria natureza artística não consegue parar de criar beleza. Isto é precisamente o amor eterno de Deus — não uma reação aos nossos méritos, mas uma expressão irreprimível de Sua própria essência.
No inverno gelado de 1863, enquanto Abraham Lincoln proclamava o primeiro Dia Nacional de Ação de Graças em meio aos horrores da Guerra Civil, ele intuiu algo que o próprio Jeremias havia descoberto séculos antes: mesmo na desolação mais profunda, há uma esperança que precede nossa capacidade de merecê-la. O amor eterno não é um prêmio de consolação para tempos difíceis; é a fundação sobre a qual até mesmo nossos momentos mais sombrios encontram significado.
A Anatomia da Bondade
“Graça sobre graça, recebi
E da plenitude, renasci
Quando atraído, me encontrei
No amor de DeusViva e poderosa salvação
Luz que me alcançou na escuridão
Todo meu pecado se apagou
No amor de Deus.”
Estas palavras ecoam a experiência transformadora do profeta Jeremias, que mesmo em meio ao exílio e à destruição de Jerusalém, ouviu a voz divina proclamando um amor que transcende o tempo.
Essa bondade que Jeremias ouviu e registrou, ecoa através dos séculos até agora, que palavra! Podemos nos referir a ela como o “amor fiel e persistente”, como “aliança inquebrantável”, como: “o tipo de amor que faria até mesmo um ateu se sentir desconfortável, pois não depende de nosso reconhecimento para existir.”
Quando Deus sussurra “com bondade te atraí”, Ele não está empregando técnicas de sedução divina. A palavra sugere antes um pastor paciente que conhece o terreno melhor que suas ovelhas, guiando-as por caminhos que elas nunca escolheriam, mas que são exatamente o que precisam. É Romanos 8:28 em ação: não que todas as coisas sejam boas, mas que o amor eterno as transforma em instrumentos de nossa formação.
O Paradoxo dos Pobres de Espírito
“Bem-aventurados os pobres de espírito” (Mateus 5:3) — Jesus não estava sendo poético; estava delineando a única porta de entrada para compreender o amor eterno. Agostinho descobriu isso em seu jardim quando finalmente compreendeu que sua busca frenética por dignidade própria era precisamente o que o mantinha longe da graça. A salvação não é uma transação comercial onde pagamos com virtude e recebemos benedições divinas; é uma adoção gratuita onde a única qualificação é reconhecer nossa desqualificação completa.
O amor eterno tem esse característica de funcionar de modo oposto aos nossos padrões. Quanto mais tentamos conquistá-lo, mais escorregadio ele se torna. Mas quando finalmente paramos de correr e simplesmente estendemos as mãos vazias, descobrimos que Ele já estava lá, esperando pacientemente que cessássemos nossa agitação autocentrada.
A Cruz: Onde o Eterno Encontra o Temporal
A cruz não foi um arranjo de última hora, um “Plano B” divino quando o “Plano A” da perfeição humana falhou. Não! A cruz foi a expressão temporal do que sempre foi eternamente verdade no coração de Deus. João nos diz que Cristo foi “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8) — uma resposta que já existia muito antes do problema que viria resolver.
Na cruz, o amor eterno não apenas se manifesta; ele triunfa. Ali, a benignidade divina não simplesmente cobre nossos pecados como uma manta sobre sujeira; ela os transforma, os redime, os usa como material bruto para uma história maior de restauração. Charles Wesley captou isso magnificamente em seu hino: “Amor maravilhoso! Como podes, meu Deus, morrer por mim?“
Vivendo na Órbita do Amor Eterno
“Logo eu, um pobre pecador
Logo eu, tão fraco e tão devedor
Logo eu, de graça recebi o amor de DeusLogo eu, finito e carnal
Logo eu, diante de um Deus imortal
Logo eu, de graça recebi o amor de Deus.”
O que fazemos com um amor que não podemos ganhar, perder ou explicar completamente? Simplesmente o recebemos, como uma criança que aceita um abraço sem questionar se o merece. Este amor eterno transforma nossa relação com o fracasso, ele deixa de ser uma condenação final e se torna um convite renovado à dependência. Transforma nossa relação com o sucesso, ele deixa de ser validação própria e se torna ocasião para gratidão. Mais profundamente ainda, transforma nossa relação com o tempo, cada dia deixa de ser uma tentativa desesperada de provar nosso valor e se torna uma oportunidade de desvendar mais sobre Aquele que nos ama eternamente.
O Convite da Benignidade
Então, querido leitor, permita-me fazer a pergunta: O que você fará com este amor eterno que se recusa a ser domesticado por nossa lógica humana, que insiste em nos amar antes de nos tornarmos amáveis, que nos alcança em nossa rebeldia não apesar de nossos fracassos, mas através deles?
Talvez a resposta seja simplesmente esta: pare de tentar compreendê-lo completamente e comece a vivê-lo diariamente. O amor eterno não é tanto um conceito teológico para ser dissecado quanto uma realidade viva para ser experimentada, uma canção para ser cantada, uma dança para ser dançada.
Senhor, diante de Teu amor eterno, confessamos nossa pequenez e fragilidade. Obrigado porque não precisamos nos tornar dignos de Teu amor, ele já nos alcança na escuridão de nosso pecado. Que esta verdade não apenas console nossa alma, mas transforme nosso viver. Ajuda-nos a refletir em nossos relacionamentos a mesma graça que recebemos de Ti. Em Cristo, que é a expressão máxima de Teu amor, oramos. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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