SOFRIMENTO E PACIÊNCIA

Explore a profunda conexão entre amor, sofrimento e paciência à luz de 1 Coríntios 13:7, descobrindo como Deus transforma nossa dor em testemunho.

SOFRIMENTO E PACIÊNCIA

Descobrindo o propósito divino no sofrimento e na paciência.

“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. 1 Coríntios 13:7.

O mistério do amor que dói

Imagine um velho carvalho enfrentando uma violenta tempestade. Os galhos mais externos balançando furiosamente, alguns até se quebrando sob a pressão. Mas o tronco permanece firme, quase imóvel. Não é isto o amor? Não apenas aquela sensação agradável que floresce em dias ensolarados, mas algo muito mais substancial que se revela precisamente quando os ventos são contrários?

Há uma estranha matemática no amor cristão que desafia nossa lógica moderna. Normalmente calculamos o valor de algo pelo prazer que nos proporciona. Mas Paulo sugere uma equação radicalmente diferente. O verdadeiro amor, ele insiste, não é medido pela quantidade de felicidade que produz, mas pela sua capacidade de resistir quando tudo sugere que deveríamos desistir.

Quando C.S. Lewis perdeu sua esposa Joy para o câncer, ele escreveu em “Anatomia de uma dor”: “Ninguém me disse que o luto se parecia tanto com o medo”. Sua fé foi testada até o âmago, suas certezas teológicas dissolvidas no ácido da experiência real. E ainda assim, nas páginas daquele livro dolorosamente honesto, testemunhamos um homem descobrindo uma dimensão do amor que só poderia ser revelada através da adversidade. Não um amor que elimina o sofrimento, mas um amor que o atravessa.

A Tenaz Persistência da Graça

Considere a palavra que Paulo escolhe em nosso texto: hypoménei — suporta. Não é apenas resistência passiva, mas uma persistência tenaz, uma recusa em ser derrotado. É como um soldado em seu posto que não abandona sua posição mesmo quando a batalha parece perdida. É, se me permitem a expressão, a teimosia santa do amor.

“O amor tudo sofre”, não porque o sofrimento seja bom em si mesmo, mas porque o amor é capaz de transformá-lo em algo maior. Como observou Agostinho: “Deus não permite que o mal simplesmente aconteça; Ele permite o mal apenas na medida em que pode transformá-lo em bem”.

Em Romanos 8:18, Paulo nos dá uma perspectiva que desafia nossa visão míope: “Pois considero que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada”. Observe bem: ele não minimiza o sofrimento presente, ele o contextualiza. Não é que a dor não seja real; é que ela não é final.

A maratona, não a corrida de cem metros

O cristianismo nunca foi uma religião para velocistas, mas para maratonistas. Nos primeiros séculos, os cristãos não enfrentavam apenas perseguição ocasional, mas a possibilidade diária do martírio. Como nos lembra o escritor da carta aos Hebreus: “Portanto, visto que temos ao nosso redor tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão facilmente nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta” (Hebreus 12:1).

A vida cristã não se assemelha a uma corrida veloz, mas a uma persistente jornada através de terrenos variados. Há momentos de alegria, sim, mas também vales de sombra onde nossa capacidade de suportar é testada até o limite. É precisamente nestes momentos que o caráter é formado: “O sofrimento não é opcional no cristianismo; é o cadinho no qual nossa fé é purificada e nossa paciência desenvolvida”.

Há um relato comovente de uma mulher cristã, esposa de um ex-jogador do Miami Dolphins, que lutava contra o câncer. Em seu leito de dor, com uma lágrima solitária trilhando seu rosto emagrecido, ela confessou: “Eu só não sei o quanto mais eu posso aguentar. Isso chegou a um ponto que parece insuportável.”

Não era uma queixa amarga ou uma acusação contra Deus. Era simplesmente a honestidade crua de alguém chegando ao limite de sua resistência humana. Dias depois, ela completou sua corrida e foi para os braços de seu Salvador. Seu sofrimento havia terminado, não temporariamente, mas eternamente.

O paradoxo da força na fraqueza

Um dos paradoxos mais profundos da fé cristã é que somos mais fortes precisamente quando reconhecemos nossa total fraqueza. O apóstolo Paulo, aquele homem que conhecia o sofrimento intimamente, escreveu: “Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12:10).

O filósofo estoico Sêneca observou que “a força da mente se eleva com os fardos que lhe são impostos”. Mas há uma diferença crucial entre a resistência estoica e a perseverança cristã. O estoico suporta porque não há alternativa; o cristão suporta porque há um propósito redentor em seu sofrimento.

Eugene Peterson nos apresenta esta verdade na Bíblia “A Mensagem” de Romanos 5:3-4: “Não só isso, mas comemoramos em épocas de sofrimento porque sabemos que quando o mundo nos esmaga, o sofrimento desenvolve força de caráter, e o caráter fortalece nossa confiança esperançosa em Deus”.

Entre o já e o ainda não

Vivemos no intervalo entre a ressurreição e o retorno de Cristo, um tempo que o teólogo alemão Jurgen Moltmann chamou de “a era do Espírito”. Neste intervalo, somos chamados a “participar das aflições de Cristo” (Colossenses 1:24). Não porque Deus seja sádico, deleitando-se em nossa dor, mas porque ao sofrer com dignidade e esperança, nos tornamos testemunhas vivas da realidade transformadora do evangelho.

O sofrimento e a paciência não são meros testes arbitrários que Deus impõe para ver se passamos. São, antes, os meios pelos quais Ele esculpe em nós o caráter de Cristo, aquele que, “pela alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha” (Hebreus 12:2).

Uma teologia para o vale, não apenas para o monte

Quando a dor nos visita, não como hóspede passageiro, mas como residente de longa duração, nossa teologia é testada. É fácil falar sobre a bondade de Deus no topo da montanha; é no fundo do vale que descobrimos se nossas palavras têm substância.

Aqueles que ensinam que a vida cristã genuína exclui o sofrimento não apenas contradizem o testemunho unânime do Novo Testamento, mas também roubam dos sofredores o consolo mais precioso: a certeza de que sua dor não é evidência do abandono de Deus, mas uma oportunidade para manifestação do seu amor.

Aquela mulher com câncer não era alguém a quem “Deus não amava”, como alguns falsamente sugeririam. Pelo contrário, era alguém a quem “Deus amava tão profundamente ao ponto de confiar-lhe tal dor e sofrimento, sabendo que ela iria suportar”.

O Convite à Paciência que Transforma

Permita-me, então, perguntar-lhe com toda a gentileza: O que você está suportando hoje? Que fardo pesa sobre seus ombros, parecendo além de sua capacidade de carregar? Talvez seja uma doença crônica, um relacionamento turbulento, uma injustiça persistente, ou simplesmente o cansaço acumulado de muitos pequenos sofrimentos.

O amor que Paulo descreve não é um sentimento fugaz, mas uma força penetrante que transforma nossa relação com o sofrimento. Não o elimina magicamente, isto seria banalizar tanto o amor quanto o sofrimento. Em vez disso, o amor infunde nossa dor com significado, garantindo que nenhuma lágrima caia sem propósito.

Nosso sofrimento não é um acidente cósmico ou um capricho divino, mas parte de uma narrativa maior, uma história de redenção em que cada capítulo doloroso serve, de alguma forma que não podemos compreender plenamente agora, ao glorioso desenlace. “O vislumbre de nosso Senhor Jesus é o melhor antídoto contra o medo do sofrimento.”

Que em meio à nossa dor, possamos olhar para Cristo, aquele que suportou tudo por amor e encontrar não apenas consolo para o presente, mas esperança para o futuro, quando todo sofrimento cessará e toda paciência será recompensada.

“Senhor, fortalece-nos para que possamos amar como Tu amas – com um amor que tudo sofre e tudo suporta. Quando a dor parecer insuportável, lembra-nos das promessas de Tua Palavra, que o sofrimento presente é temporário e que Tu estás conosco em cada momento. Dá-nos a graça de transformar nosso sofrimento em testemunho do Teu amor que nunca falha. Em nome de Jesus, que suportou a cruz por amor a nós. Amém.”

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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