A Suprema Autoridade da Escritura Sagrada
Por Que a Palavra de Deus Permanece Nossa Única Regra Infalível.
“O que você aceitaria como autoridade final para sua vida e suas decisões?” Esta pergunta, aparentemente simples, revela muito sobre nossas convicções mais profundas. Em um mundo de autoridades competitivas e vozes conflitantes, a doutrina da Escritura Sagrada como regra infalível de fé e prática permanece uma âncora teológica indispensável. Enquanto nossa cultura celebra a autonomia individual e relativiza a verdade, a afirmação reformada da Palavra de Deus como autoridade suprema oferece um fundamento seguro em tempos incertos.
Porque a Escritura Sagrada — compreendendo todos os livros do Antigo e Novo Testamento — foi dada por inspiração divina e permanece a única regra infalível para a fé cristã e prática da igreja? Esta doutrina não apenas sustentou a Reforma Protestante, mas continua a ser vital para a fidelidade da igreja em nosso tempo.
A Natureza Divina da Escritura Sagrada
A Inspiração Divina: Um Tesouro Confiado à Igreja
A afirmação de que a Escritura Sagrada é “dada por inspiração de Deus” representa uma convicção fundamental da fé reformada, como cristãos reconhecemos que a Bíblia foi “inspirada por Deus para ser nossa regra de fé e prática.” O reformador João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, explica esta inspiração de forma profunda:
“Os profetas e apóstolos não se gloriam de sua agudeza, ou de qualquer qualidade que concilie crédito aos oradores, nem insistem em argumentos racionais; mas colocam diante de nós o sagrado nome de Deus, a fim de que por ele todo o mundo seja compelido à submissão.” (Institutas, I.7.4)
Para o cristão contemporâneo, esta doutrina da inspiração garante que, ao abrir as Escrituras, não encontramos meras opiniões humanas sobre Deus, mas a própria auto-revelação divina, comunicada através de autores humanos sem anular suas personalidades ou contextos históricos.
A Autoridade Única da Escritura no Testemunho de Cristo
A convicção reformada sobre a Escritura Sagrada deriva significativamente do próprio testemunho de Jesus. Como R.C. Sproul observou:
“O argumento mais poderoso para a autoridade da Bíblia é o argumento de Jesus. Se Jesus é quem Ele afirmou ser, então Suas opiniões sobre a Escritura são definitivas.” (Conhecendo a Escritura)
Cristo constantemente apelava para a Escritura como autoridade final (Mateus 4:4, 7, 10; 19:4-5; Lucas 24:25-27). Ele afirmou que “a Escritura não pode ser anulada” (João 10:35) e declarou que “nem um jota ou um til passará da Lei” (Mateus 5:18).
Na prática, isto significa que nossa atitude em relação à Escritura Sagrada deve refletir a de Jesus. Quando enfrentamos dúvidas, decisões éticas complexas ou questionamentos filosóficos, buscamos primeiro “o que está escrito,” submetendo nosso entendimento à autoridade da Palavra revelada de Deus.
A Escritura como Regra de Fé
A Suficiência da Palavra para Doutrina e Vida
Uma das contribuições mais significativas da Reforma foi a recuperação da doutrina da suficiência da Escritura Sagrada. A Confissão Belga (artigo 7) afirma:
“Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus, e que tudo o que o homem deve crer para a salvação é suficientemente ensinado nela.”
Esta afirmação confrontava diretamente a prática medieval de elevar a tradição eclesiástica ao mesmo nível da Escritura. Herman Bavinck, teólogo holandês, explicou a importância desta posição:
“A Reforma protestante restaurou a Escritura ao seu legítimo lugar como a única fonte e norma da verdade religiosa. Não apenas colocou a Escritura acima da tradição da igreja, mas também acima da razão e do sentimento religioso.” (Dogmática Reformada)
Para o crente contemporâneo, a suficiência da Escritura Sagrada significa que não precisamos de novas revelações especiais ou autoridades suplementares para conhecer a vontade de Deus para nossa vida e fé. Certamente, recursos como o estudo histórico, a reflexão teológica e a sabedoria comunitária têm seu lugar, mas sempre como auxiliares na compreensão da Escritura, nunca como fontes independentes de autoridade.
Você já se perguntou como esta doutrina se aplica às numerosas questões que a Bíblia não aborda explicitamente? A resposta reformada é que a Escritura Sagrada fornece não apenas mandamentos específicos, mas princípios abrangentes que, quando adequadamente aplicados, orientam todas as áreas da vida.
A Clareza das Escrituras e o Sacerdócio de Todos os Crentes
Intimamente ligada à suficiência está a doutrina da clareza (ou perspicuidade) da Escritura Sagrada. O Catecismo de Heidelberg ensina que “o Espírito Santo… nos faz compreender o que Ele nos revela na Sua Palavra” (Pergunta 21). Martin Lutero articulou esta compreensão em seu tratado “A Liberdade Cristã”:
“A Escritura é seu próprio intérprete, testando, julgando e iluminando todas as coisas por si mesma.”
Esta convicção fundamentou o conceito do sacerdócio de todos os crentes, desafiando a noção de que apenas uma elite eclesiástica poderia interpretar corretamente a Palavra de Deus.
Para o cristão de hoje, isto não significa que a interpretação bíblica seja sempre simples ou que não exista valor em estudos acadêmicos. Antes, afirma que as verdades essenciais da salvação são acessíveis a qualquer crente sincero que busque compreendê-las, guiado pelo Espírito Santo e em comunhão com a igreja.
A Escritura como Regra de Prática
A Aplicação da Palavra na Vida Cotidiana
A Escritura Sagrada não é apenas um compêndio de verdades teológicas abstratas, mas uma regra para a vida cristã prática. Como expressa a Confissão de Fé de Westminster:
“O conselho de Deus… é a regra de toda a justiça, por Ele mesmo, e para esse fim, revelado.” (I.2)
John Piper, destacando esta dimensão prática, escreve:
“A Bíblia não é primariamente um livro de informações sobre Deus a ser entendido, mas um livro de instruções sobre gozo a ser obedecido. A meta da Bíblia é que encontremos nossa alegria suprema em Deus.” (Desiring God)
Esta compreensão transforma nossa abordagem à leitura bíblica. Não buscamos apenas conhecimento intelectual, mas transformação moral e espiritual. Cada texto nos convida não apenas a entender, mas a responder em fé e obediência.
Na prática, isto significa examinar nossas decisões, relacionamentos, hábitos e prioridades à luz da Escritura Sagrada. Como Francis Schaeffer frequentemente perguntava, “Como então viveremos?” A resposta reformada é: de acordo com a Palavra de Deus, que fornece princípios para cada aspecto da vida, do pessoal ao social, do familiar ao político.
A Escritura na Vida da Igreja Contemporânea
A centralidade da Escritura Sagrada deve moldar a vida e o ministério da igreja contemporânea. Como Timothy Keller observa:
“Uma igreja centrada no evangelho está comprometida com a Palavra de Deus como autoridade final e, portanto, comprometida com a pregação expositiva que abre o significado do texto bíblico.”
Esta convicção tem implicações práticas para o culto, a pregação, o discipulado e a evangelização. Uma igreja fiel mantém as Escrituras no centro de sua adoração, suas decisões e sua missão.
Considere como isto contrasta com tendências eclesiásticas contemporâneas que podem priorizar relevância cultural, experiências emocionais ou pragmatismo sobre fidelidade bíblica. A tradição reformada nos chama de volta ao princípio fundamental: a igreja encontra sua verdadeira relevância e poder quando se submete à autoridade da Escritura Sagrada.
Permanecendo Firmes na Palavra
A doutrina da Escritura Sagrada como única regra infalível de fé e prática permanece tão vital hoje quanto nos dias da Reforma. Em um mundo onde a verdade é frequentemente relativizada e a autoridade questionada, a afirmação da Palavra de Deus como fundamento seguro oferece clareza e direção.
Como vimos, esta doutrina não é mera teoria teológica, mas tem profundas implicações para como entendemos a revelação de Deus, interpretamos Sua Palavra e vivemos nossa fé. A Escritura Sagrada é verdadeiramente “útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Timóteo 3:16).
O desafio para cada crente e para a igreja é renovar o compromisso com a centralidade da Palavra de Deus. Isto significa não apenas afirmar sua autoridade em teoria, mas submeter-se a ela na prática – lendo-a regularmente, estudando-a diligentemente, meditando nela profundamente, e obedecendo-a fielmente.
Como J.I. Packer sabiamente concluiu: “O problema da autoridade bíblica é, em última análise, um problema de submissão. Reconheceremos a Cristo como Senhor da Escritura e, consequentemente, como Senhor da nossa vida através da Escritura?”
Pai Celestial, agradecemos pelo tesouro inestimável da Tua Escritura Sagrada. Concede-nos humildade para nos submetermos à sua autoridade, sabedoria para compreender seus ensinamentos, e coragem para viver de acordo com seus preceitos. Que Tua Palavra seja verdadeiramente lâmpada para nossos pés e luz para nosso caminho. Em nome de Jesus, Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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