COMO OS CELULARES REVELAM NOSSO CORAÇÃO

Descubra como nossos smartphones podem revelar as tentações do coração e como viver de forma piedosa na era digital seguindo a Bíblia.

COMO OS CELULARES REVELAM NOSSO CORAÇÃO

“Porque tudo o que há no mundo — os desejos da carne, os desejos dos olhos e a soberba da vida — não procede do Pai, mas procede do mundo.” 1 João 2:16.


Há um momento peculiar, talvez você já o tenha experimentado, quando acordamos no meio da noite e, quase instintivamente, nossa mão tateia à procura de nosso celular. Não há emergência, não há urgência real; apenas um impulso inexplicável de verificar se o mundo digital continuou girando enquanto dormíamos. Nesse gesto automático, quase involuntário, revelamos algo profundo sobre a condição de nosso coração na era digital.

João, o apóstolo amado, diagnosticou há dois mil anos as três tentações fundamentais que governam “tudo o que há no mundo: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 João 2:16). Ele não poderia imaginar que um dia esses três apelos encontrariam expressão perfeita em dispositivos que cabem no bolso e conectam instantaneamente bilhões de almas.

A Torre Digital em Nossas Mãos

“Todos nós desejamos progredir. Mas o progresso significa chegar mais perto de onde você deseja estar, contudo, se você tomou um atalho errado, então seguir em frente não vai levá-lo para mais perto. Se você estiver no caminho errado, o progresso significará dar meia-volta e retornar ao caminho certo…”

C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples

A questão inquietante sobre nossos celulares é: onde exatamente queremos chegar com eles? Quando Alexander Graham Bell fez sua primeira ligação telefônica em 1876, dizendo simplesmente “Sr. Watson, venha aqui, preciso do senhor”, estava chamando alguém para perto. Nossos celulares, frequentemente nos distanciam daqueles que estão fisicamente próximos.

Como Tony Reinke observa em seu livro: “A guerra dos espetáculos”, nossos dispositivos se tornaram torres digitais de Babel – plataformas onde publicamos nossas conquistas autoproclamadas, onde construímos identidades altamente idealizadas, onde tentamos alcançar significado e conexão por esforço próprio. A diferença é que, desta vez, cada um de nós carrega sua própria torre de Babel no próprio bolso.

Deus não se surpreende com nossa fome de conexão – Ele nos criou para relacionamento. O problema surge quando nossos celulares se tornam substitutos baratos para a comunidade autêntica que Ele projetou para nós experimentarmos.

O Atrito Perdido da Alma

Há algo profundamente revelador sobre nossa aversão moderna ao “atrito relacional”. Nossos celulares prometem relacionamentos sem constrangimento, comunicação sem confronto, comunidade sem custo. Podemos bloquear pessoas com um toque, silenciar conversas difíceis e criar bolhas sociais que ecoam apenas nossas próprias opiniões.

O atrito não é sempre inimigo da alma! O ferro afia ferro (Provérbios 27:17), e isso requer atrito. A santificação é um processo que envolve o atrito necessário da correção fraterna, do confronto amoroso, da paciência exercitada em relacionamentos imperfeitos. Quando nossos celulares nos permitem evitar sistematicamente esse atrito sagrado, eles podem estar impedindo nosso crescimento espiritual.

É impossível que o homem não seja consumido pelo desejo por aquilo que vê. Nossos celulares amplificam exponencialmente aquilo que vemos – feeds infinitos de vidas aparentemente perfeitas, produtos sedutores, experiências inalcançáveis. A “concupiscência dos olhos” encontrou seu instrumento perfeito.

A Liturgia Digital de Nossas Vidas

James K.A. Smith nos ensina que somos criaturas litúrgicas – nossas práticas repetitivas moldam nossos desejos. Que liturgia estamos praticando quando checamos nossos celulares várias vezes por dia (Em média, as pessoas checam seus celulares cerca de 58 vezes por dia. Alguns estudos apontam números ainda maiores, como 78 vezes, 152 vezes, ou até 221 vezes. A frequência pode variar dependendo da idade e do tipo de atividade que a pessoa realiza.)? Que hábitos do coração estamos cultivando quando nossa primeira ação ao acordar e nossa última antes de dormir envolvem uma tela?

Cada notificação é um chamado à adoração – não de Deus, mas do algoritmo que compete por nossa atenção. Cada like buscado é uma oração por validação dirigida ao ídolo da aprovação social. Cada vez que rolamos infinitamente as atualizações, é uma peregrinação digital em busca de algo que satisfaça a sede da alma.

Os celulares revelam não apenas o que fazemos, mas quem estamos nos tornando através de nossas práticas digitais repetitivas. Como Charles Spurgeon disse: “Um homem pode pregar melhor com sua vida do que com seus lábios.” Na era digital, pregamos constantemente através de nossos dispositivos – a questão é: que evangelho estamos proclamando?

A Graça Maior que Qualquer Algoritmo

Mas o mesmo Espírito que nos capacita para vencer a concupiscência da carne no mundo físico nos capacita para resistir às tentações amplificadas por nossos celulares. Cristo, que venceu todas as tentações no deserto, compreende nossas lutas digitais e oferece poder real para vitória real.

A santificação não para na tela do celular. Paulo nos exorta: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor” (Colossenses 3:23). Isso inclui cada texto enviado, cada post compartilhado, cada momento de atenção digital oferecido.

Vivendo com Sabedoria Digital

Como, então, devemos segurar nossos celulares com mãos santificadas? Primeiro, reconhecendo que eles são ferramentas moralmente neutras que amplificam as inclinações de nossos corações. Segundo, submetendo seu uso aos mesmos princípios bíblicos que governam todas as áreas da vida cristã.

Quando a “concupiscência dos olhos” nos tentar ao consumo desenfreado de conteúdo digital, lembremo-nos de Filipenses 4:8: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês.” Quando a “soberba da vida” nos seduzir com a busca por validação virtual, recordemos que nossa identidade está escondida com Cristo em Deus, Colossenses 3:3: “Porque vocês morreram, e a vida de vocês está oculta juntamente com Cristo, em Deus”. Quando a “concupiscência da carne” nos atrair para usos egoístas da tecnologia, escolhamos usar nossos celulares para servir e edificar outros.

A comunidade autêntica requer o “bom atrito” do discipulado face a face, do confronto amoroso, da presença física compartilhada. Nossos celulares podem facilitar esses encontros, mas nunca substituí-los completamente.

Que nossos dispositivos se tornem instrumentos de graça em vez de ídolos de nossa época, ferramentas que apontam para Cristo em vez de substitutos baratos para Ele. Afinal, nossos celulares revelam nosso coração – que eles revelem corações cada vez mais conformados à imagem de Cristo.

Pai celestial, Tu vês como nossos celulares podem amplificar as tentações de nosso coração caído. Perdoa-nos quando cedemos à concupiscência dos olhos através do consumo desenfreado de conteúdo digital, à soberba da vida através da busca por validação virtual, e à concupiscência da carne através do uso egoísta da tecnologia. Capacita-nos pelo Teu Espírito a usar estes dispositivos para Tua glória, construindo comunidade autêntica e apontando outros para Cristo. Que nossos celulares revelem corações transformados pela graça. Em nome de Jesus. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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