“Esta é a palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor: ‘Desça à casa do oleiro, e lá você ouvirá a minha mensagem.’ Então desci à casa do oleiro e o vi trabalhando no torno. Mas o vaso de barro que ele estava formando se estragou em suas mãos; então o oleiro fez outro vaso, dando-lhe a forma que lhe pareceu melhor. Então a palavra do Senhor veio a mim: ‘Ó comunidade de Israel, será que não posso fazer com vocês o mesmo que fez este oleiro?’, pergunta o Senhor. ‘Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas minhas mãos, ó comunidade de Israel.'” Jeremias 18:1-6 NVI.
Quer ser Transformado?
“A obra de Deus em nós não é cosmética, mas criativa. Ele não apenas pinta sobre nossa velha natureza; Ele nos dá uma natureza inteiramente nova. Somos nova criação em Cristo Jesus.” Martinho Lutero, Comentário sobre Romanos, p. 89.
Em 1955, o escritor francês Jean Genet estava preso numa cela solitária quando teve um encontro transformador consigo mesmo. Olhando-se no espelho improvisado de sua cela, viu não apenas um criminoso, mas um homem que poderia ser recriado. Anos depois, tornaria-se um dos dramaturgos mais respeitados da França. Esta experiência de reconhecimento da própria condição e da possibilidade de transformação pode ser vista também na parábola do oleiro em Jeremias 18, onde Deus revela que mesmo os vasos mais estragados podem ser remodelados por suas mãos hábeis.
“O verdadeiro arrependimento não é simplesmente sentir pena do pecado, mas permitir que Deus nos quebre completamente para que possamos ser refeitos segundo Sua imagem. É morrer para o eu para viver para Cristo.” Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, p. 156.
Remodelados pelo Oleiro
A parábola do oleiro revela uma verdade fundamental sobre a natureza da transformação: ela requer quebrantamento completo. “Desce como um vaso velho e quebrado, sobe como um vaso novo” captura precisamente o processo divino descrito por Jeremias. O oleiro não tentou consertar o vaso defeituoso; ele o desfez completamente e começou de novo. Esta é a essência do novo nascimento – não uma reforma gradual, mas uma morte e ressurreição espiritual. Jesus declarou a Nicodemos que “quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (João 3:3), estabelecendo o princípio de que a transformação cristã é radical, não superficial.
“O oleiro quebra o vaso não por crueldade, mas por compaixão. Ele vê o que o vaso pode se tornar e não se satisfaz com o que ele é. Assim é Deus conosco: Ele nos ama demais para nos deixar como estamos.” A. W. Tozer, O Conhecimento do Sagrado, p. 167.
“Ora, vi minha vida toda, e tudo que joguei fora”, aquele momento crucial do reconhecimento da própria condição espiritual. Como o profeta Jeremias contemplando o trabalho do oleiro, há momentos em que Deus nos concede uma visão clara de nossa verdadeira natureza. Esta não é uma experiência de auto-flagelação, mas de iluminação divina. O Espírito Santo atua como espelho que revela não apenas nossa miséria, mas também nossa possibilidade de transformação. Paulo descreve esta experiência em Romanos 7:24: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”, é o reconhecimento que precede a declaração de vitória em Cristo.
“Desisto dessa vida, deixa quieto me entrego, convém que eu diminua”, nas palavras de João Batista sobre Cristo: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). Esta é a postura do barro nas mãos do oleiro, rendição total ao processo de transformação. A entrega não é passividade, mas participação ativa na obra divina. A Bíblia ensina, que somos “mortos em delitos e pecados” (Efésios 2:1), a tradição reformada bebe nessa verdade bíblica e declara que somos incapazes de nos transformar, mas respondemos à graça irresistível de Deus quando Ele nos vivífica.
“A regeneração não é evolução, mas revolução. Não é o homem natural melhorado, mas o homem natural morto e um novo homem criado. A vida cristã começa com um milagre, não com um processo.” B. B. Warfield, Teologia Sistemática, p. 245.
Novo Começo
“Deus nos aceita como somos, mas nunca nos deixa como somos. O amor divino é transformador por natureza. Quem encontra Cristo verdadeiramente nunca permanece o mesmo.” Tim Keller, O Deus Pródigo, p. 156.
João Calvino ensina que a justificação e a santificação são dons gêmeos da união com Cristo. Somos declarados justos (justificação) e progressivamente transformados (santificação) pelo mesmo ato de graça divina. O vaso novo não é apenas perdoado de suas imperfeições anteriores, mas é recriado com novo propósito e nova beleza. Esta é a glória do Evangelho: Deus não apenas perdoa pecadores, mas os transforma em santos.
“A obra de Deus em nós é como a de um artista: Ele vê não apenas o que somos, mas o que podemos nos tornar. E trabalha pacientemente até que Sua visão se torne nossa realidade.” Eugene Peterson, Longa Obediência, p. 78.
Oleiro celestial, reconhecemos que somos barro em Tuas mãos. Confessamos nossa resistência à Tua obra transformadora e nossa tendência de endurecer nossos corações. Quebra-nos, Senhor, para que possamos ser remodelados segundo Tua vontade perfeita. Como o vaso estragado no torno, entregamos nossas imperfeições e fracassos a Ti, confiando que podes fazer algo belo de nossa vida quebrada. Que não temamos o processo de transformação, mas o abraçamos como evidência de Teu amor. Continua Tua obra em nós até que sejamos conformados à imagem de Cristo. Que nossa vida seja testemunho vivo de que Tu fazes todas as coisas novas. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Este devocional se baseia na canção “VASO” do grupo Ao Cubo.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!