1 Coríntios 10.31. “Portanto, quer vocês comam, quer bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.”
RESOLUÇÃO 20. “Resolvo manter a mais estrita temperança em comer e beber.”
A Porta Estreita

“Crente não bebe, mas come que é uma beleza.” A frase é dita com orgulho, como se fosse virtude trocar um vício por outro. Hoje em dia as pessoas divulgam recordes gastronômicos como troféus. Ninguém é disciplinado por repetir quatro vezes o almoço. A gula se tornou o pecado aceitável dentro e fora do ambiente da igreja, por ser tão comum, já não se vê essa prática como pecado. Jonathan Edwards, aos vinte anos, enxergou o que muitos cristãos hoje não veem: “Resolvo manter a mais estrita temperança em comer e beber.” Ele sabia que a verdadeira liberdade não está em comer tudo, mas em não ser dominado por nada. A quantidade no prato revela o estado do coração. Como escreveu Dante Alighieri:
“Os gulosos jazem na lama, açoitados pela chuva gelada, porque em vida preferiram prazeres terrenos à fome de Deus. Transformaram o ventre em altar e a refeição em liturgia profana.”
— Dante Alighieri, A Divina Comédia – Purgatório
Adão e Eva – O Pecado que Entrou Pela Boca
É icônico que o pecado tenha entrado no mundo através da alimentação. Adão e Eva podiam comer de tudo no Jardim (Gênesis 2.16), mas desejaram o único alimento proibido. A gula é uma perfeita analogia do pecado: já temos o que poderia nos satisfazer, mas queremos ainda mais, queremos ir além. Ao desejarem mais, tiveram menos. Perderam o jardim por irem além do que podiam comer. Na tradição judaica do Antigo Testamento, filhos rebeldes entregues à comilança eram punidos com apedrejamento público (Deuteronômio 21.18-21). A gravidade da gula era atestada, associada a rebeldia, obstinação, bebedeira e vergonha.
Três Dimensões do Pecado da Gula
1. Gula Como Idolatria

Paulo escreve sobre falsos mestres: “O seu destino é a perdição, o seu deus é o estômago e eles têm orgulho do que é vergonhoso; eles só pensam nas coisas terrenas” (Filipenses 3.18-19). Transformamos a mesa num altar de oferendas e falsos deuses. Divulgamos recordes em rodízios como troféus, não como motivo de vergonha. A idolatria reside em transformar os presentes de Deus em deuses. Agostinho de Hipona compreendia este perigo:
“Temia não a impureza da comida, mas a do apetite. Sabia que a mesma boca que come pode adorar – e que adoramos aquilo que mais desejamos. Quando o estômago governa o homem, o homem deixou de ser templo e se tornou tumba.” — Agostinho de Hipona, Confissões.
2. Gula Como Falta de Amor
Em Corinto, alguns comiam suas próprias ceias sem esperar pelos outros: “Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga” (1 Coríntios 11.21). Paulo não resolve o problema comportamentalmente “comam menos!”, mas trata da falta de amor cristão. A idolatria alimentar se manifesta no desinteresse pelo outro. É escolher a maior porção já tendo comido em casa, enquanto o trabalhador que só teve o almoço terá meia porção. É sempre pegar o último pedaço, mesmo quando o mais pobre está à mesa. O guloso come olhando para o prato; deveríamos comer olhando para o outro, abrindo mão de nossa parte em prol de quem precisa.
3. Gula Como Obra da Carne
Em Gálatas 5.19-21, a gula aparece entre obras da carne: adultério, feitiçaria, bebedices, glutonarias. O texto é severo: “Os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.” A quantidade de comida do seu prato pode evidenciar o pecado do seu coração. Apenas pelo poder do Espírito Santo conseguiremos vencer a gula. O “domínio próprio” é manifestação da obra do Espírito (Gálatas 5.24). Como escreveu João Calvino:
“Ter domínio sobre o pecado não é legalismo, mas comunhão com Deus. O cristão não jejua para merecer favor divino, mas porque foi transformado pelo Espírito. A temperança não é esforço humano, mas fruto do Espírito cultivado em solo de gratidão.” — João Calvino, Institutas da Religião Cristã.
Cristo – O Pão da Vida
Em João 6, a multidão procurava Jesus não pelo milagre, mas porque comeram e ficaram satisfeitos. Jesus repreende: “Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna” (João 6.27). Eles encontraram o Pão Vivo, mas preferiram pão de trigo. Jesus declara: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome” (João 6.35). Judas traiu por trinta moedas de prata. Pedro negou para salvar a vida. Muitos não precisam de tanto – trocariam Cristo por um sanduíche. A verdade libertadora é que podemos comer de forma redimida porque Jesus levou nossa gula na cruz. Na Ceia, lembramos que Ele se tornou alimento para saciar nossa fome mais profunda.
“E agora, como viveremos?”
John Piper nos ajuda bastante nesta questão, nos propondo quatro testes: (1) Estou indiferente aos efeitos prejudiciais da comida sobre meu corpo, que é templo do Espírito? (2) Gasto dinheiro imprudentemente com alimentos caros além da minha capacidade e saídas para comer excessivas? (3) Uso comida como fuga de problemas, como um antidepressivo barato? (4) Parei de apreciar o alimento como maneira de desfrutar Deus? Quero te convidar a praticar temperança: complete o copo do outro antes do seu, ofereça seu lugar na fila da refeição, escolha a menor porção. E pergunte-se: tenho mais fome de Deus ou de comida?
“Oremos”
Senhor Jesus, Pão da Vida que desceu do céu, perdoa-nos por adorar o ventre em vez de adorar-te. Confessamos que muitas vezes nos assemelhamos a Esaú, trocando bênçãos eternas por pratos temporais. Dá-nos o Espírito de temperança e ensina-nos a comer para tua glória, não para nossa glutonaria. Que cada refeição seja Ceia – memorial de tua graça, celebração de tua bondade. Dá-nos fome de ti, não apenas de pão. Amém.
Perguntas para Reflexão
- Qual dimensão da gula mais desafia você: idolatria, falta de amor ou obra da carne?
- Você consegue identificar momentos em que usou comida como substituto de Deus?
- Como sua alimentação reflete (ou contradiz) seu amor ao próximo?
- Dos quatro testes de Piper, qual expõe sua área mais vulnerável à gula?
- O que significa, praticamente, “comer e beber para a glória de Deus” hoje?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
Jonathan Edwards – RESOLUÇÃO 19: Fidelidade
Jonathan Edwards – RESOLUÇÃO 18: Vida Piedosa
AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

