
LIÇÃO 04 – Precisamos de evangelistas intencionais
Texto Base – Mateus 28:18-20. “Jesus se aproximou deles e disse: — Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.”
Texto Áureo – Atos dos Apóstolos 1:8. “Mas vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra.”
Textos Bíblicos Correlatos
- Mateus 28:19-20. “Portanto, vãoe façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.”
- João 3:16. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
- Romanos 1:16. “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego.”
- Romanos 10:14-15. “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Assim como está escrito: ‘Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!'”
- 2 Coríntios 5:17-18. “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação.”
- 1 Pedro 3:15. “Mas santifiquem Cristo como Senhor no coração de vocês, estando sempre preparados para responder a todo aquele que lhes pedir razão da esperança que há em vocês.”
- Mateus 24:14. “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações. Então virá o fim.”
Explicação do Texto: Autoridade, Missão e Presença do Ressuscitado
Num monte da Galileia, o Ressuscitado pronunciou palavras que redefiniram para sempre a identidade e o propósito da igreja. Mateus 28.16-20 não é um apêndice ao evangelho, mas seu clímax teológico — ali, Jesus declara que “toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” e, fundamentado nesta soberania conquistada, comissiona seus discípulos a fazer discípulos de todas as nações. A expressão grega pasa exousia não deixa margem para exceções: o Crucificado agora possui jurisdição absoluta sobre toda realidade criada, desde tronos terrestres até principados celestiais. Esta autoridade não foi arrebatada, mas conferida pelo Pai — “foi dada a mim” — revelando a economia trinitária em ação. O que fundamenta nossa missão evangelística não é competência humana, eloquência persuasiva ou estratégias sofisticadas, mas a autoridade soberana de Cristo que venceu pecado, morte e Satanás. Ir a todas as nações não é ousadia presunçosa de quem crê em si mesmo; é obediência confiante de quem foi enviado pelo Senhor de toda autoridade.
Sobre este fundamento inabalável, Jesus estabelece o conteúdo da missão com clareza surpreendente. O único imperativo na Grande Comissão é mathēteusate — “fazei discípulos”. Os particípios que o cercam — “indo”, “batizando” e “ensinando” — são subordinados a esta ação central. Fazer discípulos não significa meramente transmitir informações religiosas ou recrutar adeptos para uma instituição, mas chamar pessoas a um relacionamento transformador com Cristo ressuscitado. A expressão “todas as nações” (panta ta ethnē) representa ruptura radical com o particularismo judaico: a missão não é mais centrípeta, com os gentios vindo a Israel, mas centrífuga, com os discípulos indo às nações. O batismo cristão, diferentemente dos rituais judaicos de purificação, é incorporação trinitária — ser mergulhado “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” significa pertencer à própria vida de Deus. O singular “nome” preserva a unidade divina, enquanto os três títulos coordenados afirmam a distinção real das pessoas. Esta fórmula litúrgica primordial não é teologia sistemática desenvolvida, mas experiência trinitária que a igreja viveu antes de poder explicar plenamente. E o ensino que completa o discipulado não é filosofia abstrata, mas “todas as coisas que vos tenho ordenado” — Jesus equipara seus mandamentos aos mandamentos divinos, reivindicação audaciosa de autoridade. Observe, porém, que não se trata apenas de conhecer, mas de “guardar” (tērein), termo que expressa obediência prática, não especulação desencarnada.
A missão evangelística da igreja, contudo, não é empreendimento solitário que depende de nossas forças. A promessa que encerra a Grande Comissão é também seu sustento: “Eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. A partícula grega idou (“eis”) sempre introduz revelação significativa, convidando-nos a contemplar com reverência esta verdade surpreendente: o Senhor da glória, embora ascendendo aos céus, permanece misteriosamente presente com sua igreja. A ênfase no pronome — “Eu com vós estou” — ecoa o nome divino revelado a Moisés no Sinai. Jesus não promete enviar representante ou consolação distante, mas presença pessoal, contínua, real, mediada pelo Espírito Santo. Esta presença não é ilusão piedosa ou recurso psicológico, mas realidade objetiva garantida pela palavra infalível de Cristo. A expressão “todos os dias” elimina exceções: na prosperidade e adversidade, na certeza e dúvida, na alegria e tribulação, Cristo está conosco. E a referência à “consumação do século” (synteleia tou aiōnos) situa a missão dentro da escatologia bíblica — a história tem direção e término divinamente determinados, e Cristo permanecerá com sua igreja durante toda esta peregrinação até que a presença velada seja finalmente desvelada em glória.
Eis, portanto, a vocação evangelística da igreja: viver e proclamar o evangelho sob a autoridade que não falha, impulsionados pela presença que não desampara, aguardando a consumação que não tarda. Não vamos porque somos suficientes, mas porque Aquele que nos enviou é suficiente. Cada convertido batizado é troféu da vitória de Cristo sobre as trevas; cada discípulo instruído é testemunho do reino que avança implacavelmente através da história. A missão não é nossa, mas d’Ele — somos apenas embaixadores de uma mensagem que não originamos mas fielmente transmitimos. E enquanto vamos, fazendo discípulos, batizando e ensinando, sustenta-nos a certeza inabalável de que o Ressuscitado caminha conosco. Esta é a Grande Comissão: não fardo esmagador, mas privilégio sublime de participar da missão do Deus Trino de reconciliar consigo todas as coisas.
Introdução
“Kelly, aos 16 anos, viajou de sua terra natal, o Brasil, para frequentar o ensino médio como aluna de intercâmbio em Portland, no Oregon. Connie e John, anfitriões americanos de Kelly, eram pessoas agradáveis e de fácil convívio que frequentavam com regularidade uma igreja centrada no evangelho. Kelly era uma boa aluna e, tendo ascendência japonesa e brasileira, sentia-se confortável com culturas múltiplas; assim, ela se adaptou bem à escola em Portland. Connie e John oraram por Kelly e a levaram à igreja, mas Kelly não parecia interessada pela fé cristã. Mesmo assim, Kelly passou a gostar muito de John e Connie, e, depois que ela voltou para casa, eles mantiveram o contato. Connie orou por Kelly ao longo dos anos — anos que aumentaram de cinco para dez e quinze. Pouco tempo atrás, Leeann e eu fomos convidados para falar na igreja de John e Connie, a Hinson Baptist. Durante o almoço, após o culto, Connie se sentou ao lado de Leeann. “Muito tempo atrás”, Connie disse a Leeann, “recebemos em nossa casa uma aluna de intercâmbio chamada Kelly, que hoje é a comissária de bordo da Emirates Airlines. Ela é um doce de garota”. (Embora Kelly fosse agora adulta.) “Ela mora em Dubai. Você acha que consegue entrar em contato com ela? Ela tem se sentido só porque acabou de romper com o namorado.” Leeann ficou muito feliz com a ideia de entrar em contato com Kelly, mas levaria algumas semanas para voltarmos para Dubai. Por isso Connie e Leeann escreveram para Kelly e lhe falaram a respeito da Redeemer, a nossa igreja. Seguindo a recomendação de Connie, Kelly foi à Redeemer antes mesmo do retorno de Leeann. Quando Kelly entrou na igreja, foi cumprimentada de imediato por Hetty, das Filipinas, integrante da equipe de boas-vindas, e em seguida por Kanta, da Índia, junto à banca de livros. Kelly ouviu o pastor Dave pregar o evangelho e sentiu o coração inesperadamente aquecido. Mais tarde, Hetty e Kanta (que não sabiam que Kelly era um contato das nossas viagens aos EUA) a convidaram para almoçar. Quando Kelly foi para casa, ela abriu a sacola de boas-vindas (recebida na igreja) e encontrou dois livros: The cross cen-tered life, de C. J. Mahaney, 1 e Two ways to live [Duas formas de viver], uma explicação do evangelho por Philip Jensen e Tony Payne. Ela devorou os dois títulos. Depois, Hetty e Kanta a convidaram para participar de um grupo pequeno de estudo bíblico, em que ela foi recebida com carinho. Quando Leeann voltou a Dubai, Kelly e ela almoçaram juntas. Kelly falou sobre sua vida a Leeann e disse quanto havia gostado da igreja: — Desejo me tornar membro. — E perguntou em seguida: — Preciso pagar algum tipo de taxa para ser membro? Leeann sorriu e disse: — Não, não há nenhum tipo de taxa na nossa igreja, mas existe algo muito importante que você precisa entender para se tornar membro. É algo que chamamos de evangelho. — Então me fale sobre esse evangelho — Kelly disse.”1 Deus havia orquestrado pessoas, circunstâncias e até mesmo continentes para aproximá-la d’Ele. Vários países, duas igrejas, múltiplas línguas, diversas etnias, anos de oração, dois almoços — um evangelho.
Vivemos numa época de estratégias evangelísticas fragmentadas e esforços desconexos. Muitas igrejas oscilam entre o ativismo frenético que busca resultados imediatos e a paralisia confortável que espera que os perdidos simplesmente apareçam. Mas a história de Kelly nos revela algo profundamente diferente: uma cultura de evangelização intencional, onde crentes comuns se tornam instrumentos conscientes na grande sinfonia da obra redentora de Deus. Não se trata de técnicas manipuladoras ou programas institucionais, mas de cristãos que, moldados pelo evangelho e guiados pelo Espírito Santo, vivem deliberadamente para a glória de Cristo e o bem dos perdidos.
A grande comissão de Mateus 28:16-20 não é uma grande sugestão para cristãos zelosos, mas uma ordem expressa do Rei ressurreto que possui toda autoridade no céu e na terra. E essa ordem requer mais do que entusiasmo esporádico ou eventos evangelísticos ocasionais. Ela demanda evangelistas intencionais operando dentro de uma cultura de evangelização vibrante. Como podemos cultivar tal cultura? Como nos tornamos instrumentos conscientes e preparados nas mãos do Maestro divino? Esta lição explorará o fundamento bíblico, teológico e prático para desenvolvermos corações, mentes e comunidades inteiramente dedicados ao cumprimento da missão que Cristo nos confiou.
Contexto Bíblico e Histórico
A cena final do Evangelho de Mateus acontece num monte da Galileia, longe dos centros de poder religioso e político. Ali, o Cristo ressurreto encontra seus onze discípulos — um grupo reduzido, imperfeito e, surpreendentemente, ainda marcado pela dúvida. Mateus registra com honestidade desconcertante: “Logo que o viram, eles o adoraram. Alguns, porém, duvidaram” (Mateus 28:17, NAA). Nesse cenário improvável, sem pompa ou cerimônia, Jesus entrega a comissão que moldaria a história da humanidade pelos próximos dois milênios.
Esse último parágrafo do evangelho deve ser comparado ao capítulo 10 para que a mudança seja vista em toda sua magnitude. No capítulo 10, Cristo, o filho de Davi, delegou seu poder para a evangelização de Israel. Aqui, Cristo, o filho de Abraão, delega sua autoridade para a evangelização do mundo. A particularidade da missão aos judeus agora se expande para a universalidade da missão aos gentios. O que começou como um riacho entre as colinas da Galileia agora se torna um gigantesco rio destinado a alcançar os confins da terra. João Calvino, em sua exposição dos evangelhos, conecta profundamente a autoridade de Cristo com a missão evangelística da igreja:
“Cristo declara que tem todo o poder tanto no céu quanto na terra. Ele não fala simplesmente de poder eterno que sempre teve com o Pai, mas do poder com o qual, como Mediador, foi investido, para que governasse o céu e a terra, subjugando Satanás, pecado e morte. Foi com esse poder que ele enviou os apóstolos para subjugar todas as nações à sua autoridade e guiá-las à obediência da fé através da pregação do evangelho.”
João Calvino, Comentário Harmônico dos Evangelhos, Editora Fiel, 2010, 643 páginas.
Calvino nos lembra que a grande comissão não é fundamentada na competência humana ou em estratégias engenhosas, mas na soberania absoluta do Cristo exaltado. Os discípulos não eram enviados com seus próprios recursos, mas sob a autoridade daquele que conquistou morte e inferno. Esta verdade transformava uma tarefa impossível em uma missão inevitavelmente vitoriosa. Quando Jesus afirma “toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28:18, NAA), ele estabelece o fundamento inabalável sobre o qual toda atividade missionária deve repousar: não somos nós que conquistamos almas, mas Cristo que reivindica seus eleitos através de nosso testemunho fiel.
A estrutura gramatical da grande comissão revela sua natureza essencial. Os particípios “batizando” e “ensinando” são governados pelo imperativo “fazei discípulos”. A ideia principal é fazer discípulos mediante o batismo e o ensino. O núcleo central não é “ir”, “batizar” ou “ensinar” isoladamente, mas “fazer discípulos” — um processo integral que envolve evangelização, incorporação à comunidade da fé e instrução continuada na Palavra de Deus. Jesus não comissiona sua igreja para fazer fãs, admiradores ou meros convertidos nominais, mas discípulos maduros que guardam todas as suas palavras. Herman Bavinck oferece uma perspectiva teológica profunda sobre a natureza dessa comissão:
“A obra missionária não é uma atividade incidental da igreja, mas pertence à sua própria essência. A igreja não é primariamente uma instituição beneficente ou uma organização moral, mas a assembleia dos crentes chamados do mundo para serem testemunhas de Cristo. A missão é a respiração da igreja; quando ela cessa de ser missionária, ela cessa de ser a igreja de Cristo.”
Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Volume 4 — Espírito Santo, Igreja e Nova Criação, Editora Cultura Cristã, 2012, 792 páginas.
Bavinck nos liberta de compreender a evangelização como programa opcional para cristãos zelosos. Ela é, antes, o pulsar vital da própria natureza da igreja. Uma igreja que não evangeliza não é meramente uma igreja desobediente, mas uma contradição em termos — como um pulmão que não respira ou um coração que não pulsa. A grande comissão não adiciona uma responsabilidade extra à igreja; ela define o que a igreja essencialmente é.
O alcance universal da comissão também merece atenção cuidadosa. Jesus ordena: “Fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19, NAA). A palavra grega para “nações” é ethne, de onde derivamos “etnias”. Não se trata simplesmente de fronteiras geopolíticas, mas de grupos distintos com suas línguas, culturas e identidades próprias. Apocalipse 5:9 nos mostra o cumprimento final dessa visão: um povo redimido procedente de “toda tribo, língua, povo e nação”. Deus não pretende simplesmente salvar indivíduos dispersos, mas compor uma comunidade multiétnica, multicultural e multilíngue que reflita a plenitude de sua glória criativa. Justo L. González, historiador do pensamento cristão, contextualiza a grande comissão dentro da narrativa mais ampla da história da salvação:
“A grande comissão é a resposta de Jesus à pergunta implícita em toda a história de Israel: como as promessas feitas a Abraão de que todas as nações seriam abençoadas através de sua descendência seriam cumpridas? A resposta é clara: através dos discípulos de Jesus, o verdadeiro filho de Abraão, indo a todas as nações. O que começou com a chamada de Abraão em Gênesis 12 encontra seu cumprimento na igreja do primeiro século e continua até nossos dias.”
Justo L. González, Uma História do Pensamento Cristão: Volume 1 — Dos Primórdios ao Concílio de Calcedônia, Editora Cultura Cristã, 2015, 464 páginas.
González nos ajuda a ver a grande comissão não como inovação radical, mas como culminância da narrativa redentora que atravessa toda a Escritura. Israel foi chamado para ser luz aos gentios, mas falhou repetidamente. Agora, a verdadeira Israel — a igreja de Jesus Cristo — é capacitada pelo Espírito Santo e comissionada pelo Rei ressurreto para completar o que Israel não pôde fazer. A evangelização mundial não é apêndice tardio ao plano de Deus, mas seu propósito desde o princípio.
A promessa final de Jesus — “Eu estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:20, NAA) — transforma completamente a natureza da missão. Não somos enviados como órfãos ou mercenários, mas como filhos amados acompanhados pelo próprio Rei. John Charles Ryle captura magistralmente a abrangência dessa promessa: “Cristo está conosco todos os dias. Cristo está conosco em todo lugar que vamos. Ele está conosco diariamente para perdoar e absolver; conosco diariamente para santificar e fortalecer; conosco diariamente para defender e guardar; conosco em tristezas e alegrias; conosco em saúde ou enfermidade; conosco na vida e na morte; conosco no tempo e na eternidade.”
Essa presença permanente de Cristo não é um sedativo para mentes ociosas ou consolação para fracasso evangelístico. É, antes, incentivo ao esforço mais pleno, à perseverança através das maiores dificuldades, à confiança inabalável de que aquele que nos enviou permanece conosco em cada passo da jornada. A história de Connie orando por Kelly durante quinze anos só faz sentido à luz dessa promessa. Não foram quinze anos de abandono, mas quinze anos de presença fiel de Cristo trabalhando imperceptivelmente através de orações, providências e o mover misterioso do Espírito Santo.
1. Preparados em Coração, Mente e Pés
A evangelização intencional requer preparação integral. Não basta ter zelo sem conhecimento, ou conhecimento sem oportunidade, ou oportunidade sem motivação. Precisamos avaliar três dimensões essenciais: estamos motivados (coração)? Estamos preparados (mente)? Estamos disponíveis (pés)?
A motivação genuína para evangelização brota de duas fontes complementares: compaixão pelos perdidos e paixão pela glória de Cristo. Quando vemos pessoas que parecem felizes, bem-sucedidas e autossuficientes, facilmente esquecemos a realidade espiritual: “Levamos palavras de vida a quem está desesperado e morrendo, não importa sua aparência exterior”. A jovem Kelly, com sua carreira promissora como comissária de bordo, parecia ter o mundo aos seus pés. Mas Connie enxergava além da fachada — uma alma preciosa criada à imagem de Deus, mas separada dele por causa do pecado. Jonathan Edwards, em seu tratado sobre afeições religiosas, articula a natureza da verdadeira motivação espiritual:
“A verdadeira religião, em grande parte, consiste em afeições santas. Aquele que não tem afeições religiosas está sem o calor vital da piedade. E não há exercício da verdadeira religião sem que eles sejam envolvidos. Aquele que ama a Deus com um coração frio não o ama de forma alguma. A natureza dos afetos consiste em ser movido, inclinado e orientado; e aquele cuja alma não é movida, inclinada e orientada pela verdade do evangelho não possui a verdadeira fé evangélica.”
Jonathan Edwards, Tratado Sobre as Afeições Religiosas, Editora Vida Nova, 2018, 432 páginas.
Edwards nos confronta com a insuficiência de uma ortodoxia morta. A teologia correta sem afeições santas produz fariseus, não evangelistas. Devemos sentir o peso da realidade do juízo eterno, a urgência da breve janela de oportunidade que temos, a alegria incontível de conhecer as boas-novas da salvação. Connie orou por Kelly durante quinze anos não por obrigação religiosa, mas porque seu coração havia sido cativado pela compaixão do próprio Cristo.
A preparação mental envolve domínio claro do evangelho. Surpreendentemente, muitos cristãos frequentam igrejas por anos sem conseguir articular a mensagem central da fé cristã. Podem discutir questões periféricas, debater posições políticas ou defender tradições denominacionais, mas ficam mudos quando alguém pergunta: “O que é o evangelho?” Uma cultura de evangelização requer que o evangelho permeie tudo — nossa música, nossa pregação, nossas orações, nosso ensino. Timothy Keller desenvolveu uma das articulações mais claras da centralidade do evangelho para toda a vida cristã:
“O evangelho não é apenas a porta pela qual entramos no cristianismo; é o caminho pelo qual progredimos como cristãos. Não são apenas os não-cristãos que devem ouvir sobre Jesus Cristo; os cristãos também precisam ouvir continuamente sobre ele. De fato, nós nunca ‘seguimos em frente’ além da cruz e dos ensinamentos básicos do evangelho. Todas as dimensões da vida cristã — oração, ética, comunidade, adoração, evangelismo, relacionamentos — fluem do evangelho e devem ser formadas pelo evangelho.”
Timothy Keller, Pregação: Comunicando a Fé na Era do Ceticismo, Editora Vida Nova, 2017, 336 páginas.
Keller nos liberta da falsa dicotomia entre evangelização e discipulado. Não proclamamos o evangelho aos perdidos e então passamos para conteúdo “mais avançado” com os convertidos. O evangelho é a fonte inesgotável de toda transformação cristã. Quando Leeann sentou-se com Kelly e disse: “Existe algo muito importante que você precisa entender para se tornar membro. É algo que chamamos de evangelho”, ela estava reconhecendo que o evangelho não é pressuposto óbvio, mas verdade preciosa que deve ser explicada, compreendida e abraçada.
A disponibilidade — ter nossos pés preparados — significa viver intencionalmente em contato com não-cristãos. Muitos evangélicos, especialmente os mais zelosos, inadvertidamente se retiram para uma subcultura cristã confortável onde todos seus amigos, atividades e conversas giram exclusivamente em torno da igreja. Ironicamente, quanto mais “espirituais” se tornam, menos oportunidades evangelísticas têm. O pastor Dave, mencionado na história, vive deliberadamente contra essa tendência. Ele conhece os seguranças de seu prédio pelo nome, frequenta o mesmo cabeleireiro para desenvolver relacionamento, é cliente regular de restaurantes locais — não por conveniência, mas por estratégia evangelística intencional. Abraham Kuyper, o grande teólogo e estadista holandês, argumentou vigorosamente contra o isolacionismo cristão:
“Não existe uma polegada quadrada em todo o domínio da existência humana sobre a qual Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: ‘É meu!’ A fé cristã não é uma religião privatizada confinada à igreja e ao devocional pessoal. É uma cosmovisão abrangente que toca cada aspecto da vida. Quando os cristãos se retiram da cultura, eles não apenas abandonam o campo de batalha; eles negam a própria soberania de Cristo que confessam adorar.”
Abraham Kuyper, Calvinismo: Palestras Proferidas na Universidade de Princeton, Editora Cultura Cristã, 2014, 208 páginas.
Kuyper nos chama a uma presença cristã robusta e engajada no mundo. Não para sermos contaminados pelo mundo, mas para sermos sal e luz dentro dele. Hetty e Kanta, que cumprimentaram Kelly em sua primeira visita à igreja, não se consideravam evangelistas. Eram simplesmente cristãs disponíveis, com pés calçados “com a disposição do evangelho” (Efésios 6:15, NAA), prontas para serem usadas pelo Espírito Santo no momento divino.
2. Eliminando Pressuposições Fatais
Uma das ameaças mais insidiosas a uma cultura de evangelização é a pressuposição de que todos na igreja são cristãos. Essa suposição fatal conduz a outra: não há necessidade de pregar, ensinar ou compartilhar o evangelho constantemente. Com o tempo, a mensagem central se dilui, padrões morais substituem graça transformadora, e o evangelho se perde completamente.
A história de Andrei ilustra esse perigo com clareza perturbadora. Filho de pastor, líder de jovens, músico talentoso, conhecedor de linguajar cristão e versículos bíblicos — Andrei tinha todas as credenciais de um cristão exemplar. Mas quando confrontado com um estudo profundo do Evangelho de Marcos, ele descobriu com horror que, apesar de anos gravitando ao redor de Jesus, ele era incapaz de “enxergar” Jesus. Como o cego em Marcos 8 que inicialmente via “pessoas andando, como árvores”, Andrei precisava de um segundo toque para realmente ver. J.C. Ryle, o bispo anglicano conhecido por sua pregação direta e pastoral, advertiu vigorosamente contra o cristianismo nominal:
“Há muitas pessoas que vão ao céu sem saúde, sem riqueza e sem fama; mas nunca houve alguém que foi ao céu sem Cristo. Muitos vivem sem oração, muitos vivem sem leitura da Bíblia, muitos vivem sem arrependimento, muitos vivem sem fé, muitos vivem sem qualquer conhecimento experimental de Cristo. Mas todos esses, exceto se convertam, perecerão eternamente. É melhor ir para o céu com um olho do que ter dois olhos e ser lançado no fogo do inferno.”
J.C. Ryle, Santidade: Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor, Editora Fiel, 2015, 496 páginas.
Ryle não suaviza a realidade. Religiosidade externa, por mais impressionante que seja, não salva ninguém. Andrei parecia cristão, falava como cristão, servia como cristão — mas não era cristão. Quantos “Andreis” povoam nossas igrejas? Quantos foram falsamente assegurados de sua salvação por causa de educação religiosa, envolvimento eclesiástico ou moralidade respeitável? A resposta demanda que continuemos proclamando o evangelho de forma clara e repetida.
Essa realidade também se aplica aos nossos filhos. Muitas crianças depois de batizadas passam toda sua infância no ambiente da igreja, mas tarde na adolescência ou inicio da juventude passam pela “Profissão de Fé” e presumimos que todas elas são convertidas. Mas anos depois, na adolescência ou idade adulta, alguns desses mesmos indivíduos experimentam conversão genuína — revelando que até esse momento da “caminhada” o que se tinha era uma vida religiosa e não regenerada. Isso não significa que Deus não salva crianças ou que não devemos ensiná-las sobre Cristo. Significa que devemos continuar apresentando o evangelho a nossos filhos durante toda sua formação, evitando a presunção fatal de que uma infância e adolescência garante regeneração genuína. Martinho Lutero, o grande reformador, compreendeu essa verdade profundamente:
“Eu, Doutor Martinho Lutero, servo indigno de nosso Senhor Jesus Cristo, confesso que vivi muitos anos como monge sem Cristo. Eu era um monge piedoso e observava rigorosamente as regras de minha ordem. No entanto, estava atormentado por uma consciência perturbada e não conseguia encontrar paz, pois buscava ser salvo por minhas próprias obras. Foi somente quando entendi a justiça de Deus revelada no evangelho — que a justiça de Cristo é imputada a nós pela fé — que encontrei a paz que minha alma buscava desesperadamente.”
Martinho Lutero, Prefácio à Epístola aos Romanos, em Obras Selecionadas de Martinho Lutero Volume 8, Editora Concórdia, 2016, 392 páginas.
Lutero viveu décadas como religioso devoto antes de experimentar conversão genuína. Seu testemunho desafia qualquer presunção baseada em atividade religiosa. A conversão de Andrei, semelhante à de Lutero, ocorreu não pela adição de novas informações, mas pela revelação transformadora de quem Jesus realmente é e do que ele realizou na cruz. Pressuposições impediriam essa obra salvadora de acontecer. Proclamação fiel e contínua do evangelho a criou espaço.
3. Evangelização como Disciplina Espiritual e Estilo de Vida Moldado pelo Evangelho
Don Whitney argumenta persuasivamente que a evangelização deve ser tratada como disciplina espiritual. Assim como nos disciplinamos para oração, leitura bíblica e participação na comunidade da fé, também devemos nos disciplinar para evangelização. Isto significa planejamento intencional e cultivo deliberado de oportunidades evangelísticas.
A grande maioria dos cristãos espera passivamente que oportunidades evangelísticas apareçam. Ocasionalmente, providencialmente, elas surgem — e quando surgem, devemos aproveitá-las. Mas uma cultura de evangelização não se satisfaz com evangelismo passivo. Ela cultiva ativamente contextos, relacionamentos e conversas onde o evangelho pode ser naturalmente compartilhado. Um cristão não deve esperar que não-cristãos simplismente apareçam em sua porta para ouvir a mensagem de salvação. Ele estrategicamente coloca-se em seus caminhos — no mercado, no restaurante, no salão de beleza, em qualquer ambiente e situação onde possa compartilhar o Evangelho. Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores, praticava evangelização como disciplina diária:
“Cada dia sem ganhar uma alma deve ser um dia de luto espiritual. Não estou dizendo que devemos nos desesperar quando não vemos conversões imediatas, mas devemos manter nosso zelo ardente e nossa vigilância constante. Um caçador que nunca encontra caça provavelmente não é um caçador muito dedicado. Da mesma forma, um cristão que nunca vê almas aproximando-se de Cristo provavelmente não é muito diligente em buscar os perdidos.”
Charles Spurgeon, Ganhando Almas, Editora Fiel, 2018, 176 páginas.
Spurgeon estabelece um padrão elevado — mas não impossível. Ele não está defendendo técnicas manipuladoras ou estatísticas inflacionadas. Está chamando os cristãos a viverem intencionalmente, com senso urgente da brevidade da vida e da realidade da eternidade. Quando Connie orou por Kelly durante quinze anos, ela estava praticando evangelização como disciplina. Não houve conversão rápida, mas houve fidelidade persistente — o tipo de fidelidade que Deus honra e usa.
A evangelização também deve fluir naturalmente de uma vida moldada pelo evangelho. Paulo usa uma expressão reveladora em Gálatas 2:14 quando confronta Pedro: sua conduta “não estava de acordo com a verdade do evangelho”. Isso revela que o evangelho não é apenas mensagem a ser proclamada, mas forma de vida a ser vivida. Nossa maneira de perdoar está ligada ao evangelho: “perdoando uns aos outros; como o Senhor vos perdoou” (Colossenses 3:13, NAA). Nossa liderança está enraizada no evangelho: Cristo “não veio para ser servido, mas para servir e para dar a vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28, NAA). Dietrich Bonhoeffer, compreendeu profundamente o chamado a viver o evangelho:
“O cristianismo barato é o inimigo mortal de nossa igreja. Lutamos hoje por um cristianismo caro. O cristianismo barato é a pregação do perdão sem arrependimento, batismo sem disciplina eclesiástica, comunhão sem confissão, absolvição sem confissão pessoal. O cristianismo caro é o tesouro escondido no campo; pelo qual o homem alegremente vende tudo que possui. É a pérola de grande valor pela qual o mercador vende todos os seus bens. É o governo de Cristo, pelo qual o homem arranca o olho que o faz tropeçar.”
Dietrich Bonhoeffer, O Custo do Discipulado, Editora Mundo Cristão, 2018, 288 páginas.
Bonhoeffer nos confronta com a incoerência fatal de professar fé em Cristo sem viver sob seu senhorio. Quando vivemos vidas genuinamente moldadas pelo evangelho — perdoando como fomos perdoados, servindo como Cristo serviu, amando como fomos amados — criamos curiosidade nos observadores. “Por que vocês cristãos agem assim?” torna-se pergunta natural. E essa pergunta abre porta para compartilhar a esperança que há em nós (1 Pedro 3:15).
Hetty e Kanta não precisaram forçar conversas evangelísticas com Kelly. Sua acolhida genuína, seu cuidado autêntico e sua amizade sincera criaram contexto natural onde o evangelho podia ser compartilhado. Kelly não foi alvo de técnica, mas beneficiária de amor cristão genuíno — e esse amor a atraiu para investigar qual era sua fonte.
4. O Papel Indispensável da Oração
Não sabemos quem Deus chamará para si, portanto quando evangelisamos exercitamos simultaneamente nossa confiança na soberania de Deus e um senso de urgência pela salvação dos perdidos. Orar pela conversão de pessoaas perdidas nos mantém alertas, esperançosos e dependentes do poder de Deus.
Connie orou por Kelly durante vinte anos e quase desistiu. Muitos de nós temos familiares e amigos pelos quais oramos há décadas sem ver conversão. A tentação ao desânimo é real. “Lembro-me da história de uma mulher crente que durante toda sua vida orou por seu filho e o evangelizou. Após sua morte, seu filho encontrou uma carta que sua mãe lhe deixou, lá fazia seu último convite para que ele se rendesse a Cristo.” Não se esqueça de que a fidelidade de Deus não opera segundo nossos cronogramas. Ele está trabalhando imperceptivelmente, tecendo circunstâncias, preparando corações, orquestrando encontros que parecerão coincidências aos olhos humanos, mas são providências divinas aos olhos atentos da fé. George Müller, o grande homem de oração do século XIX, exemplificou assim perseverança intercessória:
“Comecei a orar por cinco indivíduos específicos em novembro de 1844. Orei diariamente, sem falhar, por suas conversões. Após cinco anos, o primeiro foi convertido. Após mais dez anos, dois outros foram salvos. Vinte e cinco anos depois do início das orações, o quarto veio a Cristo. Quanto ao quinto, continuei orando até minha morte — mais de cinquenta anos — mas não perdi a fé. Sei que Deus ouvirá minha oração, mesmo que seja após minha partida deste mundo.”
George Müller, Respostas à Oração: Das Páginas do Diário de George Müller, Editora Vida, 2016, 224 páginas.
Müller nos ensina a fé persistente que não desiste nem diante de décadas de aparente silêncio divino. Connie orou por Kelly durante quinze anos. Müller orou por um de seus amigos por cinquenta anos. Ambos compreenderam que a oração não manipula Deus, mas alinha nosso coração com seus propósitos eternos. E quando finalmente vemos a resposta — quando Kelly é batizada, quando o amigo de Müller se converte — a alegria é proporcional à espera.
Conclusão
A história de Kelly não termina com seu batismo em Dubai. Ela se juntou à equipe de boas-vindas da igreja, desejando alcançar outros que não conhecem Deus. Encontrou recentemente duas comissárias de bordo brasileiras que vieram à igreja pela primeira vez. O ciclo continua. A sinfonia da graça de Deus segue tocando, e Kelly agora se tornou um dos instrumentos.
Essa é a beleza de uma cultura de evangelização madura. Não é sobre indivíduos heroicos realizando façanhas evangelísticas extraordinárias. É sobre cristãos comuns — Connie orando, Hetty cumprimentando, Kanta convidando para almoço, Leeann explicando o evangelho, Dave pregando fielmente — trabalhando juntos como instrumentos na grande obra orquestrada por Deus. Ninguém pode reivindicar crédito exclusivo pela conversão de Kelly. Foi obra coletiva do corpo de Cristo, guiada pelo Espírito Santo, fundamentada na autoridade do Cristo ressurreto.
A grande comissão não é grande sugestão. É ordem expressa do Rei que possui toda autoridade no céu e na terra. E essa ordem vem acompanhada de promessa inabalável: “Eu estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:20, NAA). Não somos enviados como órfãos ou mercenários, mas como filhos amados na presença permanente do próprio Cristo. Augustus Nicodemus Lopes, resume magistralmente a urgência da grande comissão:
“A igreja que deixa de evangelizar está morrendo, mesmo que seus templos estejam cheios aos domingos. A evangelização não é opcional para a igreja, mas essencial à sua própria natureza. Uma igreja sem visão missionária é como um rio sem nascente, que logo se tornará um pântano estagnado. O chamado de Cristo não foi para ocuparmos bancos confortáveis, mas para sermos testemunhas até os confins da terra.”
Augustus Nicodemus Lopes, O Que Estão Fazendo com a Igreja, Editora Mundo Cristão, 2015, 240 páginas.
Nicodemus nos confronta com a escolha inevitável: seremos igrejas vibrantes e missionárias ou instituições estagnadas e moribundas? A evangelização não é departamento especializado para os mais zelosos, mas pulsação vital de todo organismo eclesial saudável. Quando deixamos de evangelizar, não apenas desobedecemos uma ordem; negamos nossa própria identidade como povo de Deus.
Precisamos de evangelistas intencionais — não profissionais itinerantes, mas cristãos comuns que vivem deliberadamente sob a autoridade e na presença de Cristo. Evangelistas que oram persistentemente como Connie. Que acolhem genuinamente como Hetty e Kanta. Que pregam fielmente como Dave. Que explicam claramente como Leeann. Que vivem estrategicamente em contato com perdidos. Que tratam evangelização como disciplina espiritual, não acidente ocasional.
Mas evangelistas intencionais isolados têm impacto limitado. Precisamos de culturas de evangelização — igrejas inteiras moldadas pelo evangelho, saturadas com oração pelos perdidos, treinadas para articular as boas-novas, dispostas a receber bem os buscadores, comprometidas com proclamação fiel. Culturas onde o evangelho permeia música, pregação, oração, ensino e conversas cotidianas. Onde não presumimos que todos são cristãos, mas continuamos apresentando Cristo clara e repetidamente. Onde celebramos juntos quando o perdido é achado e o morto ressuscita.
O Cristo ressurreto que nos comissiona também nos acompanha. Você que tem orado por anos sem ver conversão: não desista. Deus está trabalhando imperceptivelmente. Você que teme compartilhar sua fé: lembre-se que toda autoridade no céu e na terra pertence a Cristo, não a você. Você que se sente mal equipado: busque treinamento, aprenda a articular o evangelho, prepare-se. Você que está isolado numa bolha cristã: tome decisões intencionais para desenvolver relacionamentos autênticos com não-cristãos. C.S. Lewis, apologista e escritor cristão do século XX, oferece palavra final de encorajamento e desafio:
“Se você leu história, descobrirá que os cristãos que mais fizeram pelo mundo presente foram precisamente aqueles que mais pensaram no mundo vindouro. É desde que os cristãos pararam em grande medida de pensar na outra vida que eles se tornaram tão ineficazes nesta. Mire no céu e você terá a terra de brinde; mire na terra e você não terá nenhum dos dois.”
C.S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, Editora Martins Fontes, 2017, 288 páginas.
Lewis nos liberta do falso dilema entre preocupação celestial e relevância terrena. Aqueles que são mais focados na eternidade produzem maior impacto temporal. Connie orou por Kelly durante quinze anos porque enxergava além desta vida. Ela via a eternidade, e essa visão alimentava sua perseverança. Quando perdemos perspectiva eterna, nossa evangelização se torna estratégia de marketing para crescimento institucional. Quando recuperamos perspectiva eterna, evangelização se torna resgate urgente de almas preciosas destinadas à eternidade com ou sem Cristo.
Vários continentes, duas igrejas, diversas cidades, muitas línguas, numerosas etnias, diferentes personalidades, anos de oração, comunicação oral e escrita, dois almoços — um evangelho. E um Cristo ressurreto orquestrando tudo para aproximar filhos perdidos de si mesmo. Essa é a esperança que sustenta evangelistas intencionais e culturas de evangelização. Não confiamos em nossa eloquência, estratégias ou esforços. Confiamos que o Rei ressurreto, que possui toda autoridade e prometeu estar conosco sempre, é fiel para completar a obra que começou.
Que o Senhor nos conceda graça para sermos esses evangelistas intencionais. Que ele transforme nossas igrejas em culturas vibrantes de evangelização. E que, quando chegarmos ao céu, haja cinquenta, sessenta, cem pessoas ali que vieram a Cristo porque Deus nos usou como instrumentos em sua grande sinfonia redentora. Para a glória de Cristo, o Rei ressurreto que nos comissiona e acompanha. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- ADONIRAM JUDSON – Missionário em Mianmar
- ELISABETH ELLIOT: Uma fé inabalável
- LIÇÃO 01 – O que é o Evangelho?
- LIÇÃO 02 – O que é o Evangelização?
- LIÇÃO 03 – Uma Cultura de Evangelização
Perguntas para Reflexão e Aplicação Pessoal
- Avalie sua preparação pessoal: Você está motivado (coração), preparado (mente) e disponível (pés) para evangelização? Em qual dessas três áreas você mais precisa crescer? Quais passos práticos você pode tomar esta semana para desenvolver essa área?
- Examine suas pressuposições: Você tem presumido que certos familiares, amigos ou membros da igreja são cristãos sem nunca ter conversado claramente com eles sobre o evangelho? Como você pode criar oportunidades para verificar se eles realmente compreendem e abraçaram as boas-novas de Cristo?
- Identifique seus relacionamentos estratégicos: Quem são três pessoas não-cristãs em sua vida pelas quais você deveria estar orando regularmente e com quem deveria cultivar amizade intencional? Como você pode aprofundar esses relacionamentos nas próximas semanas?
- Pratique articular o evangelho: Se alguém lhe perguntasse hoje “O que é o evangelho?”, você conseguiria explicar de forma clara, completa e compreensível em três minutos? Pratique com um amigo cristão e peça feedback honesto.
- Comprometa-se com oração persistente: Existe alguém por quem você deveria estar orando há anos mas desistiu? Comprometa-se novamente a orar diariamente por essa pessoa durante os próximos meses, confiando que Deus é fiel mesmo quando não vemos evidências imediatas.
- Contribua para uma cultura evangelística: Como você pode ajudar sua igreja a desenvolver uma cultura mais vibrante de evangelização? Isso pode significar oferecer-se para a equipe de boas-vindas, iniciar um grupo de oração pelos perdidos, compartilhar testemunhos de conversas evangelísticas que você teve, ou simplesmente falar mais abertamente sobre evangelização com outros cristãos.
- Medite na presença de Cristo: Como a promessa de Jesus “Eu estou com vocês todos os dias” (Mateus 28:20) deveria transformar sua coragem, perseverança e expectativa na evangelização? O que mudaria em sua abordagem se você realmente vivesse consciente da presença permanente de Cristo?
Referências Bibliográficas
📖 Literatura Cristã Reformada
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Volume 4 — Espírito Santo, Igreja e Nova Criação. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2012. 792 páginas.
BONHOEFFER, Dietrich. O Custo do Discipulado. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2018. 288 páginas.
CALVINO, João. Comentário Harmônico dos Evangelhos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010. 643 páginas.
DEVER, Mark. Nove Marcas de Uma Igreja Saudável. São José dos Campos: Editora Fiel, 2015. 320 páginas.
EDWARDS, Jonathan. Tratado Sobre os Afetos Religiosos. São Paulo: Editora Vida Nova, 2018. 432 páginas.
KELLER, Timothy. Pregação: Comunicando a Fé na Era do Ceticismo. São Paulo: Editora Vida Nova, 2017. 336 páginas.
KUYPER, Abraham. Calvinismo: Palestras Proferidas na Universidade de Princeton. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014. 208 páginas.
LEWIS, C.S. Cristianismo Puro e Simples. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2017. 288 páginas.
LOPES, Augustus Nicodemus. O Que Estão Fazendo com a Igreja. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2015. 240 páginas.
LUTERO, Martinho. Prefácio à Epístola aos Romanos. In: Obras Selecionadas de Martinho Lutero Volume 8. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2016. 392 páginas.
MÜLLER, George. Respostas à Oração: Das Páginas do Diário de George Müller. São Paulo: Editora Vida, 2016. 224 páginas.
RYLE, J.C. Santidade: Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor. São José dos Campos: Editora Fiel, 2015. 496 páginas.
SPURGEON, Charles. Ganhando Almas. São José dos Campos: Editora Fiel, 2018. 176 páginas.
STILES, J. Mack. Evangelização: Como Toda a Igreja Fala de Jesus. São José dos Campos: Editora Fiel, 2016. 208 páginas. [Fonte do texto-base sobre Kelly e cultura de evangelização]
📚 Literatura História da Igreja
GONZÁLEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão: Volume 1 — Dos Primórdios ao Concílio de Calcedônia. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2015. 464 páginas.
📚 Comentários Bíblicos e Obras de Referência
LOPES, Hernandes Dias. Mateus: Jesus, o Rei dos Reis. São Paulo: Editora Hagnos, 2019. 824 páginas. [Fonte do texto sobre a grande comissão]
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos para Exegese do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida Nova, 2015. 352 páginas.
📰 Fontes Complementares
Para aprofundamento sobre cultura de evangelização e missões contemporâneas, consultar também:
- Portal Ministério Fiel (www.ministeriofiel.com.br): Artigos sobre evangelização e missões urbanas
- The Gospel Coalition (www.thegospelcoalition.org): Recursos sobre evangelização intencional
- 9Marks (www.9marks.org): Materiais sobre eclesiologia reformada e cultura evangelística
- Trecho retirado do livro “Evangelização de J. Mack Stiles – do movimento 9 Marcas.” ↩︎

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
Reginaldo
Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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