
“Aba, Pai”: A Oração que Redefine Tudo
Romanos 8:14-15. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque vocês não receberam o espírito de escravidão, para viverem outra vez atemorizados, mas receberam o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: ‘Aba, Pai’.”
“A oração é para o cristão o que a respiração é para a vida, mas nenhum outro dever cristão é tão negligenciado.”
Mais que Respiração: O Clamor da Alma Adotada
Há palavras que carregam em si, mundos inteiros. “Aba, Pai” não é mera fórmula litúrgica, é um caminho de comunhão, uma declaração de identidade, uma experiência de intimidade profunda como a respiração de uma alma que foi adotada pelo próprio Deus.
Essa expressão é a forma mais íntima e carinhosa de chamar pelo Criador. Aba é uma palavra aramaica (a língua que Jesus e os judeus de sua época falavam) que significa “Papai” ou “Paizinho”. Os autores bíblicos juntaram “Pai” (em grego, Patēr) para garantir que todos entendessem que, graças a Jesus, você não precisa ter medo de Deus. Pelo contrário, o Espírito Santo nos capacita a falarmos com o Todo Poderoso com a confiança e o afeto de uma criança.
Paulo nos revela que a oração não é uma técnica que aprendemos, mas a expressão sincera de quem foi transformado. Mas por que, então, negligenciamos aquilo que nos é tão natural quanto respirar? O que perdemos quando permitimos que a oração se torne algo tão distante e trabalhoso? Como pode a disciplina mais essencial da vida cristã permanecer tão mal compreendida e negligenciada?
“A oração é a principal ocupação do cristão na terra. A vida do crente consiste em olhar para cima e em fazer o céu descer até ele.” Charles Spurgeon
A Revolução da Adoção
No mundo antigo, “Aba” era o balbucio de crianças hebraicas, o equivalente ao nosso “papai”. Raramente usado em contextos religiosos, soava familiar demais, íntimo demais para descrever o relacionamento com o Deus transcendente. Contudo, o Espírito Santo escolheu precisamente esta palavra para expressar nossa nova condição. Não recebemos “espírito de escravidão” que mantém as pessoas aterrorizadas diante de um senhor distante, mas “espírito de adoção” que nos faz clamar com a confiança de filhos genuínos. A oração nasce desta realidade ontológica: fomos adotados na família de Deus, e agora podemos chamar o Criador do universo de “papai”.
“A adoção é uma bênção do evangelho pela qual aqueles que são justificados são recebidos na família de Deus e desfrutam de todas as liberdades e privilégios dos filhos de Deus.” Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 74
Conhecimento Sem Comunhão: A Ortodoxia Estéril
A oração ocupa lugar vital porque conecta conhecimento e experiência. O alvo da vida cristã é a piedade resultante de obediência a Cristo e a oração motiva e nutre essa obediência, colocando o coração na mentalidade apropriada para desejar o que Deus ordena. Podemos acumular verdades sobre Deus, mas sem comunhão em oração, elas permanecem abstratas, desencarnadas, mortas. O Espírito Santo ensina, inspira e ilumina a Palavra para nós, Ele ministra a Palavra e nos capacita a responder ao Pai em oração. Sem esse diálogo vital, a teologia se torna apenas informação, não transformação.
“A oração é o segredo da santidade – se santidade, de fato, tem algum segredo. Quando examinamos a vida dos grandes santos da igreja, vemos que eles eram grandes pessoas de oração.” R.C. Sproul, O Lugar da Oração
O Paradoxo da Preguiça Espiritual
Aqui reside o paradoxo devastador: embora criados para comunhão com Deus, os efeitos da Queda nos deixaram preguiçosos e indiferentes para com algo tão vital. O novo nascimento desperta novo desejo de comunhão, mas o pecado resiste ao Espírito. Por isso a oração exige trabalho, não é natural à carne caída. Martinho Lutero orava uma hora por dia, exceto em dias atarefados, quando orava duas horas. Ele entendia uma verdade esquecida: a negligência da oração é a principal causa de estagnação na vida cristã.
“Ser um cristão sem oração não é mais possível do que estar vivo sem respirar.” Martinho Lutero
Getsêmani: A Anatomia de uma Queda
Considere Pedro no Getsêmani: Jesus ordenou claramente “orai, para que não entreis em tentação”, mas os discípulos adormeceram. A sequência seguinte é profundamente reveladora, Pedro tenta enfrentar o exército romano com uma espada, depois nega a Cristo três vezes. A lição é inescapável: caímos em particular antes de cairmos em público. Pedro não orou, e como resultado direto caiu em tentação. O que aconteceu com Pedro acontece com todos nós quando negligenciamos a oração, perdemos batalhas espirituais porque abandonamos nossa única arma eficaz.
Quando as Palavras Falham: A Intercessão do Espírito
E quando não sabemos como orar? Quando os sentimentos são profundos demais para palavras, quando estamos totalmente incertos sobre o que deveríamos pedir? Romanos 8:26-27 traz conforto extraordinário: o Espírito Santo nos assiste em nossa fraqueza, intercedendo por nós “com gemidos inexprimíveis”. Mais ainda: há razão para crer que, se oramos incorretamente, o Espírito corrige os erros em nossas orações antes de apresentá-las ao Pai, “segundo a vontade de Deus”. A oração muda as coisas porque primeiro muda radicalmente quem ora.
“Não oramos para mudar a vontade de Deus, mas para nos alinharmos com ela. A oração não dobra Deus à nossa vontade, mas nos dobra à vontade dele.” R.C. Sproul
Do Clamor à Comunhão Contínua
“Aba, Pai” não é uma conquista de esforço e técnicas humanas, mas o gesto de se render ao Deus Pai. A oração flui da nova identidade, somos filhos que clamam, não escravos que temem. E este clamor redefine tudo: transforma conhecimento em comunhão, doutrina em dependência, teologia em ternura. Primeira Tessalonicenses 5:17 ordena: “Orai sem cessar”. Isso significa viver em contínuo estado de comunhão com nosso Pai, transformando cada momento em altar, cada respiração em oração. Cristo nos deu acesso ao Pai. O Espírito nos capacita a usá-lo. Resta apenas clamar.
“E agora, como viveremos?”
Comece hoje, não com horas heroicas que alimentam orgulho espiritual, mas com minutos honestos que reconhecem dependência. Chame-o “Aba”, deixe a intimidade dissolver o formalismo religioso. Ore quando souber o que dizer; ore especialmente quando não souber, o Espírito intercede por você. Reconheça a verdade dura: você está caindo em particular antes de cair em público. A oração não é luxo contemplativo para os super consagrados; é respiração espiritual para todos os filhos de Deus. Sem ela, você sufoca lentamente sem perceber.
“Oremos”
Aba, Pai, perdoa-nos por negligenciar o que nos deste gratuitamente, o acesso livre e contínuo a Ti. Confessamos nossa preguiça espiritual, nossa preferência fatal por ativismo religioso em vez de adoração verdadeira. Desperta em nós novo e intenso desejo de comunhão contínua. Pelo Espírito Santo, ensina-nos a clamar mesmo quando não temos palavras adequadas. Que nossa vida inteira se torne oração incessante, respiração contínua de dependência absoluta e deleite profundo. Em nome de Jesus, amém.
Perguntas para Reflexão
- Você trata a oração como dever laborioso a ser cumprido ou como respiração natural de filho adotado por Deus?
- De que maneiras específicas o conhecimento teológico permanece “abstrato” em sua vida por falta de comunhão genuína em oração?
- Como a negligência da oração tem causado estagnação espiritual ou quedas morais em sua jornada cristã?
- Você confia plenamente que o Espírito Santo intercede por você “com gemidos inexprimíveis” quando não sabe como orar?
- O que significa, de forma prática e calculável, “orar sem cessar” no contexto concreto de sua rotina diária?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
