Como evitar transformar Jesus em mero enfeite natalino e restaurar Cristo ao centro funcional de sua vida, ao verdadeiro sentido do natal.
Bíblia Devocionais

Essa “Coisa de Natal”

João 1:14. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”

O Mistério Reduzido a Enfeite

Existe algo profundamente perturbador em nossa capacidade de transformar o sagrado em algo meramente decorativo. Quantas vezes celebramos o Natal sem realmente encontrar Cristo, sem olhar para o menino-Deus deitado na manjedoura? Em nossa cultura, o Natal se tornou uma estação de consumo desenfreado onde Cristo é apenas mais um item decorativo nas prateleiras. Reduzimos a encarnação do Verbo eterno a “uma coisa de Natal”, algo bonito, sentimental, que compramos, embrulhamos e colocamos sob a árvore. Jesus vira mercadoria: útil para vender, perfeito para enfeitar, mas essencialmente vazio de seu propósito redentor. Será que ainda sabemos o que estamos celebrando?

“O Natal não é apenas um dia de sentimentos agradáveis; é o anúncio de uma invasão. O Rei chegou para retomar o que é Seu.”
Timothy Keller, O Natal Escondido: A verdade surpreendente por trás do nascimento de Cristo, Editora Vida Nova, 2017.

A Beleza Que Perdeu Seu Lugar

O Natal comercial, uso do tema do natal para vender absolutamente de tudo, de comidas a viagens, passando por todo tipo de coisa, opera numa lógica perversa: quanto mais compramos, menos precisamos do essencial. Presentes caros substituem presença genuína. Decorações elaboradas encobrem vidas quebradas. Festividades barulhentas abafam o silêncio necessário para ouvir Deus. Transformamos dezembro em uma temporada de consumismo excessivo, procuramos presentes à exaustão, polimos nossa imagem nas redes sociais, embrulhamos nossa solidão em papéis brilhantes. No fim, colocamos tudo sob a árvore, inclusive Jesus. Ele se torna parte do cenário, não o centro da celebração. Está ali, reluzente e festivo, mas fora do lugar que lhe pertence.

Nos acostumamos com isso, a nostalgia do tempo de natal nos alcança, mas sem conexão com o salvador. O Natal não é uma celebração para alegrar nosso ano difícil, o natal possui um propósito divino. O natal sem Jesus é como um relógio que deixou de marcar o tempo, não tem propósito. A vida perde seu significado. Pode parecer óbvio, mas não existe natal sem Jesus, experimentamos um tempo que diz celebrar o natal com muita “beleza” que seduz os olhos, mas não passa de sentimentalismo para entregar consumo.

O Verbo Que Se Fez Enfeite

“E o Verbo se fez carne.” Esta declaração destrói toda lógica comercial. O Deus eterno não veio para ser consumido, mas para preencher nosso vazio. Cristo não se tornou mercadoria, mas tornou-se pobre para nos enriquecer. A encarnação não é transação, é invasão da graça em nossa vida miserável. Cristo não desceu dos céus em embalagem de presente; Ele veio em fragilidade de manjedoura, “cheio de graça e de verdade.” Mas nós, mestres da inversão, reduzimos este escândalo glorioso a “uma existência fria e vazia”, um ambiente sentimental, perfeito para cartões comerciais e campanhas publicitárias.

O mercado transformou o Natal em uma festa suspensa, desconectada da realidade. Queremos o bebê na manjedoura, mas não o Senhor das nossas vidas. Amamos as canções natalinas, mas evitamos o sermão da montanha. Celebramos o nascimento, mas rejeitamos seus mandamentos. Cristo se torna decoração em nossa vida: bonito na prateleira, mas não reinando em nossa vida quebrada.

“A encarnação não é simplesmente um evento bonito. É o assalto de Deus à fortaleza do mal.”
Dietrich Bonhoeffer, Ética, Editora Sinodal, 2009, p. 78.

A comercialização do Natal revela nossa idolatria mais profunda: preferimos comprar presentes a receber o Presente. Gastamos centenas de reais em “coisas de Natal”, mas nosso mecanismo espiritual permanece parado. Decoramos a casa, mas ignoramos a alma vazia. O mercado nos vende a ilusão de que podemos ter Natal sem Cristo, apenas o Cristo comercial, o Jesus que serve aos nossos propósitos consumistas. Mas “habitou entre nós” não é slogan publicitário; é realidade transformadora. Deus não armou vitrine, Ele armou tenda no território hostil de nossa rebelião.

“O cristianismo, se falso, não tem importância alguma; e, se verdadeiro, tem importância infinita. A única coisa que não pode ser é moderadamente importante.”
C.S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, Editora Martins Fontes, 2005, p. 56.

Devolvendo Cristo ao Seu Lugar

Cristo não pode ser embrulhado, comercializado ou reduzido a uma “coisa de Natal”. Ele veio para ocupar o lugar que lhe pertence, não a prateleira de nossas tradições consumistas, mas o centro funcional de nossa existência. O Natal não é sobre acumular presentes; é sobre receber a Presença. Não é sobre decorar a vida; é sobre restaurá-la. “Vimos a sua glória”, testifica João — não o brilho de vitrines, mas a realidade transformadora do Deus que se fez carne para nos fazer novos.

“E agora, como viveremos?”

É tempo de resistir à sedução desta falsa celebração. Este Natal, em vez de exaurir-se procurando o presente perfeito, encontre a Presença essencial. Gaste menos com decorações e invista mais em restauração espiritual. Deixe que Cristo saia da prateleira do sentimentalismo religioso e ocupe o lugar que lhe pertence por direito, seu coração. Não celebre “uma coisa de Natal”; celebre o Verbo encarnado. Porque Jesus não veio ser vendido; Ele veio nos comprar de volta com Seu sangue.

“Oremos”

Senhor Jesus, perdoa-nos por comercializar Tua encarnação e transformar Teu nascimento em oportunidade de consumo. Confessamos que gastamos fortunas em presentes enquanto ignoramos Tua Presença. Compramos “coisas de Natal” mas rejeitamos o Cristo encarnado. Venha, Verbo eterno, quebra nossos ídolos consumistas. Habita não nas vitrines de nossa religiosidade, mas no centro quebrado de nossos corações. Faze-nos entender que Tu não és mercadoria, és o Presente que não pode ser comprado, apenas recebido pela graça. Em Teu nome oramos. Amém.

Perguntas para Reflexão

  1. De que maneiras a comercialização do Natal tem distorcido sua compreensão da encarnação de Cristo?
  2. Quanto dinheiro você gastou em “coisas de Natal” comparado ao tempo investido em buscar a presença de Cristo?
  3. Como você pode resistir ao consumismo natalino e celebrar o verdadeiro significado da encarnação?
  4. Onde Jesus está em suas prioridades de Natal: na prateleira decorativa ou no centro de sua vida?
  5. O que mudaria se você parasse de tentar “comprar o Natal perfeito” e simplesmente recebesse o Presente de Deus?

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Reginaldo

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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