“Não furtarás.” — Êxodo 20:15
Quando Deus gravou em pedra o oitavo mandamento, não estava apenas proibindo o roubo direto, mas estabelecendo um princípio fundamental de justiça e relacionamento entre as pessoas. Como observou João Calvino, “visto que a bondade é o alvo da Lei, devemos buscar a definição de roubo na própria Lei”. O que Deus realmente procura não é apenas a ausência do furto, mas a presença ativa da generosidade.
Na superfície, este mandamento parece simples. Não pegue o que não lhe pertence. Contudo, o coração humano é extremamente criativo em justificar seus atos. Herman Bavinck notou que “o pecado sempre busca se disfarçar de virtude”. Quantas vezes não chamamos nossa astúcia de “inteligência de negócios”, nossa ganância de “ambição” e nossa avareza de “boa administração”?
Deus, porém, não se deixa enganar por esses eufemismos. Ele “apaga todo esse brilho declarando como roubo todos os meios injustos de ganho”. A fraude, a exploração, os ganhos à custa do sofrimento alheio, a sonegação de impostos, as falcatruas comerciais — tudo isso é furto aos olhos de Deus, ainda que o mundo possa aplaudir tais práticas como esperteza ou sagacidade.
A beleza da lei divina está em seu aspecto duplo: ao mesmo tempo, em que proíbe o mal, exige o bem. Como escreveu Timothy Keller, “a lei não apenas nos diz o que não fazer, mas nos revela o coração generoso de Deus e como devemos refletir esse coração”. Assim, o oitavo mandamento não está completo quando simplesmente nos abstemos de furtar. Ele demanda que ativamente busquemos o bem para o nosso próximo, que zelemos por seus interesses como pelos nossos próprios.
John Piper nos lembra que “a generosidade é a antítese do roubo”. Quando somos generosos, não apenas rejeitamos o furto, mas marchamos na direção oposta. Imagine uma sociedade onde todos se preocupassem não apenas em proteger seus bens, mas em garantir que seu próximo estivesse adequadamente provido! Essa é a visão de Deus para a comunidade humana.
O apóstolo Paulo capta perfeitamente essa dimensão positiva do mandamento quando escreve: “Aquele que furtava, não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha que repartir com o que tiver necessidade” (Efésios 4:28).
A origem daquilo que possuímos também é crucial para nossa compreensão. Cada bem que temos “não nos caiu no colo por coincidência, mas pela distribuição do soberano Senhor de todas as coisas”. Reconhecer isso transforma nossa relação com os bens materiais. Somos administradores, não proprietários absolutos. Como administradores, devemos gerir os recursos divinos segundo os princípios divinos.
Examine suas atitudes em relação às posses e ao dinheiro. Você tem buscado ganho às custas de outros? Tem sido completamente honesto em todas as transações? Além de evitar o furto em todas as suas formas, você tem praticado ativamente a generosidade? Comprometa-se hoje não apenas a ser justo, mas a ser generoso, lembrando as palavras de Jesus: “É mais bem-aventurado dar do que receber” (Atos 20:35).
Senhor Deus, não me deixe ser seduzido pela mentalidade deste mundo, chamando de esperteza o que o Senhor chama de roubo. Perdoa-me por todas as vezes em que busquei meu próprio interesse em detrimento do bem-estar de outros. Ajuda-me a ver com teus olhos as situações onde posso estar prejudicando meu próximo de formas sutis. Transforma meu coração para que eu não apenas evite fazer o mal, mas busque ativamente fazer o bem, sendo generoso como tu és generoso comigo. Que eu possa honrar-Te não apenas com minha honestidade, mas também com minha generosidade. Em nome de Jesus, que se fez pobre para que nós fôssemos enriquecidos, amém.
Somente Cristo!
Pr. Reginaldo Soares.