A BÍBLIA É SUFICIENTE – Artigo I.

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A Bíblia é suficiente para transformar corações e renovar mentes, pois sua verdade eterna nunca perde o poder de libertar e restaurar.

No tumulto de nossos dias, em meio às inúmeras ofertas de “verdades” que nos cercam, emerge uma questão fundamental: onde podemos encontrar a verdade confiável sobre Deus? Desde os tempos mais antigo o homem têm buscado conhecer a verdade sobre Deus das mais diversas maneiras, sendo todas elas incapazes de alcançar tal objetivo.

A confissão de Fé de Westminster, apresenta a seguinte solução a esta pergunta:

DA ESCRITURA SAGRADA

I. Mesmo que a luz da natureza, a criação e a providência revelem claramente a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, de modo que ninguém tenha desculpa para ignorá-Lo (Rm 2:14,15; Rm 1:19,20; Rm 1:32; Rm 2:1; Sl 19:1-3), essas coisas, por si só, não são suficientes para fornecer o conhecimento de Deus e de Sua vontade, essenciais para a salvação (1Co 1:21; 1Co 2:13,14). Por isso, ao longo da história, Deus escolheu se revelar e comunicar Sua vontade à Sua Igreja de diferentes formas (Hb 1:1). Mais tarde, para preservar e espalhar a verdade, fortalecer e confortar a Igreja contra a corrupção humana, as armadilhas de Satanás e as influências do mundo, Deus determinou que Sua vontade fosse registrada por escrito (Pv 22:19-21; Lc 1:3,4; Rm 15:4; Mt 4:4,7,10; Is 8:19,20). Assim, as Escrituras Sagradas se tornaram indispensáveis (2Tm 3:15; 2Pe 1:19), pois os modos antigos pelos quais, Deus revelava Sua vontade ao Seu povo já não são mais utilizados (Hb 1:1,2).1

A Revelação Natural: Insuficiente para Salvar

A criação é um testemunho eloquente da existência divina. Como declara o salmista: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmo 19:1-2). Esta revelação natural está disponível a todos, independente de cultura, época ou posição social. “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Romanos 1:20). Estes e outros textos bíblicos deixam claro que a criação esta repleta de elementos que apontam para a existência de Deus, portanto, esse conhecimento faz com que todos os homens sejam “indesculpáveis” diante de Deus.

Observe o que alguns cientistas afirmam:

Werner Heisenberg,2 físico e um dos fundadores da mecânica quântica: “O primeiro gole do copo da ciência nos afasta de Deus, mas no fundo do copo, Deus está esperando por nós.”

Francis Collins,3 Diretor do Projeto Genoma Humano: “Não vejo nenhuma contradição entre ciência e fé: pertencem a duas esferas diferentes. Nós, cientistas, seríamos muito ambiciosos e arrogantes se imaginássemos que podemos explicar a origem do mundo.”

William Daniel Phillips,4 Prêmio Nobel de Física (1997): “Descobri que há uma harmonia maravilhosa nas verdades complementares da fé e da ciência. O Deus da Bíblia é também o Deus do genoma. Deus pode ser encontrado na catedral e no laboratório. Investigando a criação incrível e majestosa de Deus, a ciência pode na verdade ser uma forma de louvor.”

Esses e outros tantos homens do estudo de várias áreas de conhecimento, quando praticam a ciência de maneira honesta, acabam por reconhecer que a grandiosidade e a complexidade do universo apontam para a existência de um arquiteto, apontam para Deus. João Calvino, em sua obra, “As Institutas da Religião Cristã” (Livro I, Capítulo III, Seção 1), observa: “Dentro da mente humana existe, uma percepção da existência de Deus, algo que nunca pode ser completamente apagado. O próprio Deus colocou esse conhecimento em cada pessoa, para que ninguém possa alegar ignorância. Ele gravou em nosso coração uma compreensão de Sua majestade divina.”5

No entanto, esse conhecimento, embora real e capaz de nos revelar a existência de Deus, é incapaz de nos revelar o caminho da salvação, o plano redentor em Cristo ao morrer por nossos pecados para nos conceder vida eterna.

A Necessidade da Revelação Especial

A revelação natural é como um mapa incompleto que indica a existência de um tesouro, sem fornecer instruções para encontrá-lo. “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação” (1 Coríntios 1:21). “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas.” (Hebreus 1:1).

Imagem DA ESCRITURA SAGRADA Homem de costas lendo a Bíblia

A revelação natural nos conduz à necessidade da revelação especial – a auto-revelação de Deus através de seus poderosos feitos e sua maravilhosa mensagem dirigidas à humanidade.Timothy Keller, em “Caminhando com Deus na Dor e no Sofrimento” (p. 118), elabora: “A revelação geral é como ouvir uma sinfonia sem partitura – podemos perceber a beleza e a grandeza, mas não compreender plenamente a intenção do compositor. A revelação especial é a partitura divina que nos permite não apenas ouvir a música, mas entender a mente por trás dela.” Para conhecermos verdadeiramente a Deus, precisamos que Ele se revele em termos compreensíveis.

A Escritura: Revelação Preservada

Ao longo da história, Deus se revelou de diversas maneiras e, finalmente, através de seu Filho Jesus Cristo. Contudo, surgiu a necessidade de preservar esta revelação para gerações futuras. A resposta divina foi a Escritura Sagrada.

Quando o Novo Testamento começa a se formar o Antigo Testamento já esta estabelecido na comunidade judáica. Os cristãos por sua vez apenas abraçam o conjunto de livos já definido pelos judeos. O processo de formação do Novo Testamento foi gradual e envolveu várias etapas ao longo dos primeiros séculos do cristianismo. Inicialmente, as igrejas primitivas usavam oralmente os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos. Com o tempo, os evangelhos foram escritos (Mateus, Marcos, Lucas e João), juntamente com as epístolas apostólicas e outros escritos que circulavam entre as comunidades cristãs.

No século II, os pais da Igreja, como Irineu de Lyon e Tertuliano, já reconheciam um conjunto de escritos considerados inspirados e autoritativos. No século III, Orígenes fez distinção entre os livros universalmente aceitos e aqueles cuja autenticidade era debatida. O processo de canonização tomou forma definitiva no século IV, com o reconhecimento formal dos 27 livros que hoje compõem o Novo Testamento. O Concílio de Cartago (397 d.C.) confirmou esse cânone, refletindo o consenso já estabelecido entre os cristãos.

Provérbios 22:20-21: “Porventura, não te escrevi excelentes coisas acerca de conselhos e conhecimento, para fazer-te conhecer a certeza das palavras de verdade?” Esta preservação escrita protege a verdade contra distorções, permite sua propagação além de barreiras geográficas e temporais, e estabelece um padrão objetivo pelo qual avaliamos o mundo ao nosso redor, construimos nossa história de vida e expressamos nossa relação com o Deus Eterno.

As palavras de R. C. Sproul, em “Conhecendo a Escritura” (p. 23), podem nos esclarecer: “Deus escolheu revelar-se por meio da palavra escrita para que Sua revelação pudesse ser permanente, inalterável e acessível a todos. Enquanto a tradição oral pode ser facilmente distorcida com o passar do tempo, a palavra escrita permanece. O texto escrito serve como âncora e padrão para todas as gerações.”

A Suficiência da Escritura

Com a vinda de Cristo e o testemunho apostólico, a revelação especial de Deus atingiu sua plenitude: “Nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Hebreus 1:2). Esta declaração marca uma transição fundamental: de múltiplos mensageiros como observamos pela leitura do Antigo Testamento para a suprema revelação em Cristo Jesus.

Herman Bavinck, em sua “Dogmática Reformada” (Vol. 1, p. 384), observa: “Com a conclusão do cânon, a revelação especial de Deus para esta dispensação está completa. A Escritura não é apenas infalível, mas também suficiente. Ela contém tudo o que é necessário para a salvação, para a fé e para a vida cristã. A Igreja não precisa de novas revelações.” Este princípio da suficiência nos afasta tanto do racionalismo secular,6 que rejeita toda revelação especial, quanto do misticismo subjetivo,7 que busca constantemente novas revelações além da Palavra escrita.

A Escritura como Lâmpada

Em 1456, Johannes Gutenberg completou a impressão da primeira Bíblia usando tipos móveis – revolucionando o acesso às Escrituras. Antes deste evento, as cópias eram raras e inacessíveis ao cristão comum. O advento da impressão democratizou o acesso à Palavra de Deus.

Página da Bíblia de Gutenberg, com texto em dois blocos e gravuras decorativos.
A Bíblia de Gutenberg é considerada uma obra-prima por causa de sua tipografia gótica delicadamente impressa em cada página, hoje existem apenas três exemplares completos em todo o mundo.

Este acontecimento nos lembra o privilégio que temos hoje. Em um mundo onde a verdade é relativizada, a Escritura permanece como farol de verdade: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho” (Salmo 119:105). Ela contém tudo o que precisamos para a salvação, ela nos revela o caráter de Deus, o estado pecaminoso da humanidade, o plano divino de redenção em Cristo, e o caminho da vida cristã. Na providência divina, Deus nos forneceu sua Palavra como guia infalível em um mundo de incertezas.

Valorizando o Tesouro da Palavra

Cultive uma profunda gratidão pela providência divina em nos fornecer sua Palavra escrita. Comprometa-se com o estudo atento do texto sagrado, como bem nos orientou o Paulo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15). Avalie todas as coisas à luz das Escrituras, ela sim é juiz para condenar ou não nossos pensamentos, emoções e ações. Os bereanos nos apontaram o caminho de maturidade espiritual, pois “examinavam as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17:11). Mas por fim, nossa relação com a Palavra de Deus possui duas atitudes inceparáveis: buscar o seu conhecimento e praticar seus ensinamentos. O que que busca conhecer a Escritura sem praticá-la, traz para si condenação eterna, mas os que vivem a verdade das sagradas letras econtra vida eterna. O verdadeiro conhecimento bíblico sempre leva à transformação de nossos pensamentos, emoções e ações.

Em um mundo onde vozes competem por nossa atenção, que possamos, como o salmista, esconder a Palavra em nossos corações (Salmo 119:11), encontrando nela o conhecimento de Deus que conduz à eternidade.

Referências Bibliográficas:

Bavinck, Herman. Dogmática Reformada. Vol. 1.

Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã.

Keller, Timothy. Caminhando com Deus na Dor e no Sofrimento.

Sproul, R.C. Conhecendo a Escritura.

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  1. Parafraseado pelo autor do artigo. ↩︎
  2. Werner Heisenberg (1901-1976) foi um físico alemão, pioneiro da mecânica quântica e formulador do Princípio da Incerteza (1927), que estabelece limites fundamentais na medição simultânea de posição e momento de partículas. Recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1932. Contribuiu para a física nuclear e liderou pesquisas na Alemanha nazista. ↩︎
  3. Francis Collins (1950-) é um renomado geneticista e médico americano, conhecido por sua liderança no Projeto Genoma Humano, que mapeou todo o DNA humano. Ele foi diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e autor de A Linguagem de Deus, defendendo a compatibilidade entre ciência e fé cristã​. ↩︎
  4. William Daniel Phillips (nascido em 5 de novembro de 1948, nos EUA) é um físico renomado, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1997. Ele foi premiado, junto com Steven Chu e Claude Cohen-Tannoudji, pelo desenvolvimento de métodos para resfriar e aprisionar átomos com luz laser. Seu trabalho foi essencial para estudos em física quântica e tecnologias como relógios atômicos ultra-precisos​. ↩︎
  5. Parafraseado pelo autor do artigo. ↩︎
  6. O racionalismo secular aplicado ao cristianismo busca entender a fé cristã por meio da razão humana, frequentemente rejeitando a autoridade das Escrituras e a revelação divina. Esse enfoque privilegia a lógica, a ciência e o pensamento crítico, muitas vezes distorcendo ou reinterpretando doutrinas cristãs à luz da razão e do empirismo. ↩︎
  7. O misticismo subjetivo no cristianismo foca na experiência pessoal e direta com Deus, geralmente por meio de sentimentos, visões ou estados de êxtase. Esse enfoque valoriza a experiência individual como fonte de conhecimento espiritual, muitas vezes indo para além das Escrituras e suas doutrinas. ↩︎

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