Mateus 10:16-18. “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa, sereis levados à presença de governadores e reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.”
“Nos lugares onde a igreja é perseguida, ela está crescendo e se fortalecendo. Naqueles lugares onde a igreja é livre ela esta enfraquecendo e encolhendo.”
Uma missão desanimadora
A verdadeira igreja sempre foi uma igreja perseguida. Não uma igreja que busca a perseguição, mas uma igreja que, por sua fidelidade ao evangelho, inevitavelmente a encontra. Esta é a marca da autenticidade cristã: não a popularidade, mas a oposição daqueles que amam as trevas mais que a luz. Abraham Kuyper, Lectures on Calvinism, p. 78
Há uma tensão profunda que percorre a história da igreja: somos chamados a ser sal e luz num mundo que frequentemente rejeita tanto o sabor quanto a claridade. Esta não é uma anomalia histórica, mas a própria natureza do discipulado cristão. Quando Jesus enviou seus discípulos, não lhes prometeu tapetes vermelhos ou recepções calorosas. Pelo contrário, pintou um quadro que deveria nos inquietar: “ovelhas para o meio de lobos”.
Por que Jesus escolheu esta metáfora tão vulnerável? Por que não “leões entre ovelhas” ou “águias entre pombos”? A resposta revela algo fundamental sobre a natureza da missão cristã e o caráter da igreja perseguida.
A perseguição é o tributo que o mundo paga à igreja fiel. É o reconhecimento involuntário de que existe algo na mensagem cristã que confronta a consciência humana de maneira inescapável. R.C. Sproul, The Holiness of God, p. 142.
Discernimento e Pureza
O mundo não odeia a igreja porque ela é imperfeita, mas porque ela testifica de uma perfeição que expõe a imperfeição do mundo. A perseguição é o preço da fidelidade ao evangelho. Martinho Lutero, Comentário sobre Gálatas, p. 234.
A igreja que não sofre perseguição é uma igreja que fez as pazes com o mundo. E uma igreja que fez as pazes com o mundo é uma igreja que declarou guerra a Deus. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship, p. 89.
A imagem das ovelhas entre lobos não é poética acidental, mas realismo teológico. Jesus conhecia a natureza humana e sabia que sua mensagem desafiaria sistemas de poder, estruturas religiosas e a própria família. A igreja perseguida não é uma igreja que falhou em sua missão, mas uma igreja que foi fiel a ela.
A sabedoria paradoxal, “prudentes como serpentes e símplices como pombas”, revela o caráter da igreja perseguida. Não se trata de ingenuidade masoquista nem de astúcia mundana, mas de uma sabedoria que o mundo não pode compreender. A serpente simboliza o discernimento que avalia situações e toma decisões sábias; a pomba representa a pureza que não se contamina com os métodos do mundo.
Esta tensão criativa define a igreja perseguida: ela é sábia o suficiente para sobreviver, mas pura o suficiente para não comprometer sua mensagem. É uma sabedoria que conhece quando falar e quando calar, quando ficar e quando fugir, mas que jamais nega o nome de Cristo.
A promessa da capacitação divina, “o Espírito de vosso Pai falará por vós”, revela que a igreja perseguida não está abandonada. No momento mais crítico, quando palavras humanas falham, o próprio Deus fala através de seus filhos. Esta é a paradoxal força da fraqueza cristã: mais vulnerável, mais poderosa; mais perseguida, mais vitoriosa.
A verdadeira sabedoria cristã consiste em ser inofensivo como pomba e prudente como serpente. Inofensivo para que não provoquemos perseguição desnecessária; prudente para que não sejamos destruídos por perseguição inevitável. João Calvino, Comentário sobre Mateus, p. 456.
“O que não me mata, me fortalece”, disse Nietzsche. Mas para a igreja perseguida, o que deveria matá-la a faz prosperar. O sangue dos mártires é, verdadeiramente, a semente da igreja. Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov, p. 678.
Libertos pela perseguição
A igreja perseguida é, paradoxalmente, a igreja mais livre. Livre das ilusões de aceitação mundial, livre da necessidade de agradar a todos, livre para ser autenticamente cristã. É uma igreja que descobriu que a cruz não é apenas um símbolo histórico, mas uma realidade presente.
A perseguição purifica a igreja como o fogo purifica o ouro. Remove as impurezas da conveniência, do compromisso e da comodidade, deixando apenas o que é genuinamente cristão. Charles Hodge, Systematic Theology, Vol. 3, p. 567.
A igreja perseguida é a igreja mais próxima de Cristo, pois compartilha mais intimamente de seus sofrimentos. É na perseguição que ela descobre o verdadeiro significado da comunhão com o Crucificado. Eugene Peterson, A Long Obedience in the Same Direction, p. 123.
Cristo não nos chamou para uma vida fácil, mas para uma vida verdadeira. A igreja perseguida é a prova viva de que o evangelho ainda tem poder para transformar e confrontar. É o testemunho de que Jesus Cristo continua sendo “pedra de tropeço” para aqueles que rejeitam a luz.
A esperança da igreja perseguida não está na ausência de sofrimento, mas na presença de Cristo em meio ao sofrimento. É uma esperança que olha além das circunstâncias presentes para a glória futura, sabendo que “as aflições do tempo presente não podem ser comparadas com a glória a ser revelada em nós”.
“Que força é esta que converte a derrota em triunfo, a morte em vida, a perseguição em bênção? É a força do evangelho, que não conhece derrota porque seu rei já venceu a morte.” Victor Hugo, Os Miseráveis, p. 1.234.
E agora, como viveremos?
A realidade da igreja perseguida não é apenas história antiga ou realidade distante. É uma chamada para hoje. Como membros da igreja de Cristo, precisamos nos preparar para a oposição que pode vir.
Desenvolvamos discernimento espiritual. Vivamos com a sabedoria da serpente, avaliando nosso contexto cultural e reconhecendo as sutis formas de perseguição que já existem: a marginalização da fé cristã na esfera pública, a pressão para conformar-se aos valores seculares, a ridicularização da moralidade bíblica.
Mantenhamos a pureza da pomba. Não respondamos ao ódio com ódio, à hostilidade com hostilidade. Nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades. Nosso método deve ser sempre o do amor, da verdade e da graça.
Preparemo-nos para dar razão da esperança que há em nós. Estudemos as Escrituras, fortaleçamos nossa fé, cultivemos comunhão com outros cristãos. A perseguição vem mais facilmente sobre uma igreja despreparada do que sobre uma igreja fundamentada na Palavra.
Oremos pela igreja perseguida mundial. Nossos irmãos em muitas partes do mundo vivem hoje a realidade que Jesus descreveu. Eles são as ovelhas entre lobos, e sua fidelidade deve nos inspirar e humilhar.
Lembremos que ser parte da igreja perseguida é uma honra, não uma desgraça. É o privilégio de sofrer por aquele que sofreu por nós. É a marca da autenticidade cristã numa época que prefere o cristianismo domesticado ao cristianismo bíblico.
Oremos
Pai celestial, reconhecemos que tu nos enviaste como ovelhas para o meio de lobos. Não pedimos que nos retires do mundo, mas que nos guardes do mal. Concede-nos a sabedoria da serpente para discernir os tempos e as circunstâncias, e a simplicidade da pomba para manter nossos corações puros e nossas motivações íntegras.
Fortalece nossos irmãos ao redor do mundo que hoje enfrentam perseguição real. Consola-os em suas aflições, sustenta-os em sua fé, e usa seus testemunhos para o crescimento do teu reino. Que o sangue dos mártires continue sendo semente da igreja. Prepara-nos para os desafios que virão. Se a perseguição vier, que ela nos encontre fiéis. Se a oposição crescer, que ela nos encontre inabaláveis. Se formos chamados a sofrer por tua causa, que consideremos isso como privilégio e honra.
Concede-nos coragem para falar quando devemos falar, sabedoria para calar quando devemos calar, e sempre a certeza de que teu Espírito estará conosco. Que nossa vida e nosso testemunho glorifiquem teu nome, mesmo em meio às dificuldades. Vem, Senhor Jesus, e estabelece teu reino onde não haverá mais perseguição, apenas adoração eterna. Enquanto esperamos, usa-nos como instrumentos de tua paz e testemunhas de tua verdade. Em nome de Jesus, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!