Provérbios 16:32. “Melhor é o longânimo do que o forte, e quem domina o seu espírito, melhor é do que quem toma uma cidade.”
RESOLUÇÃO 15. “Resolvo nunca permitir o menor impulso de ira contra seres irracionais.”
A ira que nos denuncia
Existe algo profundamente revelador sobre nossos momentos de ira. Como uma radiografia da alma, ela expõe as camadas mais escondidas de nosso orgulho, nossa impaciência, nossa sede de controle. Portanto, quando explodimos contra um animal doméstico que não obedece, quando gritamos com o trânsito, quando nos irritamos com as pequenas frustrações cotidianas, revelamos quão frágil é nosso domínio próprio e quão distantes estamos da mansidão cristã.
Assim, Jonathan Edwards, penetrou profundamente nesta questão ao formular esta resolução: “Resolvi nunca sofrer nenhuma das mais pequenas manifestações de ira vinda de seres irracionais.” Além disso, essa resolução não era mero exercício de temperança, mas uma batalha espiritual contra a natureza corrompida que pulsa em nossos corações.
Por isso, devemos nos perguntar: se não conseguimos controlar nossa ira diante de criaturas irracionais, como podemos afirmar que amadurecemos espiritualmente? E como essa resolução de Edwards pode transformar nossa jornada de santificação?
A anatomia da ira santificada
Jonathan Edwards compreendia que a ira descontrolada contra seres irracionais revela uma inversão fundamental da ordem criacional. Quando nos irritamos com um animal que age segundo sua natureza, demonstramos que perdemos de vista nossa posição como mordomos responsáveis da criação divina. Portanto, essa ira específica denuncia nossa própria irracionalidade espiritual.
A Escritura nos ensina que fomos criados à imagem de Deus para exercer domínio sobre a criação (Gênesis 1.28). No entanto, esse domínio deve refletir o caráter paciente e longânimo do próprio Criador. Assim, quando perdemos a compostura diante de animais ou circunstâncias que estão fora de nosso controle absoluto, revelamos que ainda não aprendemos a exercer autoridade com a graça de Cristo.
“A verdadeira piedade consiste em ter o coração sempre disposto a obedecer a toda palavra que procede da boca de Deus, sem murmuração, hesitação ou relutância, com alegria e prontidão para fazer a vontade divina.” Jonathan Edwards, Afeições Religiosas, Editora Fiel, 2016, 432 páginas.
Edwards entendia que a ira descontrolada é, fundamentalmente, uma forma de rebelião contra a providência divina. Consequentemente, quando nos irritamos com situações que Deus permitiu ou ordenou, questionamos indiretamente sua sabedoria e bondade. Por isso, a resolução contra a ira não é mera questão de etiqueta social, mas um ato de submissão à soberania divina.
O texto de Provérbios 16.32 estabelece uma hierarquia surpreendente: o domínio próprio é superior à conquista militar. Esta comparação revela que as maiores batalhas não são travadas em campos externos, mas nas câmaras secretas do coração humano. Todavia, essa vitória interior só é possível através da obra regeneradora do Espírito Santo.
“A Igreja primitiva aprendeu que a verdadeira força cristã não se manifesta na capacidade de dominar outros, mas no poder de dominar a si mesmo, especialmente nos momentos de provocação e adversidade.” Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Editora Vida Nova, 2014, 512 páginas.
Cristo, nosso modelo de mansidão
Na pessoa de Jesus Cristo, vemos o perfeito domínio sobre a ira. Mesmo sendo provocado, traído, caluniado e torturado, ele manteve controle absoluto sobre seu espírito. Assim, quando disse “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34), demonstrou que a verdadeira força espiritual reside na capacidade de escolher a graça em momentos de extrema provocação.
Cristo não apenas modelou o domínio próprio, mas tornou possível nossa própria transformação. Por isso, através de sua morte e ressurreição, ele quebrou o poder do pecado que nos escraviza aos impulsos irracionais da ira. Além disso, pelo Espírito Santo, ele habita em nós para produzir o fruto da paciência e do domínio próprio (Gálatas 5.22-23).
“A verdadeira grandeza não está em nunca cair, mas em se levantar sempre que se cai, e a verdadeira santidade não está na ausência de tentações, mas na vitória constante sobre elas através da graça divina.” Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo, Editora 34, 2009, 696 páginas.
E agora, como viveremos?
A resolução de Jonathan Edwards nos convoca a examinar honestamente nossos padrões de ira.
Identifique os “gatilhos” que te fazem perder a compostura: o animal de estimação que não obedece, o trânsito congestionado, a tecnologia que não funciona como esperado. Estes momentos são oportunidades divinas para exercitar o domínio próprio.
Quando enfrentar circunstâncias frustrantes que fogem ao seu controle – equipamentos que quebram, sistemas que falham, atrasos inesperados – escolha a serenidade em vez da irritação. Nossa paciência pode ser um sermão silencioso sobre a realidade da graça de Cristo em nossa vida.
“O homem que conquistou a si mesmo é maior do que aquele que tomou uma cidade, pois dominar o próprio coração é mais difícil do que dominar milhares de inimigos.” João Calvino, Comentário aos Salmos, Editora Parakletos, 2009, 1584 páginas.
Oremos
Senhor Jesus, nosso manso e humilde Salvador, reconhecemos quão longe estamos de teu exemplo perfeito de domínio próprio. Confessamos que muitas vezes permitimos que a ira domine nossos corações, revelando nossa imaturidade espiritual e nossa dependência dos impulsos carnais.
Transforma nosso coração através do poder do Espírito Santo, para que possamos responder às frustrações cotidianas com paciência, às provocações com mansidão, e aos contratempos com serenidade.
Ensina-nos a ver cada momento de potencial irritação como uma oportunidade de exercitar o fruto do Espírito. Que nossa paciência seja um testemunho eloquente da realidade de tua presença em nossa vida, e que nosso domínio próprio reflita a glória de teu caráter perfeito.
Perdoa-nos pelos momentos em que nossa ira desonrou teu nome e contristou teu Espírito. Renova nosso coração e fortalece nossa resolução de viver de maneira digna da vocação com que fomos chamados. Em nome de Jesus, que na cruz demonstrou o amor perfeito que expulsa toda ira destrutiva. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 10 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 11 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 12 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 13 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!