Colossenses 3.1-4. “Portanto, se vocês ressuscitaram com Cristo, busquem as coisas do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas da terra, porque vocês morreram, e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vida de vocês, se manifestar, então vocês também se manifestarão com Ele em glória.”
RESOLUÇÃO 18. “Resolvo viver sempre como penso que é o melhor em meus momentos de devoção, quando tenho as ideias mais claras das coisas do evangelho e da eternidade.”
O Desafio da Ascensão Cotidiana
Existe um abismo entre o conhecimento teórico da fé e a realidade experimental dela. Sabemos que fomos ressuscitados com Cristo, mas por que ainda vivemos como sepultados? Esta tensão espiritual—entre a verdade crida e a vida vivida—constitui precisamente o terreno onde brota a vida piedosa. Não se trata de uma virtude que conquistamos por força de vontade, mas de um despertar contínuo para a realidade de que nossa vida “está escondida com Cristo em Deus”.
Como aqueles que experimentaram a morte e a ressurreição em Cristo podemos, no cotidiano, “buscar as coisas do alto”? E mais profundamente: será possível manter o pensamento elevado quando o mundo pressiona para o que é baixo, para longe de Deus?
“O conhecimento não é suficiente para a salvação; a vontade também deve ser tocada pela graça de Deus.” — Catecismo de Heidelberg (Pergunta 60)
Jonathan Edwards: Quando a Piedade Nasce da Humildade
Jonathan Edwards, aquele gigante espiritual do Grande Despertamento americano, compreendeu algo profundo: a vida piedosa não emerge da confiança em nossas forças, mas do reconhecimento radical de nossa fraqueza. Suas famosas Resoluções não foram atos de arrogância espiritual, mas confissões de dependência. Edwards escreveu com tremenda sinceridade: “Tendo consciência de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, suplico humildemente a Ele, pela sua graça, que me capacite a guardar estas Resoluções, na medida em que forem conformes à sua vontade, por amor de Cristo.”
Este é o ponto onde a piedade autêntica começa. Não em nossas resoluções carnais, mas na rendição à graça divina. Edwards sabia que as coisas “do alto” só se tornam reais quando reconhecemos, com quebranto, que não podemos conquistá-las por nós mesmos. A vida piedosa é sempre um presente recebido, jamais um troféu conquistado.
“A vida do cristão é um contínuo morrer para si mesmo e viver para Deus.” — Dietrich Bonhoeffer
A Vida Escondida em Deus
Em Colossenses, Paulo não oferece uma teologia escapista. Quando afirma que “vocês morreram”, o apóstolo não nega a permanência do corpo físico na terra; ele reorienta a identidade do crente. A morte mística ao pecado e ao “eu” separado de Deus marca o começo da vida piedosa. Mas aqui reside uma paradoxo essencial: essa morte é, simultaneamente, ressurreição. “Portanto, se vocês ressuscitaram com Cristo, busquem as coisas do alto.” O “se” não é dúvida, mas fundamento; é a porta pela qual entramos no imperativo da vida transformada.
A vida piedosa, portanto, não é um esforço de rigidez espiritual que nega o corpo ou foge do mundo—é uma reorientação radical da vontade. O gesto de “buscar” (zeteo, em grego) denota busca ativa, investigação persistente. Edwards capturou isso ao resolver: “viver sempre como penso que é o melhor em meus momentos de devoção, quando tenho as ideias mais claras das coisas do evangelho e da eternidade.” A vida piedosa é aquela que, repetidamente, reconecta-se com a clareza espiritual conquistada em momentos de intimidade com Deus.
“A verdadeira santidade consiste não em fazer muitas coisas, mas em fazer com perfeição aquelas coisas que fazemos, e em fazê-las pelo amor de Cristo.” — Charles Hodge
Paulo prescreve uma disciplina mental surpreendente: “Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas da terra.” Não se trata de negação da realidade terrena, mas de hierarquização da atenção. A mente é o campo de batalha. O mundo em que vivemos, com seus apelos visuais, comerciais, digitais, conspira para manter nosso olhar fixo no que é passageiro (o mundo com suas propostas e paixões). A vida piedosa requer, portanto, uma vigilância constante sobre o pensamento.
Agostinho, séculos antes de Edwards, reconheceu: “A mente é a sede do eu; portanto, é lá que o demônio concentra seus maiores esforços.” Manter o pensamento elevado significa, praticamente, cultivar o hábito da meditação nas promessas de Deus, da memória da ressurreição, da esperança da manifestação futura. Edwards compreendia que os momentos de devoção—aqueles períodos de oração silenciosa, leitura das Escrituras, contemplação—não são luxos espirituais, mas nutrição essencial para manter a vida piedosa alimentada.
“O que ocupas tua mente e coração determina o que és.” — Agostinho de Hipona
O texto conclui com uma promessa transformadora: “Quando Cristo, a vida de vocês, se manifestar, então vocês também se manifestarão com Ele em glória.” Aqui está o motor da vida piedosa. Não vivemos para este mundo porque nossa vida é, literalmente, ligada à vida de Cristo em glória. A expectativa dessa manifestação não é distração do presente; é o que redimensiona o presente. Sabemos que sofreremos, trabalharemos, enfrentaremos tentações, mas tudo isto é temporário. Nossa identidade verdadeira está reservada, guardada, preservada no céu.
A vida piedosa floresce quando essa esperança deixa de ser abstração dogmática e se torna convicção profunda, intensa. É quando Edwards resolve viver conforme as ideias mais claras obtidas em momentos de adoração. A piedade é memória esperançosa—recordar que fomos ressuscitados, manter o pensamento nas realidades eternas e aguardar com alegria a manifestação de Cristo. Esta é a revolução silenciosa da vida cristã autêntica.
A Graça que Sustenta as Resoluções
A vida piedosa não é obra de heróis espirituais, mas de crentes que reconhecem sua debilidade e, nela, experimentam a suficiência da graça de Deus. Edwards terminou sua declaração de Resoluções com um ato de abandono: “Suplico humildemente a Ele, pela sua graça, que me capacite a guardar estas Resoluções… por amor de Cristo.”
Que declaração libertadora! Não é sobre nossa capacidade; é sobre a capacidade de Deus em nós. A vida piedosa é possível porque Cristo venceu a morte, está assentado à direita de Deus e partilha sua vida conosco pelo Espírito Santo. Cada dia oferece uma nova oportunidade de “ressuscitar com Cristo”—de recusarmos as coisas terrenas e buscarmos as coisas do alto. E cada fracasso, cada queda, é apenas convite a retornarmos à graça que nos sustém.
“E Agora, Como Viveremos?”
A vida piedosa não é abstrata; ela toma forma nas decisões diárias. Questione-se: Como meu pensamento está ocupado hoje? Em que dedico minha atenção no trabalho, nas redes sociais, nos entretenimentos? Estabeleça resoluções pessoais ancoradas não em força própria, mas na graça de Deus. Reserve tempo para momentos de devoção genuína—não rituais vazios, mas encontros onde sua mente é iluminada pelas realidades eternas. Quando tentações o pressionarem para baixo, lembre-se: você morreu e sua vida está escondida com Cristo. Escolha elevar o olhar. Escolha a vida piedosa—não como fardo, mas como liberdade.
“Oremos”
Senhor, reconheço que sou fraco e facilmente desviado para as coisas deste mundo. Sem tua graça, minhas resoluções são apenas folhas ao vento. Mas creio que fui ressuscitado com Cristo e que minha vida verdadeira está guardada contigo em glória. Capacita-me, pelo teu Espírito Santo, a manter meu pensamento nas coisas do alto, e não naquilo que passa. Resgata minha mente da distração constante. Concede-me clareza espiritual nos momentos de devoção para que eu viva, cada dia, conforme essas verdades eternas. E quando eu cair, restaura-me com tua misericórdia infinita. Por amor de Cristo, meu Salvador e Senhor. Amém.
Perguntas para Reflexão
- Como você compreende a morte ao “eu” mencionada em Colossenses 3.1? Como isso se manifesta em sua vida concreta?
- Em que áreas sua mente está principalmente ocupada? Como você poderia, praticamente, “manter o pensamento nas coisas do alto”?
- Edwards enfatiza a importância dos “momentos de devoção”. Qual é a qualidade de seu tempo de oração e comunhão com Deus? Como isso influência sua vida piedosa?
- A expectativa da manifestação de Cristo deve transformar o modo como você enfrenta sofrimentos e tentações presentes?
- Qual seria uma “resolução” pessoal que você, como Edwards, poderia fazer—reconhecendo sua incapacidade e suplicando a graça de Deus?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

