Descubra como Tiago 1:14-16 revela a cadeia mortal da cobiça ao pecado e como rastrear erros até sua raiz para verdadeira santificação.
Bíblia,  Devocionais

Jonathan Edwards – RESOLUÇÃO 24: A Raiz do Pecado

Tiago 1:14-16. “Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Não se enganem, meus amados irmãos.”

RESOLUÇÃO 24. “Resolvo quando cometer um erro evidente, rastreá-lo até sua causa original; e então lutar e orar com todas as minhas forças contra sua raiz.”

O Engano da Superfície

Tiago nos confronta com uma declaração radical: não basta lamentar o erro evidente; é preciso rastreá-lo até sua causa original, até aquele primeiro momento em que a cobiça nos atraiu como isca sedutora. “Resolvo quando cometer um erro evidente, rastreá-lo até sua causa original; e então lutar e orar com todas as minhas forças contra sua raiz” — esta resolução de Edwards captura exatamente o que Tiago exige de nós: A investigação consciente das motivações em nossa alma.

“O conhecimento de nossa miséria é inútil sem o conhecimento de Deus; o conhecimento de Deus é inútil sem o conhecimento de nossa miséria.”
João Calvino, Institutas da Religião Cristã (Livro I, Capítulo I, Seção 1), Editora Cultura Cristã, 2006, p. 35.

A Cadeia Silenciosa do Pecado

Antes que Caim levantasse a mão contra Abel, houve um momento — talvez breve, talvez prolongado — em que a cobiça o rodeou como um predador tentando cravar as garras em sua presa. Antes que Acã estendesse as mãos aos despojos proibidos, seu coração já havia concebido o desejo. Antes que Davi chamasse Bate-Seba, seus olhos já haviam se demorado além da conta. A história da queda humana não começa no ato visível, mas na concepção invisível. Tiago utiliza uma metáfora biológica devastadora: a cobiça concebe, depois dá à luz o pecado, que finalmente gera a morte. Três estágios. Três momentos fatais. E nós, enganados, só prestamos atenção ao último.

“O pecado não pode viver em paz conosco. Ele não descansará enquanto não nos destruir completamente.”
Jonathan Edwards, A Natureza da Verdadeira Virtude, Editora Vida Nova, 2013, p. 78.

A Anatomia Tríplice do Erro

Primeiro Estágio: A Própria Cobiça — O Momento da Atração

Tiago é cirúrgico: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça.” Não podemos culpar Deus, as circunstâncias ou o diabo. A cobiça brota de dentro, daquele desejo específico que, conforme nossa constituição e momento, nos seduz aqui e agora. Para um, é a possibilidade de vingança. Para outro, a atração do lucro ilícito. Para um terceiro, o prestígio que vem da aparência piedosa.

Neste primeiro estágio, ainda rodeamos o objeto apenas em pensamento, como o peixe rodeia a isca. O desejo nos atrai (exelkó, no grego: arrastar para fora) e nos seduz (deleázō: fisgar com isca). Ainda há tempo. Ainda podemos fugir (Tiago 4:7-8), refugiar-nos junto daquele que venceu no Calvário. “O nome do Senhor é um castelo firme. O justo corre até lá e é abrigado” (Provérbios 18:10). Mas se não buscarmos ajuda em oração, o bacilo começa sua incubação silenciosa.

“Não há nada que o coração humano deseje mais do que criar ídolos, e nada que mais efetivamente impeça nossa comunhão com Deus.”
Tim Keller, dEUSES FALSOS, Editora Vida Nova, 2013, p. 24.

Segundo Estágio: A Concepção — O Momento da Permissão

“Depois de haver concebido, a cobiça dá à luz o pecado.” Aqui está o ponto crítico: quando toleramos uma ideia ou desejo por tempo suficiente, ela finalmente se torna, com certa obrigatoriedade, uma ação. O peixe abocanha. O anzol está dentro. Externamente, ainda parecemos nadar livremente nas águas da vida normal, mas já fomos fisgados. A doença já se instalou, mesmo que os sintomas ainda não sejam visíveis aos outros.

Esta é a resposta ao erro evidente: ele nunca é apenas um “lapso momentâneo”, mas sempre o fruto de uma gestação interna. O adultério visível nasceu da fantasia permitida. A explosão de raiva nasceu do ressentimento cultivado. A mentira nasceu do orgulho protegido. Rastrear o erro até sua origem significa perguntar: quando dei espaço ao desejo? Onde deixei de buscar socorro?

Terceiro Estágio: A Morte — O Momento da Consumação

“O pecado, uma vez consumado, gera a morte.” Tiago não está falando apenas da “segunda morte” eterna, mas da morte espiritual agora, quando alguém “está morto em pecados” (Efésios 2:5). É possível que outros ainda nos considerem cristãos, “Tens o nome de que vives, e estás morto” (Apocalipse 3:1). O puxão da vara acontece e o peixe é arrancado do ambiente de vida para o ambiente de morte.

O mais perigoso não é o ato individual, mas o fato de que, através dele, o inimigo nos amarra a si, afastando-nos da comunhão de vida com Cristo. Na desobediência concreta, começamos a apostatar de Jesus. Mas mesmo aqui, a ajuda permanece aberta: “Onde o pecado se tornou poderoso, a graça é ainda mais poderosa” (Romanos 5:20).

“A santificação é uma guerra longa de obediência na mesma direção.”
Eugene Peterson, Longe da Terra Firme: Uma Espiritualidade para os Profissionais Cristãos, Editora Mundo Cristão, 2011, p. 127.

Não Vos Enganeis

“Não vos enganeis, meus amados irmãos.” Tiago sabe que nossa tendência natural é empurrar a culpa, para Deus, para as circunstâncias, para nossa natureza fraca. Mas ver a situação corretamente é o primeiro passo para obter auxílio. O evangelho não nos deixa confortáveis em nosso autoengano; ele nos confronta com a anatomia real do pecado para, então, nos apontar para o único Médico capaz de curar. Jesus Cristo pode não apenas tratar os sintomas, mas remover “a isca e o anzol” já engolidos, libertando-nos das amarras (1 João 1:7; João 8:36). Nosso Senhor diz: “Quem vem a mim, certamente não o lançarei fora” (João 6:37).

E Agora, Como Viveremos?

Diante de cada erro evidente, estabeleça este compromisso: rastreie-o até sua causa original. Quando mentir, não apenas confesse a mentira — pergunte-se por que protegeu sua imagem. Quando cobiçar, não apenas se afaste do objeto — identifique o vazio interno que busca preencher. Quando se irritar, não apenas controle a explosão — examine o orgulho ferido que a gerou. E então, lute e ore com todas as suas forças contra a raiz. Não dê espaço ao desejo; busque o Senhor enquanto o peixe ainda rodeia a isca, antes do momento fatal da concepção. A santificação não é gerenciamento de comportamento, mas guerra contra a cobiça em seu nascedouro.

Oremos

“Senhor Jesus, médico de nossas almas, confessamos que tantas vezes tratamos apenas os sintomas, ignorando as raízes profundas de nossa cobiça. Perdoa-nos por culpar circunstâncias, pessoas e até a Ti por nossos pecados, quando a verdade é que carregamos dentro de nós o desejo sedutor. Dá-nos olhos para enxergar a isca antes de abocanhá-la, coragem para fugir quando ainda há tempo, e humildade para buscar Teu refúgio quando formos atraídos. Que Tua graça, mais poderosa que nosso pecado, nos liberte das amarras e nos restaure à comunhão contigo. Em Teu nome oramos. Amém.”

Perguntas para Reflexão

  1. Qual “erro evidente” você cometeu recentemente? Consegue rastreá-lo até o momento em que a cobiça primeiro o atraiu?
  2. Em que áreas de sua vida você ainda está “rodeando a isca” — permitindo pensamentos e desejos que sabe serem perigosos?
  3. Como a metáfora do “peixe e a isca” ilumina sua compreensão sobre o processo do pecado? Em que estágio você geralmente busca ajuda?
  4. De que formas práticas você pode aplicar a resolução de “lutar e orar com todas as forças contra a raiz” do pecado em sua vida diária?
  5. Há alguma área em que você está espiritualmente “morto” — mantendo aparências externas enquanto está distante da comunhão viva com Cristo?

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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