Tiago 4:6-7. “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.”
RESOLUÇÃO 12. “Resolvo se eu me deleitar com algo por vaidade ou orgulho, abandonar imediatamente tal coisa.”
Introdução: O Espelho da Alma Revelado
Por que razão a vaidade encontra terreno tão fértil no coração humano? Jonathan Edwards, o grande teólogo do Grande Despertamento, compreendeu como poucos a natureza insidiosa do orgulho que se disfarça até mesmo em nossas práticas mais sagradas. Quando nos deleitamos com algo por vaidade ou orgulho, não estamos apenas cometendo um pecado isolado – estamos revelando a condição fundamental de corações não regenerados.
A tensão espiritual que Edwards identificou permanece conosco: como distinguir entre o deleite santo e a satisfação vaidosa? Como reconhecer quando nossa alegria em Deus se transformou sutilmente em alegria em nós mesmos? Esta não é meramente uma questão de comportamento externo, mas uma sonda que penetra até as motivações mais profundas da alma.
“A natureza do orgulho espiritual é tal que endurece o coração e o cega para sua própria corrupção. Quanto mais uma pessoa possui dessa vaidade, menos ela consegue discerni-la em si mesma… O orgulho espiritual é o principal obstáculo para o verdadeiro progresso espiritual.” Jonathan Edwards, Tratado sobre as Afeições Religiosas, Editora Vida Nova, 2010, 342 páginas.
Eusébio de Cesareia, o pai da história eclesiástica, documentou como os primeiros cristãos enfrentaram essa mesma batalha contra a vanglória, observando que mesmo os mártires precisavam guardar-se contra o orgulho espiritual que poderia contaminar seu testemunho supremo.
Charles Dickens, em sua obra “Grandes Esperanças”, retratou magistralmente como Pip descobriu que suas aspirações de grandeza eram fundamentadas não no amor, mas na vaidade – uma parábola secular que ecoa a condição espiritual que Edwards descreveu com precisão teológica.
A Anatomia Espiritual do Orgulho
Jonathan Edwards demonstrou que o orgulho não é simplesmente uma falha moral entre outras, mas a raiz de toda rebelião contra Deus. Em suas “Resoluções”, Edwards estabeleceu o princípio radical: abandonar imediatamente qualquer coisa que se torne fonte de vaidade ou orgulho. Esta não era uma disciplina meramente de abstinência, mas uma cirurgia espiritual necessária para preservar a integridade do coração.
O texto de Tiago revela a dinâmica divina e poderosa em operação: Deus resiste aos soberbos. O verbo grego “antitássetai” sugere não apenas oposição, mas uma formação militar contra o orgulhoso. Portanto, quando nos deleitamos com algo por vaidade, não estamos apenas pecando contra nós mesmos – estamos nos posicionando contra o próprio Deus.
Edwards compreendeu que a vaidade possui uma qualidade particularmente destrutiva: ela se alimenta precisamente daquilo que deveria nos aproximar de Deus. Nossa oração pode tornar-se fonte de orgulho espiritual. Nosso conhecimento teológico pode inflar-nos. Nossa generosidade pode alimentar nossa autoimagem. Por isso, a resolução de abandonar imediatamente tais coisas não é extremismo, mas sabedoria espiritual.
“Aquele que é verdadeiramente humilde, quando se vê humilhado por outros, não se sente irritado ou inquieto… Sua humildade o torna como uma criança pequena, flexível e facilmente moldável, e não rígida e rebelde.” Jonathan Edwards, A Vida de David Brainerd, Editora Fiel, 2013, 324 páginas.
Philip Schaff, em sua monumental História da Igreja Cristã, observou como os grandes avivamentos sempre foram acompanhados por um despertar da consciência quanto ao orgulho espiritual, notando que Edwards foi pioneiro em identificar os sinais distintivos da verdadeira experiência religiosa versus suas imitações orgulhosas.
Fiódor Dostoiévski, em “Os Irmãos Karamázov”, explorou através do personagem do padre Zossima como a humildade genuína produz uma luz espiritual que não pode ser falsificada, enquanto o orgulho espiritual, mesmo quando disfarçado de piedade, revela-se através de sua dureza e julgamento dos outros.
Conclusão: Cristo, o Antídoto da Vaidade
A resposta de Jonathan Edwards para a vaidade não foi o desespero, mas Cristo. Ele compreendeu que somente a visão da glória de Cristo pode deslocar nosso amor-próprio do centro de nossas afeições. Quando contemplamos verdadeiramente a beleza de Cristo, nossa própria glória empalidece até desaparecer.
O evangelho não nos chama meramente para abandonar a vaidade, mas para substituí-la por algo infinitamente superior: a alegria em Deus por Deus mesmo. Edwards descobriu que quando nosso deleite está centrado na glória de Deus, não há espaço para a vanglória pessoal. Portanto, a resolução de abandonar imediatamente aquilo que nos torna vaidosos não é uma disciplina legalista, mas uma expressão de amor por algo maior.
Tiago nos assegura que Deus dá graça aos humildes. Esta graça não é apenas perdão, mas poder transformador que reorienta nossos afetos. Assim, a batalha contra a vaidade não é travada apenas pela força de vontade, mas pela graça divina que torna o coração humilde genuinamente atrativo para nós.
“A verdadeira virtude consiste essencialmente no amor à existência em geral, ou amor ao ser em geral… A virtude não é amor a qualquer ser particular, mas amor ao ser em geral, e especialmente amor ao Ser dos seres.” Jonathan Edwards, A Natureza da Verdadeira Virtude, Editora Cultura Cristã, 2012, 178 páginas.
A humildade não é apenas moralmente correta, mas supremamente bela – uma beleza que naturalmente eclipsa os prazeres vazios da vanglória.
E agora, como viveremos?
A resolução de Edwards – abandonar imediatamente aquilo que se torna fonte de vaidade ou orgulho – não é um conselho para santos avançados, mas uma necessidade para todo cristão que deseja crescer em santidade. Como, então, aplicaremos esta verdade hoje?
Desenvolva o hábito da autoavaliação constante. Edwards mantinha um diário espiritual onde examinava suas motivações. Antes de cada oração, pregação, ou ato de serviço, perguntemo-nos: “Estou fazendo isto para a glória de Deus ou para minha própria glória?”
Pratique o abandono imediato. Quando reconhecermos que algo está alimentando nossa vaidade – seja um elogio recebido, um conhecimento adquirido, ou uma posição alcançada – abandonemos imediatamente o deleite vaidoso. Isto pode significar interromper uma conversa, mudar de assunto, ou redirecionar nossos pensamentos para Cristo.
Cultive outros deleites. A natureza abomina o vácuo. Não basta abandonar a vaidade; devemos substituí-la pelo deleite em Deus. Quando formos tentados a nos gloriarmos em nossas realizações, lembremo-nos conscientemente da graça que as tornou possíveis.
Busque a companhia de irmãos fiéis e santos. Jonathan Edwards não lutou sozinho contra o orgulho. Ele tinha amigos piedosos que o ajudavam a discernir os movimentos sutis de seu coração. Precisamos de irmãos que nos amem o suficiente para confrontar nossa vaidade quando ela se manifesta.
“Resolvo: nunca fazer qualquer coisa que eu não faria se fosse a última hora de minha vida.” Jonathan Edwards, Resoluções, in Obras Completas de Jonathan Edwards, Editora Cultura Cristã, 2016, 2.240 páginas.
Os grandes homens e mulheres de Deus sempre se caracterizaram por uma vigilância constante contra o orgulho espiritual, reconhecendo que mesmo suas virtudes poderiam tornar-se armadilhas se não fossem continuamente oferecidas a Deus em humildade.
Oremos
Pai celestial, reconhecemos que nossos corações são fábricas de ídolos, e que mesmo nossas práticas mais sagradas podem tornar-se fontes de vanglória. Humilhamo-nos diante de Ti, confessando que frequentemente buscamos nossa própria glória mesmo quando professamos buscar a Tua.
Concede-nos olhos capazes de ver nossa própria vaidade e coragem para abandoná-la imediatamente quando a reconhecermos. Que possamos encontrar em Cristo uma beleza tão suprema que toda nossa própria glória empalideça em comparação, que nos alegremos verdadeiramente em Ti e não em nossa capacidade.
Quando a vaidade nos tentar – em nossa oração, em nosso serviço, em nosso conhecimento – lembra-nos da resolução piedosa: abandonar imediatamente qualquer coisa que se torne fonte de orgulho. E enche o vácuo deixado pela vanglória com a plenitude de Cristo.
Em nome daquele que, sendo em forma de Deus, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS
- RESOLUÇÃO 07 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 08 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 09 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 10 – Jonathan Edwards
- RESOLUÇÃO 11 – Jonathan Edwards

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!