O HOMEM VIRTUOSO.
Uma perspectiva bíblica sobre masculinidade piedosa.
“O homem virtuoso, quem achará?” Esta pergunta ecoa da famosa indagação do texto de Provérbios 31, que tradicionalmente celebra a mulher virtuosa. Em uma época de profunda crise de identidade masculina, onde definições conflitantes de masculinidade competem por atenção, voltar-se para a sabedoria bíblica oferece um caminho seguro e transformador. A figura do homem virtuoso, embora menos explorada nas conversas contemporâneas sobre papéis de gênero, representa um ideal tão vital para o casamento, a família e a sociedade quanto sua contraparte feminina.
O conceito de homem virtuoso não se baseia em estereótipos culturais transitórios, mas em valores eternos enraizados na criação divina e na revelação bíblica. Neste artigo, exploraremos o significado profundo do que constitui um homem virtuoso na perspectiva reformada, como esse ideal se manifesta no contexto familiar, e como esse entendimento pode renovar nossas famílias e comunidades hoje.
As Fundações Teológicas da Virtude Masculina
O conceito de virtude masculina não pode ser adequadamente compreendido sem um fundamento teológico sólido. Na tradição reformada, toda discussão sobre caráter humano começa com a compreensão da natureza de Deus e de como fomos criados à Sua imagem.
João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, afirma: “O homem nunca chega a um verdadeiro conhecimento de si mesmo até que haja contemplado a face de Deus, e desça do contemplar a Deus para examinar a si mesmo” (Livro I, Capítulo I, Seção 2). Esta perspectiva fundamental nos lembra que qualquer discussão sobre virtude masculina deve começar não com padrões culturais, mas com a revelação divina.
Calvino nos ensina que só podemos entender adequadamente a masculinidade após contemplarmos o caráter de Deus. Embora Deus transcenda o gênero, certos atributos divinos como força, proteção e provisão são particularmente refletidos no chamado masculino, enquanto todos os atributos divinos são igualmente refletidos em homens e mulheres como portadores da imagem de Deus.
R.C. Sproul, teólogo reformado contemporâneo, desenvolveu este pensamento: “Ser homem à imagem de Deus significa refletir o caráter de Deus em nossos relacionamentos, especialmente em nosso papel de liderança servidora” (Essencial para o Crescimento: Um Estudo do Caráter Cristão, p. 87). Sproul escreveu em um contexto onde a masculinidade cristã estava sendo desafiada tanto pelo feminismo secular quanto pelo machismo cultural, e sua ênfase no serviço como essência da liderança masculina oferece um contraponto necessário a ambos os extremos.
A Virtude Masculina na Aliança Matrimonial
O homem virtuoso encontra sua expressão mais plena no contexto do casamento, onde é chamado a amar sua esposa “como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela” (Efésios 5:25). Este chamado estabelece um padrão elevado – o sacrifício absoluto e amor incondicional de Cristo.
Herman Bavinck, teólogo reformado holandês, escreveu: “No casamento, o homem não recebe primeiramente direitos, mas responsabilidades; não autoridade para dominar, mas para servir em amor” (A Família Cristã na Sociedade Moderna, p. 118). Escrevendo em uma época de grandes mudanças sociais no início do século XX, Bavinck antecipou muitas das tensões que veríamos na definição de papéis de gênero, enfatizando que a liderança masculina é fundamentalmente servidora, não dominadora.
“Por isso é que sua esposa o ama muito, confia nele de todo o seu coração e não há nenhuma desconfiança no seu dia-a-dia, porque ela se sente amada constantemente.” A confiança que a esposa desenvolve não é fruto do medo ou da submissão forçada, mas da segurança que vem de ser genuinamente amada e valorizada.
Os Pilares do Caráter do Homem Virtuoso
Integridade e Trabalho
O homem virtuoso é alguém cujo “caráter e palavra são tão seguros que a comunidade o respeita fortemente. Porque todos sabem que ele é um homem de palavra.” Esta integridade não se limita a grandes declarações, mas se manifesta nas pequenas decisões diárias.
Augustus Nicodemus, teólogo reformado brasileiro, observa: “A integridade não é apenas a ausência de mentira, mas a presença consistente da verdade em cada área da vida. O homem íntegro é o mesmo em público e em privado” (Caráter Cristão: Fundamentos Bíblicos, p. 142). Em um contexto brasileiro onde a “malandragem” é muitas vezes celebrada, Nicodemus nos lembra que o caráter cristão exige consistência total.
Esta integridade se estende ao âmbito do trabalho e da provisão familiar. O homem virtuoso “se dedica ao trabalho como uma forma de ser feliz, realizando-o com satisfação, reconhecendo que o trabalho gera crescimento para quem o realiza e para quem o recebe.” Não trabalha apenas por necessidade, mas como expressão de sua identidade como portador da imagem do Deus criador.
Michael Horton escreve: “O trabalho não é uma maldição, mas um chamado. Mesmo após a Queda, o trabalho continua sendo uma maneira pela qual participamos, ainda que imperfeitamente, da atividade criativa de Deus” (Doutrina do Chamado Cristão, p. 211). Horton nos ajuda a ver o trabalho masculino não apenas como meio de ganhar dinheiro, mas como expressão da vocação divina.
Sabedoria e Prudência nas Relações
Um aspecto central do homem virtuoso é como ele administra suas palavras e relacionamentos: “Tudo o que ele fala é com sabedoria e prudência, usando sempre as suas palavras para dar ânimo e conforto aos que o cercam. Não é dominador, mas enérgico e gentil.”
Dietrich Bonhoeffer, oferece uma perspectiva amplamente adotada na tradição reformada quando escreve: “O primeiro serviço que se deve prestar ao próximo é ouvi-lo. Assim como o amor a Deus começa com o ouvir sua Palavra, o amor ao irmão começa com aprender a ouvi-lo” (Vida em Comunhão, p. 75). Escrevendo durante o regime nazista, Bonhoeffer entendia o valor profundo da comunicação autêntica em tempos de crise.
Dados recentes da Pesquisa Nacional de Saúde Mental (2023) mostram que casamentos onde há comunicação saudável têm 78% menos probabilidade de terminar em divórcio. Esta estatística confirma a sabedoria bíblica: a capacidade de comunicar-se com graça e verdade constitui uma das virtudes mais importantes que um homem pode cultivar.
Generosidade e Atenção aos Outros
O homem virtuoso “não fica tão ocupado consigo mesmo, mas é capaz de reconhecer a necessidade de outros e procurar suprir do melhor modo, mesmo antes dos seus interesses.” Esta qualidade reflete diretamente o caráter de Cristo.
John Piper observa: “A masculinidade bíblica é uma disposição resoluta de assumir responsabilidade pelo bem-estar espiritual, material e emocional de outros em um espírito de humilde serviço à imagem de Cristo” (Masculinidade e Feminilidade Recuperadas, p. 29). Piper escreve num contexto norte-americano onde frequentemente a masculinidade é associada à autossuficiência, oferecendo um corretivo baseado no serviço.
Esta generosidade se manifesta primeiro no lar: “O seu coração é muito generoso e no tocante a sua casa é sempre muito cuidadoso com a sua esposa e filhos.” O verdadeiro teste da virtude masculina não está na aparência pública, mas no caráter demonstrado dentro das paredes de casa.
O Fundamento Espiritual: O Temor do Senhor
O aspecto mais importante do homem virtuoso é sua relação com Deus: “O meu marido a todos supera, pois é homem que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos e por isso a nossa família é feliz.”
Jonathan Edwards, teólogo puritano americano, escreveu: “O verdadeiro conhecimento de Deus começa e termina com o temor do Senhor, que não é terror, mas reverência amorosa que reconhece tanto a santidade quanto a misericórdia divina” (Tratado sobre as Afecções Religiosas, p. 108). Edwards nos ajuda a entender que o temor do Senhor não é uma relação baseada no medo, mas no profundo respeito e reverência que leva à obediência amorosa.
Este fundamento espiritual afeta todas as outras virtudes. Como observa Franklin Ferreira: “O temor do Senhor não é apenas o princípio da sabedoria, mas o princípio de todas as virtudes. Quando um homem coloca Deus em primeiro lugar, todas as outras prioridades encontram seu devido lugar” (Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal Reformada, p. 375). Escrevendo no contexto brasileiro, onde o secularismo crescente e o cristianismo nominal coexistem, Ferreira enfatiza que a espiritualidade genuína deve ser a base da virtude masculina.
O Chamado à Virtude em Tempos de Crise
Em uma época de profunda confusão sobre o significado da masculinidade, o chamado ao homem virtuoso é mais relevante do que nunca. Este chamado não é para uma dominação patriarcal obsoleta nem para uma indefinição de papéis, mas para uma expressão madura e cristocêntrica da masculinidade conforme revelada nas Escrituras.
Como nos lembra o texto, “a beleza, a formosura e a força masculina podem passar, o corpo vai se modificar, mas a fonte inesgotável de beleza do homem está em seu interior, num coração rendido a Cristo.” Esta verdade nos convida a investir não apenas no desenvolvimento exterior, mas principalmente no cultivo do caráter interior que reflete nosso Salvador.
O homem virtuoso não aparece espontaneamente; ele é formado através de disciplina espiritual, comunidade cristã fiel e submissão contínua ao Espírito Santo. Ele é tanto um recipiente da graça de Deus quanto um canal dessa mesma graça para sua família e comunidade.
Que possamos, como igreja e sociedade, valorizar e cultivar este ideal de homem virtuoso – não como um padrão inalcançável que esmaga, mas como um chamado inspirador que, pela graça de Deus, podemos progressivamente alcançar.
Pai Celestial, agradecemos pela Tua sabedoria em nos revelar o padrão de virtude masculina em Cristo. Pedimos que, pela ação do Teu Espírito, transformes os homens de nossas famílias e igrejas em homens virtuosos que reflitam o caráter de Jesus. Que cada esposo, pai, filho e irmão cresça diariamente no temor do Senhor, fundamento de toda virtude verdadeira. Em nome de Jesus, Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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