O CASAMENTO CRISTÃO COMO UMA GRANDE AVENTURA.
O casamento cristão não encerra a aventura em nossas vidas, mas é o veículo divino para a maior jornada possível. A aventura matrimonial cristã começa com o propósito de glorificar a Deus e desfrutar Dele eternamente. Cada casamento cristão possui uma aventura específica e única que contribui para o grande propósito divino.
Casamento e aventura. Quando essas palavras se encontram, que imagens surgem em sua mente? São conceitos opostos ou complementares? A aliança matrimonial representa o fim de uma jornada ou o começo de algo muito maior?
John Piper, teólogo reformado contemporâneo, nos desafia quando diz: “Deus não criou o casamento para ser o destino final, mas um veículo para algo muito maior — Sua glória manifestada através de nossa alegria Nele.” Esta perspectiva revoluciona nossa compreensão do casamento cristão como aventura, convidando-nos a enxergar além das concepções culturais limitadas.
Quero convidar você a pensar como o casamento cristão é, em sua essência, uma aventura épica projetada por Deus para cumprir propósitos que transcendem nosso entendimento imediato, e como isso transforma completamente nossa experiência conjugal.
A distorção cultural do casamento cristão como aventura.
Nossa cultura apresenta duas visões predominantes sobre o casamento. A primeira sugere que o casamento acaba com a aventura — a famosa metáfora de que ao se casar a pessoa coloca uma “bola presa aos pés por uma corrente”. Nessa perspectiva, o matrimônio representa o fim da liberdade e das possibilidades ilimitadas. A segunda visão propõe que o casamento completa a aventura — é o troféu após a conquista, a conclusão de uma jornada de realização pessoal.
Abraham Kuyper, teólogo reformado holandês, nos adverte sobre como facilmente absorvemos visões culturais distorcidas:
“Quando permitimos que o mundo defina nossas instituições, especialmente o casamento, inevitavelmente colhemos as consequências de uma teologia deformada que afeta todas as áreas da vida. O cristão deve constantemente perguntar: ‘Esta perspectiva tem sua origem na Palavra de Deus ou na sabedoria do mundo?'”
Essa análise contextual é crucial em nossa era, onde o individualismo radical transformou o casamento em uma instituição focada primariamente na satisfação pessoal, não no propósito divino. O casamento cristão como aventura não pode ser compreendido dentro dos estreitos limites das definições culturais contemporâneas.
Recentemente, um estudo do Pew Research Center (2023) revelou que 64% dos jovens adultos consideram o “crescimento pessoal” e a “liberdade individual” mais importantes que o compromisso matrimonial. Esta estatística demonstra como a visão cultural dominante coloca o casamento e a aventura em oposição, não em harmonia.
O casamento como aventura divinamente ordenada
A terceira perspectiva, fundamentada na revelação bíblica, apresenta que o casamento significa aventura. Esta visão, consistente com a teologia reformada, entende o matrimônio não como um obstáculo ou mero prêmio, mas como um veículo crucial para a aventura que Deus planejou.
João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã (Livro II, Capítulo VIII), nos ensina:
“O matrimônio não foi instituído apenas para a procriação, mas para que o homem tenha uma companheira de toda a vida; uma companheira não apenas para a mesa e o leito, mas também para a oração, o trabalho e o cuidado de todas as coisas da vida presente e da salvação.”
Esta visão reformada do casamento reconhece sua natureza instrumental — não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual Deus realiza seus propósitos eternos. O casamento cristão como aventura se desenvolve em quatro dimensões fundamentais que se sobrepõem e se complementam.
1. A grande aventura: Glorificar a Deus e desfrutar dele.
O Catecismo Menor de Westminster estabelece que “o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” Esta verdade fundamental se aplica igualmente ao casamento cristão como aventura. O casamento existe primariamente para a glória de Deus e nosso deleite Nele.
R.C. Sproul elabora esta perspectiva:
“O casamento não foi projetado principalmente para nossa felicidade, embora a inclua, mas para refletir a glória de Deus. Quando compreendemos isto, percebemos que cada momento do casamento — tanto nas alegrias quanto nas dificuldades — serve ao propósito mais elevado de manifestar a glória divina.”
O casamento cristão como aventura serve a este propósito de duas maneiras cruciais: Primeiro, cada união conjugal fiel funciona como uma parábola viva do amor de Cristo por Sua igreja (Efésios 5:22-33). O casamento não é apenas uma união humana, mas uma representação visível da união mística entre Cristo e sua noiva. Segundo, o casamento cristão como aventura nos santifica, moldando-nos à imagem de Cristo. Como observa Heber Carlos de Campos:
“A santificação conjugal não é um subproduto acidental do casamento, mas um de seus propósitos centrais. Deus usa o casamento como um instrumento poderoso para nos conformar à imagem de Seu Filho.”
2. A aventura geral: Cumprir o mandato cultural
Desde a criação, Deus estabeleceu uma missão para o casamento que transcende a mera união de duas pessoas. Em Gênesis 1:28, encontramos o mandato cultural dado ao primeiro casal:
“Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem sobre a terra.”
Herman Bavinck, teólogo reformado holandês, comenta sobre a magnitude desta comissão:
“O mandato cultural concedido a Adão e Eva não era meramente uma instrução para reprodução biológica, mas uma comissão abrangente para desenvolver todas as potencialidades da criação para a glória de Deus. O casamento serve como a fundação social para o cumprimento deste mandato divino.”
Esta aventura geral possui três componentes fundamentais:
- Fecundidade – gerar filhos que carreguem a imagem de Deus
- Mordomia – desenvolver e enriquecer o mundo criado
- Governo – exercer autoridade delegada sobre a criação
O casamento cristão como aventura é o contexto primário no qual esta missão cósmica se realiza, com marido e esposa cumprindo papéis complementares e indispensáveis.
3. A excelente aventura: Participar da grande comissão
Com a vinda de Cristo, o mandato cultural foi elevado e redirecionado através da Grande Comissão (Mateus 28:18-20). O casamento cristão como aventura agora incorpora esta nova dimensão missionária:
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que eu lhes ordenei.”
Jonathan Edwards, com sua visão escatológica do Reino, explica:
“Deus ordenou a instituição matrimonial não apenas para o benefício temporal dos cônjuges, mas para o avanço de Seu Reino até os confins da terra. O matrimônio cristão tem propósito missionário.”
Esta excelente aventura se harmoniza perfeitamente com o mandato original. O casamento cristão forma a base para:
- Famílias cristãs que nutrem novas gerações na fé
- Igrejas fortalecidas por casais comprometidos com o Reino
- Comunidades transformadas pelo testemunho de uniões que refletem Cristo
O casamento cristão como aventura torna-se, assim, um veículo estratégico para o avanço do Evangelho.
4. A aventura específica: Descobrindo o chamado único de cada casamento
Finalmente, cada casamento cristão possui uma aventura específica — um propósito singular que Deus designou para aquela união particular. Franklin Ferreira ressalta:
“Assim como Deus chama cada crente individualmente para um propósito específico, cada casamento recebe um chamado único que corresponde aos dons, talentos e contexto específicos daquele casal. Discernir e seguir esta vocação matrimonial específica é parte crucial da aventura conjugal.”
Esta aventura específica não substitui as anteriores, mas as personaliza. Ela responde à pergunta: “Como nosso casamento específico, com seus dons e limitações particulares, cumprirá o propósito divino?” O discernimento desta missão única requer:
- Oração conjunta e constante
- Avaliação sóbria dos dons e talentos
- Conselho de mentores espirituais maduros
- Disposição para ajustar a visão quando Deus assim direcionar
Conclusão
O casamento cristão é, em sua essência, uma aventura divina — não o fim de possibilidades, nem o prêmio de conquistas anteriores, mas um veículo poderoso para cumprir os propósitos eternos de Deus. Como escreveu C.S. Lewis: “As aventuras nunca vêm quando você as busca. Foi assim que as pessoas terminaram tendo aventuras em casa, sentadas ao lado da lareira.”
A perspectiva reformada nos convida a redescobrir o casamento cristão como aventura em suas quatro dimensões integradas: a Grande Aventura da glória e alegria em Deus, a Aventura Geral do mandato cultural, a Excelente Aventura da Grande Comissão, e a Aventura Específica do chamado único de cada união.
Que possamos abraçar a visão bíblica do casamento como o início, não o fim, da maior aventura que Deus planejou para a humanidade. Que cada casal cristão redescubra o propósito transformador de sua união e avance, de mãos dadas, na jornada épica que Deus preparou.
Pai Celestial, renova nossa compreensão do casamento cristão como a grande aventura que Tu planejaste. Capacita cada união a refletir Tua glória, cumprir Teus propósitos e avançar Teu Reino. Que nossos casamentos sejam testemunhos vivos do amor entre Cristo e Sua Igreja. Em nome de Jesus, que nos convida para Sua festa nupcial eterna, amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
1 comentário