A Teologia da Felicidade Conjugal.

A teologia ilumina o caminho para a felicidade conjugal cristã através do autoconhecimento, perdão e dependência da graça divina para superar expectativas irreais.

A Teologia da Felicidade Conjugal.

A autêntica felicidade conjugal cristã fundamenta-se na graça de Deus, não nas capacidades humanas. O perdão mútuo, reflexo da graça divina, nutre o crescimento e a vivência da felicidade conjugal cristã. A submissão às Escrituras transforma paradigmas culturais em uma visão biblicamente fundamentada da felicidade conjugal cristã.

Você já se perguntou por que tantos casamentos cristãos enfrentam crises apesar do comprometimento com valores bíblicos? O casamento, instituído por Deus como reflexo da aliança entre Cristo e a Igreja, frequentemente se torna um campo de batalha de expectativas não atendidas. A felicidade conjugal cristã, longe de ser apenas um ideal romântico, representa um profundo desafio teológico e prático para os cristãos.

O matrimônio cristão sofre frequentemente com o peso de expectativas irreais que contradizem a doutrina bíblica da depravação total. A perspectiva bíblica nos ensina que entramos no casamento como pecadores redimidos, não como seres perfeitos. “Cada um parte para o casamento vendo no outro o realizador (muitas vezes mágico) de uma série de expectativas,… É uma frustração invariavelmente reciproca.”

É preciso reconhecer a difícil condição de nossa natureza humana caída. João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã (Livro II, Capítulo 1, Seção 8), afirma: “Nossa natureza não é apenas desprovida de todos os bens, mas é tão fértil em todos os tipos de males que não pode permanecer ociosa.” O perigo de depositar expectativas redentoras em outro ser humano é desastroso. O casamento, quando carregado de expectativas irreais, torna-se um ídolo que inevitavelmente decepcionará. A Bíblia nos lembra que apenas Cristo pode ocupar o lugar central em nossas vidas, não nossos cônjuges.

A frustração conjugal, portanto, resulta frequentemente de uma compreensão distorcida que coloca no cônjuge a responsabilidade que pertence somente a Deus.

A Graça como Modelo para o Relacionamento

A doutrina da Sola Gratia (Somente a Graça) oferece um paradigma revolucionário para o casamento cristão. Assim como somos salvos unicamente pela graça imerecida de Deus, a felicidade conjugal cristã floresce quando marido e mulher estendem graça um ao outro. R.C. Sproul, em sua obra “A Santidade de Deus”, escreve:

“A graça nunca é barata. Ela é sempre gratuita para nós, mas nunca sem custo para Deus. Quando Cristo morreu na cruz, a graça de Deus foi derramada sobre nós com um preço infinito, o preço do sangue de Seu Filho.”

Esta compreensão da graça fornece o modelo para o perdão e a aceitação mútua no casamento. Quando reconhecemos quanto fomos perdoados por Cristo, tornamo-nos mais capazes de perdoar as falhas de nossos cônjuges. A graça divina, quando aplicada ao relacionamento conjugal, transforma a maneira como enxergamos as imperfeições um do outro.

A aplicação da graça no casamento exige o reconhecimento de nossas próprias fraquezas antes de apontar os defeitos do cônjuge. Jesus nos ensinou: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?” (Mateus 7:3). Esta advertência aplica-se perfeitamente às relações conjugais, onde frequentemente estamos mais cientes das falhas do parceiro que das nossas.

A Idolatria Conjugal e Suas Consequências

Uma das principais causas da infelicidade conjugal é a tendência de transformarmos nossos cônjuges em ídolos, esperando deles o que apenas Deus pode proporcionar. A teologia reformada, com sua ênfase em Solus Christus (Somente Cristo), oferece um antídoto para esta idolatria relacional. Timothy Keller, pastor e teólogo reformado contemporâneo, em seu livro “O Significado do Casamento”, observa:

“Quando buscamos no casamento a realização que só pode ser encontrada em Deus, exigimos de nossos cônjuges mais do que qualquer ser humano pode dar, transformando-os em ídolos destinados a nos decepcionar.”

Qualquer amor que coloca as criaturas acima do Criador inevitavelmente leva à desilusão. A felicidade conjugal cristã não decorre de depositar nossas expectativas no cônjuge, mas de ambos centralizarem sua existência em Cristo. Quando dois crentes encontram sua identidade primária em Cristo, paradoxalmente, tornam-se mais capazes de amar um ao outro autenticamente, livres do peso de expectativas irreais.

Historicamente, podemos observar como a Reforma Protestante transformou a compreensão do casamento. Martinho Lutero, ao abandonar seus votos monásticos e casar-se com Katharina von Bora, estabeleceu um novo paradigma para o matrimônio cristão – não como um sacramento, mas como uma instituição divina onde ambos os cônjuges servem a Deus juntos.

A renovação do casamento começa com a renovação da mente. Paulo nos exorta: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente” (Romanos 12:2). Esta transformação ocorre quando submetemos nossas crenças sobre casamento à autoridade das Escrituras.

Herman Bavinck, teólogo reformado holandês, em sua obra “Teologia Sistemática”, afirma:

“O casamento é uma aliança, e como tal, reflete a aliança entre Deus e seu povo. Ambos são fundamentados no amor e na fidelidade, e ambos requerem sacrifício e compromisso.”

Esta perspectiva alinhada com o princípio de Sola Scriptura (Somente a Escritura) convida-nos a rejeitar expectativas culturais e substituí-las por uma visão bíblica do matrimônio. As Escrituras nos apresentam o casamento não como um meio de satisfação pessoal, mas como um contexto de santificação mútua e glorificação de Deus.

Muitas de nossas expectativas irreais provêm de fontes culturais, não bíblicas. A mídia, a literatura romântica e até mesmo certas tradições eclesiásticas podem transmitir ideais conjugais incompatíveis com a revelação bíblica. Submetendo estas influências ao crivo das Escrituras, podemos desenvolver expectativas mais realistas e biblicamente fundamentadas.

A jornada para a felicidade conjugal cristã é, em essência, uma jornada teológica. Quando compreendemos nosso casamento à luz das doutrinas reformadas – reconhecendo nossa natureza pecaminosa, dependendo totalmente da graça de Deus, centralizando Cristo em nosso relacionamento e submetendo nossas expectativas à autoridade das Escrituras – encontramos o caminho para relacionamentos transformados pela verdade evangélica.

A felicidade conjugal cristã não consiste na ausência de desafios, mas na capacidade de enfrentá-los juntos, com os olhos fixos em Cristo. Não é a realização de expectativas românticas irreais, mas a experiência diária de graça, perdão e crescimento mútuo. Quando deixamos de exigir perfeição de nossos cônjuges e começamos a vê-los como companheiros de jornada pela graça, nossos relacionamentos tornam-se expressões vivas do Evangelho.

Senhor, reconhecemos nossa incapacidade de amar perfeitamente. Que tua graça soberana transforme nossos casamentos em testemunhos vivos do Evangelho. Ajuda-nos a encontrar nossa identidade primária em Cristo, libertando nossos cônjuges do peso de expectativas irrealizáveis. Que nossos relacionamentos conjugais glorifiquem Teu nome e manifestem Tua graça. Em nome de Jesus, amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

1 comentário

Publicar comentário

You May Have Missed