1 Coríntios 15.58. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.”
Por que tantos cristãos hesitam quando são convidados para trabalhar na igreja? Existe uma tensão singular entre reconhecer a importância da obra de Deus e efetivamente se envolver nela. Talvez seja o medo do desconhecido, a sensação de inadequação, ou simplesmente a preferência pelo conforto da passividade espiritual.
Paulo encerra sua grandiosa discussão sobre a ressurreição em 1 Coríntios 15 com um imperativo surpreendente: trabalhem na obra do Senhor, pois esse trabalho não é vão. Mas o que torna esse trabalho na igreja tão significativo aos olhos de Deus?
“Não há trabalho melhor que aquele que fazemos para Deus, nem recompensa maior que a aprovação divina.” Charles Hodge
O Contexto Histórico da Vocação ao Trabalho
A igreja primitiva enfrentava desafios únicos. Em uma sociedade greco-romana onde o trabalho manual era desprezado pela elite, os cristãos precisavam redefinir completamente o conceito de labor digno. Paulo, um fariseu educado que poderia ter vivido do prestígio acadêmico, escolheu fazer tendas para sustentar seu ministério.
Esta inversão de valores não era acidental. O evangelho transforma nossa compreensão sobre trabalho, especialmente sobre trabalhar na igreja. O que o mundo considera irrelevante – ensinar crianças, acolher visitantes, limpar o templo – Deus considera essencial para edificação do Seu reino.
“A igreja é a oficina de Deus, onde Ele molda os vasos que usará para Sua glória.” João Calvino
Obediência Como Fundamento. O trabalho na igreja fundamenta-se primariamente na obediência a Deus, não em nossa disposição emocional. Somos servos (douloi) de Cristo – uma palavra que implica pertencimento total e submissão voluntária. Esta obediência, porém, não é sisífica (esta palavra vem do personagem da mitologia grega Sísifo, e descreve uma tarefa que é inútil, ininterrupta e interminável), mas alegre, pois sabemos que “no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58)
Descoberta de Dons Espirituais. Efésios 4.7-8 revela que Cristo, em sua ascensão, “deu dons aos homens”. Estes dons (charismata) não são meras habilidades naturais, mas capacitações sobrenaturais para edificação da igreja. Trabalhar na igreja torna-se o laboratório onde descobrimos como Deus nos moldou para servi-Lo.
“Os dons espirituais são as ferramentas que Deus coloca em nossas mãos, mas só descobrimos como usá-las quando nos dedicamos à obra.” John Piper
Reciprocidade da Bênção. O trabalho na igreja estabelece um ciclo virtuoso: servindo, tornamo-nos “alvo e canal de bênção”. Deus nos abençoa com conhecimento, consagração e responsabilidade, transformando-nos em instrumentos para edificação dos irmãos (Ef 4.12). Esta é a economia paradoxal do reino: dando, recebemos; servindo, somos servidos.
Educação Contínua na Fé. Efésios 4.13 aponta para o objetivo final: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Trabalhar na igreja não é apenas sobre fazer tarefas, mas sobre crescimento espiritual contínuo.
“A igreja é simultaneamente escola e hospital: aprendemos enquanto curamos, ensinamos enquanto somos transformados.” Dietrich Bonhoeffer
O Amadurecimento Pela Prática
Efésios 4.14 adverte contra a imaturidade espiritual que nos deixa “como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina”. O trabalho na igreja oferece antídoto contra essa instabilidade: quando nos engajamos ativamente, descobrimos a complexidade das pessoas e situações, desenvolvendo paciência, sabedoria e compaixão.
Contrariando a mentalidade consumista que vê a igreja como prestadora de serviços, Efésios 4.15-16 revela que o crescimento da igreja depende de “todo o corpo”, não apenas da liderança. Cada membro contribui “segundo a justa operação de cada parte”, tornando-se corresponsável pelo desenvolvimento da comunidade de fé.
Trabalhar na igreja significa participar da história das pessoas. Filipenses 1.3-5 expressa a gratidão de Paulo pelos filipenses que participaram de sua obra. Professores de Escola Dominical, líderes de jovens, diáconos e voluntários deixam impressões duradouras nas vidas que tocam.
Quando Deus nos convoca através de seus instrumentos, eleição, nomeação, convite pastoral, o chamado é genuinamente divino. Recusar pode significar perder a oportunidade de participar dos propósitos eternos de Deus.
E Agora, Como Viveremos?
Examine seu coração: há algum convite para trabalhar na igreja que você tem resistido? Algum dom que Deus lhe deu mas você tem mantido inativo por medo ou comodismo? Lembre-se de que trabalhar na igreja não é sobre suas qualificações, mas sobre a fidelidade de Deus que opera através de vasos disponíveis.
Comece pequeno, mas comece. Seja abundante na obra do Senhor, sabendo que seu trabalho nunca será em vão. A igreja precisa de você, mas mais importante: você precisa do crescimento que vem através do serviço dedicado ao corpo de Cristo.
Quando a igreja o chama, é o próprio Cristo estendendo Suas mãos perfuradas, convidando você a participar da continuação de Sua obra redentora no mundo.
Oremos
Senhor Jesus, Tu que chamaste pescadores comuns para serem Teus apóstolos, chama-nos também para trabalhar em Tua igreja. Perdoa nossa hesitação, nossos medos infundados e nossa tendência ao comodismo espiritual. Capacita-nos a reconhecer que trabalhar em Tua igreja é privilégio, não fardo. Ajuda-nos a descobrir os dons que graciosamente nos concedeste, e dá-nos coragem para usá-los na edificação dos irmãos. Que possamos ser fiéis na obra, sabendo que nosso trabalho não é vão quando feito para Tua glória. Molda-nos através do serviço, amadurece-nos através das responsabilidades, e usa-nos como instrumentos de Tua graça na vida de outros. Em Teu santo nome oramos. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
Leia também:
- COMO É O CÉU?
- Rogai ao Senhor da Seara: A Urgência da Oração Missionária
- Qual o Papel da Igreja?
- Jonathan Edwards – RESOLUÇÃO 19: Fidelidade
- Jonathan Edwards – RESOLUÇÃO 18: Vida Piedosa
- RESOLUÇÃO 17 – Vida Cristã
- AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

