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Bíblia, História da Igreja  e Teologia Reformada.

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Descubra como a oração perseverante glorifica a Deus e traz alegria plena. Uma lição profunda sobre orar sem cessar conforme Jesus ensinou.

LIÇÃO 13: ORAR SEMPRE E SEM DESANIMAR

Posted on 24 de julho de 202513 de agosto de 2025 By Reginaldo 1 comentário em LIÇÃO 13: ORAR SEMPRE E SEM DESANIMAR

Texto Bíblico Base: Mateus 6:5-15.
Texto Áureo: 1 Tessalonicenses 5.17. “Orai sem cessar.” ()

TEXTOS BÍBLICOS COMPLEMENTARES

  • Lucas 18:1-8: “Jesus lhes contou uma parábola para mostrar que eles deviam orar sempre e nunca desanimar: ‘Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus nem respeitava ninguém. Havia também naquela cidade uma viúva que sempre o procurava para dizer: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário!’ Por algum tempo ele não quis, mas depois disse a si mesmo: ‘Ainda que eu não tema a Deus nem respeite ninguém, todavia, como esta viúva me importuna, farei justiça a ela, para que, por fim, não venha a me importunar de vez.’’ Então o Senhor acrescentou: ‘Ouçam o que diz esse juiz iníquo. Será, então, que Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite, embora pareça demorar em responder-lhes? Digo a vocês que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando o Filho do Homem vier, será que vai encontrar fé na terra?'”
  • 1 Tessalonicenses 5:17: “Orem continuamente.”
  • Salmo 51:17: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração quebrantado e contrito, ó Deus, não o desprezarás.”
  • Filipenses 4:6-7: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e pela súplica, com ações de graças, apresentem os seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.”
  • Tiago 5:16: “Confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que sejam curados. A oração feita por um justo é poderosa e muito eficaz.”
  • Romanos 8:26-27: “Do mesmo modo, o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.”
  • Hebreus 4:16: “Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça para nos ajudar no momento da necessidade.”

Explicação do Texto Básico – Mateus 6:5-15

1. Contexto Histórico e Bíblico

O ensino de Jesus sobre a oração está inserido no Sermão do Monte, pronunciado durante o período de seu ministério público na Galileia. Jesus se dirige a seus discípulos e às multidões que o seguiam, estabelecendo os princípios fundamentais do Reino dos Céus. A situação religiosa da época era marcada pela ostentação farisaica, onde práticas piedosas como beneficência e oração haviam se tornado espetáculos públicos para demonstração de religiosidade.

No contexto bíblico imediato, Jesus acabara de abordar a questão da beneficência (vv. 1-4), estabelecendo o princípio geral de que as práticas religiosas devem ser realizadas em secreto, não para serem vistas pelos homens. A sequência natural leva à oração (vv. 5-15) e depois ao jejum (vv. 16-18), formando uma tríade de disciplinas espirituais fundamentais no judaísmo.

Dentro do propósito maior do Evangelho de Mateus, este texto contribui para demonstrar que Jesus não veio abolir a Lei, mas cumpri-la, apresentando uma justiça superior à dos escribas e fariseus (5:20). A oração do Pai Nosso representa o coração desta nova perspectiva, onde a relação filial com Deus substitui o formalismo religioso.

2. Termos Relevantes no Texto

O termo “tameion” refere-se literalmente à câmara de suprimentos, o recinto mais secreto da casa palestina, único cômodo que podia ser trancado e que não possuía janelas. Esta palavra carrega significado teológico profundo, representando não apenas um local físico, mas um estado de intimidade exclusiva com Deus.

A palavra “crypta” significa “em secreto” ou “escondido”, enfatizando a natureza privada e íntima da verdadeira oração. Este termo contrasta diretamente com a prática pública dos fariseus.

O verbo “recompensar” significa literalmente “devolver o que se recebeu” ou “saldar uma dívida”. Esta terminologia comercial revela que Deus considera a oração como um presente do fiel para Ele, o qual Ele retribui de maneira divina.

O termo “battalogeo” descreve a repetição vã e irrefletida de palavras, criticando não a oração longa e fervorosa, mas a verbosidade supersticiosa que buscava constranger Deus através da quantidade de palavras.

3. Expressões Relevantes no Texto

A expressão “Pai nosso, que estás nos céus” combina intimidade filial com reverência sagrada. O uso de “Pai” como nome originário de Deus para os discípulos representa uma inovação revolucionária em relação ao judaísmo, onde “Iavé” aparecia 27 vezes na oração das 18 petições, “Deus” 13 vezes, e “Pai” apenas 2 vezes.

A construção “assim como nós temos perdoado” está no tempo perfeito, indicando uma ação já completada. Isto significa que o perdão ao próximo deve preceder o pedido de perdão a Deus, estabelecendo uma condição prévia para a oração eficaz.

A expressão “pão nosso de cada dia” apresenta o termo “epiousion”, que pode significar tanto “para o dia vindouro” quanto “necessário para a existência”. Esta ambiguidade textual revela a natureza dia-a-dia da dependência de Deus.

4. Aspectos Geográficos Relevantes

A referência ao “quarto” (tameion) reflete a arquitetura típica da casa palestina, onde apenas a câmara de suprimentos possuía porta com tranca e não tinha janelas, sendo o local mais reservado da residência. Esta realidade geográfica e arquitetônica serve como metáfora perfeita para a intimidade requerida na oração.

As “ruas” e “sinagogas” mencionadas como locais inadequados para a oração ostensiva eram os espaços públicos onde os fariseus praticavam sua religiosidade performática. A sinagoga, embora lugar legítimo de culto comunitário, não deveria ser palco de exibicionismo religioso.

A menção aos “céus” como morada do Pai estabelece a dimensão transcendente de Deus, equilibrando a intimidade filial com a reverência devida ao Criador. Esta localização celestial impede que a familiaridade com Deus se transforme em irreverência.

5. Contexto Literário e Canônico

O texto se insere perfeitamente no fluxo argumentativo do Sermão do Monte, onde Jesus apresenta uma justiça superior através do contraste entre a prática religiosa externa e a realidade interior do Reino. A sequência beneficência-oração-jejum forma uma unidade temática sobre a piedade autêntica.

As conexões intertextuais são significativas: a oração do Pai Nosso ecoa temas centrais do Antigo Testamento, como a santificação do nome divino (Ezequiel 36:23), a vinda do Reino (Daniel 2:44), e o perdão de dívidas (Jubileu em Levítico 25). A referência à tentação conecta-se com as narrativas de provação desde Gênesis até as tentações de Jesus no deserto.

O paralelismo com Lucas 11:2-4 mostra variações menores que confirmam a substância do ensino, enquanto as diferenças revelam a adaptação da mensagem para contextos específicos.

6. Sentido Original e Destinatários

Para os discípulos originais, este ensino representava uma ruptura radical com a tradição religiosa estabelecida. A prática judaica exigia três recitações diárias da oração das 18 petições (970 palavras), duas recitações do Shemá com suas introduções e finalizações litúrgicas, além de orações de mesa e doxologias constantes.

O impacto original era devastador: Jesus propunha uma oração de apenas 57 palavras (no grego) em contraste com o sistema complexo e verborrágico do judaísmo. A simplicidade, intimidade e brevidade do Pai Nosso chocavam uma mentalidade que associava eficácia da oração com quantidade de palavras e elaboração ritual.

Para os ouvintes judeus, a permissão de chamar Deus de “Pai” de forma direta e pessoal era revolucionária, pois este privilégio era raro e restrito no Antigo Testamento. A ênfase no perdão mútuo como condição para o perdão divino desafiava conceitos tradicionais de justiça retributiva.

7. Teologia e Simbolismo

O texto revela temas doutrinários fundamentais sobre a natureza da oração autêntica. A oração não é um meio mágico de constranger Deus, mas diálogo filial baseado em confiança e intimidade. O simbolismo do “quarto secreto” representa não apenas um local físico, mas um estado espiritual de comunhão exclusiva com Deus.

A paternidade divina emerge como conceito central, transformando a relação entre Deus e o crente de servo-senhor para filho-pai. Esta mudança paradigmática fundamenta toda a teologia neotestamentária da salvação pela graça.

O perdão recíproco revela a indissolúvel conexão entre relacionamento vertical (com Deus) e horizontal (com o próximo). A impossibilidade de receber perdão divino sem perdoar ao próximo estabelece um princípio fundamental da ética cristã.

A providência divina manifesta-se na petição pelo pão diário, ensinando dependência cotidiana de Deus e contentamento com o necessário, rejeitando tanto a ansiedade quanto a ganância.

8. Aspectos Sociais e Culturais

A cultura judaica do primeiro século estava saturada de religiosidade performática. Os horários fixos de oração (manhã, meio-dia e noite) criavam oportunidades para exibição pública da piedade. A prática de parar na rua para orar, embora cumprisse formalmente o dever religioso, transformava-se em teatro espiritual.

A estrutura social hierárquica da época valorizava a honra pública e o reconhecimento social. Os fariseus, como líderes religiosos, utilizavam as práticas piedosas para manter e ampliar seu prestígio social. Jesus ataca diretamente este sistema ao propor a oração secreta.

O conceito de dívida e perdão refletia realidades econômicas concretas da sociedade antiga, onde o não pagamento de dívidas resultava em severas punições, incluindo escravidão. A transferência desta linguagem comercial para a esfera espiritual tornava o ensino imediatamente compreensível.

A menção ao “diarista” – aquele que compra pão diariamente do padeiro – revela a realidade social da maioria da população, que vivia “da mão para a boca”. Esta referência torna a petição pelo pão diário profundamente relevante para pessoas que experimentavam insegurança alimentar constante.

A cultura do perdão era restrita e condicional na antiguidade. A proposta de perdoar “setenta vezes sete” (Mateus 18:22) contrariava expectativas sociais de justiça retributiva, estabelecendo uma ética revolucionária de amor incondicional.

Introdução

Em dezembro de 2023, uma reportagem do jornal The Guardian revelou que a prática da oração havia experimentado um ressurgimento notável durante os anos de pandemia global. Segundo a pesquisa, mesmo entre os não religiosos, 40% das pessoas relataram ter orado durante momentos de crise. Contudo, a maioria dessas orações eram esporádicas, desesperadas – gritos lançados ao vazio em momentos de desespero, não a disciplina constante e confiante que Jesus ordenou a seus discípulos.

Esta realidade contemporânea nos confronta com uma pergunta incômoda: por que nossa geração, tão conectada e informada, parece ter perdido a arte da oração perseverante? Por que aquilo que Jesus considerou tão essencial tornou-se para muitos uma prática ocasional, quase supersticiosa?

A resposta encontra-se na natureza mesma da oração conforme Jesus a ensinou. Não se trata de uma técnica de emergência espiritual, mas de um modo de vida – uma respiração constante da alma que reconhece sua dependência absoluta de Deus. Jesus não apenas ensinou sobre a oração; ele a viveu de forma exemplar, levantando-se de madrugada para orar, buscando momentos de solitude com o Pai e, mesmo na agonia do Getsêmani, mantendo-se em comunhão constante com Deus.

O mandamento “orai sem cessar” não é uma sugestão pastoral, mas uma ordem divina que revela tanto a natureza de Deus quanto nossa condição humana. É um convite para entrarmos numa dança cósmica onde a glória de Deus e nossa alegria se encontram numa harmonia perfeita. Quando Jesus nos ensina a orar, ele não está apenas nos dando uma ferramenta espiritual; está nos convidando para o próprio coração da realidade – um universo onde a oração é tanto o meio quanto o fim, tanto a jornada quanto o destino.

I. A Dupla Finalidade da Oração: Glória Divina e Alegria Humana

A oração foi planejada por Deus para manifestar tanto a plenitude dele quanto nossa necessidade. A oração glorifica a Deus porque nos posiciona como sedentos e coloca Deus na posição de fonte que sacia nossa sede. João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã.

Existe uma estranha alquimia na oração cristã que desafia nossa compreensão moderna. Vivemos numa cultura que insiste em dicotomias: ou algo é bom para Deus ou é bom para nós. Contudo, Jesus revela que a oração serve simultaneamente a dois propósitos aparentemente contraditórios: a glória de Deus e nossa alegria plena. Esta não é uma coincidência feliz, mas o design intencional de um Deus que arquitetou o universo de tal forma que sua glória e nossa alegria convergem no ato da oração.

A oração não é tanto para informar a Deus sobre nossas necessidades quanto para nos lembrar de que precisamos da ajuda divina. Ela nos exercita na piedade e nos prepara para receber seus benefícios com gratidão. Além disso, a oração nos convida a meditar em suas obras e a louvá-lo por sua bondade enquanto nossa consciência é instigada por tal meditação. João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã.

Esta compreensão calvinista revela que a oração não é primariamente utilitária, mas doxológica. Não oramos porque Deus precise de informações, mas porque precisamos ser constantemente lembrados de nossa dependência. A oração, portanto, é um exercício de humildade que simultaneamente exalta a Deus e nos liberta da ilusão de autossuficiência.

A convergência entre glória divina e alegria humana na oração encontra seu paralelo na literatura universal. Em Paraíso Perdido, John Milton retrata Adão e Eva em seu estado original, onde a oração não era obrigação, mas deleite natural. Milton escreve:

Humildemente se curvaram em adoração e começaram
Suas orações, cada manhã devidamente oferecida
Em estilos diversos, pois nem estilo variado
Nem santo arrebatamento lhes faltavam para louvar
Seu Criador, com cânticos ou falas apropriadas,
Sem premeditação — tamanha eloquência pronta
Jorrava de seus lábios, em prosa ou verso ritmado.

Milton captura poeticamente aquilo que Jesus ensinou teologicamente: a oração genuína flui naturalmente de um coração que reconhece sua posição diante de Deus. Não é performance, mas expressão autêntica de uma relação onde a dependência não é humilhação, mas libertação.

Quando Jesus declara: “Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa” (João 16.24), ele está revelando que nossa alegria não é um efeito colateral da oração, mas seu propósito divino. Deus não é um soberano relutante que precisa ser persuadido a nos abençoar; ele é um Pai que se deleita em atender aos pedidos de seus filhos. A oração, portanto, não é um exercício para vencer a resistência divina, mas para alinhar nosso coração com o coração generoso de Deus.

Esta dupla finalidade da oração desafia nossas noções contemporâneas sobre espiritualidade. Numa era onde a busca pela felicidade pessoal muitas vezes se divorcia da reverência a Deus, Jesus nos mostra que não precisamos escolher entre nossa alegria e a glória de Deus. Na verdade, uma sem a outra é impossível. Nossa alegria verdadeira só pode ser encontrada quando Deus é glorificado, e Deus é glorificado quando seus filhos encontram nele sua alegria suprema.

II. A Simplicidade da Oração Perseverante

A oração cristã vive numa tensão criativa entre simplicidade e perseverança. Jesus nos ensina que devemos orar com palavras simples, rejeitando as “vãs repetições” dos pagãos, mas também nos exorta a orar “sempre e nunca desanimar”. Esta aparente contradição revela a natureza paradoxal da oração: ela é ao mesmo tempo simples o suficiente para uma criança e profunda o suficiente para sustentar uma vida inteira de busca por Deus.

A simplicidade da oração não deve ser confundida com superficialidade. Quando Jesus nos adverte contra as “vãs repetições”, ele não está condenando toda repetição, mas a repetição vazia – aquela que imagina que Deus pode ser manipulado pela eloquência ou pela insistência mecânica. A verdadeira simplicidade na oração surge da confiança de que Deus é nosso Pai, que conhece nossas necessidades antes mesmo de pedirmos.

Quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem. R.C. Sproul, A Oração do Senhor.

A oração não é um ritual mágico onde as palavras certas nas sequências certas produzem resultados automáticos. Deus não é um computador cósmico que responde apenas quando digitamos o código correto. Ele é nosso Pai celestial que se deleita em ouvir até mesmo as orações mais simples e desajeitadas de seus filhos, porque está interessado no coração, não na performance. R.C. Sproul, A Oração do Senhor.

Esta compreensão liberta-nos da ansiedade de “orar corretamente” e nos convida a uma intimidade genuína com Deus. A simplicidade da oração é, paradoxalmente, uma das disciplinas mais difíceis de dominar, porque requer que abandonemos nossa tendência natural de impressionar a Deus com nossa eloquência ou espiritualidade.

Contudo, a simplicidade não elimina a necessidade de perseverança. Jesus conta parábolas específicas sobre a persistência na oração – o amigo importuno (Lucas 11.5-8) e a viúva persistente (Lucas 18.1-8) – para nos ensinar que algumas orações requerem paciência e constância. A perseverança na oração não é uma tentativa de vencer a resistência divina, mas um exercício de fé que reconhece que Deus sabe melhor que nós quando e como responder.

Não se canse de orar. Se sua oração é sincera, haverá sempre um sentimento novo nela, uma nova compreensão, que lhe dará coragem fresca, e você compreenderá que a oração é educação. Lembre-se também: cada dia, e sempre que puder, repita para si mesmo: “Senhor, tende piedade de todos os que hoje se apresentam diante de Vós.” Pois a cada hora e a cada momento milhares de pessoas deixam a vida neste mundo, e suas almas se apresentam diante de Deus. Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov.

Dostoiévski compreende que a perseverança na oração não é repetição mecânica, mas renovação constante. Cada oração é uma nova oportunidade de comunhão com Deus, uma nova chance de ver o mundo através de seus olhos e de alinhar nosso coração com o dele.

A perseverança na oração também nos ensina sobre a natureza do tempo na economia divina. Nossa cultura de gratificação instantânea encontra na oração perseverante um antídoto necessário. Aprendemos que algumas bênçãos requerem tempo para serem recebidas, não porque Deus é lento, mas porque nós precisamos ser preparados para recebê-las. A oração perseverante é, portanto, tanto petição quanto preparação.

A oração é menos sobre conseguir que Deus faça o que queremos e mais sobre conseguir que nos tornemos quem Deus quer que sejamos. A perseverança na oração nos molda tanto quanto moldamos nossas petições. Somos transformados no processo de orar, preparados para receber aquilo que Deus sempre quis nos dar. Eugene Peterson. Uma Obediência Longa na Mesma Direção.

Esta perspectiva transforma nossa compreensão da oração não atendida. Não é necessariamente uma negação, mas uma preparação. Deus, em sua sabedoria, conhece não apenas o que pedimos, mas também quem somos e quem precisamos nos tornar para receber suas bênçãos de forma santa e proveitosa.

III. A Oração como Acesso ao Coração de Deus

A oração cristã não é apenas uma disciplina espiritual, mas um convite para entrarmos na própria intimidade da Trindade. Quando Jesus nos ensina a orar “em seu nome”, ele não está oferecendo uma fórmula mágica, mas um passaporte para o coração de Deus. A morte e ressurreição de Jesus removeram os obstáculos que nossos pecados criaram entre nós e Deus, tornando possível uma intimidade que de outra forma seria impensável.

Sem a morte de Jesus, nossos pecados não seriam perdoados, e a ira de Deus permaneceria sobre nós. Nessa condição, não poderíamos esperar nenhuma resposta de Deus. Jesus é, portanto, a base de todas as nossas orações.

Esta verdade é fundamental para compreendermos a natureza da oração cristã. Não oramos como estranhos implorando favores a um potentado distante, mas como filhos adotados que têm acesso garantido ao Pai através da obra mediadora de Jesus. A oração “em nome de Jesus” é o reconhecimento de que nossa confiança não reside em nossa própria justiça ou eloquência, mas unicamente na obra redentora de Cristo.

A oração é o resultado natural da comunhão com Deus. Quando a alma tem comunhão com Deus, ela naturalmente se expressa em oração. Não é tanto que oremos para ter comunhão com Deus, mas que, tendo comunhão com Deus, não podemos deixar de orar. A oração é a respiração da alma que vive em comunhão com Deus. John Owen, Da Comunhão com Deus.

Esta perspectiva transforma nossa compreensão da oração de obrigação para privilégio. Não oramos porque devemos, mas porque podemos. A oração torna-se não um dever pesado, mas uma liberdade gloriosa – a liberdade de entrar na presença de Deus sem medo, sabendo que somos aceitos e amados.

O conceito de orar “em nome de Jesus” também implica orar de acordo com o caráter e a vontade de Jesus. Não é uma chave mágica que nos permite pedir qualquer coisa, mas um alinhamento com os propósitos e valores do Reino de Deus. Jesus deixa isso claro quando diz: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (João 15.7).

A oração genuína requer alinhamento entre palavras, pensamentos e coração. Não podemos simplesmente manipular Deus com nossas palavras; devemos nos render à sua vontade e permitir que suas palavras moldem nossos desejos.

A oração com fé, como Jesus ensina, não é confiança em nossa própria confiança, mas confiança em Deus e em sua bondade. Quando Jesus nos ensina a “mover montanhas” pela fé, ele está nos mostrando que a verdadeira fé é fé em Deus, não fé em nossa fé. A oração com fé reconhece que Deus é tanto capaz quanto disposto a nos ajudar, mas também reconhece que sua sabedoria é superior à nossa.

A oração com fé não significa que sempre receberemos exatamente o que pedimos da maneira que pedimos. Significa que confiamos que Deus nos ouvirá e nos responderá da maneira que é melhor para nós. A verdadeira fé na oração é como a fé de uma criança que pede algo ao pai: ela confia que o pai dará o que é melhor, mesmo que não seja exatamente o que foi pedido. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte.

Esta compreensão liberta-nos da ansiedade de “ter fé suficiente” para que nossas orações sejam atendidas. A fé não é um sentimento que devemos gerar, mas uma confiança tranquila na bondade e sabedoria de Deus. É a convicção de que Deus é melhor para nós do que nós mesmos somos.

IV. A Oração como Instrumento da Providência Divina

Uma das verdades mais misteriosas e reconfortantes sobre a oração é que Deus escolheu usar as orações humanas como instrumento de sua providência soberana. Jesus revela que devemos orar pelos obreiros da colheita, mesmo sabendo que o Reino de Deus triunfará inevitavelmente.

Deus planeja usar as orações dos homens para realizar seus propósitos absolutos e universais. […] Não há incertezas acerca do triunfo de Deus. Contudo, na providência de Deus esse triunfo depende da oração humana.

Esta verdade desafia tanto o fatalismo quanto a autonomia humana. Não somos marionetes cujas orações são irrelevantes, nem somos deuses cujas orações determinam o curso da história. Somos parceiros subordinados na obra de Deus, instrumentos conscientes em suas mãos soberanas.

Charles Spurgeon, o “Príncipe dos Pregadores”, em seus Sermões sobre a Oração, explica esta parceria divino-humana:

A oração é o elo entre a impotência humana e a onipotência divina. Deus poderia realizar sua obra sem nossas orações, mas escolheu não fazê-lo. Em sua sabedoria e graça, ele nos convida a sermos cooperadores na obra do Reino. Nossa oração não limita a Deus; ela o liberta para agir de maneiras que honram tanto sua soberania quanto nossa participação.

Esta compreensão transforma nossa visão da oração de passividade para parceria ativa. Não oramos simplesmente para receber bênçãos, mas para participar conscientemente da obra de Deus no mundo. Cada oração é um ato de cooperação com os propósitos divinos, uma declaração de que escolhemos nos alinhar com o que Deus está fazendo.

O Pai-nosso exemplifica esta parceria. Quando oramos “santificado seja o teu nome”, não estamos pedindo que Deus se torne santo, mas que sua santidade seja reconhecida e honrada no mundo. Nossa oração torna-se um instrumento pelo qual Deus desperta corações para reconhecer sua gloria. Quando oramos “venha o teu Reino”, não estamos informando Deus sobre nossa preferência política, mas nos tornando instrumentos de sua vontade transformadora.

Há algo quixotesco na oração cristã – a disposição de participar numa obra maior que nós mesmos, mesmo quando o mundo ao nosso redor parece não compreender ou valorizar nossos esforços. Como Dom Quixote, o cristão que ora reconhece uma realidade que transcende as aparências imediatas.

A oração também nos ensina sobre a natureza do tempo na economia divina. Deus não está limitado pelo tempo como nós estamos. Nossas orações hoje podem ser instrumentos de sua obra amanhã ou podem ter sido instrumentos de sua obra antes mesmo de nascermos. Esta perspectiva eterna transforma nossa compreensão da oração não atendida e nos convida a uma confiança mais profunda na sabedoria divina.

Jonathan Edwards, em Uma Defesa da Oração, observa:

A oração é um meio ordenado por Deus para a obtenção de bênçãos. Não é que Deus não possa dar bênçãos sem oração, mas que ele escolheu dar muitas bênçãos através da oração. A oração é parte do plano eterno de Deus, não uma interrupção desse plano. Quando oramos, estamos cumprindo nosso papel no decreto eterno de Deus.

Conclusão

A oração, como Jesus nos ensina, é simultaneamente a disciplina mais simples e mais complexa da vida cristã. É simples porque requer apenas que abramos nosso coração diante de Deus como crianças confiantes; é complexa porque nos coloca no centro do mistério da providência divina e da responsabilidade humana.

O mandamento de “orar sempre e nunca desanimar” não é um fardo adicional para cristãos já sobrecarregados, mas um convite para descobrir que a oração é o próprio meio pelo qual a vida cristã se torna não apenas possível, mas deleitosa. É na oração que descobrimos que a glória de Deus e nossa alegria não são objetivos competitivos, mas aspectos complementares de uma única realidade.

Quando nos aproximamos da oração com a simplicidade de uma criança, a perseverança de um agricultor, a confiança de um filho e a parceria de um cooperador, descobrimos que não estamos apenas falando com Deus – estamos participando da própria vida de Deus. A oração torna-se não apenas nossa disciplina, mas nossa dádiva; não apenas nossa obrigação, mas nossa alegria.

Que possamos, portanto, orar sem cessar, não como uma rotina religiosa, mas como a respiração natural de almas que encontraram em Deus sua fonte, seu propósito e seu destino eterno. Pois, como Jesus nos ensina, na oração descobrimos que o céu não é apenas nosso destino futuro, mas nossa realidade presente – um lugar onde a vontade de Deus é feita, onde seu nome é santificado, e onde sua glória e nossa alegria se encontram numa dança eterna de amor.

Conclusão

No verão de 1921, em meio às ruínas da Primeira Guerra Mundial, um jovem soldado alemão chamado Friedrich Weiss retornou para casa carregando não apenas as cicatrizes físicas da batalha, mas uma descoberta que transformaria sua vida. Durante os longos meses nas trincheiras de Verdun, enquanto o mundo ao seu redor desmoronava em caos e morte, Friedrich havia descoberto algo que nenhuma guerra poderia destruir: a prática da oração constante. Em seu diário, encontrado décadas depois, ele escreveu: “Quando as bombas caíam ao meu redor, aprendi que a oração não era um refúgio da realidade, mas a única realidade que permanecia intacta em meio ao colapso de todas as outras”.

Esta descoberta de Friedrich ecoa através dos séculos como um testemunho da verdade que Jesus ensinou: a oração perseverante não é meramente uma disciplina espiritual, mas a própria estrutura sobre a qual a vida cristã é construída. É a respiração da alma que, uma vez estabelecida, não pode ser interrompida sem que a própria vida espiritual entre em colapso.

Quando contemplamos a trajetória de nossa reflexão sobre a oração constante, descobrimos que não estamos simplesmente aprendendo sobre uma técnica espiritual, mas sendo introduzidos ao mistério mais profundo da existência cristã. A oração perseverante revela que fomos criados para uma dança onde nossos corações se movem em harmonia com o coração de Deus, onde nossa sede mais profunda encontra sua fonte inesgotável, onde nossa fragilidade humana se torna o próprio instrumento da glória divina.

João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, captura esta realidade transformadora quando observa:

“A oração é o principal exercício da fé, pelo qual nós diariamente recebemos os benefícios de Deus. Pois ela escava do coração aqueles desejos que estão diante de Deus, e os coloca diante de seus olhos, e de certa forma os apresenta a ele para inspeção. Ela nos alivia da ansiedade, na qual estaríamos atormentados, e nos tranquiliza ao nos colocar sob a proteção divina. Além disso, qualquer coisa que nossa mente tenha concebido, ou nossa vontade determinado, ou nossas mãos empreendido, ela consagra ao Senhor.”

Esta compreensão calvinista revela que a oração não é um adendo à vida cristã, mas seu próprio núcleo. É o meio pelo qual toda a existência – pensamentos, desejos, ações – é transformada de mera atividade humana em adoração consagrada. A oração perseverante torna-se, assim, não apenas o que fazemos, mas quem somos.

O paradoxo da simplicidade e profundidade da oração encontra sua expressão mais bela no próprio Jesus. Ele que conhecia os mistérios mais profundos do universo, que compreendia a complexidade da providência divina e os meandros da redenção humana, nos ensina a orar com palavras tão simples que uma criança pode compreender: “Pai nosso que estás nos céus”. Esta simplicidade, contudo, não diminui a profundidade da oração; ela a revela. É precisamente porque a oração toca o coração de Deus que ela pode ser expressa na linguagem mais elementar da confiança filial.

Em Os Irmãos Karamázov, Dostoiévski, através da voz do padre Zossima, nos oferece uma visão profunda sobre esta simplicidade transformadora:

“A oração é educação. Não se canse de orar. Se sua oração é sincera, haverá sempre um sentimento novo nela, uma nova compreensão, que lhe dará coragem fresca. Não se preocupe com a imperfeição de sua oração. A oração é uma conversa com Deus, e como toda conversa genuína, ela cresce e se desenvolve. O que importa não é a eloquência de suas palavras, mas a sinceridade de seu coração. Deus prefere uma oração simples e genuína a mil orações elaboradas sem vida.”

Dostoiévski compreende que a oração perseverante não é repetição mecânica, mas crescimento dinâmico. Cada vez que nos voltamos para Deus, nos tornamos ligeiramente diferentes do que éramos antes. A oração nos forma tanto quanto formamos nossas petições. Somos esculpidos no processo de orar, preparados para nos tornarmos aquilo que Deus sempre pretendeu que fôssemos.

A descoberta mais revolucionária de nossa jornada através da oração perseverante é que ela não é primariamente sobre mudar as circunstâncias externas, mas sobre participar da própria vida de Deus. Quando oramos “sem cessar”, entramos numa intimidade com a Trindade que transcende nossas necessidades imediatas e nos conecta com os propósitos eternos de Deus. A oração torna-se não apenas o meio pelo qual pedimos ajuda, mas o próprio meio pelo qual vivemos em comunhão com Deus.

Esta verdade transforma nossa compreensão da oração não atendida. Descobrimos que nem toda oração é respondida da maneira que esperamos, mas toda oração sincera é incorporada nos propósitos de Deus. Nossa oração não é um esforço para convencer um Deus relutante, mas uma participação nos planos de um Deus que já está trabalhando para nosso bem supremo.

William Shakespeare, em Hamlet, através dos dilemas de seu protagonista, captura a tensão entre o desejo humano e a submissão divina:

“Ser ou não ser, eis a questão:
Será mais nobre em nosso espírito sofrer
As flechas e dardos de um destino ultrajante,
Ou insurgir-se contra um mar de provações
E, enfrentando-as, dar-lhes fim?”

Shakespeare intuiu que a vida humana é uma constante negociação entre ação e aceitação, entre nossos desejos e as circunstâncias que não podemos controlar. A oração perseverante oferece uma alternativa muito mais elevada: nem passividade resignada nem ativismo frenético, mas participação confiante na obra de Deus, sabendo que ele está trabalhando todas as coisas para o bem daqueles que o amam mesmo quando não somos capazes de perceber o movimento de sua mão invisível.

Orar “sem cessar” não é um fardo impossível, mas uma liberdade gloriosa. É a liberdade de viver em constante comunhão com Deus, de encontrar em cada momento uma oportunidade de adoração, de transformar cada respiração em um ato de dependência confiante. A oração perseverante revela que não fomos criados para a autonomia, mas para a dependência alegre; não para a autossuficiência, mas para a comunhão transformadora.

Aplicação Prática

A transformação que a oração perseverante promove em nossa vida não é um evento único, mas um processo contínuo que remodela nossa existência do interior para o exterior. Quando Jesus nos ordena “orai sem cessar”, ele não está simplesmente nos dando uma nova tarefa espiritual, mas nos convidando para uma nova maneira de existir – uma vida onde cada pensamento, cada decisão, cada relacionamento é filtrado através da consciência constante da presença de Deus.

A renovação da mente, que Paulo descreve como essencial para a transformação cristã, encontra na oração perseverante um instrumento poderoso. Nossa mente, naturalmente inclinada para a ansiedade, o controle e a autossuficiência, é gradualmente reconfigurada através da prática constante da oração. Começamos a ver as circunstâncias não como ameaças à nossa segurança, mas como oportunidades para experimentar a fidelidade de Deus. Os problemas deixam de ser obstáculos intransponíveis e se tornam convites para uma dependência mais profunda.

Esta renovação mental manifesta-se primeiro em nossa maneira de processar as preocupações diárias. Onde antes reagíamos com ansiedade, agora respondemos com oração. Onde antes buscávamos controle, agora buscamos confiança. A oração perseverante nos ensina que não somos responsáveis por controlar todas as variáveis da vida, mas somos responsáveis por manter nosso coração conectado com Deus em meio a todas as circunstâncias.

Eugene Peterson, em Uma Obediência Longa na Mesma Direção, oferece uma perspectiva prática sobre esta transformação:

“A oração é menos sobre conseguir que Deus faça o que queremos e mais sobre conseguir que nos tornemos quem Deus quer que sejamos. É um processo lento e às vezes doloroso, mas é o único caminho para a verdadeira maturidade espiritual. A oração perseverante nos ensina paciência – não apenas paciência com Deus, mas paciência com nós mesmos e com o processo de crescimento que ele está realizando em nós.”

Peterson compreende que a oração não é apenas um meio de comunicação com Deus, mas um meio de formação espiritual. Cada momento de oração é uma oportunidade para que o Espírito Santo trabalhe em nosso caráter, moldando-nos à imagem de Cristo. A transformação não acontece apenas quando nossas orações são “respondidas”, mas no próprio processo de orar.

A mudança de comportamento que flui da oração perseverante é radical, mas raramente dramática. É mais como o crescimento de uma árvore – quase imperceptível no dia a dia, mas inegável quando observado ao longo do tempo. Descobrimos que nossa resposta natural às provocações é mais paciente, nossa reação às decepções é mais esperançosa, nossa atitude em relação aos outros é mais compassiva. Estas mudanças não são resultados de esforço próprio, mas frutos naturais de uma vida vivida em constante comunhão com Deus.

A oração perseverante também transforma nossos relacionamentos de maneira profunda. Quando vivemos em constante consciência da presença de Deus, começamos a ver os outros não como obstáculos para nossa felicidade ou ferramentas para nosso sucesso, mas como pessoas amadas por Deus, cada uma carregando sua própria história de dor e esperança. Esta perspectiva transforma nossa maneira de interagir – tornamo-nos mais lentos para julgar e mais rápidos para amar, mais inclinados a perdoar e menos inclinados a retaliar.

No casamento, a oração perseverante ensina os cônjuges a ver os conflitos como oportunidades de crescimento conjunto, não como batalhas a serem vencidas. Nos relacionamentos familiares, ela nos ensina a honrar os pais e nutrir os filhos com paciência divina, não apenas com força humana. No trabalho, ela nos capacita a servir com excelência, não para impressionar os homens, mas para glorificar a Deus. Na igreja, ela nos liberta da necessidade de competir ou impressionar, permitindo-nos servir com humildade genuína.

As ações piedosas no cotidiano fluem naturalmente de um coração moldado pela oração constante. Não são performances religiosas, mas expressões autênticas de uma vida transformada. A generosidade deixa de ser um dever pesado e se torna uma alegria espontânea. O serviço aos necessitados não é mais uma obrigação moral, mas uma resposta natural à bondade que experimentamos de Deus. A evangelização não é mais um programa a ser cumprido, mas um transbordamento natural de uma vida que encontrou em Deus sua fonte de alegria.

Victor Hugo, em Os Miseráveis, através da transformação de Jean Valjean, demonstra como a graça experimentada pode transformar não apenas um indivíduo, mas toda a sua maneira de interagir com o mundo:

“O poder do bispo sobre Jean Valjean foi completamente inexplicável para ele. Ele havia conhecido apenas julgamento, condenação e dureza. Mas agora, pela primeira vez, alguém havia escolhido ver não o que ele tinha feito, mas o que ele poderia se tornar. Esta visão da graça não apenas mudou seu comportamento; mudou sua identidade. Ele não era mais um ex-presidiário tentando ser bom; ele era um homem novo, criado pela misericórdia.”

Hugo compreende que a transformação genuína não é modificação de comportamento, mas renovação de identidade. A oração perseverante opera esta mesma transformação em nós – não nos ensina apenas a agir diferentemente, mas nos revela quem realmente somos em Cristo.

A aplicação prática da oração perseverante também inclui a formação de hábitos concretos que sustentam esta vida de comunhão constante. Isto pode incluir momentos específicos de oração durante o dia – ao acordar, antes das refeições, antes de dormir – que servem como âncoras espirituais em meio às demandas da vida moderna. Pode incluir a prática de “orações relâmpago” – breves momentos de comunhão com Deus em meio às atividades diárias, transformando tarefas rotineiras em oportunidades de adoração.

A esperança cristocêntrica que caracteriza a oração perseverante nos capacita a enfrentar as incertezas da vida com confiança inabalável. Não porque temos garantias sobre nosso futuro temporal, mas porque temos certeza sobre nosso destino eterno. Esta esperança não é otimismo ingênuo, mas confiança fundamentada na fidelidade de Deus demonstrada na cruz e ressurreição de Jesus.

Quando enfrentamos doenças, perdas, fracassos ou decepções, a oração perseverante nos ensina a processar estas experiências através do filtro da eternidade. Não minimizamos a dor ou fingimos que não existe, mas a colocamos no contexto mais amplo dos propósitos redentivos de Deus. Descobrimos que mesmo nossos sofrimentos podem ser transformados em instrumentos de crescimento espiritual e oportunidades para experimentar a consolação divina de maneiras mais profundas.

A exortação pastoral que flui desta compreensão é tanto desafiadora quanto reconfortante. Desafiadora porque nos chama a abandonar nossa ilusão de controle e nossa dependência de recursos meramente humanos. Reconfortante porque nos assegura que não estamos sozinhos em nossas lutas e que temos acesso direto ao coração de Deus através da oração.

Assim, que nossa vida se torne uma oração viva, onde cada respiração é uma confissão de dependência, cada ação é uma expressão de fé, e cada relacionamento é uma oportunidade de refletir a graça que recebemos. Pois na oração perseverante descobrimos não apenas como falar com Deus, mas como viver com Deus, não apenas como pedir suas bênçãos, mas como participar de sua própria vida, encontrando nele não apenas nossa fonte de ajuda, mas nossa fonte de alegria eterna.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Leia também:

  • LIÇÃO 13: ORAR SEMPRE E SEM DESANIMAR
  • LIÇÃO 12: EM ESPÍRITO E EM VERDADE
  • LIÇÃO 11: TENHAM MEDO
  • LIÇÃO 10: AMAR A DEUS COMPLETAMENTE
  • LIÇÃO 09: Bem-aventurados os perseguidos por Cristo
  • LIÇÃO 08: Tomar a Cruz e Seguir a Cristo

Referências Bibliográficas

📖 Literatura Cristã:

  • João Calvino. Institutas da Religião Cristã. Editora Cultura Cristã, 2006. 1.248 páginas.
  • R.C. Sproul. A Oração do Senhor. Editora Cultura Cristã, 2010. 192 páginas.
  • Eugene Peterson. Uma Obediência Longa na Mesma Direção. Editora Textus, 2005. 256 páginas.
  • John Owen. Da Comunhão com Deus. Editora PES, 2010. 320 páginas.
  • Martyn Lloyd-Jones. Estudos no Sermão do Monte. Editora Fiel, 2013. 704 páginas.
  • Charles Spurgeon. Sermões sobre a Oração. Editora PES, 2012. 288 páginas.
  • Jonathan Edwards. Uma Defesa da Oração. Editora Monergismo, 2015. 144 páginas.

📚 Literatura Universal:

  • John Milton. Paraíso Perdido. Editora 34, 2015. 512 páginas.
  • Fiódor Dostoiévski. Os Irmãos Karamázov. Editora 34, 2013. 1.056 páginas.
  • William Shakespeare. Hamlet. Editora Penguin Classics, 2016. 320 páginas.
  • Victor Hugo. Os Miseráveis. Editora Zahar, 2012. 1.456 páginas.
  • Miguel de Cervantes. Dom Quixote. Editora Penguin Classics, 2003. 1.072 páginas.

Fontes Jornalísticas:

  • The Guardian. “Prayer during pandemic: Global survey reveals increased spiritual seeking.” 15 de dezembro de 2023.
Reginaldo

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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Meu nome é Reginaldo Soares, sou pastor presbiteriano desde 2000, nos últimos 21 anos pastoreando a IPB Engenheiro Pedreira. Espero poder compartilhar um pouco da boa Palavra de nosso Senhor Jesus Cristo com você.

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