“Princípios dos Cristãos Primitivos e seu Impacto Hoje”
Atos dos Apóstolos 17:6-7. “E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui; os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus.”
A diferença radical dos cristãos primitivos
A reação dos magistrados em Atos mostra o impacto dos cristãos no mundo antigo. Essa tensão entre a fé em Jesus como Rei e a ordem política revela o desafio espiritual e cultural dos primeiros seguidores. O testemunho da igreja primitiva não estava restrito a ritos externos, mas a uma transformação do coração que os colocava em meio à sociedade, mas não como parte do sistema vigente. Essa tensão vital nos convida a refletir: como o cristianismo moldava a vida do crente e a sociedade em torno dele? Por que isso é vital para nossa comunidade hoje?
“Os cristãos não vivem em cidades isoladas ou de sua exclusividade, não falam uma língua própria, nem praticam um modo de vida excêntrico.”
Epístola de Mathetes a Diogneto, séc. II d.C.
Aqui, uma primeira provocação para a igreja atual: somos conhecidos pelo que o mundo vê, ou pelo modo profundo como Cristo nos transforma em meio ao mundo?

Compreensão doutrinária da vida cristã no mundo
O documento histórico “EPÍSTOLA DE MATHETES A DIOGNETO”, provavelmente o exemplo mais antigo de apologética cristã, é um texto que defende o Cristianismo de seus acusadores. O autor e o destinatário, gregos, não são conhecidos, mas a linguagem e outras evidências textuais colocam a obra no final do século II d.C.
O texto de Atos 17 denuncia o poder transformador e disruptivo de proclamar Jesus “outro Rei”. Essa confissão implica uma lealdade que supera os decretos humanos. A vida dos cristãos primitivos, como revela a Epístola a Diogneto, é marcada pela presença no mundo — não por isolamento — com um testemunho silencioso, porém poderoso. Eles “moravam na terra, mas tinham a cidadania no céu” (Filipenses 3:20), repercutindo o ensino da Confissão de Westminster de que a igreja é “a comunhão dos santos”, unidos pela graça de Deus, que sustenta a santidade e a missão.
A prática da hospitalidade, amor sincero, cuidado mútuo e rejeição da violência — inclusive do infanticídio — revela uma comunidade alicerçada na ética do amor de Cristo (1 Pedro 4:8-9). Como destaca Herman Bavinck, “a Igreja é a possessão visível do Reino de Cristo nesta terra, vivendo diferentemente da carne, ainda que visível no mundo.”
“Os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo. Estão no mundo espalhados, vivem conforme os costumes locais, mas o cristianismo permanece oculto no coração.”
Epístola de Mathetes a Diogneto
Essa invisibilidade intencional sinaliza que a transformação da igreja verdadeira é interna, transcendendo aparências e discursos vazios. Eugene Peterson ressalta que “a verdadeira oração dá ao crente uma experiência de Deus em segredo, em contrapartida à ostentação pública.”
Como enfatiza João Calvino, “Cristo é o centro e a autoridade suprema da igreja; a submissão a Seu reino implica uma nova vida, diferente do mundo e imersa na graça para regenerar a sociedade.”
Cristo Rei e a esperança da Igreja no mundo
A tensão do alvoroço causado pela igreja primitiva é resolvida em Cristo, Rei que reina com mansidão e humildade, oferecendo descanso à alma cansada (Mateus 11:28-30). A fé é um chamado à imitação da bondade divina, transbordando em amor sacrificial e esperança transformadora.
É este Cristo, o Artesão do universo, que envia seus servos não para dominar ou perseguir, mas para convidar e sustentar a unidade e o testemunho numa sociedade fragmentada. O chamado cristão é a esperança de que, mesmo perseguidos, sejamos sal e luz, mantendo a unidade do mundo em suas mãos. Como afirmou Eusébio, a igreja não dominou o mundo por violência, mas pelo poder da graça que torna “mais numerosos os que, perseguidos, não se deixam vencer.”

E agora, como viveremos?
- Como viver a presença no mundo sem se conformar? O cristão é chamado a imitar a mansidão e humildade de Cristo, resistindo ao orgulho cultural e político.
- Exercite a hospitalidade sincera e o amor prático, especialmente em contextos de hostilidade ou exclusão social.
- Evite a tentação de ostentar a fé para aprovação humana; busque a comunhão secreta e profunda com Deus em oração, cultivando o testemunho genuíno.
- Entenda que a missão da igreja não é domínio, mas unidade por meio do serviço, promovendo justiça e solidariedade.
Esse estilo de vida, ancorado na graça e no evangelho, será um contraste radical, capaz de transformar com a força invisível do Espírito “o sal da terra e a luz do mundo” (Mateus 5:13-16).
Oremos
Senhor Jesus, Rei humilde e justo, concede-nos a graça de sermos sal e luz neste mundo. Ajuda-nos a viver em amor sincero, a praticar a hospitalidade e a oração profunda. Sustenta-nos na perseguição e fortalece nossa fé para sermos testemunhas fiéis do Teu Reino. Amém.
Perguntas para reflexão
- Como a igreja pode ser “sal e luz” no mundo atual sem tornar-se isolada ou conformada?
- De que formas a prática da hospitalidade e do amor prático pode transformar a comunidade ao redor?
- Onde está a tensão entre proclamar Cristo como Rei e respeitar a autoridade civil hoje?
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!