A ANATOMIA DE UM MILAGRE: Quando Deus redesenha o impossível

Descubra como a anatomia de um milagre revela o cuidado invisível de Deus em meio à dor, ao diagnóstico difícil e à esperança que renasce.

A ANATOMIA DE UM MILAGRE: Quando Deus redesenha o impossível

“De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” Hebreus 13:5c.

O Sussurro Divino no Vale da Sombra

A ciência médica, com toda sua impressionante precisão, é capaz de mapear meticulosamente a topografia de uma doença. O que ela não podia mapear — o que ela jamais conseguiria detectar com seus instrumentos mais sofisticados, é a anatomia do milagre que se silenciosamente se formou em algum momento nos bastidores da eternidade. Pois, como observou sabiamente George MacDonald, escocês que influenciou C.S. Lewis: “O homem científico está cego para o milagre não porque ele conhece as leis, mas porque ele tem pouca concepção do espírito que habita nelas.”

Quando as Fronteiras da Realidade São Reescritas

O que é, precisamente, um milagre? Não é esta uma pergunta fascinante? Os céticos modernos muitas vezes o descartam como mera superstição, o refúgio desesperado de mentes que não conseguem enfrentar a realidade crua. Os materialistas o explicam como coincidências afortunadas ou fenômenos ainda não compreendidos. E mesmo entre nós, cristãos, existe uma curiosa tendência de relegar os milagres aos tempos bíblicos, como se o Deus que abriu o Mar Vermelho tivesse de alguma forma perdido interesse em manifestar Seu poder em nossos dias de smartphones e cirurgias robóticas.

Mas a anatomia de um milagre envolve não uma violação da ordem natural que Deus estabeleceu, mas uma expressão mais profunda dela. Os milagres são momentos em que as cortinas do mundo físico são brevemente afastadas, permitindo que vislumbremos a realidade mais fundamental que sustenta nossa existência cotidiana. São desvios do curso regular esperado da natureza sem necessariamente contradizê-la, intervenções divinas que ocorrem precisamente quando as circunstâncias parecem mais desesperadoramente insolúveis.

Todos nós podemos viver a realidade de estarmos no centro de um furacão de perdas, envolvidos pela solidão que frequentemente acompanha o diagnóstico de uma doença grave. O milagre costuma se desenhar precisamente no ponto em que os recursos humanos se esgotam completamente.

Paulo — aquele apóstolo que conhecia intimamente tanto o êxtase quanto a agonia — escreveu algo profundamente relevante para tais momentos: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Filipenses 4:19). Observe que ele não promete que Deus atenderá nossos desejos, nossas preferências ou nossas expectativas, mas nossas necessidades. E às vezes — aqui está o paradoxo — nossa maior necessidade é precisamente ser levado ao fim de nós mesmos, ao lugar onde finalmente compreendemos que não somos os autores de nossa própria história.

O que torna um milagre tão extraordinário não é apenas o resultado final, o tumor que desaparece, a dívida inexplicavelmente quitada, o relacionamento restaurado contra todas as probabilidades. É todo o intrincado processo: amigos que aparecem para interceder quando o próprio aflito perdeu até mesmo a vontade de orar; igrejas de denominações diferentes que, esquecendo momentaneamente suas distinções teológicas, unem-se em intercessão fervorosa; um casal de um grupo de discipulado de anos atrás que surge inesperadamente, oferecendo-se para administrar todos os detalhes práticos do pós-operatório.

Como Wesley tão belamente expressou em seu hino:

“Seu amor desconhece medida ou fim,
Alcança o mais fraco, sustenta o mais vil;
Conduz-nos ao lar, à presença do Pai,
Para bênçãos provar, que a língua não sabe falar.”

O Divino Redesenho da Realidade

Que podemos nós aprendermos observando a anatomia de um milagre?

As promessas de Deus não são meras palavras consoladoras, mas âncoras absolutamente confiáveis: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” Repare na ênfase extraordinária do original grego, com sua dupla negação, que poderíamos parafrasear: “Nunca, não, jamais, em circunstância alguma, te abandonarei.” Esta não é uma promessa em termos vagos, mas uma garantia absolutamente inequívoca.

Aprendemos que por vezes são necessárias profundas tribulações para que desenvolvamos olhos verdadeiramente capazes de perceber o agir cotidiano de Deus em nossas vidas. Como disse certa vez C.S. Lewis: “Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores: é o Seu megafone para despertar um mundo surdo.”

Você já considerou quantos milagres menores ocorrem diariamente em sua vida que passam completamente despercebidos? O ar que entra em seus pulmões neste exato momento, a sincronia perfeita de seu coração batendo sem que você precise comandá-lo, o fato extraordinário de que você existe em vez de não existir — cada um destes é um milagre que aceitamos com a mais casual indiferença.

Enxergando Além do Diagnóstico

Talvez hoje você esteja diante de seu próprio diagnóstico devastador. Pode não ser médico — talvez seja financeiro, com credores batendo implacavelmente à sua porta; ou familiar, com um casamento que parece irreparavelmente danificado; ou profissional, com a ameaça de desemprego pairando sobre você como uma nuvem escura.

Os especialistas já pronunciaram seus vereditos. Os “exames” sejam eles extratos bancários, avaliações profissionais ou sessões de aconselhamento matrimonial, confirmaram a gravidade da situação. Mas conhecer a anatomia de um milagre nos ensina a olhar além das circunstâncias imediatas, além do que os sentidos podem perceber.

Devo ser absolutamente claro aqui, para evitar mal-entendidos potencialmente cruéis: não estou sugerindo que todo enfermidade será milagrosamente curada. Nem que toda crise financeira será magicamente resolvida, ou que todo casamento será restaurado. Como Jó teve que aprender, Deus não nos deve explicações, e Seus caminhos frequentemente permanecem insondáveis para nós.

Mas afirmo com toda convicção que mesmo quando a doença não desaparece, mesmo quando a falência não é evitada, mesmo quando o divórcio se concretiza, o milagre ainda pode estar operando, talvez de maneiras que só compreenderemos plenamente na eternidade.

Como escreveu o teólogo puritano Thomas Watson: “Onde a razão não consegue nadar, ali a fé deve navegar.” Às vezes, o verdadeiro milagre não é a mudança em nossas circunstâncias externas, mas a transformação interna que ocorre quando, mesmo em meio ao sofrimento mais intenso, descobrimos uma paz que, como Paulo tão acertadamente descreveu, “excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7).

Não sabemos o que virá amanhã: se saúde ou doença, abundância ou escassez, comunhão ou solidão. Mas podemos cultivar a certeza inabalável de que o mesmo Senhor que prometeu nunca nos deixar levará a bom termo todas as coisas até Aquele Dia glorioso em que, finalmente, veremos face a face nosso amado Redentor, Jesus Cristo.

Enquanto isso, permita que sua comunidade de fé se junte a você em oração. Esta é uma das características mais belas da igreja — somos chamados a carregar os fardos uns dos outros, a chorar com os que choram, a regozijar com os que se regozijam. Deixe que o cuidado de Deus se manifeste através dos membros do corpo de Cristo. E acima de tudo, nunca duvide nem por um momento que Deus pode redesenhar qualquer circunstância em sua vida. Como conclui magnificamente aquele amado hino de William Cowper:

“Deus age de modo misterioso
Suas maravilhas a realizar;
Planta Seus passos sobre o mar,
E cavalga na tempestade.”

Senhor Jesus, nós te louvamos por tua fidelidade inabalável. Mesmo quando caminhamos pelo vale da sombra da morte, mesmo quando o diagnóstico parece final e irrevogável, tua presença é mais real do que nossas circunstâncias, mais certa do que nossos temores. Ajuda-nos a enxergar teu cuidado diário e a confiar que, independente das circunstâncias, jamais nos deixarás nem nos abandonarás. Que possamos fixar nossos olhos não no que é visível, mas no que é invisível; não no que é temporal, mas no que é eterno. Pelos infinitos méritos de Cristo, que moeu nosso próprio diagnóstico fatal de pecado em Seu corpo na cruz, para podermos ter vida, e tê-la em abundância, oramos. Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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