A PROVIDÊNCIA DIVINA NA FAMÍLIA

Descubra como a providência divina na família opera mesmo nos momentos mais difíceis, e encontre esperança na verdade de que Deus, não o acaso, governa os destinos familiares com propósito eterno.

A PROVIDÊNCIA DIVINA NA FAMÍLIA

“Eli já era muito velho e ouvia tudo o que os seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda do encontro. E disse-lhes: Por que vocês fazem essas coisas? Pois de todo este povo ouço constantemente falar das coisas más que vocês fazem. Não, meus filhos, porque não é boa fama esta que ouço. Vocês estão levando o povo do Senhor a transgredir. Se um homem pecar contra o seu próximo, Deus será o árbitro. Mas, se ele pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Mas eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria matar.” 1 Samuel 2:22-25.

A dor mais profunda

As tristezas familiares cortam mais fundo que qualquer outra dor. Quando a família de outra pessoa sofre, podemos oferecer compaixão e “chorar com os que choram” (Romanos 12:15). Mas quando a tragédia atinge nossa própria casa, a experiência é como uma bala atingindo nosso coração. Nestes momentos cruciais, nossa compreensão da providência divina na família determina se encontraremos consolo ou mais fardos para nossa trajetória.

Jonathan Edwards escreveu: “Deus tem constituído aquela ordem nas coisas, aquela conexão de eventos, que adequadamente se denomina providência divina.” Esta providência não é abstrata, mas intensamente pessoal, governando até mesmo os relacionamentos mais íntimos do lar.

Divisões previstas

Jesus não romantizou a vida familiar. Com franqueza surpreendente, ele advertiu que sua mensagem muitas vezes causaria divisão: “Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão. Porque, daqui em diante, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três” (Lucas 12:51-52). Isso não significa que Jesus seja contra a família, mas que o compromisso com o Reino de Deus, em um mundo rebelado contra Ele, inevitavelmente trará tensão. Quando um membro da família decide seguir a Cristo com sinceridade, essa entrega pode incomodar os que ainda resistem ao Evangelho.

Em muitos contextos, especialmente onde há tradições religiosas arraigadas ou valores contrários ao Reino, o discipulado fiel se torna uma pedra de tropeço. O evangelho traz confronto antes de trazer reconciliação, pois exige arrependimento e mudança. Jesus nos prepara, então, para a realidade de que amar a Deus sobre todas as coisas pode nos colocar em rota de colisão com aqueles que amamos — e que, mesmo assim, essa fidelidade continua sendo o nosso primeiro chamado. A providência divina na família não promete ausência de conflitos, mas propósito soberano mesmo nas cisões mais dolorosas. Como afirmou Charles Spurgeon: “Quando não podemos rastrear a mão de Deus, devemos confiar em Seu coração.”

Uma lição solene

A história dos filhos de Eli oferece uma janela para a providência divina na família em sua expressão mais solene. Hofni e Fineias profanavam o tabernáculo com imoralidade flagrante. Apesar das advertências de seu pai, “não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria matar” (1 Samuel 2:25).

A Confissão de Westminster declara: “Deus, o grande Criador de todas as coisas, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, ações e coisas, da maior até a menor, por sua sapientíssima e santíssima providência.” Esta providência divina na família de Eli operou em julgamento, não em misericórdia.

De modo semelhante, o rei Roboão rejeitou o conselho sábio dos anciãos não por mero capricho juvenil, mas porque “isto vinha de Deus” (2 Crônicas 10:15). Em ambos os casos, a desobediência humana e a soberania divina entrelaçam-se em um mistério que devemos respeitar com temor.

Uma advertência necessária

Estas histórias nos apresentam uma verdade solene: pode haver um ponto além do qual Deus diz: “Não haverá arrependimento nem perdão.” O apóstolo João reconheceu esta realidade: “Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue” (1 João 5:16).

A providência divina na família não é apenas consolo e cuidado; ela também carrega uma advertência séria. Deus dirige os eventos da vida com sabedoria soberana, mas essa direção não anula nossa responsabilidade diante dEle. O autor de Hebreus nos confronta com o exemplo trágico de Esaú, dizendo que ele “não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hebreus 12:17). Esaú menosprezou as bênçãos de Deus quando trocou sua primogenitura por um prato de comida — uma decisão impensada, guiada por impulsos momentâneos. Sua história serve como um alerta para pais e filhos: negligenciar os dons de Deus, especialmente os espirituais, pode ter consequências irreversíveis.

No contexto familiar, isso nos lembra que a graça não deve ser tratada levianamente. A paciência de Deus é real, mas não infinita no tempo humano. É possível viver tão distraído ou endurecido que, quando o desejo de mudança finalmente chega, o tempo da oportunidade já passou. Por isso, a família deve ser um lugar onde o temor de Deus é cultivado, a Palavra é valorizada, e as decisões são tomadas com discernimento espiritual. A providência de Deus não substitui o nosso arrependimento — ela nos chama a ele, enquanto ainda há tempo. Como John Owen escreveu: “A dureza de coração é tanto um grande pecado como uma grande punição pelo pecado.”

Esperança além da dor

Mesmo diante dessas verdades solenes, a cruz de Cristo oferece confiança renovada. A providência divina na família não se expressa apenas em julgamento, mas também em misericórdia imerecida. Não perseveramos por crer que o homem, Satanás ou o destino controlam nossa vida familiar, mas porque confiamos no Deus que “provou seu amor em Jesus Cristo.”

Matthew Henry observou: “Aquele que fez as famílias o que são, carrega-as em seus braços.” Esta providência divina na família sustenta os crentes através das “muitas tribulações” pelas quais devemos entrar no Reino (Atos 14:22).

Diante das dificuldades familiares considere:

  1. Reconheça que a providência divina na família significa que nenhum lar está “além da obra despertadora de Deus”, não importa quão dolorosa seja a situação atual.
  2. Aceite as advertências bíblicas como expressões da graça de Deus, preservando-o do endurecimento.
  3. Ore por sua família não com desespero, mas com esperança fundamentada na verdade de que “todos os caminhos de Deus são misericórdia e fidelidade para com aqueles que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:28-39).
  4. Lembre-se diariamente que “o impossível para os homens é possível para Deus” (Marcos 10:27) — inclusive a restauração de relacionamentos familiares deteriorados.

Pai Soberano, reconhecemos tua providência divina na família — tanto em misericórdia quanto em julgamento. Nos momentos de dor familiar, ajuda-nos a confiar não no acaso, mas em teu propósito perfeito. Dá-nos corações sensíveis às tuas advertências e mãos abertas para receber tua graça. Quando as divisões familiares parecerem insuperáveis, lembra-nos que nada é impossível para ti. Por Cristo, que transformou até mesmo a cruz em instrumento de redenção, amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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