A FAMÍLIA COMO CÉLULA DE RESISTÊNCIA -

Formando famílias como postos avançados do Reino.

“Instrui a criança no caminho em que deve andar, e mesmo quando envelhecer não se desviará dele” Provérbios 22:6.

O notável chamado dos lares comuns

Já considerou que sua mesa de jantar pode ser um campo de batalha? Não para as usuais combates sobre vegetais e tarefas escolares, entenda bem, mas para algo muito mais importante. As famílias são “células de resistência contra os ataques de um mundo hostil”. Isto não é apenas uma fala de efeito, mas um chamado à santa vigilância.

Encontramo-nos, numa época em que a influência da fé cristã recua drasticamente, enquanto ondas de ideologias contrárias caem fortemente sobre nossos filhos com força e intensidade cada vez maior. Em tais tempos, a resistência oferecida por lares fiéis torna-se não apenas importante, mas essencial para a sobrevivência espiritual de nossos filhos.

A arquitetura da resistência

O reformador italiano Pietro Martire Vermigli, uma mente brilhante frequentemente esquecida em nossos momentos de recordações históricas, observou uma verdade tão relevante hoje quanto quando a escreveu pela primeira vez: “Por meio da ética, os que a estudam se tornarão, um a um, bons homens. Se eles se mostrarem íntegros, criarão boas famílias. Por sua vez, famílias firmadas em princípios corretos criarão boas repúblicas.”

A resistência de que falamos não começa com manifestos políticos ou cruzadas culturais, mas com o coração convertido e o lar consagrado. Há uma terrível mentira moderna que sugere que podemos transformar a sociedade enquanto negligenciamos a transformação de nossos próprios lares. Isto é como esperar construir uma catedral usando pedras esfareladas para a fundação — revela uma profunda incompreensão da arquitetura espiritual.

A Escritura fala com clareza cristalina sobre este assunto. “Pais”, escreve Paulo, “não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). Esta resistência opera ao longo de duas dimensões essenciais: primeiro, a instrução positiva em todo o conselho da Palavra de Deus — não apenas as passagens confortáveis que se alinham com nossas sensibilidades culturais, mas toda a magnífica tapeçaria da revelação divina; e segundo, a admoestação amorosa quando os pés começam a vagar pelos caminhos de trevas.

Como Moisés instruiu o povo de Israel naqueles dias ressequidos pelo sol da peregrinação no deserto: “Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te” (Deuteronômio 6:7). Observe a bela simplicidade dessa instrução, a verdade de Deus entrelaçada no tecido da vida diária, não relegada a uma hora no domingo de manhã.

O teólogo luterano Niels Hemmingsen, outra voz que faríamos bem em recuperar, declarou que “o homem é, por assim dizer, uma comunidade em miniatura”. A resistência cultivada em seu lar torna-se o canteiro para a resistência espiritual na sociedade mais ampla. Você já considerou, que sua modesta casa, pode ser a própria oficina onde Deus molda o futuro de sua igreja e consequentemente da sociedade?

Imunização contra a incredulidade

Se desejamos construir esta resistência, devemos e uso esta metáfora conscientemente, “vacinar” nossos filhos contra as várias cepas de incredulidade que inevitavelmente encontrarão ao longo de sua vida. O mundo, doutrinará seus filhos se você não o fizer. Programas de televisão, algoritmos de mídia social e conversas nos pátios escolares são instrutores notavelmente eficientes nas doutrinas do humanismo secular.

Nossa resposta deve ser tripla: evangelização sistemática, ensinando as grandes verdades da Escritura em progressão ordenada; o altar familiar, onde a Palavra é lida e orações são elevadas com regularidade fiel; e o cultivo deliberado de um amor pela beleza da santidade. Não estamos meramente transferindo informação, estamos formando afeições, moldando desejos, nutrindo amores.

O fruto da resistência fiel

João Crisóstomo, declarou com característica percepção que “o lar é uma pequena igreja”. De fato o é! Uma célula de resistência não isolada em teimosa independência, mas conectada ao corpo maior de Cristo. O lar não pode substituir a igreja, nem deve a igreja usurpar os deveres do lar. Em vez disso, funcionam apoiando-se mutuamente na formação e discipulado.

Quando a evangelização ao redor da mesa de jantar se une à adoração nas cadeiras do santuário, quando as devoções familiares complementam a liturgia da igreja, nossos filhos recebem o arsenal completo de armas espirituais necessárias para resistir aos esquemas do inimigo. Como Charles Wesley expressou belamente em seu hino “Soldados de Cristo, Erguei-vos”:

“Fortes no Senhor dos Exércitos,
E em Seu poderoso poder,
Quem na força de Jesus confia
É mais que vencedor.”

Não podemos, negligenciar a sagrada responsabilidade que Deus nos confiou. Se falharmos em estabelecer a resistência primeiro em nós mesmos e depois em nossas famílias, qualquer tentativa de transformar a cultura mais ampla torna-se um exercício de futilidade. A batalha pela alma de nossa cultura será perdida antes mesmo de começar se negligenciarmos formar nossos filhos na resistência espiritual.

Construindo seu posto avançado de resistência

Como então devemos proceder? Permita-me sugerir quatro disciplinas práticas — não como uma fórmula para sucesso garantido (pois somos completamente dependentes da graça de Deus), mas como meios fiéis através dos quais essa graça frequentemente flui:

Escritura e Oração Diárias: Estabeleça ritmos de leitura bíblica e oração apropriados às idades de seus filhos. Comece com leituras breves e orações simples, aumentando gradualmente a profundidade à medida que amadurecem. Lembre-se, a consistência importa mais que a duração.
Evangelização Sistemática: Ensine as verdades centrais da fé cristã sistematicamente. As mentes das crianças são maravilhosamente projetadas para memorização — uma capacidade que tragicamente subutilizamos em nossa era de terceirização digital.
Culto Familiar Regular: Mesmo reuniões breves de 15 minutos diários acumulam mais de 1.600 horas ao longo de 18 anos — um investimento substancial na formação espiritual! Cantem hinos juntos (mesmo que imperfeitamente), leiam as Escrituras e orem por necessidades específicas.
Participação Ativa na Igreja: Priorize não apenas a frequência, mas o engajamento em sua igreja local. Seus filhos aprendem tanto observando seu compromisso com o corpo de Cristo quanto com qualquer instrução formal que você forneça.

O que começa desajeitado e hesitante frequentemente cresce, através da persistência fiel, no ritmo familiar mais natural e vivificante. A questão não é se você se sente adequado para a tarefa — nenhum de nós se sente! — mas se você plantará e regará fielmente, confiando em Deus para o crescimento.

“Que a mente de Cristo, nosso Salvador, viva em nós todos os dias. Por seu amor e poder controlando tudo o que faço e digo. Confiamos nossos filhos a Ti, pois eles são Teus antes de serem nossos. Opera neles o que não podemos, protege-os onde não podemos, e atrai-os pelo Teu Espírito ao abraço eterno de Teu Filho, em cujo nome oramos. Amém.“

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.