A PAIXÃO DE CRISTO: OBRA-PRIMA TEOLÓGICA.

Um olhar profundo sobre o filme de Mel Gibson que marcou a história do cinema cristão e sua representação do sacrifício redentor.

A PAIXÃO DE CRISTO: OBRA-PRIMA TEOLÓGICA.

Um olhar profundo sobre o filme de Mel Gibson que marcou a história do cinema cristão e sua representação do sacrifício redentor.

As vésperas da celebração de Páscoa, nos lembramos que em 2004, o filme “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson impactou o mundo com sua representação gráfica da crucificação. Vinte anos depois, uma cena de “A Paixão de Cristo” continua a ressoar profundamente: Maria segurando o corpo sem vida de Jesus, recriando a famosa escultura “Pietà” de Michelangelo, com seu olhar dirigido diretamente ao espectador. Esse olhar atravessa a tela e nos confronta com uma verdade incômoda – não foram apenas os soldados romanos ou os líderes religiosos que crucificaram Jesus. Fomos nós. “A Paixão de Cristo”, com toda sua controvérsia e impacto visual, nos oferece uma poderosa meditação sobre a verdadeira natureza do sacrifício redentor de Cristo e nosso papel nele.

Um filme cheio de Teologia

A representação da crucificação nos evangelhos é marcadamente sóbria em detalhes. Quando lemos em João 19:1 que “Pilatos mandou açoitar Jesus”, o texto não se detém nos detalhes sangrentos. No entanto, os leitores contemporâneos de João compreendiam perfeitamente a brutalidade de um açoitamento romano. Como observou o arqueólogo Dr. Rodrigo Silva sobre “A Paixão de Cristo”: “A crucificação de Jesus foi dali para pior. Muitos filmes de Jesus tentam romantizar a cruz (…) quando os cravos são pregados nas mãos de Jesus [em outros filmes] não há nenhuma gota de sangue. Já vi mais sangue cortando meu dedo enquanto fazia comida.”

Esta sobriedade textual dos evangelhos muitas vezes nos permite manter o sofrimento de Cristo a uma distância confortável. Falamos da cruz com familiaridade, mas raramente enfrentamos sua brutal realidade. A escolha de Gibson em “A Paixão de Cristo” de não suavizar a violência nos força a confrontar o verdadeiro custo da nossa redenção.

Mais do que um documentário histórico, estamos diante de uma obra que utilizou a linguagem visual para comunicar profundas verdades teológicas. Por exemplo, a presença de figuras demoníacas durante a tortura de Jesus não sugere literalmente que isso aconteceu, mas representa visualmente a realidade espiritual do mal operando naquele momento crucial da história.

A crítica mais comum a “A Paixão de Cristo” foi sua violência gráfica, com muitos argumentando que a mensagem de amor “quase se afoga em sangue”. No entanto, esta crítica revela uma incompreensão tanto da realidade histórica quanto do propósito teológico do sofrimento de Cristo. Como o próprio filme “A Paixão de Cristo” destaca: “quando Mel Gibson retrata a violência e o ódio nesse filme, não é para ressaltar o ódio, mas para ressaltar, que mesmo depois de fazerem tudo isso com ele, mesmo após toda essa crueldade, ele ainda manifestou amor por essas pessoas, pediu perdão por elas e morreu por elas.”

“Mas Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34).

Este é precisamente o ponto central do evangelho: Jesus não morreu como uma vítima inocente, mas como um sacrifício voluntário pelos pecados da humanidade. O filme demonstra magistralmente que Jesus, que já havia ressuscitado mortos e realizado inúmeros milagres, tinha pleno poder para encerrar seu sofrimento instantaneamente. No entanto, escolheu permanecer na cruz, motivado por um amor incompreensível que transcende nosso entendimento humano.

Conclusão

Em 2011, quando Robert Downey Jr. defendeu publicamente Mel Gibson após suas controversas declarações relacionadas a “A Paixão de Cristo”, ele disse algo profundamente evangélico: “A menos que você esteja completamente sem pecado, peço que se junte a mim em perdoar meu amigo por suas transgressões, oferecendo a ele uma segunda chance como você ofereceu a mim.” Esta frase captura a essência da mensagem cristã que “A Paixão de Cristo” transmite: todos somos culpados, todos precisamos de redenção, e essa redenção foi conquistada através do sacrifício voluntário de Cristo.

O olhar de Maria na recriação da Pietà, nos confronta com essa realidade. Ela não olha com acusação para os soldados romanos ou para os líderes religiosos judeus – ela olha para nós, os espectadores. Seu olhar atravessa os séculos para nos lembrar que foi por nós, por nossos pecados, que seu filho escolheu suportar aquele sofrimento inimaginável.

O olhar acusador de Maria.

Aplicação

Hoje, ao refletirmos sobre “A Paixão de Cristo”, somos convidados a parar e contemplar não apenas a cruz, mas o amor que a tornou necessária – um amor tão poderoso que escolheu sofrer o inimaginável para oferecer redenção àqueles que não a mereciam. Este amor nos confronta com três desafios práticos:

Primeiro, reconhecer nossa própria culpa. O olhar de Maria nos lembra que não somos meros observadores passivos da crucificação, mas participantes ativos cujos pecados tornaram necessário o sacrifício de Cristo.

Segundo, aceitar a magnitude da graça oferecida. A brutalidade da cruz revela a profundidade do amor divino – um amor que conhecia plenamente o custo e ainda assim escolheu pagar o preço.

Terceiro, viver em resposta a este amor. Como escreveu Paulo: “O amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5:14). Quando verdadeiramente compreendemos o que Cristo suportou voluntariamente por nós, nossa vida não pode permanecer a mesma.

Que o olhar de Maria em “A Paixão de Cristo” continue a nos desafiar. Que a realidade da cruz – não sua versão menos confrontadora, mas sua verdadeira brutalidade que mostra todo o sofrimento de nosso salvador, nos lembre diariamente do amor incompreensível que é o coração do evangelho. E que nossa resposta seja uma vida transformada pelo poder desse amor sacrificial.

Senhor Jesus, diante da realidade brutal da cruz retratada, ficamos em silêncio reverente. Obrigado por escolher permanecer, por escolher sofrer, por amor a nós. Perdoa-nos por tantas vezes mantermos a cruz à distância, reduzindo-a a um símbolo confortável em vez de confrontar seu verdadeiro significado. Ajuda-nos a viver cada dia reconhecendo nossa culpa, mas também celebrando a imensidão da tua graça. Que o teu amor sacrificial nos constranja a viver não mais para nós mesmos, mas para Ti, que morreste e ressuscitaste por nós. Em teu precioso nome oramos, Amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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