PÁSCOA: DO EGITO À RESSURREIÇÃO.
A Páscoa é uma das celebrações mais antigas e significativas da humanidade, conectando a libertação dos israelitas no Egito à ressurreição de Jesus Cristo.
Introdução: As Raízes Históricas da Páscoa
A Páscoa é possivelmente a celebração contínua mais antiga da humanidade, atravessando mais de três milênios de história ininterrupta. Esta festa, rica em significado e simbolismo, transcende culturas e tradições, revelando um profundo entendimento sobre libertação, redenção e esperança. Neste artigo, exploraremos as origens da Páscoa judaica (Pessach), sua reinterpretação cristã e como esses significados se entrelaçam com elementos culturais contemporâneos.
A Páscoa Judaica (Pessach): Libertação da Escravidão
A Páscoa mais antiga, conhecida como Pessach em hebraico, tem suas raízes há mais de 3.000 anos, conforme registrado no livro de Êxodo, o segundo livro da Bíblia. Esta celebração marca um momento decisivo na história do povo de Israel: sua libertação da escravidão no Egito.
O Contexto Histórico do Êxodo
Naquele período, os israelitas viviam sob a opressão do Faraó no Egito. Liderados por Moisés e Arão, que confrontaram o poder tirânico egípcio, o povo de Israel testemunhou a intervenção divina através das pragas enviadas sobre o Egito. A última e mais severa destas pragas foi a morte dos primogênitos egípcios, da qual os israelitas foram protegidos pelo sangue de um cordeiro aplicado nos umbrais de suas portas.
Portanto, a noite da primeira Páscoa foi uma celebração familiar especial, realizada enquanto o juízo de Deus atingia o Egito. Esta refeição particular aconteceu momentos antes da grande libertação, que incluiria a abertura milagrosa do Mar Vermelho, permitindo a passagem do povo em direção à Terra Prometida.
Os Elementos do Seder de Pessach
Em hebraico, “Seder” significa “ordem”, referindo-se à sequência ritual da celebração pascal judaica. Até hoje, esta refeição inclui elementos simbólicos específicos:
- Matzá (Pão sem Fermento): Simboliza a pressa com que os israelitas deixaram o Egito, sem tempo para o pão fermentar
- Maror (Ervas Amargas): Representa a amargura da escravidão
- Harósset: Uma mistura de frutas, nozes e vinho que simboliza a argamassa usada pelos escravos israelitas
- Zeroa (Osso de Cordeiro): Lembra do sacrifício pascal
- Beitzá (Ovo): Símbolo de luto pela destruição do Templo, mas também de vida e esperança
- Karpas (Vegetal Verde): Mergulhado em água salgada, representa as lágrimas derramadas durante a escravidão
Durante a celebração, quatro copos de vinho são bebidos, representando as quatro expressões de redenção mencionadas em Êxodo 6:6-7: “Eu os tirarei”, “Eu os livrarei”, “Eu os redimirei” e “Eu os tomarei”.
O Poder da Narrativa na Preservação Cultural
Uma história fascinante ilustra o poder da celebração pascal na preservação da identidade judaica. Quando um cidadão americano perguntou a um rabino sobre o segredo da longevidade cultural judaica, o rabino respondeu: “É que nós sabemos contar histórias para as crianças.”
Confuso, o americano mencionou a chegada dos peregrinos em Plymouth em 1620 como o evento fundador da história americana. O rabino então perguntou: “E naquele momento, o que vocês comeram?” Quando o americano questionou a relevância da pergunta, o rabino explicou: “Aí está a grande diferença. Nós celebramos a libertação com sabor, com festa, com alegria e com música. Por isso essa lembrança permanece de geração em geração.”
Esta anedota revela como a Páscoa judaica, ao envolver todos os sentidos — paladar, visão, audição e até mesmo o tato — cria uma experiência memorável que transcende gerações, permitindo que uma cultura sobreviva mesmo em diáspora.
A Páscoa Cristã: Do Cordeiro ao Cristo Ressurreto
Quando nos voltamos para a tradição cristã, descobrimos que a Páscoa está intrinsecamente ligada à paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. No entanto, poucos percebem que estes eventos ocorreram justamente durante a celebração da Páscoa judaica.
Jesus e a Última Ceia: Ressignificação da Páscoa
Jesus e seus discípulos, sendo judeus, foram a Jerusalém para celebrar a Páscoa, conforme registrado em Mateus 26, Marcos 14, Lucas 22 e nos capítulos 13 a 20 do Evangelho de João. No local conhecido como Cenáculo, Jesus celebrou o que ficou conhecido como a “Última Ceia”.
Neste momento crucial, Jesus redimensionou os símbolos pascais judaicos. Assim como a Páscoa representava a libertação da escravidão e a aliança de Deus com seu povo, Jesus declarou que o pão (matzá) e o vinho da celebração pascal representavam seu corpo e sangue, entregues para o perdão dos pecados e estabelecimento de uma nova aliança.
Esta reinterpretação dos elementos da Páscoa judaica estabeleceu o fundamento para o que viria a ser a Ceia do Senhor (ou Eucaristia), celebrada por comunidades cristãs em todo o mundo. Podemos chamar isto de uma “arqueologia da fé”, onde a Páscoa cristã se constrói sobre os alicerces da celebração judaica.
Da Morte à Ressurreição: O Novo Significado Pascal
A Páscoa cristã, portanto, não apenas comemora a libertação da escravidão física, mas também a libertação espiritual da humanidade. A ressurreição de Jesus no terceiro dia após sua crucificação representa a vitória definitiva da vida sobre a morte e estabelece a esperança da redenção eterna.
Como escreveu o apóstolo Paulo: “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado” (1 Coríntios 5:7). Esta declaração conecta diretamente o sacrifício de Jesus com o cordeiro pascal que protegia as casas israelitas durante a décima praga do Egito.
Elementos Culturais: Coelhos, Ovos e o Simbolismo da Primavera
A Páscoa, como é celebrada hoje em muitas culturas ocidentais, incorpora elementos que parecem desconectados da narrativa bíblica. Coelhos, ovos de chocolate e decorações coloridas fazem parte das tradições pascais contemporâneas. De onde vieram esses símbolos?
A Páscoa judaica e, consequentemente, a cristã, ocorrem durante a primavera no Hemisfério Norte. Após os rigores do inverno, especialmente difíceis nos tempos antigos, a primavera representa o renascimento da natureza — árvores verdes, campos floridos e o retorno da abundância.
Este momento de celebração da vida foi simbolizado em diversas tradições pré-cristãs através de elementos como o coelho (conhecido por sua fertilidade) e ovos (símbolo universal de nascimento e nova vida). Estas tradições acabaram se mesclando com as celebrações cristãs ao longo dos séculos.
No entanto, é importante reconhecer que, no sentido mais profundo da Páscoa cristã, Jesus Cristo representa a vitória definitiva da vida sobre a morte. Ele responde à expectativa humana universal não apenas por uma vida prolongada, mas por uma vida de qualidade especial e libertação verdadeira — dos poderes opressores externos, dos erros pessoais e das tiranias que podemos impor a nós mesmos.
A Páscoa Hoje: Integrando Tradição e Significado
Em nosso mundo contemporâneo, a Páscoa é celebrada de muitas formas diferentes. Para alguns, é principalmente uma ocasião familiar com chocolate e coelhos. Para outros, é um momento de profunda reflexão espiritual. E para muitos, é uma combinação de ambos.
Independentemente de como a celebramos, a Páscoa nos conecta a uma narrativa de esperança que atravessa milênios. Ela nos lembra que a libertação — seja da opressão política, da escravidão econômica ou das cadeias espirituais — é possível e desejada por Deus.
Aplicando o Significado Pascal em Nossa Vida
Como podemos incorporar o significado profundo da Páscoa em nossas vidas cotidianas? Aqui estão algumas reflexões:
- Reconhecer nossa necessidade de libertação: Assim como os israelitas no Egito, podemos identificar áreas em nossa vida onde precisamos de libertação — sejam hábitos destrutivos, relacionamentos tóxicos ou pensamentos negativos.
- Celebrar com intencionalidade: Podemos dar significado às nossas celebrações pascais, explicando às crianças o porquê dos símbolos e rituais, incorporando elementos que conectam com a narrativa de libertação.
- Viver como pessoas redimidas: A Páscoa nos lembra que somos chamados a viver como pessoas libertadas, estendendo essa libertação a outros através de atos de justiça, misericórdia e amor.
- Cultivar a esperança: Em tempos difíceis, a Páscoa nos lembra que a morte e o sofrimento não têm a última palavra. A ressurreição oferece esperança mesmo nos momentos mais sombrios.
A Páscoa como Ponte Entre Passado e Futuro
A Páscoa permanece como uma celebração extraordinária que conecta nosso passado, presente e futuro. Da antiga libertação do Egito à promessa da ressurreição final, esta festa nos lembra de nossa jornada contínua da escravidão à liberdade, da morte à vida.
No cerne desta celebração está a convicção de que Deus se importa com o sofrimento humano e intervém na história para trazer libertação. Para o crente cristão, a Páscoa oferece a certeza de que, assim como Cristo ressuscitou, também nós podemos experimentar nova vida — não apenas depois da morte, mas aqui e agora, enquanto vivemos como pessoas libertadas pelo amor divino.
Como escreveu o teólogo reformado Herman Bavinck: “A ressurreição de Cristo não é apenas um evento do passado, mas uma realidade que continua a moldar nossa existência presente.” Esta verdade pascal nos convida a viver com esperança ativa, participando da obra redentora de Deus no mundo.
Perguntas Frequentes sobre a Páscoa
Qual é a relação entre a Páscoa judaica e a Páscoa cristã?
A Páscoa cristã tem suas raízes na Páscoa judaica (Pessach). Jesus foi crucificado durante a celebração da Páscoa judaica e, na Última Ceia, reinterpretou os elementos da refeição pascal para representar seu corpo e sangue. Os cristãos veem Jesus como o “Cordeiro pascal” que traz libertação definitiva, assim como o sangue do cordeiro protegeu os israelitas no Egito.
Por que a data da Páscoa muda todos os anos?
A data da Páscoa é determinada pelo calendário lunar, não pelo calendário solar gregoriano que usamos no dia a dia. A Páscoa cristã ocidental é celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no ou após o equinócio da primavera (21 de março). Isso significa que a Páscoa pode cair entre 22 de março e 25 de abril.
De onde vieram os símbolos do coelho e ovos da Páscoa?
Estes símbolos têm origem em tradições pré-cristãs da primavera no Hemisfério Norte. O coelho, conhecido por sua fertilidade, e os ovos, símbolo universal de nascimento e nova vida, representavam o renascimento da natureza após o inverno. Com o tempo, estas tradições foram incorporadas às celebrações cristãs da Páscoa, simbolizando a nova vida trazida pela ressurreição de Cristo.
Como posso ensinar o verdadeiro significado da Páscoa às crianças?
Você pode explicar a história da Páscoa de forma apropriada à idade, usando livros ilustrados ou contando a história com recursos visuais. Considere incorporar alguns elementos do Seder judaico para explicar as conexões históricas. Equilibre a diversão das tradições culturais (como a caça aos ovos) com momentos de reflexão sobre o significado mais profundo da festa. O mais importante é seguir o exemplo judaico de contar a história de forma envolvente, apelando para múltiplos sentidos e tornando a celebração memorável.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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