COMPRADOS POR DEUS.
Você já parou para considerar que você não pertence mais a si mesmo? “Com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5:9). Esta declaração cósmica ecoa através dos tempos como um lembrete transformador: fomos comprados para Deus. Não meramente salvos do pecado, mas adquiridos com propósito. Esta verdade central da fé reposiciona completamente nossa compreensão da salvação. O sangue de Cristo não foi derramado apenas para nos libertar do cativeiro do pecado, mas primordialmente para nos adquirir para Deus como sua possessão especial.
Comprados por precioso sangue.
O conceito de sermos “comprados para Deus” está profundamente enraizado na teologia da expiação. João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã (Livro II, Capítulo XVI, Seção 5), explica: “Cristo, por sua obediência, verdadeiramente adquiriu e mereceu graça para nós junto ao Pai.” Esta aquisição não foi casual ou secundária, mas o propósito central da obra redentora de Cristo. O sangue de Cristo representa o preço supremo pago por nossa redenção, “O sangue de Cristo não é apenas um símbolo, mas o meio pelo qual somos transportados do império das trevas para o reino de maravilhosa luz de nosso Senhor, isto estabelece que pertencemos a Deus”.
A Confissão de Westminster desenvolve esta verdade em seu capítulo VIII, seção V ao afirmar: “O Senhor Jesus, por sua perfeita obediência e sacrifício de si mesmo… adquiriu não somente reconciliação, mas uma herança eterna no reino dos céus para todos aqueles que o Pai lhe deu.” É significativo que o texto de Apocalipse 5:9 enfatize que fomos comprados “para Deus”. O objetivo final da cruz não é primariamente promover nossa felicidade, mas sim a glória de Deus. Fomos comprados para Ele, para o seu santo propósito e glória.
Nossa nova identidade
“E para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra” (Apocalipse 5:10). Quando nos comprou com seu sangue, Cristo redefiniu nossa identidade. Fomos constituídos “reino e sacerdotes” – uma dupla designação que carrega profundas implicações. Michael Horton explica: “Ser comprado para Deus significa receber uma nova vocação cósmica como mediadores entre Deus e criação. Como sacerdotes, representamos Deus perante o mundo e o mundo perante Deus; como reis, participamos da autoridade delegada de Cristo sobre a criação” (Aliança e Escatologia, p. 218).
Na teologia existe o conceito de munus triplex (triplo ofício de Cristo como profeta, sacerdote e rei) que é, em certo sentido, compartilhado com os crentes, seus representantes comprados e chamados a exercer nossa função real e sacerdotal em cada esfera da vida. A autocompreensão dos cristãos como um sacerdócio real é fundamental para o desenvolvimento de uma caminhada atuante de igreja e um comprometimento com a missão”.
Reflita nas palavras do Catecismo de Heidelberg, ao explicar por que somos chamados cristãos: “Porque pela fé sou membro de Cristo e, portanto, participante de sua unção, para que confesse seu nome, me apresente a Ele como sacrifício vivo de gratidão, e que nesta vida combata o pecado e Satanás com consciência livre e boa.”
Um propósito na tribulação.
Os cristãos do primeiro século, conforme mencionado no texto, enfrentavam tribulações severas, incluindo a perseguição e o martírio. Como poderiam compreender tais sofrimentos à luz da obra redentora de Cristo? Precisamente através da compreensão de que foram comprados para Deus. Jonathan Edwards, em seu sermão “A Excelência de Cristo”, escreve: “Quando entendemos que fomos comprados para Deus, o sofrimento assume uma nova dimensão. Não é mais um inimigo a ser evitado a todo custo, mas potencialmente um meio pelo qual glorificamos Aquele a quem pertencemos” (Obras, Volume 1, p. 680).
Quero compartilhar com você o exemplo de Mary Fisher, uma jovem missionária galesa cuja vida, embora breve, brilhou com a luz do serviço abnegado a Deus. Ela dedicou-se a aprender a difícil língua xona para ensinar crianças no Zimbábue, movida por um amor que ultrapassa fronteiras e um chamado que supera o medo. Sua jornada terminou tragicamente junto com muitos outros professores e crianças em um ataque terrorista, mas sua história não se encerra com a dor. Sua voz, seu violão e sua fé ecoam nas palavras que ensinava às crianças: “Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro”. Não foi apenas uma canção, mas o testemunho encarnado de alguém que entendeu que a vida só encontra sentido quando gasta por inteiro para Deus. Mary nos lembra que, mesmo em meio à morte, há beleza — a beleza de uma vida resgatada, entregue e vivida para a glória do Cordeiro. “Entender que fomos comprados para Deus ressignifica tanto nossa vida quanto nossa morte. Nossa vida passa a ter um propósito transcendente e nossa morte se torna uma passagem para a plenitude desse propósito” (Augustus Nicodemus, Apocalipse: Uma Interpretação Reformada, p. 157).
As evidências históricas da perseguição aos cristãos no primeiro século, documentadas por Eusébio de Cesareia em sua História Eclesiástica, mostram que aqueles que compreenderam que foram “comprados para Deus” demonstraram uma resiliência notável diante do sofrimento. Como observa Mark Noll: “A teologia do martírio primitivo estava fundamentada na convicção de que o sangue de Cristo havia adquirido os crentes como propriedade exclusiva de Deus” (Momentos Decisivos na História do Cristianismo, p. 94).
Conclusão
A verdade de que fomos “comprados para Deus” revoluciona nossa compreensão da redenção. Não fomos simplesmente resgatados de algo, mas adquiridos para Alguém. O preço do sangue de Cristo estabelece tanto nosso valor quanto nosso propósito: pertencer a Deus como sua possessão especial, servir como seu reino de sacerdotes, e um dia reinar com Ele sobre a terra.
Esta verdade teológica oferece um fundamento inabalável diante das tribulações da vida. Como os cristãos do primeiro século e como Mary Fisher, podemos enfrentar qualquer adversidade com a convicção de que, tendo sido comprados para Deus, nossa vida e morte estão igualmente em Suas mãos e igualmente destinadas à Sua glória.
Que possamos, portanto, viver hoje como pessoas compradas para Deus, reconhecendo que não somos nossos próprios donos, mas pertencemos Àquele que nos adquiriu com Seu sangue precioso. Seja qual for o desafio que enfrentamos hoje, que possamos caminhar com a convicção de que fomos comprados para Deus – e este é o nosso maior privilégio e nossa mais profunda alegria.
Pai Celestial, agradecemos porque, pelo sangue precioso de Cristo, fomos comprados para Ti. Não pertencemos mais a nós mesmos, mas somos Tua possessão especial. Ajuda-nos a viver hoje como pessoas compradas, servindo-Te como reino e sacerdotes em cada esfera de nossa vida, encontrando propósito até mesmo em meio às tribulações. Em nome d’Aquele que nos comprou com Seu sangue, Jesus Cristo. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
Publicar comentário