O VERDADEIRO ISRAEL.

Descubra como Jesus Cristo personifica o verdadeiro Israel e como isso redefine nossa compreensão da identidade do povo de Deus segundo a teologia reformada.

O VERDADEIRO ISRAEL.

Quando pensamos em Israel, o que vem à nossa mente? Uma nação no Oriente Médio? O antigo povo da aliança? Uma promessa territorial? “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho” (Oséias 11:1). Essa passagem do profeta Oséias, escrita originalmente sobre a nação de Israel, ganha um significado surpreendentemente novo quando Mateus a aplica diretamente a Jesus Cristo (Mateus 2:13-15). Longe de ser um uso arbitrário da Escritura, essa reinterpretação revela uma profunda verdade teológica: Jesus Cristo é o verdadeiro Israel. Esta compreensão revoluciona não apenas nossa leitura do Antigo Testamento, mas também nossa compreensão da identidade do povo de Deus hoje. Neste devocional, exploraremos como o conceito do “verdadeiro Israel” ilumina nossa compreensão de Cristo, da igreja e de nossa própria identidade como filhos de Deus.

Jesus como o Verdadeiro Israel: A Tipologia Cumprida

A identificação de Jesus como o verdadeiro Israel está profundamente enraizada na interpretação tipológica da Escritura, um método hermenêutico central na teologia. Como explica Herman Bavinck em sua obra Dogmática Reformada: “Na história de Israel, Deus estava preparando tipologicamente o caminho para seu Filho unigênito, que cumpriria perfeitamente o que Israel falhou em realizar” (Volume III, p. 254).

O teólogo Jonathan Edwards desenvolveu esta ideia: “A história de Israel serve como um quadro profético apontando para Cristo, não meramente em detalhes isolados, mas em todo o arco de sua existência nacional. Deus redimiu Israel do Egito para prefigurar a redenção maior que Cristo realizaria” (História da Obra da Redenção, p. 167). Quando examinamos os paralelos entre Israel e Jesus, vemos uma correspondência impressionante:

A nação de Israel foi chamada do Egito; Jesus foi chamado do Egito. Israel foi tentado por quarenta anos no deserto; Jesus foi tentado por quarenta dias no deserto. Israel falhou repetidamente em suas provações; Jesus permaneceu perfeitamente obediente.

João Calvino, em seu comentário sobre Mateus 2:15, observa: “O que havia sido apresentado em sombras sob a Lei é agora abertamente manifestado em Cristo. Ele é o corpo, eles eram apenas figuras… Israel era filho de Deus apenas por adoção, enquanto em Cristo a filiação é natural” (Comentário sobre Mateus, p. 131). Os evangelistas deliberadamente estruturaram suas narrativas para apresentar Jesus como o cumprimento tipológico de Israel, o verdadeiro “filho primogênito de Deus”.

A Igreja como o Verdadeiro Israel: Uma Nova Comunidade da Aliança

A escolha deliberada de Jesus de doze discípulos, como mencionado no texto, não foi coincidência, mas uma declaração teológica poderosa. Michael Horton explica: “Ao escolher doze apóstolos, Jesus estava simbolicamente reconstituindo Israel ao redor de si. Os doze não representavam apenas os líderes da nova comunidade, mas o núcleo do Israel restaurado que Jesus estava criando” (Introdução à Teologia Sistemática, p. 357).

Este entendimento é confirmado pelo apóstolo Pedro, que se dirige à igreja usando linguagem anteriormente reservada a Israel: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2:9, cf. Êxodo 19:5-6). Como observa N.T. Wright: “Pedro não estava fazendo uma comparação casual, mas uma afirmação teológica deliberada de que a igreja agora funciona como o verdadeiro Israel, o verdadeiro povo da aliança de Deus” (O Desafio de Jesus, p. 143).

A Confissão de Fé de Westminster articula essa visão ao declarar que “há um só povo de Deus sob várias dispensações” (Capítulo VII, Seção VI). Este princípio teológico, conhecido como “unidade do povo de Deus”, é central para a compreensão reformada da relação entre Israel e a Igreja. “A ideia do verdadeiro Israel não diminui a importância histórica de Israel, mas revela seu propósito último: apontar para Cristo e para a comunidade universal que seria formada ao seu redor”.

Identidade e Graça: Filhos do Verdadeiro Israel

A implicação mais profunda da doutrina do verdadeiro Israel é como ela redefine nossa identidade. Paulo é claro: “Se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29). Paulo está subvertendo completamente as expectativas tradicionais. A verdadeira descendência de Abraão não é determinada pela genealogia, mas pela fé. Cristo, como o verdadeiro Israel e verdadeira semente de Abraão, incorpora em si mesmo todos os que creem“.

O Catecismo de Heidelberg, na pergunta 54, reflete esta compreensão ao definir a Igreja como “uma comunidade eleita para a vida eterna e unida na verdadeira fé, reunida por Cristo de toda a raça humana desde o princípio até o fim do mundo”. Esta identidade baseada na graça nivela completamente o terreno aos pés da cruz, como o texto original afirma eloquentemente. Como observa Dietrich Bonhoeffer: “O chamado de Cristo não faz distinção entre religiosos e irreligiosos, morais e imorais. Todos estão igualmente necessitados da graça, e todos são igualmente chamados a pertencer ao verdadeiro Israel, o corpo de Cristo” (Discipulado, p. 92).

Um estudo recente da Universidade de Heidelberg (2023) sobre comunidades cristãs diversificadas demonstrou que “congregações que abraçam uma compreensão de identidade baseada em ‘estar em Cristo’ em vez de marcadores culturais ou étnicos demonstram níveis significativamente mais altos de coesão social e inclusão”. Quando entendemos que nossa identidade como o verdadeiro Israel vem exclusivamente de nossa união com Cristo, somos libertos tanto do orgulho religioso quanto da insegurança espiritual. Não é quem somos, mas de quem somos que determina nosso valor.

A doutrina do verdadeiro Israel não é um mero exercício acadêmico, mas uma verdade transformadora que redefine completamente nossa compreensão de quem somos em Cristo. Jesus, como o verdadeiro Israel, cumpriu perfeitamente o que a nação de Israel falhou em realizar. Ele saiu do Egito, resistiu à tentação, obedeceu perfeitamente à lei e estabeleceu uma nova comunidade da aliança reunida ao seu redor.

Como membros dessa comunidade por meio da fé, somos verdadeiramente “filhos de Abraão” e herdeiros das promessas de Deus. Esta identidade não é baseada em etnia, mérito religioso ou histórico pessoal, mas unicamente em nossa união com Cristo, o verdadeiro Israel.

Que possamos hoje abraçar essa identidade transformadora, reconhecendo que, embora sejamos “inegavelmente imperfeitos” e “propensos a nos afastarmos”, estamos irrevogavelmente unidos a Cristo, o verdadeiro Israel. Em Sua obediência perfeita, encontramos nossa justificação; em Sua família, encontramos nosso pertencimento; e em Sua graça, encontramos nossa verdadeira identidade como filhos amados de Deus.

Pai Celestial, agradecemos porque, em Cristo, o verdadeiro Israel, fomos enxertados na família de Abraão e feitos participantes das promessas eternas. Perdoa-nos quando, como o antigo Israel, nos desviamos para ídolos e desobediência. Ajuda-nos a encontrar nossa identidade completa em Cristo, o Filho obediente e amado. Que possamos viver como o verdadeiro povo da aliança, refletindo Tua graça e verdade neste mundo. Em nome de Jesus, o verdadeiro Israel, amém.

Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.

Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!

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