A BELEZA DE UM CORAÇÃO QUEBRANTADO
“Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade dos meus pecados”. Salmo 32:5.
A Lágrima que o Mundo Perdeu
Há algo profundamente perturbador numa era onde as pessoas perderam a capacidade de chorar pelo que realmente importa. Choramos por filmes, por times de futebol, por relacionamentos desfeitos, mas quando foi a última vez que derramamos uma lágrima genuína por nosso pecado contra o Deus vivo? Dietrich Bonhoeffer, escrevendo de sua cela nazista em 1943, profetizou nossos dias com precisão cirúrgica: vivemos numa era de “graça barata” que eliminou tanto o peso do pecado quanto a glória do perdão.
Nossa cultura pós-moderna não apenas ignora a contrição – ela a ridiculariza. “Culpa é coisa de gente fraca”, sussurra o espírito de nosso tempo, “Você é seu próprio padrão moral”. Mas eis que surge uma verdade que nenhum relativismo consegue apagar: “Confessei-te o meu pecado… e tu perdoaste a iniquidade dos meus pecados” (Salmo 32:5). A contrição não é neurose espiritual; é o caminho real para a presença do Altíssimo.
Somos a única espécie que se orgulha de não sentir vergonha quando deveria, mas Deus não está interessado em nossos disfarces sofisticados, mas em nossos corações despedaçados.
A Arquitetura Divina do Arrependimento
“No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (Atos 17:30). Paulo não estava fazendo uma sugestão piedosa no Areópago, estava proclamando um decreto divino. A contrição não é opcional no reino de Deus; é tão necessária quanto respirar é necessário para a vida física.
Mas por que Deus insiste na contrição? Porque, todo pecado é rebelião contra o Criador. Não pecamos apenas contra códigos morais abstratos, pecamos contra o coração de Deus. Cada mentira é traição à Verdade encarnada; cada gesto de egoísmo é afronta ao Amor perfeito; cada momento de orgulho é insurreição contra o Rei do universo.
A Confissão de Westminster define arrependimento como “graça evangélica”, uma definição magnífica! Não é trabalho que fazemos para merecer Deus, mas presente que Deus nos dá para chegarmos até Ele. A contrição genuína envolve reconhecimento, tristeza santa, confissão específica, abandono do pecado e, quando possível, reparação. É cirurgia divina no coração humano.
O Mapa de Davi para Corações Despedaçados
Davi nos oferece no Salmo 32 algo como um GPS espiritual para navegar da culpa ao perdão. Primeiro passo: reconhecimento brutal da realidade. “Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue” (Salmo 51:3). Não “meus equívocos” ou “minhas limitações humanas”, mas “minhas transgressões”. Pecado tem nome e deve ser chamado pelo nome.
Segundo passo: tristeza segundo Deus. Paulo faz distinção cirúrgica: existe tristeza que mata e tristeza que ressuscita (2 Coríntios 7:10). A tristeza do mundo é autopiedade disfarçada, choramos por sermos pegos, não por termos pecado. Mas a tristeza santa chora pela ofensa feita ao coração de Deus.
Terceiro passo: confissão sem transferência de culpa. Davi não disse “Contra ti pequei porque Bate-Seba estava se banhando no terraço”. Disse simplesmente: “Contra ti, só contra ti, pequei” (Salmo 51:4). A contrição autêntica assume autoria completa, sem divisão de responsabilidades com circunstâncias, tentações ou outras pessoas.
A Graça que Dança sobre Ruínas
Jean Valjean, o protagonista do romance de Victor Hugo, Os Miseráveis, de 1862, descobriu que a misericórdia tem poder transformador que nenhuma condenação possui. Quando o Bispo Myriel lhe ofereceu perdão em vez de punição, algo morreu no coração de Valjean, seu amor pelo pecado e algo nasceu, sua paixão pela graça.
Esta é a beleza paradoxal da contrição: ela nos quebra para nos reconstruir, nos humilha para nos exaltar, nos esvazia para nos encher. Como cantou Charles Wesley: “Surpreendente amor! Como pode ser / Que Tu, meu Deus, morresses por mim?” A contrição genuína não nos conduz ao desespero, mas ao espanto adorador diante da graça inexplicável.
Bonhoeffer, novamente, nos orienta: a graça barata é perdão sem arrependimento; a graça cara é perdão que custa a vida do Filho de Deus. Quando experimentamos contrição verdadeira, compreendemos ambas as dimensões – quão caro foi nosso perdão para Deus, quão gratuito é para nós.
A Revolução dos Corações Transparentes
Numa era de gerenciamento de imagem e autopromoção constante, a contrição é ato profundamente contracultural. Ela exige que deixemos cair todas as máscaras e nos apresentemos diante de Deus exatamente como somos – nem melhores nem piores.
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração” (Salmo 139:23). Que oração perigosa! É como convidar um cirurgião cardíaco para examinar nosso coração sabendo que ele encontrará problemas. Mas também é como convidar o Grande Médico que tem poder não apenas para diagnosticar, mas para curar completamente.
A contrição é o reconhecimento de que precisamos de cirurgia espiritual que só Deus pode realizar. Não podemos nos arrepender por força de vontade – o arrependimento é dom que devemos pedir ao Doador de todos os bons dons.
O Convite para Corações Despedaçados
“Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado” (Salmo 34:18). Não dos bem-sucedidos, não dos que têm tudo resolvido, não dos espiritualmente sofisticados – mas dos despedaçados. Deus fez Sua residência entre os contritos.
Aqui está a verdade que deveria nos deixar sem fôlego: nossa contrição não afasta Deus – ela O atrai. Nossa confissão não O envergonha – ela O alegra. Nosso coração quebrantado não O decepciona – ele Lhe agrada mais que milhares de sacrifícios religiosos oferecidos com coração orgulhoso.
Se hoje seu coração está endurecido pelo pecado, peça a Deus a graça da contrição. Se está quebrantado pela culpa, descanse na promessa: “Tu perdoaste a iniquidade dos meus pecados”. A contrição é porta estreita, mas conduz ao lugar mais espaçoso do universo – o coração misericordioso de Deus.
Como cantou o salmista e podemos cantar hoje: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto” (Salmo 32:1). Esta é a bem-aventurança dos contritos, a alegria dos despedaçados, a festa dos que choram pelo pecado e descobrem que Deus tem prazer em enxugar cada lágrima de arrependimento com o lenço da Sua graça infinita.
Pai celestial, Tu que habitas com os contritos de coração, concede-nos a graça preciosa da contrição genuína. Quebra nossos corações orgulhosos que resistem ao arrependimento. Mostra-nos a feiura do nosso pecado e a beleza da Tua graça. Que nossa confissão seja transparente, nosso arrependimento seja verdadeiro, e nossa experiência do Teu perdão seja transformadora. Em nome de Jesus, o grande Sumo Sacerdote que compreende nossas fraquezas, oramos. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!
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