1 Pedro 4.12-13. “Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria.”
“Nos lugares onde a igreja é perseguida, ela está crescendo e se fortalecendo. Naqueles lugares onde a igreja é livre ela esta enfraquecendo e encolhendo.”
Não ore por pena
Aqueles que são perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados, pois deles é o Reino dos Céus. Não é uma maldição, mas uma bênção; não é uma desgraça, mas uma honra; não é uma punição, mas um privilégio. J.C. Ryle, Reflexões Expositivas sobre os Evangelhos, p. 67.
Há algo de perturbador na forma como nós, cristãos abrigados sob a proteção de democracias liberais, oramos pela igreja perseguida. Oramos por eles como se fossem “coitadinhos”, vítimas indefesas que carecem de nossa compaixão distante, quando a verdade bíblica nos revela algo radicalmente diferente: eles são os privilegiados, os que participam de forma íntima dos sofrimentos de Cristo.
Esta tensão é profundamente pastoral. Como interceder corretamente por aqueles que, nas palavras de Pedro, devem “alegrar-se” em meio ao fogo da provação? Como orar por irmãos que, longe de serem dignos de pena, são dignos de honra? A resposta exige uma revolução em nossa compreensão da intercessão e uma transformação radical em nossa perspectiva sobre o sofrimento cristão.
A perseguição é uma das maiores honras que Deus pode conferir aos seus filhos. É um sinal de que eles são dignos de participar dos sofrimentos de Cristo e de que estão sendo preparados para a glória eterna. Charles Spurgeon, Púlpito do Tabernáculo Metropolitano, Vol. 23, p. 456.
O sangue dos mártires é a semente da igreja
O sofrimento é o distintivo do cristão. Aqueles que não sofrem por Cristo não são verdadeiramente cristãos. A cruz não é apenas o meio de salvação, mas o padrão de vida cristã. Dietrich Bonhoeffer, O Custo do Discipulado, p. 89.
A perseguição é uma das maiores bênçãos que Deus pode conceder à sua igreja. Ela purifica a fé, fortalece o caráter cristão e torna o testemunho mais eficaz. A igreja perseguida é uma igreja mais pura e mais poderosa. Richard Wurmbrand, Torturado por Cristo, p. 34.
A Igreja perseguida revela uma verdade que desafia nossa teologia do conforto: o sofrimento cristão não é acidental, mas essencial à experiência da fé. Pedro, escrevendo para cristãos sob intensa perseguição, não oferece consolação barata nem promessas de livramento imediato. Em vez disso, ele redefine completamente o significado do sofrimento cristão, apresentando-o como participação nos sofrimentos de Cristo e antecipação da glória vindoura.
Esta perspectiva bíblica transforma radicalmente nossa intercessão. Quando oramos pela igreja perseguida, não devemos pedir primariamente por segurança e tranquilidade, mas por intrepidez e coragem. A oração da igreja primitiva em Atos 4.29-31 é paradigmática: “Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente.” Pedro e João não pediram que caísse fogo do céu sobre seus perseguidores, nem mesmo solicitaram o cessar-fogo, mas que fossem fiéis e ousados debaixo do fogo cruzado da perseguição.
A igreja perseguida compreende algo que nós, em nossa zona de conforto, frequentemente esquecemos: a soberania de Deus usa o sofrimento e a perseguição para seus desígnios de alcançar mais pessoas com sua maravilhosa graça. Paulo, escrevendo a Timóteo de uma prisão romana, declarou com convicção inabalável: “Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, com glória eterna”, 2 Timóteo 2.10.
Tertuliano estava certo quando afirmou que “o sangue dos mártires é a semente da igreja”. A sabedoria humana não consegue compreender os propósitos de Deus, mas a história cristã testifica repetidamente que onde há maior perseguição, há maior crescimento da igreja. Ramez Atallah, diretor da Sociedade Bíblica do Egito, escreveu que não se preocupa muito com o aumento da radicalização governamental, acreditando que os cristãos darão um testemunho ainda mais eficaz caso a perseguição aumente. Ele tem certeza de que a fé será ainda mais depurada e haverá mais conversões, apesar ou por causa, do sofrimento mais intenso.
A igreja perseguida também nos ensina sobre a verdadeira unidade cristã. Nas áreas de perseguição, ortodoxos, católicos e protestantes estão todos no “mesmo balaio”, igualmente perseguidos por radicais de outras religiões. Esta realidade deveria humilhar nossas divisões denominacionais e nos lembrar de que o que nos une em Cristo é infinitamente maior do que o que nos separa.
A igreja que não sofre perseguição é uma igreja que não está fazendo diferença no mundo. O sofrimento por Cristo é um sinal de que estamos vivendo de acordo com o evangelho e confrontando as trevas com a luz. John Piper, Desejando a Deus, p. 156.
O sofrimento é o padrão
A igreja perseguida nos confronta com uma verdade desconfortável: nossa teologia do conforto pode ser mais uma traição ao evangelho do que uma expressão dele. Quando oramos pela igreja perseguida com pena, revelamos nossa própria pobreza espiritual e nossa incompreensão fundamental do que significa seguir a Cristo.
O evangelho não promete ausência de sofrimento, mas presença de Cristo no sofrimento. Não garante segurança terrena, mas segurança eterna. Não assegura tranquilidade neste mundo, mas paz que excede todo entendimento. A igreja perseguida compreende essas verdades de forma visceral, enquanto nós, em nossa zona de conforto, frequentemente as tratamos como abstrações teológicas.
Cristo não nos chama para orar pela igreja perseguida como se ela fosse inferior, mas para aprender com ela como ser verdadeiramente cristão. Eles são nossos professores na escola do sofrimento, nossos mentores na arte de viver corajosamente para Cristo, nossos exemplos do que significa participar dos sofrimentos de Cristo na expectativa de participar também de sua glória.
A igreja perseguida nos ensina que o cristianismo não é uma religião de facilidade, mas de fidelidade; não de conforto, mas de coragem; não de segurança, mas de santidade. Eles nos mostram que seguir a Cristo pode custar tudo, mas que Cristo vale tudo.
E agora, como viveremos?
A igreja perseguida nos desafia a uma transformação radical em nossa vida de oração e ação.
Devemos abandonar a intercessão condescendente e abraçar a intercessão dignificante. Em vez de orar por nossos irmãos perseguidos como “coitadinhos”, devemos orar por eles como guerreiros espirituais dignos de honra, pedindo não primariamente por livramento, mas por intrepidez, coragem e fidelidade.
Nossa intercessão deve ser inclusiva. Nas áreas de perseguição, ortodoxos, católicos e protestantes sofrem juntos. Nossa oração deve refletir essa realidade, superando divisões denominacionais em favor da unidade cristã fundamental.
Devemos transformar nossa intercessão em ações práticas. Isso inclui escrever cartas de encorajamento, assinar petições em defesa dos direitos humanos religiosos, contribuir financeiramente com a igreja sofredora e, para alguns, até mesmo considerar viver entre eles para encorajá-los e servir à igreja de Cristo nos confins da terra.
A igreja perseguida deve nos ensinar sobre nossa própria condição espiritual. Se nosso cristianismo é confortável demais, se nossa fé não gera nenhum tipo de resistência ou conflito, talvez devamos questionar se estamos realmente seguindo a Cristo ou apenas uma versão domesticada dele.
Devemos permitir que a igreja perseguida nos ensine sobre prioridades eternas. Eles compreendem que vale a pena perder tudo por Cristo porque Cristo vale tudo. Esta perspectiva deve transformar nossa relação com bens materiais, segurança pessoal e conforto social.
A igreja perseguida não precisa de nossa pena; ela precisa de nossa parceria. Não precisa de nossa condescendência; precisa de nossa coragem. Não precisa que baixemos nossos padrões espirituais para consolá-la; precisa que elevemos nossos padrões espirituais para honrá-la.
Oremos
Senhor Jesus, que conheceste a perseguição e o sofrimento, perdoa-nos por nossa intercessão condescendente e nossa teologia do conforto. Ensina-nos a orar pela igreja perseguida com a dignidade que ela merece, reconhecendo que nossos irmãos em chamas são privilegiados por participar dos teus sofrimentos. Concede-nos sabedoria para orar não primariamente por livramento, mas por intrepidez; não por segurança, mas por santidade; não por conforto, mas por coragem. Que nossa intercessão seja transformada pela compreensão de que tu uses o sofrimento para teus propósitos redentivos.
Quebra em nossos corações as divisões denominacionais que se tornam irrelevantes diante da perseguição. Ensina-nos a orar por ortodoxos, católicos e protestantes como uma só família cristã, unidos pelo sangue de Cristo. Transforma nossa oração em ação. Mostra-nos como encorajar nossos irmãos perseguidos através de cartas, petições, apoio financeiro e, se necessário, presença física. Que nossa intercessão produza frutos práticos de amor e solidariedade.
Senhor Jesus, que a igreja perseguida seja nossa professora. Ensina-nos através do testemunho dela o que significa viver corajosamente para ti, priorizando o eterno sobre o temporal, a fidelidade sobre a facilidade. Que possamos aprender com aqueles que sofrem por teu nome que vale a pena perder tudo por ti, porque tu vales tudo. E que, se formos chamados a participar dos teus sofrimentos, possamos fazê-lo com alegria, sabendo que também participaremos da tua glória.
Em nome de Jesus, que sofreu por nós e nos ensinou que o caminho para a glória passa pela cruz. Amém.
Somente Cristo! Pr. Reginaldo Soares.
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Meu chamado para o ministério pastoral veio em 1994, sendo encaminhado ao conselho da Igreja Presbiteriana (IPB) em Queimados e em seguida ao Presbitério de Queimados (PRQM). Iniciei meus estudos no ano seguinte, concluindo-os em 1999. A ordenação para o ministério pastoral veio em 25 de junho de 2000, quando assumi pastoreio na IPB Inconfidência (2000-2003) e da IPB Austin (2002-2003). Desde de 2004 tenho servido como pastor na Igreja Presbiteriana em Engenheiro Pedreira (IPEP), onde sigo conduzido esse amado rebanho pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou casado há 22 anos com Alexsandra, minha querida esposa, sou pai de Lisandra e Samantha, preciosas bênçãos de Deus em nossas vidas. Me formei no Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, e consegui posteriormente a validação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pela bondade de nosso Senhor, seguimos compartilhando fé, amor e buscando a cada dia crescimento espiritual. Somente Cristo!